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segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Líder de protesto na Bolívia planeja bloquear gás ao Brasil


Manifestantes interrompem trânsito em estradas na fronteira com o Brasil.

Da BBC


Um dos líderes dos protestos no departamento (Estado) boliviano de Santa Cruz, David Sejas, disse à BBC Brasil que planeja, com outros opositores do presidente Evo Morales, "enfrentar os militares" para chegar às válvulas dos poços de gás que abastecem o Brasil.


"Vamos enfrentar os militares no decorrer desta semana", disse Sejas, que é presidente da União Juvenil Cruzenha, em entrevista por telefone.


Quando questionado se a medida poderia afetar o abastecimento de gás ao mercado brasileiro, Sejas respondeu: "Claro que sim, que podemos prejudicar este fornecimento".


"Estamos dispostos a todo tipo de pressão até que o governo (de Morales) recue nos cortes das verbas (do setor petroleiro para os departamentos) e na nova Constituição", afirmou.


A União Juvenil Cruzenha faz parte da estrutura do Comitê Cívico Santa Cruz, principal reduto de oposição a Morales na Bolívia.


Bloqueios

Sejas lidera nesta segunda-feira bloqueios de estradas na fronteira entre a Bolívia e o território brasileiro.


Segundo o líder oposicionista, carros, manifestantes e montanhas de areia interrompem o trânsito nas localidades bolivianas de San Vicente e San Matías, em Santa Cruz, no caminho para Cuiabá, e de Puerto Suarez, em frente a Corumbá.


"Ninguém entra e ninguém sai", disse.


Regiões de acesso ao Paraguai e à Argentina já estavam bloqueadas.


Nas últimas horas, autoridades bolivianas reconheceram que os departamentos estão praticamente isolados devido aos protestos nas estradas.


Em muitos casos os moradores são obrigados a fazer longas caminhadas e, de acordo com o governo, há escassez de alguns produtos.


Abastecimento

O ministro de Hidrocarbonetos, Carlos Villegas, disse, no domingo, que as exportações de gás natural para o Brasil e a Argentina são realizadas "normalmente".


"A partir do momento em que foram declaradas as greves e os bloqueios de estradas, o governo decidiu militarizar (as regiões gasíferas) e resguardar todo o sistema de transportes para garantir tanto o abastecimento interno quanto o externo", disse.


Villegas afirmou que qualquer outra medida mais radicalizada, como a tentativa de controlar as válvulas, afetaria as próprias regiões onde se concentra a oposição a Morales.


Essas são regiões onde estão as principais produções de gás e petróleo - caso de Tarija e Santa Cruz, os dois departamentos mais ricos do país, e ainda Beni e Pando, que as acompanham no protesto.


"Se fizerem isso (fechar válvulas) serão prejudicados", disse o ministro.


A Bolívia é dona da segunda maior reserva de gás da região e os recursos gerados pelo setor são a principal fonte de renda do país.


O ministro afirmou que os bloqueios já provocaram falta de GLP (Gás Liquefeito de Petróleo) nos quatro departamentos, que formam a chamada meia-lua, a mais avessa a Morales.


Constituição

Nesta segunda-feira, os aeroportos de Tarija e de Cobija suspenderam seus vôos diante dos protestos, segundo a agência de notícias Red Erbol.


Aa União Juvenil de Beni informou que prepara bloquear outro acesso ao território brasileiro, através da localidade de Guayaramerín.


Em Beni e em outros pontos do país manifestantes ocupam prédios públicos há vários dias.


A série de manifestações foi anunciada há 15 dias pelos prefeitos (governadores) opositores a Morales, liderados por Rubén Costas, de Santa Cruz.


No fim de semana, Morales anunciou que atendia uma das revindicações dos manifestantes, enviando ao Congresso Nacional um projeto de lei para definir, em referendo, a ratificação ou não da nova Constituição. Anteriormente, Morales havia marcado a data do referendo por meio de decreto.


"Nada disso serve, porque essa Constituição não tem a nossa cara. A Constituição foi aprovada apenas pelos que apoiam o governo e é comunista", disse Sejas.


"Não queremos derrubar o presidente. Queremos que ele termine seu mandato, mas que nos ouça. Por isso pressionamos, para que nos escute", afirmou.


O clima tenso ocorre um mês depois que os eleitores ratificaram a continuidade de Morales e de seus principais opositores no governo, em um referendo realizado em agosto.

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