Brasil O vôo cego do petismo O escândalo do falso dossiê revela que os petistas envolvidos fazem parte do círculo íntimo de Lula – e abre uma crise cujo desfecho é imprevisível Alexandre Oltramari, de Cuiabá
Moacyr Lopes Junior/Folha Imagem | COMPANHEIROS DE VIAGEM Lula (4), com os companheiros em 2002: Mercadante (1), que perdeu um assessor no caso do dossiê; o homônimo de Bob Marques (2), sombra de Dirceu (3); Freud Godoy (5), segurança caído; Palocci (6), o da violação do sigilo do caseiro; e Gilberto Carvalho (7) |
O escândalo do dossiê, no qual uma dupla de petistas foi flagrada comprando por quase 2 milhões de reais um conjunto de denúncias contra tucanos que não valia um centavo, abriu uma crise gravíssima e imprevisível. Gravíssima porque logo se descobriu que os envolvidos têm laços com a campanha reeleitoral do presidente Lula e com a própria instituição da Presidência da República. Do círculo íntimo do presidente, entre confessos e suspeitos, está Freud Godoy, seu segurança pessoal até a posse e depois nomeado assessor especial, que dormia no Palácio da Alvorada nos primeiros meses do governo e tem sala no mesmo andar do gabinete presidencial no Planalto. Também está Jorge Lorenzetti, o churrasqueiro oficial dos domingos na Granja do Torto e tutor informal de Lurian, a filha mais velha de Lula. Do círculo político, mas nem por isso menos íntimo, está o deputado Ricardo Berzoini, presidente do PT e, até a semana passada, coordenador da campanha reeleitoral de Lula, defenestrado pelo escândalo. Está Osvaldo Bargas, amigo dos tempos de militância sindical nos anos 70, responsável pelo capítulo sobre trabalho no programa de governo – e casado com Mônica Zerbinato, secretária particular de Lula. A crise é também imprevisível nos seus desdobramentos porque, ao revelar laços de tamanha gravidade com a mais alta autoridade da República, joga uma sombra sobre o futuro. O caso está sendo investigado pelo Tribunal Superior Eleitoral e, teoricamente, pode resultar na impugnação da diplomação de Lula, caso seja reeleito, ou estimular a instalação de um processo de impeachment pelo Congresso Nacional – na hipótese de se comprovar que a campanha do presidente cometeu abuso de poder econômico ou político na compra ou montagem do dossiê contra os tucanos (veja reportagem). "É algo muito, muito pior que o Watergate", chegou a dizer o ministro Marco Aurélio Mello, presidente do Tribunal Superior Eleitoral, referindo-se ao escândalo de espionagem de adversários que, nos Estados Unidos, em 1974, levou o presidente Richard Nixon à renúncia. Mello já se mostrara perplexo com a impressionante multiplicidade de ações irregulares patrocinadas pelo governo e seu partido. A situação é tão complexa que, desta vez, até os petistas de couro grosso acusaram o golpe. Acusaram talvez de uma maneira mais aguda do que no auge do escândalo do mensalão. Numa das reuniões ocorridas no Palácio da Alvorada, chegou-se a cogitar até a alternativa extrema. Para mostrar que nada tem a temer e que defende a mais ampla investigação do caso, mas evitar que sua campanha desande, Lula pediria licença do cargo, entregando o comando do país ao senador Renan Calheiros, e passaria a dedicar-se exclusivamente à reeleição. A idéia, apresentada pelo ministro Tarso Genro, chegou a ser debatida, mas foi descartada pelo presidente.
Ana Araujo | SECRETÁRIA PARTICULAR Mônica Zerbinato, secretária de Lula, no Planalto: ela é casada com o bruxo Osvaldo Bargas | Com receio de que os estilhaços da crise possam comprometer a reeleição de Lula, o Palácio do Planalto deflagrou uma operação de guerra. A idéia é empenhar-se ao máximo para que Lula vença o pleito já no primeiro turno. Os petistas, com o próprio presidente à frente, consideram desastrosa a possibilidade de que haja segundo turno. "Se houver, serão três semanas de bombardeio, no auge da investigação sobre o dossiê e todos os candidatos derrotados apoiando o Alckmin", prevê um petista de alto coturno, que participou de todas as reuniões sobre a crise com o presidente. Por isso, os partidos aliados foram acionados para dar apoio público ao presidente e os movimentos sociais, nunca antes tão claramente atuando como linha auxiliar do governo e do petismo, fizeram um manifesto em defesa de Lula. A tática – de novo, de novo – é dizer que Lula não sabia de nada e que, estando com folgada vantagem nas pesquisas, também não teria interesse algum em atacar adversários. Na lógica petista, portanto, tudo aconteceu por obra de maus perdedores. "Temos de levar em conta a quem interessa, a essa altura do campeonato, melar o processo eleitoral no Brasil", disse Lula, durante viagem a Nova York.
