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terça-feira, 25 de maio de 2010

TODO MUNDO JÁ PERCEBEU: INTELECTUAL FAZ PICADINHO DE LULA E CELSO AMORIM NO “EL PAÍS”


segunda-feira, 24 de maio de 2010 | 19:41

Jorge Castañeda, ex-ministro de Relações Exteriores do México e professor de Estudos Latino-Americanos da Universidade de Nova York, escreve no jornal espanhol El País de hoje um artigo educadamente devastador sobre a política externa brasileira. Enquanto, por aqui, os mistificadores continuam a converter os desastres de Lula num sucesso formidável, que o habilitaria a se candidatar a secretário-geral da ONU, o mundo começa a perceber que, para ser líder mundial, é preciso um pouco mais do que papo furado.

Castañeda, um intelectual bastante respeitado, afirma que, um formidável “trabalho de relações públicas” e “16 anos de bom governo (Cardoso e Lula), aliados a um crescimento econômico mediano, porém sustentado”, escondem várias aventuras diplomáticas malsucedidas”, pautadas pela “superficialidade” e “inércia midiáticas”. Para ele, o caso do Irã faz aproximar-se a hora da verdade, “seja para confirmar o surgimento de um novo ator global, seja para provar uma obviedade: não basta vontade para ser uma potência mundial”. Qual será a sua aposta? Vamos ver.

O autor lembra que a Turquia tem bons motivos para tentar manter a cordialidade com o Irã: os dois países mantêm um intenso comércio; ambos contam com uma população curda significativa; os iranianos exportam petróleo e gás para o vizinho, e parte da população do Irã fala turco. Mais ainda: a política externa turca está mais voltada hoje a uma aproximação com o mundo islâmico, ainda que o país seja um dos fundadores da Otan. Já a lógica brasileira, sustenta ele, é “menos evidente”: Lula teria se aproveitado da crise para firmar seu lugar no cenário internacional.

Segundo Castañeda, tudo indica que os Estados Unidos já tinham os nove votos necessários no Conselho de Segurança para impor novas sanções ao Irã — ainda que Rússia e China venham a se abster (para evitar o veto). Para o autor, caso prospere a iniciativa dos Estados Unidos, França e Reino Unidos, e o Conselho vote as sanções contra o Irã, o Brasil fica no pior de dois mundos: terá de tomar partido claramente, o que procurou evitar ao propor o tal acordo.

Acordo que, segundo Castañeda, padecia de um mal congênito: os EUA nunca o apoiaram de verdade. E ele então considera: “Se o Brasil vota a favor das sanções no Conselho de Segurança da ONU, estará se desdizendo; se vota contra, terá a companhia, na melhor das hipóteses, da Turquia e do Líbano. Caso se abstenha, confirmará o que muitos analistas têm reiterado: Lula quer jogar na primeira divisão, mas sem se comprometer”. E Castañeda avança, então, para uma análise um pouco mais ampla da política externa brasileira.

Afirma que o Brasil tem conquistado muito pouco no cenário internacional. Escreve: “O objetivo diplomático número um de Lula — conquistar um lugar permanente no Conselho de Segurança da ONU — é, ao fim de oito anos, menos viável do que nunca”. E lista outros insucessos, como a restituição, que não houve, de Manuel Zelaya ao poder e o naufrágio da rodada Doha. Outras iniciativas do Brasil, de mãos dadas com Hugo Chávez, tampouco resultaram produtivas. E Castañeda chega, então, ao que parece ser a parte mais importante de seu artigo:

“O tamanho de uma economia (Japão) ou de uma população (Índia) não garantem a ninguém, ipso facto, o papel de ator mundial.” Mais importantes do que isso para alçar um país ao estrelato internacional são a clareza de propósitos, os valores que os animam e a eficácia de um país na política regional. Ele lembra que o Brasil faz fronteira com nove países, “e todos eles padecem de sérios conflitos internos (Colômbia, Bolívia e Venezuela) ou com seus vizinhos (a Argentina com o Uruguai; a Colômbia com a Venezuela e com o Equador; o Peru com o Equador e com o Chile; a Bolívia com o Chile).” E lembra: “Mas Lula não quis se meter nesse pântano: mantém-se numa prudente passividade antiintervencionista ou dá franco respaldo às posições bolivarianas de Chávez, Rafael Correa, Evo Morales, Daniel Ortega (na Nicarágua) e dos Irmãos Castro, em Havana”.

Para Castañeda, Lula se nega a ser relevante em seu próprio quintal. Escreve o autor com ironia que não chega a ser sutil: “Talvez seja mais fácil mediar conflitos entre Teerã e Washington (ainda que ninguém tenha sido bem-sucedido desde 1979) do que entre Caracas e Bogotá ou entre Buenos Aires e Montevidéu”. Sigamos com a conclusão do artigo:

“Apesar de sua óbvia irritação, talvez Barack Obama e Hillary Clinton prefiram dar o benefício da dúvida ao projeto turco-brasileiro antes de ceder à impaciência de Israel e da França. Lula pode sair bem das planícies persas ou acabar mal com todo mundo.”

E aí o arremate: “Lula deveria ter-se dado por satisfeito com as capas das revistas, sem procurar preenchê-las com conteúdo efetivo. Isso costuma ser mais difícil”.



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