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segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Regressar aos clássicos





Edições florescem no mercado português apesar de as novidades cada vez mais ditarem leis

Ontem ( de quando ?) 20/09/09

SÉRGIO ALMEIDA

Por muito avassaladora que seja a ditadura das novidades no mercado editorial português, o nicho dos clássicos não dá sinais de quebra. Pelo contrário, as editoras especializadas no segmento mostram-se satisfeitas com os resultados obtidos.

Reeditar livros fora de circulação há mais de um século de autores que o tempo tornou obscuros - Conde de Ficalho ou Carlos Lobo D'Ávila, entre outros - pode parecer uma estratégia suicidária num mercado cada vez mais virado para o consumo imediato e descartável, mas Victor Raquel, director da Esfera do Caos, não se arrepende em nada da opção tomada aquando da criação da editora portuense, há quatro anos.

O optimismo encontra repercussão nos números: esgotar três edições com um livro de Faustino da Fonseca lançado em 1901 - uma biografia de Inês de Castro - ou vender todos os exemplares disponíveis de "Viriato", de Teófilo Braga, não eram os cenários mais prováveis traçados por Victor Raquel quando decidiu avançar para a publicação de ambos os livros.

"As editoras convencionais estão de tal forma centradas nas novidades que se esquecem de que há outros nichos por explorar", reconhece Victor Raquel, ciente, porém, de que o volume de negócios gerado por este segmento "é insuficiente" para atrair os grandes grupos. Como se não bastasse, o director confessa que há edições deficitárias, com vendas na ordem das escassas centenas de exemplares, cuja publicação só é possível porque os sucessos ocasionais permitem que se façam apostas mais arriscadas.

Essas perdas têm ainda outra explicação: a paixão de Victor Raquel pela literatura portuguesa do século XIX, "o período de ouro das nossas letras". É com indisfarçável entusiasmo e arrebatamento que fala de Eça e Camilo, mas também de Pinheiro Chagas ou Augusto Cluny. "Houve um empobrecimento notório da qualidade da nossa literatura e do pensamento em geral. Não há comparação possível entre a qualidade média dos autores de então e os actuais", sentencia.

Também sediada no Porto, a Caixotim é, de há oito anos a esta parte, uma referência para todos quantos valorizam o livro enquanto veículo de saber e de História, ao publicar dezenas de títulos que incluem desde os fundamentais António Nobre, Camilo Castelo Branco, Eça de Queiroz e Fernando Pessoa aos hoje quase incógnitos Diogo Bernardes, Aires Torres e Afonso Duarte.

Paulo Samuel, responsável editorial do projecto, acredita que "a Caixotim presta um serviço importante à cultura portuguesa e à preservação da memória", apostando em "projectos que estão longe de se assumirem como comerciais". Ainda assim, não defende a atribuição de subsídios estatais à editora pelo trabalho desenvolvido. "O que acontece em muitos casos é que as autarquias adquirem um determinado número de exemplares de um autor emblemático da terra - como aconteceu com Mogadouro em relação a Trindade Coelho -, viabilizando desta forma a edição", concretiza.

Ainda mais antigas são as ligações da Imprensa Nacional Casa da Moeda (INCM), que desde 1972 se vem assumindo como um garante do património bibliográfico da língua portuguesa e não só. Contrariando os rumores que davam conta de um alegado desinvestimento deste organismo estatal na área dos clássicos, Alcides Gama, responsável pela área de marketing, reitera a importância da publicação destes títulos. "Se não formos nós a assegurar a publicação destes livros, muito dificilmente alguém o fará. Já é uma imagem de marca de que não abdicamos", afirma.

Jorge Campos da Costa, responsável da unidade editorial da INCM, vê com agrado o crescente número de edições de clássicos actualmente ao dispor dos leitores. "Basta entrar numa livraria para nos apercebermos de que há cada vez mais oferta", sublinha, ao mesmo tempo que manifesta a crença de que editar autores como Pessoa, Eça ou Shakespeare "é um bom negócio, já que existe sempre uma forte procura".

Numa lógica simplista, este interesse editorial poderá ser atribuído à inexistência do pagamento dos direitos de autor, uma vez que os mesmos já pertencem ao domínio público. Porém, os directores da Fronteira do Caos e da Caixotim discordam desta visão, alegando que os custos relacionados com o pagamento dos direitos autorais são ínfimos nos gastos totais de uma edição. "Além do mais, o dinheiro é investido no aprimoramento das edições", refere Paulo Samuel.







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