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sábado, 21 de fevereiro de 2009

Deficitário, FAT não tem dinheiro para ampliar seguro-desemprego


TCU alertou órgão para evitar o déficit; ministro Lupi (Trabalho) diz que este ano ainda dá para fazer desembolso

Ribamar Oliveira, BRASÍLIA


O Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) não tem condições financeiras para custear as despesas decorrentes de uma ampliação do seguro-desemprego para até dez parcelas, segundo avaliação da área técnica do governo. Essa ampliação, cuja possibilidade foi admitida no início do mês pelo ministro do Trabalho, Carlos Lupi, teria de ser bancada com recursos adicionais do Tesouro ou pela redução ou eliminação dos empréstimos do FAT ao setor produtivo.

link Entenda o que significa o Fundo de Amparo ao Trabalhador


Por causa da crise, as centrais sindicais reivindicam o aumento das parcelas do seguro-desemprego, que hoje é pago em até cinco meses. Para custear a ampliação para até sete parcelas aos trabalhadores dos setores mais afetados pela crise, já decidida pelo governo no início deste mês, a lei permite que o FAT lance mão, por semestre, de até 10% de suas reservas técnicas, que hoje estão em torno de R$ 11 bilhões.

O FAT paga o seguro-desemprego, o abono salarial e destina recursos para a qualificação profissional e para empréstimos aos setores produtivos (os chamados "depósitos especiais"), com o objetivo de aumentar a oferta de empregos. O Fundo é mantido com recursos das contribuições para o Programa de Integração Social (PIS) e para o Programa de Formação do Patrimônio do Servidor (Pasep). A avaliação técnica é que o FAT está à beira do colapso, pois as despesas estão crescendo em ritmo mais acelerado do que as receitas.

No dia 11, o Conselho Deliberativo do FAT (Codefat) liberou uma linha especial de crédito de R$ 200 milhões para capital de giro de agências de veículos usados. O segmento foi o que sofreu o maior impacto da atual crise no setor automotivo e a linha foi mais uma medida do governo para tentar conter o aumento do desemprego.

A nota técnica 89/2008, elaborada pela coordenação-geral de recursos do FAT, órgão ligado à Subsecretaria de Planejamento, Orçamento e Administração do Ministério do Trabalho, informa que o programa vai apresentar em 2010, pela primeira vez em sua história, um déficit operacional de R$ 497,2 milhões. Ou seja, as despesas serão maiores que todas as receitas resultantes das remunerações das aplicações. A nota diz que o déficit será crescente e atingirá R$ 4,3 bilhões em 2012.

Esse "rombo" anual terá de ser coberto pelo Tesouro ou pela devolução pelos bancos dos "depósitos especiais". As projeções da nota técnica foram feitas antes da decisão de pagar o seguro-desemprego em até sete parcelas e com base numa previsão de crescimento da economia de 3% este ano e de 4% em 2010.

O ministro do Trabalho, Carlos Lupi, nega que o FAT vá enfrentar dificuldades para financiar a ampliação das parcelas do seguro-desemprego, mesmo que seja para dez meses. "Eu diria que este ano dá sim, pois o Fundo tem um patrimônio de R$ 160 bilhões." Mas ele admite que podem ocorrer problemas no futuro. "É claro que, se o desemprego se agravar muito e a ampliação das parcelas for generalizada, para todos, haverá dificuldades."

Os ministros do Tribunal de Contas da União (TCU), no acórdão nº 1.817, de agosto de 2008, recomendaram que o Codefat estabeleça medidas para evitar o déficit. O TCU considerou ser de "extrema gravidade" a situação apresentada pelo Fundo.

A Constituição determina que 40% da receita do PIS e do Pasep sejam destinados ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, que usa os recursos no financiamento de projetos destinados a criar empregos. Além disso, as receitas do PIS e do Pasep são reduzidas em 20% por conta da DRU (mecanismo de Desvinculação das Receitas da União), antes de serem destinadas ao FAT.

O ministro do TCU, André Luis de Carvalho, constatou que o crescimento das despesas e a diminuição das receitas do FAT decorrem de questões estruturais, como o aumento real do salário mínimo, a elevação do emprego formal e a incidência da DRU sobre a arrecadação. Para se ter uma ideia da gravidade da situação, a estimativa da área técnica é de que as receitas do FAT crescerão 61,2% de 2007 a 2012, enquanto as despesas aumentarão 96,9% no mesmo período.

