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quarta-feira, 12 de maio de 2010

Greve do Ibama destrói gramado em Brasília


Leandro Kleber
Do Contas Abertas

Quem passa em frente à sede do Instituto de Meio Ambiente e Recursos Renováveis (Ibama), em Brasília, tem duas certezas: os funcionários estão em greve e os carros estão estacionados ao longo da Avenida das Nações (via L4 Norte) e em cima do gramado (fotos). A cena inusitada de dezenas de veículos de servidores de um órgão ambiental parados em cima da grama, no entanto, não preocupa parte dos grevistas, como afirma Joaquim Benedito, um dos líderes do Comando de Greve: “discutir o conteúdo da greve é muito mais importante do que falar sobre alguns veículos parados lá fora”. A Companhia de Policiamento Rodoviário (CPRv) informou que o estacionamento é irregular.

O estacionamento improvisado funciona sempre quando servidores do Ibama entram em greve. Isso acontece porque o Comando de Greve restringe a entrada dos funcionários. Assim, eles têm de estacionar do lado externo, em frente à sede. O problema é que do lado de fora não há vagas e, com isso, parte do gramado em frente ao Ibama, assim como a avenida que dá acesso ao órgão, se tornam estacionamento irregular. Enquanto isso, o amplo estacionamento interno fica às moscas.

Aproveitando a ocasião, um “flanelinha” que preferiu não se identificar disse que o local costuma ficar cheio de carros durante as greves. Funcionários do Ibama, que também optaram por não revelar suas identidades e comentar o assunto, confirmaram a versão. A situação do estacionamento improvisado, no entanto, poderia ser diferente, pelo menos para Gustavo Machado, que trabalha no Ibama há sete anos. Segundo ele, a entrada de veículos no estacionamento interno deveria ser liberada mesmo em momentos de greve.

Quanto à aparente contradição de carros de servidores do Ibama estarem parados em cima do gramado em frente ao órgão, Machado acredita que não há controvérsia. “Se você pensar que eventos na Esplanada dos Ministérios, que reúnem milhares de pessoas em cima do gramado, são permitidos, não vejo problema em alguns carros estacionarem aqui”, diz. De acordo com ele, é normal nesta época do ano em Brasília a grama ficar seca e sem vida. “Depois do início das chuvas, a grama volta ao normal. Ela não morre”, afirma.

Para a grevista Maria Gorete, do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) – órgão ligado ao Ibama –, estacionar em cima da grama não prejudica o meio ambiente, porque o gramado não tem “função ecológica”. Ela, que afirma ser uma ecóloga, diz que é normal a grama ficar seca neste período do ano e que nas primeiras chuvas a situação irá melhorar. “A luta dos funcionários em greve é muito maior do que essa situação [carros estacionados na grama]. Nesse sentido, acho que vale a pena sim estacionar lá”, diz ela, que deixou seu veículo na parte interna regulamentada.

Em entrevista ao Contas Abertas, Joaquim Benedito, um dos líderes do Comando de Greve, afirmou que não houve qualquer recomendação aos funcionários para estacionarem os veículos em cima da grama. Segundo ele, “existem locais apropriados”. “Essa orientação já foi dada. Quando isso acontece [estacionar em cima da grama], o Comando pede para as pessoas tirarem os veículos. Além do mais, o Detran [Departamento de Trânsito do Distrito Federal] tem passado por aqui, conversado conosco e avalizado que nós estamos nos comportando sem oferecer risco nenhum à sociedade”, argumenta.

Benedito vê “com muita estranheza” não debater o conteúdo da greve – o estágio em que se encontram as negociações, as medidas que foram tomadas pelo governo e pelo Judiciário em torno de não respeitar o direito de greve – e “ficar restrito a coisas menores que não têm a menor pertinência”.

“O comando está na entrada do Ibama de forma ordeira, pedindo às pessoas que estacionem fora, na Universidade de Brasília [próxima ao local] e ao longo da primeira faixa do meiofio da (via) L4. Isso é um instrumento da greve e as pessoas estão concordando conosco e estacionando fora dos portões. Inclusive a direção do Ibama também não tomou nenhuma providência no sentido de intervir no estacionamento em cima da grama”, diz.

Em contato com a reportagem, a Companhia de Policiamento Rodoviário (CPRv), responsável pelo tráfego na avenida das Nações, desmentiu Joaquim Benedito. Segundo a companhia, não houve nenhuma autorização para que os carros estacionassem ao longo do meiofio ou em cima do gramado. “Não está permitido e nem pode ser autorizado o estacionamento ao longo de uma rodovia distrital”, informou. A CPRv ainda afirmou que irá mandar viaturas ao local para averiguar o problema.

Reivindicações dos grevistas

O Comando de Greve do ICMBio afirmou que servidores do Ministério do Meio Ambiente, Ibama, MMA, ICMBio e Serviço Florestal Brasileiro (SFB) estão em greve desde o dia 7 de abril. Eles querem a reestruturação da carreira de especialista em meio ambiente. Segundo o Comando, “a greve é por tempo indeterminado em resposta à intransigência do governo em negociar uma proposta digna de reestruturação da carreira”.

O grupo afirma que “para muitos, a paralisação das atividades dos agentes ambientais federais é um alívio”. “Em greve, deixamos de ‘incomodar’ infratores e aqueles que veem o meio ambiente como mais um dos empecilhos para o crescimento do país”, dizem.

“Apesar da falta de reconhecimento de nossa excelência técnica, da falta de infraestrutura, das deficientes condições de trabalho, dos baixos salários, dos riscos físicos e orgânicos a que estão expostos – incluindo ameaças de morte em lugares remotos, ou por conta dos enfrentamentos com infratores – os servidores da carreira de especialista em meio ambiente têm cumprido a sua parte, superando metas do governo e expectativas da sociedade, gerando resultados positivos para o país”, informam.

Segundo eles, basta verificar a redução histórica dos índices de desmatamento, o número de licenças ambientais concedidas – com critério e rigor – a melhoria dos índices de conservação da biodiversidade e o fortalecimento da gestão das áreas protegidas e ameaçadas, entre outras, para verificar o bom trabalho feito por eles. “Tais resultados deram ao Brasil posição de destaque na reunião sobre o clima em Copenhague e foram, em muito, resultantes do esforço e dedicação dos servidores do Ibama, ICMBio, SFB e MMA espalhados pelo Brasil afora”.








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