Respondendo: 1) Um dossiê devastador contra José Serra interessaria ao PT em São Paulo. Seria ótimo para Lula ter um governador petista em São Paulo em um segundo mandato. 2) Disparar um tiro de morte contra Serra significaria exterminar praticamente o PSDB em nível nacional. 3)"Melar" o processo eleitoral não interessa a nenhum democrata, mas sobre essa questão seria mais útil perguntar aos seus colaboradores íntimos que entraram na fria de comprar um dossiê com dinheiro sujo. O problema do discurso oficial é a afronta aos fatos. O castelo – de Lula, do PT, da reeleição – começou a tremer num episódio cujos autores são todos petistas. Tudo começou na sexta-feira, 15 de setembro, quando agentes da Polícia Federal prenderam dois petistas que negociavam o tal dossiê no hotel Ibis, em São Paulo. O empreiteiro Valdebran Padilha, filiado ao PT de Mato Grosso há dois anos, representava a família Vedoin, comandante da máfia dos sanguessugas e fornecedora do dossiê. O outro petista preso, encarregado de analisar a relevância das informações do dossiê e fazer o pagamento, era Gedimar Passos, contratado pela cúpula do PT. Os dois carregavam 1,7 milhão de reais, cuja origem está sob investigação (veja reportagem). O pacote apreendido pela PF incluía uma agenda, seis fotografias, uma fita de vídeo e um DVD de 23 minutos, em que os tucanos José Serra e Geraldo Alckmin aparecem entregando ambulâncias. Era um pacote fajuto, sem relevância, mas incluía a concessão de uma entrevista de Luiz Antônio Vedoin, capo dos sanguessugas, envolvendo Serra no esquema. Na mesma sexta-feira, a revista IstoÉ chegou às bancas com uma entrevista de Vedoin atacando Serra – acusações que, na semana passada, ao ser interrogado pela PF, Vedoin desmentiu.
Celso Junior/AE
| Beto Barata/AE
| CLIMA DE DESCONFIANÇA Darci, o pai, e Luiz Antônio, o filho: a família Vedoin queria vender o dossiê, mas estava desconfiada de que poderia levar um calote do PT | Com a prisão de Valdebran Padilha e de Gedimar Passos e a tomada de seus depoimentos, descobriu-se o envolvimento de petistas mais graúdos – e, em apenas três dias, deflagrou-se um dominó de demissões que afetou outros seis petistas, atingiu a campanha de Aloizio Mercadante em São Paulo, engolfou a campanha reeleitoral de Lula e subiu a rampa do Palácio do Planalto. A cronologia é fulminante: • Na segunda-feira, caiu Freud Godoy, assessor especial de Lula. Ele fora acusado por Gedimar Passos de ser o mandante do pagamento pelo dossiê. Freud Godoy nega. • Na terça-feira, caiu Jorge Lorenzetti, churrasqueiro de Lula e chefe do bunker de bruxarias eleitorais do comitê. Ele é acusado de contratar Gedimar Passos. • Na quarta-feira, as demissões chegaram ao auge. Caíram Ricardo Berzoini, coordenador da campanha de Lula, e Osvaldo Bargas, que trabalhava na elaboração do programa de governo. Mencionada no caso, a revista Época divulgara no dia anterior uma nota informando que Jorge Lorenzetti e Osvaldo Bargas ofereceram um dossiê contra os tucanos a seus repórteres – e que Berzoini sabia da conversa, mas não do seu conteúdo. Caiu, também, Expedito Veloso, diretor do Banco do Brasil que estava licenciado e trabalhava pela reeleição de Lula. Ele é um dos suspeitos de ter levado o dinheiro do dossiê ao hotel Ibis em São Paulo. Por fim, caiu Hamilton Lacerda, secretário de Comunicação da campanha de Mercadante. A revista IstoÉ diz que Lacerda fora o primeiro a lhe oferecer o dossiê fajuto. Uma parte dos bastidores da negociata está documentada pela PF, que monitorou os telefonemas de Luiz Antônio Vedoin, o vendedor do dossiê, entre 9 e 15 de setembro. Nos dois dias que precederam a negociata, a polícia captou 36 diálogos, aos quais VEJA teve acesso (veja a reprodução de alguns deles). As gravações mostram que tudo girava em torno do dinheiro, embora a palavra seja cuidadosamente evitada. É curioso que, dos seis petistas envolvidos no caso depois das duas prisões em São Paulo, todos, à exceção de Freud Godoy, tenham admitido algum tipo de envolvimento com o caso – mas nenhum deles, muito menos Freud Godoy, admite ter qualquer relação com o dinheiro, ainda que, no passado recente, ele tenha sido o guardião dos dinheiros clandestinos que circulam nos desvãos do PT (veja reportagem). "Afirmo taxativamente que em momento algum autorizei o emprego de qualquer tipo de negociação financeira", diz Lorenzetti na nota em que anuncia sua demissão. "É importante informar que em nenhum momento houve qualquer oferta de dinheiro", repete Hamilton Lacerda, o ex-auxiliar de Mercadante, na sua nota de afastamento. Antes de cair, Berzoini fez o mesmo discurso numa entrevista. "O PT não tem nenhuma atividade que envolva recursos financeiros para compra de informação", disse. A falta de conexão com a realidade dos petistas é preocupante: eles não conseguem mais enxergar nem mesmo um bolo de dinheiro vivo no valor de 1,7 milhão de reais.
