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domingo, 11 de dezembro de 2011

Para perder peso, até droga para epilepsia



  • 10 de dezembro de 2011 |
  • 23h10 |

Categoria: Saúde
TATIANA PIVA
Antidepressivos, drogas para combater a diabete, diuréticos e até mesmo remédios tarjados contra epilepsia, com efeitos colaterais fortíssimos, têm sido usados como emagrecedores no Brasil. O aumento dessa prática, dizem os especialistas, é uma consequência esperada da restrição aos emagrecedores ocorrida no País ao longo deste ano. Desde a última sexta-feira, como adiantou o JT há mais de dois meses, está proibido o comércio de anfetamínicos (femproporex, manzidol e anfepramona). Também a venda de sibutramina passou por mudanças: o paciente, agora, tem de assinar um termo em que reconhece os riscos ligados ao consumo da substância.
Já os riscos envolvidos no uso de remédios fora da indicação prevista na bula, prática conhecida como off label, costumam passar despercebidos. “Já sabíamos que a retirada dos anorexígenos levaria ao aumento do off label. E temos percebido isso no dia a dia da prática clínica”, comenta o endocrinologista Alexander Benchimol, diretor da Associação Brasileira para o estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso).
O problema, segundo os médicos, é que na prescrição fora da bula os medicamentos acabam sendo usados contra problemas de saúde para os quais não foram testados, sem estudos que garantam sua eficácia e segurança. Não há, por exemplo, análises que deem conta dos riscos do Victoza (nome comercial do princípio ativo liraglutide, que virou moda como emagrecedor apesar de ser registrado como antidiabético) em pessoas acima do peso que não têm a doença.
“Alertamos a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) de que a falta de fármacos geraria este tipo de problema”, lembra o diretor da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia da regional São Paulo (SBEM-SP), João Eduardo Nunes Salles. Como a indicação fora de bula vem do próprio médico, geralmente não causa estranhamento aos pacientes. “Mas é preciso que o médico deixe claro para o paciente que a prática não está dentro da lei e que mostre todos os riscos existentes. Se ainda assim optar pelo off label, o profissional deve estar consciente da responsabilidade por tudo o que poderá ocorrer.”
No caso da bancária Rebeca Machado, de 27 anos, a descoberta de um princípio ativo usado para epilepsia na fórmula para emagrecer receitada pelo endocrinologista que acompanhava seu caso foi uma surpresa. “O médico não explicou nada a respeito dos efeitos colaterais”, lembra. Pesquisando na internet sobre o anticonvulsivante topiramato, ela conta que ficou assustada com os relatos que encontrou.
Há dezenas de fóruns de discussão sobre o topiramato na web. Neles, pacientes descrevem problemas desencadeados pela droga, que apesar de registrada para evitar convulsões, vem sendo receitada como emagrecedor porque provoca perda de peso. “O remédio apresenta forte efeito sobre a memória e a capacidade de concentração do paciente, com diminuição cognitiva”, explica Salles.
Pacientes que receberam topiramato para emagrecer relatam, na web, a sensação de falta de orientação e falhas na fluência verbal, com esquecimento de palavras. A bula recomenda que os usuários não dirijam automóveis nem manipulem equipamentos que exijam atenção.
Topiramato e o Victoza não estão sozinhos entre as drogas que têm sido ‘transformadas’ em emagrecedoras: estão na categoria a metformina, contra diabete, além de remédios antidepressivos, à base de bupropiona, que também auxiliam no combate ao tabagismo. Além disso, diuréticos vêm sendo usados para afinar os contornos.
Para todos esses medicamentos há efeitos colaterais possíveis e importantes: desconfortos gastrointestinais, no caso da metformina, e dores de cabeça, vômitos e alterações renais e nas funções da tireoide, em relação ao Victoza. Já a bupropiona, pode desencadear tremores, pressão alta, ansiedade, insônia, palpitações, dor abdominal e até convulsões. Entre os diuréticos usados fora da bula, o risco principal está relacionado à perda exagerada de potássio, que pode provocar parada cardíaca.


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