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terça-feira, 22 de abril de 2008

A IRONIA EM EÇA DE QUEIRÓS


A IRONIA EM EÇA DE QUEIRÓS


"THE IRONY IN EÇA DE QUEIRÓS"
BRASIL, Clotilde Iemini de Rezende. *

RESUMO

Este trabalho encerra uma amostra do que foi Eça de Queirós. Enfeixa alguns de seus livros, comenta-os ligeiramente, dando pálida idéia daquela verve espontânea e rica. Tenta mostrar o vigor de sua veia satírica, tanto nos romances, como nas polêmicas. Que o digam seus adversários, que conheceram como ninguém, o valor de seu sarcasmo. Focaliza alguns aspectos de um autor que representa uma fase da história de Portugal e através do tempo mantém-se atualizado. Encantou as gerações passadas, continua admirado pelos jovens e encantará as gerações do futuro.

UNITERMOS

Veia satírica, sarcasmo, adversário, polêmica.


ABSTRACT

This work gives a sample of what Eça de Queirós was. It points out some of his books, and slightly comments them, giving a smooth idea from that rich and spontaneous verve. It focus some aspects of an author that represents a phase of the history of Portugal and through the time keeps himself up to dated. He amazed past generations, continues admired by youngsters and will enchant future ones

KEYWORDS

Satirical vein, sarcasm, adversary, controversy.

______________________________
Resumo de dissertação/mestrado (artigo datado de 26/07/2002).
* Professora encarregada da assessoria na área de Língua Portuguesa do Curso de Letras da UNINCOR. Mestre em Educação.

INTRODUÇÃO

A escolha de Eça de Queirós para este trabalho, decorre da idéia de que o autor continua vivo e atuante. Prova disso é a imprensa continuamente estar citando seus personagens. Focaliza Eça e várias etapas de sua tão rica experiência literária.
Começa pelo século XVIII quando foram gestados os acontecimentos que influíram na vida e carreira do escritor. A velha Universidade de Coimbra sempre plasmando o futuro e forjando mentalidades. Portugal, palco fiel onde Eça polariza as convulsões do século: a revolução industrial, estética e intelectual.
A ironia que impregna o estilo de Eça é o motivo da escolha. É leitura agradável e bem humorada. Espalha-se em toda a obra atingindo o ápice nos privlegiados Conde de Abranhos, Conselheiro Acácio e Pacheco que constituem o ponto alto da criação de tipos.

REVISÃO DA LITERATURA

Nascido a 25 de novembro de 1845 em Póvoa do Varzim, e formado em direito pela histórica Universidade de Coimbra, José Maria de Eça de Queirós, desde os primeiros escritos revelou virtudes peculiares, a ironia acima de todas. Surpreendia o ridículo de cada situação, apontava a chaga da sociedade, talvez para forçá-la a se corrigir. O estilo não depende da vontade do homem. Decorre de suas determinantes fisiológicas e psicológicas; apura-se pela educação literária e obedece às circunstâncias extrínsecas.
Eça talvez tenha tido influência de sua família, uma vez que era filho de pais solteiros, foi amamentado e criado pela madrinha até os cinco anos de idade e teve avô revolucionário (antimiguelista) que só não foi enforcado por ter se refugiado no estrangeiro.
Esse mesmo avô, paterno, tempos depois foi nomeado Ouvidor no Rio de Janeiro. O pai de Eça nasceu no Brasil. (FARO, 1977).
Conviveu com toda uma geração de novos escritores o que veio fortalecer seu estilo. Fez parte da famosa geração de 70, em Portugal, envolvida e patrocinadora da não menos famosa Questão Coimbrã. Quando da realização das Conferências do Cassino Lisbonense, foi um dos conferencistas. Proferiu a quarta, sob o título de A Nova Literatura, onde mostrava o Realismo como expressão de arte. (MOISÉS, 1992). A vedete de seus livros, O Crime do Padre Amaro, veio a ser o marco do início do Realismo em Portugal.
Ao tentar entrar na diplomacia, sonho antigo, conseguiu primeiro lugar mas foi preterido pelo segundo colocado. Talvez em represália, de parceria com Ramalho Ortigão, começa a publicar As Farpas, crônica mensal de política, letras e costumes. (MOISÉS, 1977). Mais tarde essas farpas foram aparadas por Portaria do Ministro dos Estrangeiros nomeando Eça cônsul em Havana. Foi por essa época que aconteceram as Conferências do Cassino Lisbonense.
Em suas andanças como cônsul pôde bem observar as pessoas, o que muito ajudou ao criar seus tipos imortais.