Marcos Vaillant/A Gazeta/AE | O COMEÇO DE TUDO O ex-agente Gedimar Passos (à esq.) e, atrás dele, o empreiteiro Valdebran Padilha: com a queda deles, começou o dominó de demissões de petistas | O escândalo do dossiê comprova que a "organização criminosa", para usar as palavras do procurador-geral da República, refinou um método para reagir aos flagrantes da bandidagem. Assim como no escândalo do mensalão, agora também a primeira reação foi de negar qualquer envolvimento com o caso. "O PT não faria isso em hipótese alguma", chegou a dizer Berzoini dois dias antes de ser ele próprio apanhado no esquema. A outra tática é montar um cordão sanitário em torno do presidente Lula, dizendo que, se houve algo, ele não sabia de nada. Foi assim no mensalão. É assim agora. "É uma crise normal, que não atinge em nada o presidente", diz o ministro Tarso Genro. Até entre setores da oposição, admite-se a hipótese de que, desta vez, Lula talvez não soubesse mesmo dos detalhes – da existência do dossiê ou do pagamento de 2 milhões de reais. Admite-se que talvez tenha sido apenas informado de que uma bomba contra Serra estava sendo armada e que sua explosão poderia catapultar Mercadante ao segundo turno no pleito paulista. Isso não isenta Lula de responsabilidade legal. É altamente provável que Lula soubesse que, no seu comitê reeleitoral, havia um bunker clandestino – repetindo, aliás, a estrutura montada na campanha presidencial de 2002. Uma reportagem de VEJA, publicada em outubro de 2003, mostrou como funcionava esse núcleo, que operava na defesa de Lula e no ataque aos adversários. Lula sabia de sua existência e, durante a conversa que selou sua criação, ainda recomendou: "Seja inteligente. Não faça nada de manuel ou joaquim nessa história". O coordenador do grupo era Ricardo Berzoini e um dos operadores era Osvaldo Bargas, o velho amigo do movimento sindical. O outro dado que complica a situação de Lula é a constatação de que nunca um presidente se cercou de tanta gente suspeita – seja como presidente, seja como candidato. No escândalo do mensalão, Lula perdeu seus principais auxiliares políticos. Agora, o caso atinge gente de sua intimidade. Com isso, fica cada vez mais difícil alegar que são nichos isolados, independentes, autônomos, que se instalam na máquina do Estado sem o conhecimento do presidente. É o contrário: tudo indica que, com a eleição de Lula, o aparelho estatal foi tomado de assalto por seus asseclas cevados no banditismo partidário-sindical. Além de se cercar de tantos suspeitos, Lula parece afastar-se deles quando são pilhados em alguma malandragem apenas de forma protocolar. No caso do mensalão, justificou a existência de caixa dois no PT. Passado o auge do caso, chegou a receber os mensaleiros no Palácio do Planalto, aos quais recomendou que não se sentissem culpados porque não haviam feito nada de essencialmente errado. Despediu-se de seus principais ministros caídos com afagos, elogios e promessas de irmandade eterna. Com esse comportamento, Lula acaba servindo como sinal verde, como autorização tácita para que atos clandestinos e irregulares sejam cometidos. Desde o primeiro rombo no casco ético de seu governo, quando se soube que o braço-direito do então ministro José Dirceu fora flagrado achacando um empresário de jogos, o presidente Lula teve todos os meios para limpar seu governo, higienizar seu palácio e promover uma faxina no PT. É lamentável que nunca tenha feito nem uma coisa nem outra. Deixou, assim, que o PT, mais uma vez, mergulhasse seu governo e o país nos recônditos de uma crise sem solução fácil. OS GRAMPOS DA NEGOCIATA Entre os dias 9 e 15 de setembro, quando deflagrou a operação que implodiu a negociata da