Passados dez anos do assassinato do prefeito de Santo André, Celso Daniel, a família da vítima lamenta a impunidade. Apesar de uma investigação ter ligado a morte a um esquema de corrupção na liderado pelo PT, nenhum suspeito foi julgado.O irmão do ex-prefeito, que estava exilado na França, concedeu uma entrevista sobre o caso
21 de janeiro, 2002 - Publicado às 13h53 GMT | ||||
Anistia teme maior repressão após morte de Celso Daniel | ||||
Manifestação contra a violência após morte do prefeito |
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Denize Bacoccina e Silvia Salek A Anistia Internacional teme que o seqüestro e assassinato do prefeito de Santo André, Celso Daniel, no fim de semana, possa servir de pretexto para o aumento da repressão policial no Brasil. "As autoridades estão utilizando os crimes contra políticos nos últimos meses para descrever uma situação de guerra no país. Não vemos essa situação de guerra, mas sim de violência", afirmou Tim Cahill, pesquisador do núcleo responsável pelo Brasil na sede da Anistia, em Londres. "É perigoso esse discurso de aumentar a segurança com repressão. Não queremos ver a volta da Rota ou o desrespeito aos direitos humanos. As autoridades têm obrigação de garantir a segurança da população", afirmou. O representante da Anistia Internacional pediu que seja feita uma investigação para descobrir se o crime foi ou não político. Ele lembrou que vários políticos do PT foram vítimas de atos de violência ou receberam ameaças de morte. "Estas pessoas estão recebendo ameaças e não estão sendo protegidas pelas autoridades", disse Cahill. Esquadrão da morte O professor William Smith, do Departamento de Estudos Internacionais e Comparados da Universidade de Miami, também acha que o assassinato é preocupante. "Todo mundo, mesmo fora do Brasil, está muito preocupado porque (este tipo de crime) representa a ameaça da volta dos esquadrões da morte, típicos do regime militar dos anos 60 e 70", afirma. Ele não acredita, no entanto, que essa onda de violência contra políticos do Partido dos Trabalhadores (PT) represente uma ameaça à democracia. "A democracia brasileira está bastante consolidada", afirmou. Segundo a socióloga Angelina Peralva, professora da Universidade de Toulouse (França) e especialista em violência urbana, o problema só será resolvido quando a polícia se livrar da herança autoritária e corrupta da ditadura. "O Brasil convive com uma herança autoritária da ditadura. Até hoje, a polícia não foi reeducada para agir de acordo com as exigências da democracia", disse Peralva, que participou nesta segunda-feira do programa De Olho no Mundo - uma co-produção da BBC Brasil e da rádio Eldorado de São Paulo. Segundo ela, a democracia cria um potencial de violência na medida em que garante mais liberdade. "Mas isso não significa que a repressão tenha que aumentar. A liberdade tem que se apoiar em instituições democráticas que possam garantir a ordem pública. A democracia brasileira não construiu isso até hoje", disse Peralva, autora do livro Violência e Democracia – o paradoxo brasileiro, publicado pela Editora Paz e Terra.
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Família de celso daniel, exilada na França
Repasso esta comunicação, a pedido de Waldemar Rossi e da Família de Celso Daniel.
URGENTE! Não deixem de ler e repassar! CLAMOR POR JUSTIÇA!
Repasso, atendendo ao pedido abaixo: Apelo dramático de familiares de Celso Daniel - que hoje estão no exilo, em tempos de plena democracia(?).
Waldemar Rossi
Querido Waldemar
Recebo todos os seus e.mails. Voce nao sabia, mas eles nos mantêm ligados ao nosso pais, pois atraves deles podemos acompanhar o que ai acontece, ja que como exilados dos tempos da democracia nao podemos voltar porque corremos risco de morte, so porque lutamos pra saber as razoes e os mandantes do assassinato do Celso Daniel (ex-prefeito de Santo André).
Gilberto Carvalho que voce tao bem conhece insiste em nos desqualificar através de argumentos da vida privada, que nunca discutiremos em publico. Por que ele nao quer discutir as razoes do assassinato do Celso? Por que ele nao contribui para encontrar os mandantes do assassianto do Celso?
Enfim, um dia, quando tivermos condiçoes de voltar, ai estaremos, pra continuar na luta de cada dia. Mas mesmo de longe, de um outro pais, seguimos lutando conforme nos é possivel.
