03/12/2010 - 23h04
JOÃO PEQUENO
DO RIO
O acordo de união entre as facções criminosas do Rio de Janeiro pode ter acabado após a ocupação do Complexo do Alemão no último domingo (28). Depois de perder seu maior quartel-general, o CV (Comando Vermelho) se enfraqueceu e voltou a disputar com a ADA (Amigos dos Amigos) o controle de favelas menores, apontam policiais militares dos serviços reservados (P-2) de batalhões da PM na zona norte do Rio.
Leia a cobertura completa das operações
Segundo eles, a quebra do acordo foi demonstrada na manhã desta sexta-feira, quando suspeitos, presos após serem baleados em um tiroteio com uma patrulha do 22º Batalhão (Maré), contaram que, na madrugada, haviam tentado invadir e tomar para o CV o morro do Jorge Turco, em Colégio (zona norte).
Dominado pela ADA ao longo da última década, o Jorge Turco foi tomado pelo Comando Vermelho no ano passado, mas havia sido retomado pela facção rival justamente no fim de semana enquanto polícia e Exército ocupavam o Alemão, de acordo com a P-2. Na madrugada desta sexta, um grupo de criminosos ligados ao CV tentou invadir novamente a favela, usando um Renault Symbol roubado além de outros carros, como um Fox e um Corsa, segundo testemunhas.
A tentativa de invasão não funcionou e, após serem expulsos do Jorge Turco, eles iriam se abrigar no Parque União, dominado pelo CV no Complexo da Maré, a bordo do Renault, que foi localizado às 7h pelos policiais na avenida Brasil, através do sistema de rastreamento via satélite. Após 1,5 km de perseguição, a PM conseguiu cercá-los, na altura de Bonsucesso, e teve início a troca de tiros.
Gustavo da Silva Bernardino, 24, conhecido como DG, morreu no HGB (Hospital Geral de Bonsucesso) --quase em frente ao local do tiroteio, após ser baleado na cabeça. Diego Souza Cordeiro, 18, baleado na perna e Warlley Pinto dos Santos, 21, atingido por estilhaços de bala, também foram levados para o HGB. Outro suspeito fugiu em direção à favela Nova Holanda, também na Maré, com um fuzil. De acordo com a P-2, os presos contaram que, enquanto o CV dominou o Jorge Turco, DG atuava como gerente da boca-de-fumo, tendo Diego como segurança e Warlley como vendedor de drogas.
Além do Jorge Turco, diversas outras favelas da zona norte do Rio têm sido alvo de disputas entre CV e ADA, como os morros do Juramento, em Vicente de Carvalho, e da Serrinha, em Madureira. Em todas elas, a ordem de invasão, pelo CV, partiu justamente dos chefes baseados no Complexo do Alemão e na Vila Cruzeiro, como Fabiano Atanázio da Silva, o FB, que está foragido.
O cenário de um novo embate entre as facções foi reforçado já à noite, por volta das 21h, um homem foi baleado na perna por bandidos da ADA que o confundiram com um rival do CV, segundo o 9º Batalhão da PM, que ocupou a entrada do morro para tentar prevenir novos tiroteios. O ferido foi levado para o hospital estadual Carlos Chagas, em Marechal Hermes.
PRISÃO
Em Campinho, entre as zonas norte e oeste do Rio, policiais militares do 9º Batalhão (Rocha Miranda) prenderam, na noite de quinta-feira (2), Wellington Roberto de Oliveira, 26. Segundo eles, conhecido como Dedinho, o suspeito estaria entre os traficantes flagrados por câmeras de TV enquanto fugiam da Vila Cruzeiro para o Complexo do Alemão, de onde teria escapado do cerco policial de domingo por galerias de águas pluviais.
Segundo o serviço reservado do 9º Batalhão, ele gerenciava o tráfico de drogas na Fazendinha de Inhaúma, que faz parte do Complexo do Alemão, e teria sido expulso da favela do Cajueiro, em Madureira, também na zona norte, pelos traficantes locais, que não o queriam por ele estar muito visado após a fuga.
O delegado José Otílio Bezerra, da 30ª DP (Marechal Hermes), onde o caso foi registrado, não confirmou a participação de Wellington no tráfico, mas afirmou que ele tinha dois mandados de prisão por roubo.
Joel Silva/Folhapress | ||
Militares do Exército na entrada do Complexo do Alemão |
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