Em seu depoimento, que durou cerca de 4 horas, Renata Pontes afirmou ter “100% de certeza” de que Anna e Alexandre foram os responsáveis pela morte da menina e detalhou sua atuação na noite do dia 29 de março de 2008. A certeza da culpa do casal veio após a constatação de que a menina foi agredida antes de cair da janela. Dessa forma, ela descartou morte acidental e latrocínio (roubo seguido de morte), duas versões sustentadas pela defesa.
Após um recesso para o almoço, o julgamento foi retomado às 15h45. O médico-legista Paulo Sergio Tieppo Alves foi a segunda testemunha a ser ouvida. Alves detalhou todo o processo de necropsia. Sobre a presença de marcas de unhas na nuca e lesões na boca e no rosto de Isabella, ele afirmou que esses detalhes comprovam que houve esganadura.
A avó materna de Isabella, Rosa Oliveira, deixou a sala assim que o médico-legista exibiu fotos do corpo da garota morta. Ao ver as imagens da menina, ela virou o rosto e ficou muito nervosa.
O perito criminal baiano Luiz Eduardo de Carvalho Dória foi o último a ser ouvido na noite de terça-feira. Arrolado pela assistência de acusação, ele analisou manchas de sangue encontradas na cena do crime, como em lençóis no quarto de onde Isabella caiu. Segundo ele, “existem padrões de mancha que permitem estabelecer a altura” da qual ela caiu. De acordo com ele, pela análise é possível concluir que as gotas no local do crime caíram de uma altura superior a 1,25m
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da Folha Online
da Folha de S.Paulo
Em depoimento publicado na edição desta quinta-feira da Folha, o repórter Rogério Pagnan relata o período em que ficou confinado nas dependências da Justiça, antes de depor no júri do casal Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá, acusados de matar a menina Isabella. "O documento da Justiça determinava minha apresentação às 12h30 do dia 22, segunda-feira. Fui um dos arrolados como testemunha pela defesa do casal Nardoni por conta de uma entrevista com o pedreiro de uma obra ao lado do prédio onde o crime ocorreu", afirma (a íntegra está disponível para assinantes do jornal e do UOL).
O júri ocorre no fórum de Santana (zona norte de São Paulo). O documento deixava claro que a presença da testemunha não era opcional, e o repórter disse ter sido orientado para se preparar para um "eventual pernoite".
Na segunda-feira, início do júri, cinco testemunhas arroladas pela defesa foram dispensadas. As outras, incluindo o repórter, foram levadas para aposentos no fórum da Barra Funda (zona oeste) e ficaram incomunicáveis. "Depois de idas e vindas, finalmente conseguiram encontrar o lugar onde ficaríamos. Sem janelas, sem ventilação externa, um corredor cheio de quartos com beliches --estilo bem franciscano."
Já na terça-feira, segundo o repórter, a sensação de estar em um presídio aumentou. "Naquele momento, a sensação era de estar em um presídio. Não tínhamos autorização nem para um "banho de sol", e as luzes artificiais escondiam ser dia ou noite. Baratas aparecem mortas pelo chão". O repórter relata que as testemunhas ficaram cerca de 40 horas sem ver a luz do dia.
De acordo com o depoimento, o "cárcere" pesou no momento do depoimento. "Fiquei nervoso a ponto de não ver o casal Nardoni, os jurados. Pedi um copo d'água e ainda quebrei a chaminé da churrasqueira da maquete da Promotoria, quando indicava o lugar para o júri. 'Obrigado por ter vindo, apesar de ter quebrado a maquete', ainda tive de ouvir do promotor Cembranelli."
ROGÉRIO PAGNAN
da Folha de S.Paulo
O documento da Justiça determinava minha apresentação às 12h30 do dia 22, segunda-feira. Fui um dos arrolados como testemunha pela defesa do casal Nardoni por conta de uma entrevista com o pedreiro de uma obra ao lado do prédio onde o crime ocorreu.
O documento deixava claro que minha presença não era opcional. E ainda recebi a orientação para me preparar para um "eventual pernoite".
Às 11h30, estava no Fórum de Santana. Fui levado para um plenário ao lado do qual aconteceria o julgamento mais importante daquele lugar.
Nos minutos seguintes chegaram mais 14 pessoas. Eram, em sua maioria, policiais civis ou servidores ligados à segurança pública. Apenas dona Geralda, vizinha do edifício London, destoava da turma. Em menos de 15 minutos, já tinha andado por toda a sala e feito uma série de reclamações.
O tempo passou e alguém disparou: "Estamos com fome". A informação era que não havia previsão de comida, porque, como a apresentação era às 12h30, esperava-se que todas as testemunhas já tivessem almoçado. A saída foi uma vaquinha.