Por isso gostaria que voce encaminhasse para todos as cartas que hoje foram apresentada por Helio Bicudo na coletiva que deu, falando de nosso exilio, do nosso pedido ao STF de nao aceitar os argumentos de inconstitucionalidade do direito de investigaçao do Minsiterio Publico e de levar o caso de Celso a juri popular.
Um grande abraço
Marilena e Bruno (cunhada e irmao de Celso Daniel)
França, 18 de janeiro de 2007
Querido Helio,
Te enviamos uma carta endereçada à Presidente do STF ? Supremo Tribunal Federal, pedindo que a faça chegar até ela, e que a torne pública. Escolhemos você como nosso portador e nosso porta-voz por duas razões: a primeira, pela sua solidariedade, que foi e tem sido vital para nós. Não apenas para a luta que travamos para que se faça justiça no caso do assassinato do Celso, mas também porque hoje estamos em segurança em função do apoio que você nos deu no período de nossa saída do Brasil, após sofrermos tantas intimidações, perseguições e ameaças. A segunda razão pela qual o escolhemos é porque você representa para nós um símbolo da luta em defesa dos direitos humanos, pois jamais esmoreceu, mesmo em momentos tão difíceis como o da ditadura militar.
Pedimos que diga a todos aqueles que, como você, agiram, continuam agindo e se solidarizaram conosco, que eles também continuam sendo para nós exemplos de capacidade de luta por um mundo melhor e mais humano. Aqui não citamos o nome de cada um deles ou das instituições a que pertencem, pois felizmente a lista é imensa, e não queremos cometer injustiças. Cada um deles sabe o sentimento que nutrimos por eles.
Você e eles acompanharam passo a passo a nossa dolorosa decisão de sair do Brasil, após nossas ações incessantes no sentido de tentar viabilizar a descoberta das circunstâncias do assassinato do Celso. Saímos daí no dia 28 de fevereiro de 2006, em direção à França, que nos acolheu e reconheceu oficialmente que aí sofríamos risco de morte, nos outorgando o estatuto de refugiados.
Como exilados vivemos fisicamente em outro país, onde também temos grandes amigos, solidários, mas seguimos ainda fortemente atados ao Brasil, desejando que a democracia aí se aperfeiçoe.
Depois de termos vivido os duros anos da ditadura militar, nao imaginávamos que alguém seria obrigado a sair do país e se refugiar em outro, na condição de exilado. Para nossa surpresa, aqui estamos diante dessa dura realidade. O país que nos acolhe nos oferece muito, temos muito a aprender com aqueles que nos concederam o refúgio. Mas faltam nele todos os amigos que aí deixamos, parte da família, nosso trabalho regular e isso torna o exílio muito difícil.
Cada um de vocês está conosco nos e.mails, nos telefonemas, nas coisas enviadas, nos nossos pensamentos e corações. Mas a ausência física, a impossibilidade de pegar o telefone e ligar a qualquer momento, a impossibilidade de nos encontrarmos no trabalho e nos movimentos sociais, de irmos para a casa de cada um, de conversarmos face a face, de jogarmos conversa fora, de darmos risada, de chorarmos, de falarmos das nossas preocupações, das nossas ansiedades, de falarmos de tudo, de comermos juntos, faz muita falta.
Hoje, passados quase dois anos de nossa partida, tentamos reconstruir nossas vidas. Mas isto não se faz deixando o passado para trás, como se ele não existisse mais. Nos caminhos de produçao da democracia não se deve apagar a memória. Os motivos do assassinato do Celso não foram ainda devidamente esclarecidos. Nem todos os mandantes de tão bárbaro crime foram ainda descobertos. Não sabemos ainda quem o torturou e o que se passou em seu cativeiro. Mesmo distantes do Brasil, é para nós difícil elaborar o luto de sua perda. Seu corpo segue insepulto para nós. Por isso, continuaremos na luta para que se desvendem por completo as razões de seu assassinato e para que se faça justiça. Para isso pedimos o apoio de todos, de você, dos nossos amigos e dos brasileiros, que como nós, não aceitam que assassinatos como o do Celso caiam no esquecimento.
Dia 18 de janeiro ele foi sequestrado e dia 20 completa-se o sexto aniversário de sua morte. Neste momento queremos que você diga a todos que também seguimos acreditando que nosso país poderá ser mais democrático e humano. Que não perdemos as esperanças nas instituições brasileiras e que um dia as razões do assassinato do Celso virão à tona e todos os envolvidos prestarão contas de seus atos à Justiça brasileira.
