bataclãs, para auferir indulgências e benesses.Ao voltar, por desastrado equívoco, troca a relíquia da Titi, um fac símile da coroa de Cristo, por uma camisola impregnada de pecado ganha como souvenir de uma meretriz no Cairo. Perde, além da confiança da Titi, a cobiçada herança. É expulso pela tia. No final redimese tornando-se honesto, não por dignidade mas por velhacaria. Eça tira grande partido dessas situações.
5. Outros Tipos de Eça
Outro tipo inesquecível nos obsequia Eça na Correspondência de Fradique Mendes, (QUEIRÓS, s/d), pseudônimo que, pela segunda vez adota e faz a apresentação de seu Pacheco, fátuo, ambicioso, vaidoso, legítimo parente de seus irmãos materiais: o Conselheiro Acácio e o Conde. Já em A Cidade e as Serras (idem), nos apresenta a Jacinto de Tormes, festejado e admirado, e em O Mandarim, (idem), temos o pequeno burocrata Teo-doro. Juntamente com seu progenitor vul-neraram o acesso à imortalidade de onde jamais sairão. Em Carta aos Estudantes do Brasil, (QUEIRÓS, s/d), Eça fala de um derrame de Legiões de Honra pelo Presidente da República Francesa. Uma das pessoas atingidas foi a famosa atriz dramática Sarah Bernardt. O Fígaro, barbeiro indiscreto e bisbilhoteiro, não se convenceu inteiramente do mérito da distinção e abriu em suas colunas espaço para que os agraciados justificassem a razão da prenda. Sarah, sem o menor constrangimento, espalhou em negrito e letra de forma, suas justificativas: Ninguém mais do que ela mereceu a distinção. No Canadá um cortejo de trenós levando os três poderes a escoltaram de Quebec a Otawa. Na Austrália foi um delírio de pessoas que decidiram aprender e adotar o francês em suas conversações, e por aí vai a dramá-tica navegando tranqüilamente num mar de cabotinismo e megalomania. Porém o que embasbacou o missivista, foi o que ela disse ter acontecido no Rio de Janeiro. Os estudantes, na porta do hotel, desatrelaram as cavalgaduras e disputaram a sabre e espada, o privilégio de ocupar os varais e tiras da carruagem da divina Sarah. O missivista não traga a assertiva da comediante mas se reporta a Kant com a Crítica da Razão Pura, objetivismo e subjetivismo. Não vale por si só a existência de um fato, basta entretanto, a crença na sua existência. Assim, mesmo que Jesus Cristo não tenha existido, a simples crença na sua existência, firma a mesma, logo, existiu porque se crê nele.Assim, pois, embora não creia ele, o missivista, que os estudantes do Brasil se hajam transformado em animais de tração, a verdade é que o mundo intelectual da Europa crê nisso, portanto, atuais estudantes brasileiros, futuros doutores, viraram burros de carroça e correm o risco de qualquer intérprete de Fedra ou Margherite Gautier, chegando ao Rio, chegue ao patamar do hotel e grite ao porteiro: - "Estou pronta. Pode atrelar os estudantes." Mas não se agastem os acadêmicos de além-mar, porque neste andar, quando a divina intérprete voltar aos Estados Unidos, de lá retornará dizendo que todas as manhãs, em Washington lhe proporcionaram um passeio a cavalo, no lombo do Presidente.
DISCUSSÃO
Basílio é um mau elemento. Vaidoso, insensível, moralmente deformado, procura extrair da situação todas as vantagens, sem se comprometer. Explora a futilidade de sua parceira e não se comove com a trágica conseqüência de sua pecaminosa aventura. |
| Juliana Couceiro por falta de habilidade em se fazer útil e querida, curte a rejeição em seu próprio meio; fica amarga e vingativa; odeia quem é feliz. Tortura a pobre Luísa e acaba vítima de sua própria trama. Conselheiro Acácio. É o mais requintado retrato do imbecil. Tornou-se tão famoso por suas tiradas que mereceu um verbete no dicionário. O Conde de Abranhos descreve algum político famoso, possivelmente inimigo do autor, um prodígio de cretinice bem sucedida. É digno de encarnar a expressão triunfo do idiota, cunhada pelo dramaturgo Nelson Rodrigues. Teodorico Raposo, na Relíquia, é a hipocrisia em cena. Titi é a beata característica de Eça. Jacinto de Tormes é o Príncipe da Grã-Ventura. Em A Cidade e as Serras, Eça extirpou a ironia amarga de seu estilo e nos presenteia com uma pintura da felicidade paradisíaca. O nome do personagem se tornou tão conhecido que um famoso cronista social escolheu Jacinto de Tormes para seu pseudônimo literário. O personagem foi inspirado por Eduardo Prado, escritor paulista, amigo de Eça, exilado na Europa. Teodoro em O Mandarim, termina convencido que um sofrimento infligido hoje, agora, tem muito mais força que a ameaça dos tormentos do inferno, no outro mundo.
CONCLUSÃO
Pois bem, este despretensioso estudo não comporta maiores incursões nesta selva selvagia que é a obra literária de José Maria de Eça de Queirós. Aqui a encerramos. Note-se, entretanto, que o autor teve os maiores detratores entre seus contemporâneos; manejando sempre as armas da ironia, semeou admiração com uma das mãos, enquanto o ódio manava da outra. Escreveu também Vida de Santo Onofre e Vida de São Cristóvão, O Suave Milagre e muitos outros contos, para enlevo de certa classe de ledores despreveni-dos de que tais composições encerrem a mesma mensagem contida nas mais viperinas de suas sátiras. Mas por esse tempo Eça havia aprimorado sua verve e a tornado mais sutil. Imputam-lhe a condição de deletério, sem considerar que deletéria era a época em que viveu, quando, por tal modo se dissolviam os costumes, que o carinhoso apelido de Alfacinha, dado ao lisboeta chegou a ter o significado de proxeneta. O escritor corrompeu uma sociedade ou apenas alertou as elites descrevendo os fenômenos de uma sociedade dissoluta? Induziu o clero a se perverter, ou apenas advertiu as autoridades eclesiásticas para a prática constante do grande pecado canônico da intolerância? Fácil confusão nas relações entre causa e efeito, mas a verdade é que a advertência ecoou com proveito nos Conselhos Religiosos dos dias que correm. E com que proveito!! Não nos animou propósito de defender ou justificar o autor, mas a imputação que se possa assacar contra sua obra, seria a inatualidade por carência das causas, nos tempos hodiernos e abundância das mesmas, ao tempo em que ela foi engendrada. Mas hoje os tempos mudaram, e a leitura de Eça "sugere-nos esta observação paradoxal: com o passar dos anos o livro ganhou atualidade. Os tempos e os homens parecem querer encarregar-se de transformar em realidade flagrante o que não passava de exagero burlesco." (LELLO & IRMÃO, s/d). Ele mesmo, escrevendo em seguida ao Conde d'Abranhos a Catástrofe, (QUEIRÓS, s/d), revelou uma visão profética ou, um sonho premonitório, antevendo que sua pátria, cozinhada longamente |
Nenhum comentário:
Postar um comentário