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quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Advogado de Nayara vai pedir indenização de R$ 2 milhões


Defesa da família da menina vai entrar com processo contra o Estado pois a vida dela foi colocada em risco

Diego Zanchetta, de O Estado de S. Paulo


Nayara, no momento em que voltou ao apartamento e foi feita refém por Lindemberg

Robson Fernandjes/AE - 16/10/2008

Nayara, no momento em que voltou ao apartamento e foi feita refém por Lindemberg

SÃO PAULO - O advogado da família da menina Nayara Rodrigues da Silva, de 15 anos, vão entrar com um processo contra o Estado e pedir indenização de pelo menos R$ 2 milhões. O advogado Angelo Carbone afirmou que vai entrar com processo pela vida menina ter sido colocada em perigo, já que a polícia permitiu que ela voltasse ao apartamento onde Eloá Cristina Pimentel, de 15 anos, era mantida refém por Lindemberg Alves, de 22 anos, e acabou sendo feita refém de novo. Nayara havia sido libertada pelo seqüestrador, mas voltou ao apartamento com o objetivo de negociar a libertação da amiga.

Nayara foi baleada no rosto após o final trágico do seqüestro, que durou quase 101 horas. Eloá foi atingida na cabeça e na virilha e teve morte cerebral declarada no sábado, 18, um dia depois do fim do seqüestro. Nayara passou por uma cirurgia na manhã nesta quarta-feira. Após a cirurgia, a jovem deve passar por avaliações com um clínico, um psicólogo e um psiquiatra, para depois receber alta do hospital, o que deve acontecer no fim da tarde, de acordo com o hospital. A polícia quer que ela preste depoimento o quanto antes, talvez até logo após deixar o Centro Hospitalar de Santo André, onde está internada.


Na terça, a diretora do hospital afirmou que Nayara estará apta a prestar depoimento à Polícia Civil assim que tiver alta. A declaração, feita em entrevista coletiva após reunião na noite anterior com policiais do Instituto de Criminalística (IC), confronta recomendação de psiquiatras e psicólogos que atenderam a garota na segunda-feira, 20, quando a informaram sobre a morte de Eloá Pimentel, de 15 anos.

Na terça, Nayara seguiu alternando depressão e choro com momentos de entendimento pela morte da amiga, segundo relatos dos médicos e do pai, Luciano Vieira. Ele garantiu que não deixará a filha depor nesta quarta. "Ela não vai prestar depoimento, não tem condições de falar nada ainda", disse.

Nayara foi impedida pelos médicos de ir ao enterro da amiga, mas ligou para a mãe de Eloá por volta das 8h30 de terça, antes da cerimônia. "Ela disse para a Ana Cristina (mãe de Eloá) que sentia muito e que gostaria de estar ao lado dela para abraçá-la naquele momento, mas que os médicos não permitiriam", contou a mãe, Andréia Rodrigues Araújo. Segundo ela, a filha acordou abatida, sabendo do enterro da amiga, mas fez "o possível" para aceitar a situação. "Não entramos em muitos detalhes com ela. Melhor aguardar um pouco mais", disse Andréia.

De acordo com a diretora do Centro Hospitalar que vetou a ida ao enterro, a recuperação da garota permite a participação, ainda nesta semana, da reconstituição do crime. O Estado apurou que os peritos de Santo André querem fazer a reconstituição na cena do seqüestro, em um conjunto habitacional, até a próxima terça-feira. O depoimento de Nayara deve ser tomado na quinta-feira cedo, após a primeira noite fora do hospital.

Acompanhamento médico

"A probabilidade de alta amanhã (quarta) é grande e deve ocorrer no fim do dia. Ela vai para o centro cirúrgico de manhã para retirar um aparelho usado para a reconstrução do céu da boca, e deve ter alta à tarde", disse Rosa Maria. "Os policiais vieram conversar comigo para organizar o depoimento, a reconstituição. Ela tem condições", acrescentou a diretora.

Questionada sobre a divergência de opinião com a equipe de psiquiatras liderada pela médica Suely do Valle Yatsuda, a diretora disse que haverá nova avaliação psicológica antes da alta. O secretário de Saúde de Santo André, Homero Nepomuceno Duarte, havia dito que a jovem não teria condições de depor após a internação.

"Posso adiantar que ela se comunica bem, de forma visível. Mas não é a saúde quem cuida das investigações", completou a diretora, que negou sofrer pressão da Polícia Civil para acelerar as investigações. O depoimento de Nayara é considerado imprescindível para a polícia saber se houve um disparo do seqüestrador Lindemberg Alves, de 22 anos, antes da invasão do Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate) no apartamento onde estavam as vítimas, como sustenta a Polícia Militar.

Peça chave

"O depoimento dela é realmente muito importante. Mas, independentemente de o tiro ter saído antes ou depois, isso não muda a acusação contra Lindemberg pelas tentativas de homicídios e cárcere privado. Ele será indiciado", afirmou o promotor Antonio Nobre Folgado, do Tribunal do Júri de Santo André. Folgado vai receber o inquérito da Polícia Civil até o dia 30. Ele, então, terá cinco dias para preparar a denúncia contra o seqüestrador.

O pai de Nayara quer poupar a filha das lembranças dos dias em cativeiro. "Temos de distrair ela com outras conversas. Eu nem perguntei nada sobre tiro, tenho falado sobre outras coisas. Vamos ainda ver se ela vai conseguir salvar o ano escolar", disse Vieira. "Ela já chorou muito de manhã por causa do enterro da Eloá, mas agora, aos poucos, está compreendendo a situação."

Amigas e o comerciante Masataka Ota, pai do garoto Ives Ota, assassinado em agosto de 1997 por um ex-funcionário da família, também foram ao hospital, mas não puderam visitar Nayara. "Temos de respeitar esse momento de dor da família. Combinei de fazer depois uma visita na residência deles (da família)", contou Ota.

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