Acompanhamos o trabalho do Ministério Público, uma das poucas instituições do Estado com quem tivemos que nos relacionar desde 2002, em função do que ocorreu com o Celso, que com suas investigações sobre seu assassinato, nos dão a certeza de que podemos ter esperanças. O MP tem cumprido com suas atribuições com competência e independência (embora seja, como todas as instituições, heterogênea e deva ser sempre aperfeiçoada). Esperamos que ele possa terminar bem seu trabalho para desvendar por completo as razões, os mandantes, as circunstâncias de sua morte e todos os envolvidos nela.
De longe, acompanhando os acontecimentos no Brasil. Vemos novamente o risco que o Ministério Público corre de perder o direito de investigação. Muitos temem sua autonomia, temem que ele exerça na plenitude o papel que a Constituição lhe reservou, o de « advogado do povo ».
Há, no Supremo Tribunal Federal, outro processo em andamento, desta vez a pedido de Sergio Gomes da Silva, o ?Sombra?, denunciado pelo MP como mandante da morte de Celso, solicitando a anulação das provas, porque segundo seus advogados o MP não teria o direito de investigar. Não podemos deixar de reagir a isso. Tal como fizemos quando participamos do Movimento Investigar é Preciso, em 2004, pensamos que o direito de investigação dessa instituição deve ser preservado como algo necessário ao exercício pleno da cidadania. Sem esse direito, num país em que os ricos e poderosos dificilmente vão para a cadeia, possivelmente crescerá o sentimento de que imperam a impunidadde e a injustiça.
Por isso, pedimos a você e a todos os que pensam como nós, que mais uma vez, por todos os meios (abaixo-assinados, blogs, e-mails, solicitaçoes de parlamentares, entidades de classe, de defesa dos direitos civis etc), solicitem ao STF que se posicionem contrariamente ao pedido de invalidar todas as provas contra o ?Sombra?. Acreditamos que o STF tem um importante papel a cumprir no sentido de dizer que no Brasil se faz justiça, não pelas próprias mãos, mas pelas instituições, porque elas, numa democracia, precisam ser aperfeiçoadas e reforçadas. Não é só o caso do Celso que está em jogo. O retrocesso institucional seria enorme.
Também pedimos a você e a todos os que acreditam como nós, que o assassinato do Celso não foi um crime comum, que da mesma forma sejam nossos porta-vozes junto à Justiça de Itapecirica, solicitando que o caso vá a júri popular o mais rapidamente possível. Decorridos 6 anos de sua morte, já não é sem tempo que essa decisão seja tomada. Mesmo que as investigações não estejam terminadas, já há implicados e provas suficientes para que um júri popular possa se pronunciar.
Querido Helio, aprendemos com você e tantos outros brasilerios que lutar vale a pena e por isso esperamos um dia voltar para o Brasil e juntos, lado a lado, seguirmos a nossa luta por um país mais democrático e humano.
Um grande abraço a você, a nossos amigos e àqueles que têm se solidarizado conosco.
Bruno José Daniel Filho e Marilena Nakano (irmão e cunhada de Celso Daniel)
França, 18 de janeiro de 2007
Exma. Sra.
Ellen Gracie
DD Presidente do Supremo Tribunal Federal
Senhora presidente
Em 03 de novembro de 2004, o Supremo Tribunal Federal recebeu das mãos do Diretor Executivo da entidade Transparência Brasil um manifesto do movimento INVESTIGAR É PRECISO, contendo mil e quinhentas assinaturas, ?expressão espontânea da sociedade civil, neste particular representada por entidades de classe e de defesa de direitos sociais, por parlamentares e, individualmente, por funcionários públicos, jornalistas, profissionais liberais, aposentados, professores e estudantes?.
À época o movimento, do qual participávamos, manifestava seu apoio ao Ministério Público e posicionava-se contrariamente à supressão de seu direito de investigar.
Decorridos mais de três anos, o STF tem de novo em suas mãos uma solicitação feita por Sergio Gomes da Silva, indiciado no processo do assassinato de Celso Daniel, alegando a inconstitucionalidade do direito de investigação do MP. A sua intenção é clara: fazer invalidar as provas coletadas por promotores públicos, que não deixam dúvida quanto à sua participação em seu seqüestro e assassinato, de forma a se ver livre das acusações que lhe são imputadas.