compra do dossiê, a Polícia Federal monitorou o celular número 9208-6507, de Luiz Antônio Vedoin, o capo da máfia dos sanguessugas. Só nos dois dias que precederam a operação a PF captou 36 telefonemas de Luiz Antônio Vedoin, aos quais VEJA teve acesso. Do outro lado da linha, entre os personagens já identificados, estavam seu pai, Darci Vedoin, Valdebran Padilha, petista que intermediou a venda do dossiê ao PT, e Expedito Afonso Veloso, diretor do Banco do Brasil que negociou a compra do material em Cuiabá e São Paulo. A seguir, seis trechos de diálogos que mostram o clima de desconfiança mútua em que os criminosos conversavam: "ALGUMA COISA TÁ TRAMADA" Quarta-feira, 13 de setembro, 11h53 Neste diálogo, Darci Vedoin conversa com seu filho Luiz Antônio, ambos envolvidos no esquema dos sanguessugas. Eles estão desconfiados dos petistas que querem comprar o dossiê contra os tucanos. Estranham que a entrevista à imprensa será dada em Cuiabá, os documentos serão entregues em Cuiabá, mas o pagamento dos 2 milhões de reais só será feito em São Paulo. Na conversa, desconfiados, pai e filho discutem até desistir da negociata: Luiz Antônio – Ligar agora e voltar atrás, também não. Vamos deixar do jeito que tá. Se não, voltar atrás, aquela conversalhada tudo de novo, voltar à estaca zero... Aí os caras vão abusar de nós daqui a pouco... Darci Vedoin – Isso é verdade. Mas eu tô com um certo receio. Porque alguma coisa tá tramada em cima disso. Se tu pensar um pouquinho, não tem por que eles (refere-se aos petistas) virem até aqui... Por que não sair (com o dinheiro) de lá (referência a São Paulo)? "CHEGA. NÃO SOU MOLEQUE" Quinta-feira, 14 de setembro, 14h18
O diálogo aqui é entre o petista Valdebran Padilha, que está em São Paulo, e Luiz Antônio Vedoin, de Cuiabá. Valdebran está negociando a venda do dossiê ao PT em nome dos Vedoin. Na conversa, Valdebran insiste para que Luiz Antônio Vedoin entregue uma fita que deveria compor o dossiê. Luiz Antônio, com receio de levar um calote, resiste a entregar a fita: Valdebran – Olha, o negócio já tá rodando, mas ficou um negócio de vocês entregar aí. Luis Antônio – O que é? Valdebran – É uma fita. Uma fita bruta que aparece você e mais não sei quem. Entrega logo esse trem... Luiz Antônio – Amigo, só vou entregar a hora que entregar o negócio aí (refere-se ao dinheiro). Chega. Não sou moleque. Não vou mais fazer papel de palhaço, não, cara. Valdebran – Eu tô com o cara aqui. Ele tá com o negócio (nova referência ao dinheiro). Luiz Antônio – Quê? Valdebran - Tô com o cara aqui . Ele tá com o negócio. Tamo aqui junto. Luiz Antônio – Hã? Valdebran – Aquela outra parte já guardei onde tinha que guardar (refere-se à metade do dinheiro que já tinha recebido, no caso 798 000 reais e 109 800 dólares). A outra parte tá aqui com ele (refere-se ao restante do pagamento, que estava em mãos de Gedimar Passos, no caso 410 000 reais e 139 000 dólares). Entrega esses trem aí, o cara tá aqui comigo, rapaz. Luiz Antônio – Não vou entregar. Eles iam entregar ontem, não entregaram, né? "JÁ DERAM A METADE" Quinta-feira, 14 de setembro, 14h50
Aqui, Valdebran, falando de São Paulo, informa Luiz Antônio, que estava em Cuiabá, de que metade do dinheiro já havia sido paga e que vira a outra metade a ser paga. Fala em código, mas Luiz Antônio demora a entender: Valdebran – A outra metade já tá viabilizada (refere-se ao restante do pagamento). O que você vai fazer aí? Luiz Antônio – Em qual sentido você tá falando? Valdebran – Quem tá sendo mediador dessa p... sou eu. Nem é a turma que está aí (refere-se aos petistas que estavam em Cuiabá). Luiz Antônio Vedoin – Sei... Valdebran – É o seguinte: era um, né? Luiz Antônio Vedoin – Hã... Valdebran – Então 0,5 tá o.k. Aí, o outro 0,5, para cinco horas da tarde aqui (em código, diz que metade já foi paga e outra metade será paga às cinco da tarde em São Paulo). Vocês têm de fazer a parte toda de vocês aí. Luiz Antônio Vedoin – Mas quanto que é? Valdebran – É um, não é? Luiz Antônio Vedoin – Não! Valdebran – Ô, meu jovem... Luiz Antônio Vedoin – Ah, entendi. Valdebran – Entendeu? Já deram a metade. A outra metade tá aqui com eles. Já vi. Então, tem de entregar esse trem logo aí, cara... Luiz Antônio Vedoin – Daqui a pouquinho. Pode ser? Valdebran – Rápido, cara. "NÃO VAI TER PROBLEMA" Quinta-feira, 14 de setembro, 16h27
Neste diálogo, Luiz Antônio Vedoin conversa com Expedito Afonso Veloso, diretor de Gestão de Risco do Banco do Brasil. Ambos estão em Cuiabá. Expedito Veloso, que estava embarcando para São Paulo, pede que Luiz Antônio leve até o aeroporto o DVD prometido. Pede rapidez porque, antes de embarcar no avião, queria rodar o DVD em seu notebook. Luiz Antônio, que entregaria um DVD vazio, faz corpo mole, de modo que Expedito Veloso embarque sem checar o material: Expedito – Oi. Luiz Antônio – Expedito? Expedito – Oi Luiz Antônio – Em dez minutos, eu tô chegando aí na frente do aeroporto. Me espera aí na frente, tá? Expedito – Pois é... Eu queria checar... Luiz Antônio – Checa, ué... Por quê? Tem algum problema? Expedito – Não... Mas eu achei que (você) ia vir mais cedo para a gente colocar pelo menos no notebook aqui e ver... Luiz Antônio – Você leva isso aqui. Não vai ter problema. Expedito – É porque o tempo tá muito curto. Falta meia hora..., quer dizer..., o embarque já tá começando. Luiz Antônio – Você leva isso aqui. Não vai ter problema. Expedito – Tô te esperando aqui. Luiz Antônio – Tá bom. "MINHA CABEÇA TÁ PRA ESTOURAR" Quinta-feira, 14 de setembro, 19h07
Ao desembarcar em São Paulo, Expedito Veloso, diretor do BB, descobre que o DVD estava vazio. Luiz Antônio Vedoin não lhe entregou o material todo porque tinha receio de não receber o dinheiro. Deu-se, então, o seguinte diálogo entre Valdebran e Luiz Antônio. Valdebran – Rapaz, você não sabe o tamanho do problema que eu tô com ele aqui. Luiz Antônio – Que que houve? Valdebran – Os caras me ligaram aqui. Falaram que o DVD não tem nada, que você não entregou as fotos, que não entregou as anotações, que não entregou nada pra eles. Aí eu tô com o caboclo aqui na minha porta. Luiz Antônio – Como que não, cara? Eu vi. Eu entreguei pra eles. Valdebran – Tá dizendo que não rodou nada. Vou falar procê, minha cabeça tá pra estourar já, cara. Luiz Antônio – Faz o seguinte. Quer que eu pegue um vôo e entregue pra você hoje onze e meia da noite? Esses caras tão enrolando demais, pelo amor de Deus, cara. Valdebran – Agora tô com dois cara aqui na porta aqui, pô! Luiz Antônio – O que você quer que eu faça?
"PELO AMOR DE DEUS, EU NÃO AGÜENTO MAIS" Quinta-feira, 14 de setembro, 19h37 De São Paulo, Valdebran Padilha tem outra conversa com Luiz Antônio Vedoin. Nela, Luiz Antônio informa que vai mandar seu tio, Paulo Trevisan, para São Paulo com todo o material que faltava. É com base nessa conversa que a PF prende Paulo Trevisan no aeroporto de Cuiabá, quando tentava embarcar para São Paulo. É também neste diálogo que os agentes descobrem que Valdebran estava no apartamento 475 do hotel Ibis e que estava com dinheiro no cofre: Valdebran – Oi. Anota o apartamento aí. Ibis, 475. Olha, cara. Nao deixa faltar nada, tá. As fotos... Sabe o que eu tive de fazer? Desmontar tudo os pacotes, colocar tudo naquele cofre do quarto e guardar lá (...). Pelo amor de Deus, cara, eu não agüento mais, não tô nem dormindo com esse trem lá. Hoje eu nem saí daqui, nem almocei, bicho. | | |