Escreve O Primo Basílio, romance estudo da vida burguesa de Lisboa. Trabalho arguto de observação psicológica e palco onde são apresentados o Conselheiro Acácio e Juliana Couceiro. (QUEIRÓS, s/d). Em O Conde de Abranhos, maneja a pena com tal requinte de ironia, sarcasmo e mordacidade , que ela se transforma em afiada navalha de fogo, retalhando a reputação, a capacidade e a cultura dos estadistas portugueses. É uma sátira, uma caricatura contada miudamente pelo secretário particular de um grande homem público.
Publica tempos depois Os Maias, onde narra um caso de incesto. Nele retrata a vida mundana e romanesca da sociedade da época. O autor até se retratou um tanto no personagem João da Ega. O escritor e desafeto de Eça, Bulhão Pato, julgou-se ridicularizado no personagem Tomás de Alencar.
Depois da publicação de Os Maias houve uma polêmica triangular: Pinheiro Chagas e Bulhão Pato contra Eça de Queirós. Começou no jornal O País, do Rio de Janeiro; continuou no O Tempo, Portugal. A imprensa portuguesa e brasileira reproduziram todos os lances. Deu azo à consagração de Eça como polemista. (FARO, 1977).
Mostrou ser exímio polemista, quando foi chamado a isso. Não decepcionando seu fiel público leitor.
Com Os Maias completa-se o estudo, a sátira à vida lisboeta do final do século XIX. Entretanto logo depois vem a público o primeiro fascículo de O Mandarim, conto fantástico em que Eça, através da mentalidade vigente na época, analisa o caráter português, concluindo que o medo do castigo temporal imediato é muito mais eficaz na repressão ao crime do que a promessa de uma duvidosa recompensa em vida ulterior.
O que agrada em Eça, não é a invenção de palavras novas nem o malabarismo em busca do inédito sensacional. É a maneira imprevista e elegante com que ele diz coisas velhas usando os mesmos velhos termos. Criou novo estilo, fundou nova estética. Com o passar do tempo Eça amadurece. Arrefece-lhe o ardor panfletário. (BELLO, 1977).
Como romancista social, Eça perseguiu a verdade fustigando a estrutura de um mundo arquitetado com erros e vícios. Preocupou-se com a injustiça e com o colorido da verve disfarçava suas investidas. (CAVALCANTI, 1966).
Conhecendo o jogo infinito da combinação das palavras Eça, assim como Flaubert, sabia que a menor alteração na ordem tradicional, insufla matizes insuspeitáveis e cria novo brilho nas expressões banalizadas pelo uso.
Uma língua rica não é a que tem vocabulário asfixiante mas a que permite flexibilidade combinatória. Em alguns estilos, o autor fica na penumbra. Não Eça. Ele situa-se entre o leitor e os fatos e oferece uma versão tão manipulada pela sua personalidade, que o relato se torna indissociável dela. (DA CALL, 1969).
Eça acreditava na virtude social do riso; devia aplicar-se o riso como específico de cura.
Não tem a intenção de usá-lo pouco; seu estilo chega a vincar a face com o ríctus da constante ironia. Essa ironia é quase sempre espontânea mas, às vezes é também irritante e profissional. Tudo lhe serve para provocar o riso, para mostrar que Portugal está fora da atualidade, tudo lá é antiquado e mesquinho. Descobre, através dos manifestos de Antero de Quental, que à sua geração cabe o dever de reerguer Portugal, da apatia, e incorporá-lo ao movimento do século XIX. (MOOG, 1977).
"Fica-se a pensar que só um espírito superior, como o de Eça de Queirós, que via e apreciava as Almas e o Mundo através do brilho cintilante do seu monóculo, nos poderia dar as belas, as incomparáveis, as imorredoiras páginas que enchem uma Literatura e eternizam uma Nacionalidade." (LELLO & IRMÃO, s/d).
Falecido em Paris a 16 de agosto de 1900, tendo ao lado a esposa e os dois filhos, seu corpo

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