FERNANDO SERPONE
da Folha Online
Ingrid Betancourt, refém das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) há seis anos, é a seqüestrada mais humilhada pelos guerrilheiros, afirmou nesta segunda-feira o publicitário Juan Carlos Lecompte, marido da franco-colombiana, que pediu a intervenção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva pela libertação dos reféns.
Zé Paulo Cardeal/TV Globo |
Juan Carlos Lecompte, marido da refém Ingrid Betancourt |
"Os que recuperaram sua liberdade dizem que ela (Betancourt) se mantém firme em suas convicções, que a humilham e ela confronta a guerrilha, e por isso, ela é a que mais maltratam", disse Lecompte, 45, durante gravação de entrevista para o "Programa do Jô", da Rede Globo, em São Paulo, que vai ao ar nesta segunda-feira.
De acordo com o marido de Betancourt, na Colômbia há hoje pouco mais de 3.000 seqüestrados, sendo que alguns estão em cativeiro há mais de dez anos.
Para o publicitário, as Farc "são terroristas porque têm seqüestrados civis. Se não os tivessem, poderiam ser uma guerrilha".
Na semana passada, o governo colombiano anunciou que, se as Farc libertarem Betancourt, dará por iniciado o acordo humanitário para a troca de reféns por rebeldes presos. A afirmação de Bogotá, que representa uma mudança da posição adotada até o momento, foi divulgada após as notícias de que o estado de saúde de Ingrid é muito grave.
"Há uma versão oficial do governo colombiano de que ela foi vista em um posto de saúde, e que estava muito mal, em um estado deplorável, delicado, e deve ser levada a um hospital", afirmou Lecompte. "Por isso essa urgência pela busca de ajuda para libertá-la."
Chávez
O colombiano afirmou que, graças ao presidente da Venezuela, Hugo Chávez, seis reféns políticos das Farc foram libertados neste ano, em dois episódios diferentes. "O presidente Chávez é alguém que a guerrilha respeita e ouve, por isso o converte em uma pessoa idônea para resolver o problema."
De acordo com Lecompte, se a Colômbia não tivesse realizado a operação militar em território equatoriano --que matou Raul Reyes, número dois da guerrilha---, um outro grupo de dez reféns, entre eles Betancourt, já teria sido libertado. O ataque, em 1º de março, desencadeou uma grave crise entre Colômbia, Equador e Venezuela.
Recentemente, Lecompte esteve com as presidentes do Chile e da Argentina, Michelle Bachelet e Cristina Kirchner, em busca de apoio regional. "À medida em que conseguiram internacionalizar o problema, conseguiram as libertações", afirmou o publicitário. "Enquanto o problema estava restrito à Colômbia, nada acontecia."
Lula
O colombiano pediu ainda a intervenção do presidente Lula. "Se o presidente Lula se envolver --o Brasil é a potência da América Latina, é nosso vizinho--, ele pode falar com o governo colombiano, pode falar com a guerrilha, pode incidir no problema", afirmou ao programa.
Lecompte disse ainda que "a droga na Colômbia é o combustível da guerra --financia as Farc, financia a guerrilha, financia os paramilitares, financia alguns políticos corruptos e alguns militares corruptos também". Para o colombiano, "se não existisse a droga na Colômbia, não existiria a violência".
Ingrid Betancourt, 46, foi seqüestrada em 23 de fevereiro de 2002, quando fazia campanha à Presidência como candidata pelo Partido Verde. Desde então, a França passou a intervir na questão dos reféns da guerrilha a fim de conseguir sua libertação.
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