A solução mais simples seria a redução das despesas com o seguro-desemprego e o abono salarial. Mas o governo descarta essa hipótese. Outra saída seria elevar as alíquotas do PIS e do Pasep, mas, como a sociedade não aceita mais o aumento da carga tributária, o governo está discutindo alternativas.

Nos bastidores, Lupi trava uma queda de braço com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, para que o governo aceite eliminar os 20% da DRU sobre o PIS e o Pasep. Lupi quer também alterar a contabilidade do Fundo para lançar como investimento, e não despesas, os 40% dos recursos destinados ao BNDES. Com isso, Lupi diz que o FAT seria superavitário.

Em resposta ao TCU, o presidente do Codefat, Luiz Fernando de Souza Emediato, sugeriu medidas de ajuste, entre elas a alteração do critério de concessão do abono salarial. Hoje, os trabalhadores que ganham até dois salários mínimos têm direito ao abono. Emediato propôs que o abono seja apenas para quem tem renda de um salário mínimo. A proposta daria uma economia de R$ 3 bilhões por ano. Emediato diz que essa medida foi discutida com as centrais sindicais no processo de negociação da proposta de recuperação do poder de compra do salário mínimo. Segundo ele, as centrais concordam.



Sexta, 20 de fevereiro de 2009, 16h28

Fonte: Redação Terra
Economia internacional
Tesouro: apesar de queda no superávit, PAC não terá cortes

Atualizada às 17h55

Marina Mello
Direto de Brasília

Apesar da queda de 72% no superávit primário do governo central em janeiro, o secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, afirmou nesta sexta-feira que o recuo deverá ser restrito ao primeiro mês do ano e, por esta razão, não está previsto nenhum tipo de corte nas verbas do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) para 2009.

Segundo ele, o resultado negativo registrado no mês passado foi atípico e isso não deverá se repetir nos próximos meses do ano, quando ele disse acreditar que as medidas já anunciadas pelo governo para conter os efeitos da crise mundial deverão surtir efeito.

"Janeiro é um mês que tem atipicidades importantes, portanto, a tendência do ano não deve ser retirada deste mês. Evidentemente que este ano é um ano de crise, de cuidado mais forte do ponto de vista fiscal (...) mas mantemos nossas expectativas, particularmente o governo entende que é preciso trabalhar no sentido de manter a atividade econômica em desenvolvimento", disse ele.

Além dos fatores atípicos, o secretário ressalta que o resultado da área fiscal aparece de forma mais lenta na economia, ou seja, o resultado do mês de janeiro tem maior relação ao mês de dezembro do ano passado.

"O governo tomou medidas e entende que serão bem sucedidas. À medida que isso for ocorrendo, os reflexos econômicos vão aparecer na área fiscal. Os dados da área fiscal se expressam mais para a frente, a receita de janeiro tem relação mais direta com dezembro", explicou.

"Este é um ano de cuidado na questão fiscal, mas a meta de superávit primário de 3,8% do PIB (Produto Interno Bruto) está mantida", afirmou Augustin.

As receitas do governo central caíram 2,7% em janeiro na comparação anual, para R$ 62,8 bilhões. No mesmo período, as despesas aumentaram 23,5%, para R$ 48,134 bilhões.

Mesmo com o recuo nas contas primárias do governo, o secretário garante que o PAC não será alterado, segundo orientação "clara" dada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

"Em janeiro sempre há nível de pagamento mais baixo do que dezembro, por isso, a comparação mostra a mesma tendência de crescimento. Não há contenção do PAC nenhuma. A orientação do presidente é clara, não há nenhum tipo de contingenciamento com despesas do PAC", assegurou.

Em janeiro, o governo central - que é formado por Tesouro, Previdência Social e Banco Central (BC) - registrou um superávit primário (economia estatal para pagar os juros da dívida) de R$ 4,251 bilhões, uma queda de 72,3% ante o resultado de R$ 15,362 bilhões, apurado no mesmo mês do ano anterior.

Com informações da Reuters.

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