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segunda-feira, 16 de junho de 2008

A cada 30 minutos, uma denúncia

Metade dos casos de violência denunciados ao Disque 100 envolve violência sexual contra crianças e adolescentes. Número de notificações cresceu 33% neste ano

Publicado em 13/06/2008 | João Natal Bertotti, colaborou Eloá Cruz

Uma denúncia de pedofilia (atração sexual por crianças), abuso ou exploração sexual infantil é feita a cada meia hora no Brasil ao serviço Disque 100. De todos os casos de violência denunciados (um a cada 15 minutos), a metade é de violência sexual. O número representa um aumento de 33% em relação às 68 denúncias feitas por dia em 2007, que saltaram para 91 neste ano. Os números são da Secretaria Especial dos Direitos Humanos, que divulgou os dados do Disque 100 – linha direta e gratuita que recebe denúncias e aciona a rede local para prover o apoio necessário.

Apesar do crescimento no número de denúncias, a quantidade de pedófilos e pessoas que abusam ou exploram crianças e adolescentes é bem maior e ultrapassa as fronteiras nacionais, segundo especialistas ouvidos pela reportagem da Gazeta do Povo.

No Orkut, incentivo ao crime

A quantidade de pessoas – crianças ou adultos – envolvidas em pedofilia no site de relacionamentos Orkut assusta. Não há como fazer uma contagem de todos, pois estão espalhados em vários grupos que não ultrapassam mais de 100 pessoas. São perfis falsos e comunidades que divulgam materiais como vídeos e fotos. Alguns chegam até a oferecer programas sexuais com crianças. A maioria dos participantes é de homens que não se identificam, mas que participam de comunidades de assuntos infantis e que procuram fazer contato com crianças.

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Pedófilo foi vítima de abuso, diz especialista

Normalmente o pedófilo foi vítima de abusos sexuais na infância. A informação é da psicanalista Maria Virgínia Cremosco Grassi, professora de Psicopatologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e especialista em sexualidade humana.

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Três casos que abalaram a sociedade

Relembre alguns casos de pedófilos descobertos recentemente no Brasil e no mundo e que chocaram a população.

No dia 6 de junho, a Polícia Federal prendeu o procurador-geral do Estado de Roraima, advogado Luciano Queiroz, e mais sete suspeitos de integrar uma rede de pedofilia. Eles são acusados de fazer programas sexuais com crianças e adolescentes.

No dia 4 de junho, a CPI da Pedofilia começou a quebrar o sigilo de cerca de 600 internautas que acessaram a sala de bate-papo da internet chamada “Incesto”. Isso porque o tenente da Polícia Militar Fernando Neves Braz, 34 anos, teria conhecido na sala de bate-papo um suspeito de distribuir imagens de sexo com crianças e de oferecer programas com menores de idade. O militar, que atuou nos primeiros momentos no caso Isabella, cometeu suicídio no dia 1º deste mês, depois que a polícia descobriu que ele era um pedófilo.

No dia 27 de abril, o engenheiro elétrico austríaco Josef Fritzl, 73 anos, confessou que manteve aprisionada sua filha, Elisabeth Fritzl, 42 anos, num porão por 24 anos, na cidade de Amstetten, 100 km a oeste de Viena. Ele é o pai dos sete filhos que ela teve.

Na internet, por exemplo, o site denunciar.org.br, mantido pela organização não-governamental SaferNet Brasil (responsável pela Central Nacional de Denúncias de Crimes Cibernéticos), recebe uma média de 500 denúncias por dia de divulgação ilegal de pedofilia. Destas, 90% são sobre material pornográfico infantil divulgado no site de relacionamentos Orkut. Outro problema é a violência sexual cometida dentro de casa, por parentes próximos, como pais, irmãos e padrastos. Na maioria das vezes vezes esses casos não são denunciados, seja por pressão da família, seja por chantagem psicológica ou financeira.

Helena (nome fictício), 48 anos, relações públicas, por exemplo, sofreu estupro do pai, um engenheiro eletricista, dos 9 aos 11 anos, quando a família morava no interior do estado, na década de 1970. A família veio de um país vizinho e o pai trabalhava em uma grande indústria no Paraná. As primeiras investidas ocorreram quando a família morava em um hotel, já que a mãe viajava uma vez por mês para o país de origem. O flagrante foi dado por uma tia, durante uma visita.

A partir da descoberta, Helena sempre quis ver o pai na prisão, mas devido à pressão da família, ela nunca controu o fato à polícia. “Havia muita chantagem emocional e financeira. Ele também abusou da minha irmã mais velha (hoje com 60 anos), mas tudo ficou como se nada tivesse acontecido.” Ela conta que a mãe sempre teve medo de revelar o caso, por causa da dependência econômica. O pai de Helena morreu há cinco anos, mas ela ainda não conseguiu perdoá-lo. Teve a vida afetiva abalada e não conseguiu se reaproximar da família.

Subnotificação

Segundo a promotora de Justiça Carla Maccarini, muitas vezes os abusos dentro da família não são levados ao conhecimento das autoridades porque o autor do crime (pai, avó ou irmão mais velho) tem ascendência sobre a vítima. “Eles têm domínio e autoridade sobre ela. Em muitos casos, as crianças não têm noção que isto é errado”, afirma. “Elas também suportam isso para que as mães sejam felizes. Além disso, outras crianças são cooptadas com doces e brinquedos.”

Para Eliane Bispo, coordenadora da Central de Atendimento do Disque 100, a falta de atitude diante da pedofilia, dos abusos e da exploração sexual infantil pode existir devido ao receio do desfecho da situação. “Às vezes, a pessoa tem vergonha de expor a família de forma pública. Tem medo de o homem ser preso e ter problemas físicos e financeiros. O silêncio das pessoas de fora seria pela indiferença, embora as estatísticas demonstrem que a sociedade está cada vez mais sensível para denunciar”, diz.

Cooptação

A Vara Especializada em Crimes contra Crianças e Adolescentes, em Curitiba, julgou dois casos de cooptação que chamam a atenção. Em um deles, o pai pagava o traficante para continuar abusando sexualmente da filha, que era usuária de drogas. No outro, um homem jovem e aposentado por invalidez começou a abusar de uma menina de 9 anos enquanto a mãe (sua companheira) estava trabalhando. Depois, passou a dar presentes para a menina, em troca do silêncio da vítima, até ser flagrado pela avó dela. Ele foi preso e condenado a cerca de 17 anos de prisão.

Segundo a socióloga Marlene Vaz, consultora na área de violência sexual contra crianças e adolescentes, a fome é o principal fator da exploração sexual infantil. “Fiz uma pesquisa sobre os caminhoneiros na Bahia. As meninas que seguem para os postos e rodovias são as que estão com fome”, revela. “E aquelas que estão fora da escola são as mais vulneráveis à exploração sexual comercial.”

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Serviço

Denúncias de pedofilia, abuso e exploração sexual infantil devem ser feitas para o telefone 100. A linha é nacional, direta e gratuita. Os casos são encaminhados para o Conselho Tutelar, que toma medidas de proteção e aciona a rede de proteção a crianças e adolescentes.

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