Quando a comida chegou, veio também a notícia de que cinco das testemunhas seriam dispensadas. Dona Geralda era uma delas. E comemorou.
A essa altura éramos em dez testemunhas. Por volta das 15h, fomos informados de que iríamos para o Fórum da Barra Funda. O primeiro carro, uma Kombi, demorou meia hora e não foi suficiente para todos. Mais um tempo até chegar um Fiat Doblô para ajudar.
Na espera, ainda tentei puxar papo com um oficial de Justiça. "É você que vai ficar de castigo conosco?". "Não tem ninguém de castigo. Estamos à disposição da Justiça", disse, ríspido.
Fomos, então, para a Barra Funda escoltados. Depois de idas e vindas, finalmente conseguiram encontrar o lugar onde ficaríamos. Sem janelas, sem ventilação externa, um corredor cheio de quartos com beliches --estilo bem franciscano.
Todos os celulares foram confiscados. Sem televisão, sem rádio, sem jornal. Nada.
"Vocês estão incomunicáveis", disse o oficial. Ligações, só com o aval dele. Ele daria o recado, e só. Falar com alguém de fora? Proibido.
A divisão dos quartos ocorreu mais ou menos pelo grupo de trabalho. Ao pedir um quarto com banheiro, duas peritas ouviram: "Aqui não é hotel cinco estrelas". Após a ajuda de uma funcionária, conseguiram.
Antes de jantar, a maioria foi tomar banho. Mas um dos banheiros começou a vazar e a equipe de manutenção foi acionada. Interditaram o banheiro.
A comida era horrível. Arroz, feijão, um pedaço de carne, salada e refrigerante quente. Não havia prato. Comíamos em um frágil marmitex de isopor, o que tornava hercúlea a simples tarefa de cortar um bife.
Na hora de dormir, percebeu-se o quanto era complicado. Os colchões tinham plásticos barulhentos e o cobertor era de campanha de agasalho. No meu quarto, havia apenas um beliche e espaço para um criado mudo, que não existia. Além disso, os quartos ficam numa espécie de porão do prédio e, com eles, os motores do ar-condicionado.
Terça-feira
Quando o dia amanheceu, o café atrasou porque esqueceram de buscar a responsável para servi-lo. "Que horas vamos para lá [Santana]? Alguém falou algo?", perguntei. Não havia nenhuma previsão.
Naquele momento, a sensação era de estar em um presídio. Não tínhamos autorização nem para um "banho de sol", e as luzes artificiais escondiam ser dia ou noite. Baratas aparecem mortas pelo chão.
Para passar o tempo, eu tinha apenas uma edição da Folha do dia anterior. Os colegas de "cárcere" tinham laudos, muitos laudos, para ler e se prepararem para o plenário. Eram um delegado, dois investigadores, três peritos, dois médicos legistas e o pedreiro de um prédio vizinho ao edifício London.
À noite, mais barulho e passos pelo corredor de um insone. Os sorrisos sumiram.
Das dez testemunhas confinadas, oito participaram da investigação ou produziram laudos para incriminar o casal Nardoni. A cada novo "carcereiro", faziam questão de dizer que não defendiam o casal --estavam ali porque foram arrolados pela defesa. Se pudessem, não estariam ali, mas na acusação --grupo que estava confinado noutro lugar.
Nenhum amigo, nenhum parente, ninguém ali para falar bem dos dois --como é comum ocorrer-- estava convocado.
Quarta-feira
Pela manhã, fomos para o Fórum de Santana. Sem a certeza, porém, de que seríamos ouvidos. Quando saíamos pelos corredores, alguém disse: "Olha o sol, olha o sol". Àquela altura, estávamos há cerca de 40 horas sem ver a luz do dia.
"Nunca dei tanto valor à liberdade. Ficar assim dá um desespero. Dá uma agonia muito grande sentir-se preso, assim", disse outro.
Quando chegamos, vimos o tumulto dos jornalistas. Eu, repórter, não sabia nada do que havia sido publicado. Estava tão perto e tão longe de tudo.
Fomos levados para a sala. Portas trancadas e dois oficiais vigiando a porta que estava destrancada. Não podíamos nem sair do corredor. Ficamos ali das 10h30 até as 16h, 17h, quando fui chamado para depor.
O medo dos que ficaram? Voltar de novo à Barra Funda.
Quando sentei na cadeira do plenário, todo o "cárcere" pesou nos ombros. Fiquei nervoso a ponto de não ver o casal Nardoni, os jurados. Pedi um copo d'água e ainda quebrei a chaminé da churrasqueira da maquete da Promotoria, quando indicava o lugar para o júri.
"Obrigado por ter vindo, apesar de ter quebrado a maquete", ainda tive de ouvir do promotor Cembranelli.