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domingo, 19 de julho de 2009

Assistência a doença de respiração tem falhas


País não usa método da OMS para melhorar diagnósticos, diz médico

Fabiane Leite


O Brasil ainda não adotou nos seus postos de saúde estratégia recomendada desde o fim da década passada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para a melhora do diagnóstico e tratamento de doenças respiratórias - como resfriados, gripes, pneumonias, asma, Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC), tuberculose - nos países em desenvolvimento.

Veja informações sobre os casos no Brasil

"Temos a convicção de que a estratégia seria importante para o enfrentamento dessa nova gripe A(H1N1) e de outros quadros respiratórios", afirmou anteontem ao Estado o médico e especialista em pneumologia sanitária Ailton Cezário Alves Júnior, profissional referência da OMS nas Américas para a estratégia PAL (sigla em inglês para Practical Approach to Lung Health ou "abordagem prática para a saúde pulmonar").

Nos últimos dias, com um aumento dos casos suspeitos de gripe suína, o País descentralizou a assistência, estimulando que postos de saúde fossem o primeiro local de atendimento da nova doença, além dos consultórios privados dos planos de saúde. Em seguida, cresceu o número de mortes e o Ministério da Saúde confirmou a livre circulação do vírus no País.

A abordagem PAL prevê justamente um treinamento dos profissionais de saúde dos postos sobre como deve ser a investigação de cada doença respiratória e condutas após diagnóstico. Por exemplo, o que na avaliação e no histórico do paciente deve ser valorizado para diferir a gripe de um resfriado ou pneumonia e as providências necessárias, como exames complementares e tratamentos que devem ser adotados de maneira padronizada já na atenção básica, prestada pelos postos.

Segundo Alves Júnior, estudos mostram que 20% de todos atendimentos da rede de postos de saúde são de doenças respiratórias e que, em 80% dos casos, resumem-se a quatro problemas: resfriados e gripes, asma, DPOC e tuberculose.

A estratégia PAL, explica o pneumologista, surgiu no rastro das ações de controle da tuberculose, que implantaram nos postos protocolos para se verificar suspeitas da doença. No entanto, verificou-se que a tuberculose era confirmada em menos de 5% dos casos e que era necessária uma orientação para dar conta de outros problemas de saúde que levam a sintomas respiratórios.

Um total de 32 países já utilizam a abordagem PAL, com resultados como redução do uso desnecessários de antibióticos e de medicamentos contra a tosse, diz o especialista, além de diminuição dos casos que têm de ser levados aos hospitais e das complicações.

IMPLANTAÇÃO

Nas Américas, oito países já adotam a estratégia ou estão em fase de implantação. No Brasil, o plano está em desenvolvimento, diz Alves Júnior. A primeira área piloto de testes da abordagem fica em Minas Gerais. Também na Bahia a secretaria estadual da Saúde deverá em breve iniciar os treinamentos, informou o pneumologista Antônio Carlos Moreira Lemos, professor da Universidade Federal da Bahia.

Ele destaca que ter acesso na atenção básica a equipamentos como o oxímetro (que mede a quantidade de oxigênio no sangue) é uma medida importante para o correto diagnóstico.

"A estratégia PAL seria um caminho para o enfrentamento da gripe, não tenho dúvida de que seria importante em um momento de pandemia e em que os casos já não têm mais relação com quem viajou", acrescenta Lemos, ex-presidente da Sociedade Brasileira de Pneumologia e que participou dos primeiros movimentos para o início da abordagem PAL no Brasil, no ano passado. "O problema é que nem mesmo os pneumologistas a conhecem", emenda Alexandre Milagres, chefe do serviços de pneumologia do Hospital Rafael de Paula Souza, no Rio de Janeiro.

DISCORDÂNCIA

Jarbas Barbosa, gerente da área de Vigilância em Saúde e Gestão de Doenças da Organização Pan-Americana de Saúde/Organização Mundial da Saúde(OPAS/OMS), diz que a estratégia PAL poderia auxiliar. "Mas já há novos protocolos simples para que as unidades de saúde melhorem o diagnóstico de problemas respiratórios agudos."

"Eu discordo que o fato de ter a estratégia poderia ter influência no diagnóstico da gripe", afirma o presidente eleito da Sociedade Brasileira de Pneumologia, Roberto Spirbulov. "Esta é uma estratégia populacional de longo prazo. Um quadro agudo, como a da gripe, exige uma estratégia própria. O que se faz é um alerta generalizado", completou.

Procurado na semana passada, o Ministério da Saúde não se manifestou até o fechamento desta edição. A pasta tem destacado, no entanto, que os serviços de saúde estão preparados para atender a nova gripe.

Em recente protocolo contra a gripe suína, a pasta definiu que suspeitas de doença respiratória aguda grave, como pneumonias (uma das principais complicações da gripe suína), deveriam ser notificadas e investigadas em unidades hospitalares de referência.

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