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domingo, 12 de outubro de 2008

É Marta Suplicy, mas poderia ser Bourbon



A diferença de postura, ontem à noite, entre a petista Marta Suplicy e o democrata Gilberto kassab era espantosa. Ele concedeu uma entrevista muito serena, afirmando que iria procurar o PPS e o PSDB, de olho no segundo turno, fez um agradecimento aos eleitores e disse que o embate futuro será dos mais duros, reconhecendo o valor do adversário. A petista preferiu convocar uma coletiva, num vermelho esfuziante, e anunciou a guerra, afirmando que, claro, aceita a comparação da sua gestão com a do atual prefeito, mas que quer, sobretudo, comparar trajetórias e biografias políticas.

O PT, que fez acordo com Paulo Maluf em 2004, endossado por Marta, vai insistir na tática de demonização de Gilberto Kassab — tática essa que, claramente, não funcionou no primeiro turno. Calada, Marta era uma poeta dos votos. Foi começar a falar, e iniciou a trajetória descendente, até estes surpreendentes — sobretudo para o PT — 32,79% dos votos. Sim, muito menos do que o PT esperava obter.

É o partido em sua natureza. A coletiva buscava rivalizar com o grande vitorioso da noite, Kassab, nos jornais desta segunda. A petista poderia ter-se contentado em anunciar a palavra de guerra. Mas não. Achou pouco. Aquela que passou boa parte do tempo tratando com desdém o tucano Geraldo Alckmin — chegou a acusá-lo, num debate, de ter responsabilidade nos ataques que o PCC fez em São Paulo — chamou o ex-governador para uma contradança. E o considerou um exemplo de “elegância, de ética”, deixando claro que espera o apoio do rival no segundo turno.

Em nenhum momento tratou a disputa, enfim, como um dado corriqueiro do jogo democrático. Nada de reconhecer valores alheios. Afinal, ali estava Marta Tereza Smith de Vasconcelos Suplicy, esse nomão para 400 talheres, não é?, apesar de seu propalado amor pelo povo — em nome de quem, dizia a sua campanha, ela decidira lutar, embora tenha nascido rica... Santo Deus! Talvez ela devesse adotar mais um sobrenome — não, não é o "Wermus", do seu marido, o argentino Belisário, que tira onda de grande especialista em política brasileira. Sugiro que ela acrescente "Bourbon" a seu nomão. Sobre tão ilustre família, escreveu Talleyrand: “Não aprenderam nada; não esqueceram nada”.


Reinaldo Azevedo

Se em meu ofício, ou arte severa,/ Vou labutando, na quietude/ Da noite, enquanto, à luz cantante/ De encapelada lua jazem/ Tantos amantes que entre os braços/ As próprias dores vão estreitando —/ Não é por pão, nem por ambição,/ Nem para em palcos de marfim/ Pavonear-me, trocando encantos,/ Mas pelo simples salário pago/ Pelo secreto coração deles. (Dylan Thomas – Tradução de Mário Faustino)


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