Por Matt Spetalnick
BAGDÁ (Reuters) - O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, pressionou facções iraquianas rivais a se comprometerem durante visita surpresa nesta terça-feira a Bagdá, em que revelou uma certa impaciência ao dizer que os iraquianos devem assumir a responsabilidade pelo país para que as tropas norte-americanas possam se retirar.
Obama foi ao Iraque se encontrar com comandantes militares norte-americanos e líderes iraquianos e avaliar pessoalmente a segurança no país, após anunciar sua estratégia para encerrar a impopular guerra de seis anos com a retirada de todas as tropas de combate dos EUA até o final de agosto de 2010 e o restante das tropas até o final de 2011.
"É hora de fazermos uma transição para os iraquianos. Eles precisam assumir responsabilidade pelo seu país... e para fazê-lo eles precisam fazer ajustes políticos", disse Obama a cerca de 1.500 soldados em uma base na região de Bagdá.
O presidente dos EUA chegou à capital iraquiana de surpresa após partir da Turquia, no encerramento de sua primeira grande viagem internacional. Essa é a primeira vez que Obama vai ao Iraque desde que foi eleito presidente em novembro de 2008, com uma campanha em que deu ênfase à retirada de tropas norte-americanas da guerra.
Em encontro com o primeiro- ministro iraquiano, Nuri al-Maliki, Obama reconheceu reformas políticas feitas no país, mas ressaltou a necessidade de maiores esforços. Obama disse após sua conversa com Maliki que foram feitos grandes progressos na segurança e que seguiria com seu plano de retirar as tropas norte-americanas até 2011.
O presidente norte-americano disse ser "absolutamente crucial" para todos os iraquianos estarem integrados adequadamente no governo e forças de segurança, acrescentando que ele gostaria de trabalhar com Maliki em um "espírito de parceria".
Obama disse também esperar que sua viagem ajude as facções iraquianas a alcançarem soluções "justas e imparciais" para os problemas que podem acontecer antes das eleições deste ano.
"Passamos bastante tempo tentando resolver o Afeganistão, mas há muito trabalho a ser feito aqui", afirmou, acrescentando que um dos principais motivos da viajem era agradecer as tropas.
"Eles estão fazendo um trabalho extraordinário. O general Odierno tem ajudado a liderar uma operação muito efetiva aqui", acrescentou Obama, citando o general Ray Odierno, principal comandante do EUA no Iraque, que estava a seu lado.
O avião presidencial aterrissou no aeroporto internacional de Bagdá um dia depois de uma série de explosões aparentemente coordenadas em diversos pontos da capital iraquiana ter matado 37 pessoas. Na terça-feira, um carro-bomba explodiu no distrito xiita de Kadhimiya, no noroeste de Bagdá, matando nove pessoas e deixando 20 feridas.
Os ataques ressaltaram os desafios de segurança que ainda resistem, enquanto as forças americanas se preparam para implementar a ordem de Obama de retirada de todas as tropas de combate até agosto de 2010.
A viagem do presidente a Bagdá, que só foi revelada quando o Air Force One pousou em solo iraquiano, teve duração de apenas quatro horas, de acordo a rede CNN.
PLANO DE SAÍDA
Menos de três meses depois de chegar à Presidência, Obama quer deixar claro para os comandantes americanos que compartilha as preocupações deles em conservar os ganhos conquistados na segurança e assegurar que as tropas não se sintam esquecidas, à medida que seu número é reduzido no Iraque.
A guerra e a insurgência sectária desencadeada pela invasão liderada pelos EUA em 2003 tiveram um recuo dramático no último ano, mas as forças de segurança iraquianas ainda enfrentam desafios tremendos enquanto assumem as operações militares e de policiamento antes realizadas pelos EUA.
"Todos sabemos que nos próximos muitos meses a solução para os desafios do Iraque passará por uma solução política," disse o porta-voz da Casa Branca, Robert Gibbs. "É por isso que o presidente quer falar com o primeiro-ministro Maliki e o presidente (Jamal) Talabani."
A redução das tropas americanas no Iraque vai ajudar Obama a elevar o número de soldados no Afeganistão, para enfrentar o agravamento da violência nesse país. Obama acusa Bush de ter sido demasiado fixado no Iraque para focar a luta mais crucial contra a militância islâmica no Afeganistão.
Apesar da mudança nas prioridades, Obama escolheu o Iraque em lugar do Afeganistão para sua primeira visita a uma zona de guerra na condição de comandante-em-chefe. A decisão foi facilitada pelo fato de ele já se encontrar na vizinha Turquia.
Com o cronograma da retirada já determinado, a visita de Obama teve por objetivo lhe dar uma visão em primeira mão de como sua estratégia de retirada está funcionando em campo. Obama já deixou claro também que vai pressionar o governo de Maliki para cumprir sua parte do trato, desde ampliar suas forças de segurança até implementar mais reformas políticas.
Pelo plano de Obama, os aproximadamente 140 mil soldados americanos que estão no Iraque hoje serão reduzidos para entre 35 mil e 50 mil -- número ainda visto como grande demais pelos críticos da guerra -- até o prazo de 2010. A missão das tropas remanescentes será redefinida, passando a ser principalmente ajudar a treinar forças iraquianas. Mas essas tropas remanescentes também terão que deixar o Iraque até o final de 2011.
Analistas disseram que, à diferença de Bush -- visto por muitos iraquianos como culpado pela morte de dezenas de milhares de pessoas após a invasão, embora alguns reconheçam sua gratidão pela queda de Saddam Hussein --, Obama será bem recebido pelos iraquianos.
"Desta vez não haverá sapatos jogados, com certeza", disse o analista Hazem al Nuaimi, referindo-se ao jornalista iraquiano que atirou seus sapatos contra Bush na última visita feita pelo então presidente norte-americano ao Iraque, em dezembro do ano passado.
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