Hoje, Senhora Presidente, vivendo como exilados estatutários na França, em função do Estado Francês ter reconhecido as perseguições, ameaças e intimidações que vivemos no Brasil, por causa da luta que ai travamos para o desvendamento das razões do assassinato de Celso Daniel, bem como de seus mandantes, não podemos deixar de manifestar nossa preocupação quanto ao posicionamento do STF. Por isso, de novo queremos deixar público o nosso apoio ao MP, nos posicionando contrariamente à supressão de seu direito de investigar e manifestando nossa preocupação, tal como o fez o movimento INVESTIGAR É PRECISO, em 2004, diante da possibilidade ?do Supremo Tribunal Federal interpretar a Constituição do país, no sentido de impedir que o Minitério Público investigue os crimes de corrupção, de abuso de poder e de violência policial?.
Reafirmamos que ?a diligência do Ministério Publico foi e está sendo determinante na apuração e punição de significativos crimes e criminosos. Impedir a investigaçao de crimes por parte do MP significa suprimir da sociedade um estratégico meio de combate ao crime organizado, à corrupçào política, ao abuso de autoridade e à lavagem de dinheiro.
Nossa luta é pela investigação plural de crimes, como fazem outras instituições e organizações da sociedade que hoje desenvolvem investigações em prol da lisura no trato dos recursos públicos, segundo os ditames da lei: Receita Federal, Controladoria da República, Conselhos de Medicina, Tribunais de Contas, entre outras?.
Tomando como nossas palavras as de Helio Bicudo, ?na decisão a ser tomada, o Supremo Tribunal Federal deverá fazer profunda reflexão sobre a questão constitucional e infra-constitucional, sem esquecer o seu papel de árbitro maior nao só da Lei Magna, mas da própria realidade brasileira, pois interpretar é descobrir tudo aquilo que a norma contém, para que ela seja instrumento da paz social. (...)Como na sociedade atual, onde a alta criminalidade viceja e se desenvolve, impedir-se a ampla atuação do Ministério Público será acoroçoar-se a ilicitude daqueles que se situam em patamares superiores da sociedade e que por isso mesmo se sentem imunes. A lei penal, segundo pensam, não é para eles, mas para aqueles que o sistema politico-economico marginalizou ou excluiu da vida social.?
Impedir que o Ministério Público possa investigar significa contribuir para a existência de novos exilados brasileiros em tempos de democracia, como é o nosso caso.
?Não se pode retirar meios, quaisquer que sejam, que impeçam ou dificultem a propositura da ação penal pelo Ministério Público. Se a tanto chegarmos, estaremos decretando a própria falência do atual ordenamento jurídico que o constituinte de 86/88 buscou normatizar, tendo em vista a contribuição do Ministério Público na construção do Estado Democrático? (Helio Bicudo).
Senhora Presidente, solicitamos que esse nosso posicionamento seja conhecido por todos os ministros desse Tribunal.
Atenciosamente,
Bruno José Daniel Filho e Marilena Nakano (irmão e cunhada de Celso Daniel, prefeito de Santo André, seqüestrado e assassinado em 20 de janeiro de 2002).
Repasso, atendendo ao pedido abaixo: Apelo dramático de familiares de Celso Daniel - que hoje estão no exilo, em tempos de plena democracia(?).
Waldemar Rossi
Querido Waldemar
Recebo todos os seus e.mails. Voce nao sabia, mas eles nos mantêm ligados ao nosso pais, pois atraves deles podemos acompanhar o que ai acontece, ja que como exilados dos tempos da democracia nao podemos voltar porque corremos risco de morte, so porque lutamos pra saber as razoes e os mandantes do assassinato do Celso Daniel (ex-prefeito de Santo André).
Gilberto Carvalho que voce tao bem conhece insiste em nos desqualificar através de argumentos da vida privada, que nunca discutiremos em publico. Por que ele nao quer discutir as razoes do assassinato do Celso? Por que ele nao contribui para encontrar os mandantes do assassianto do Celso?
Enfim, um dia, quando tivermos condiçoes de voltar, ai estaremos, pra continuar na luta de cada dia. Mas mesmo de longe, de um outro pais, seguimos lutando conforme nos é possivel.
Por isso gostaria que voce encaminhasse para todos as cartas que hoje foram apresentada por Helio Bicudo na coletiva que deu, falando de nosso exilio, do nosso pedido ao STF de nao aceitar os argumentos de inconstitucionalidade do direito de investigaçao do Minsiterio Publico e de levar o caso de Celso a juri popular.
Um grande abraço
Marilena e Bruno (cunhada e irmao de Celso Daniel)
França, 18 de janeiro de 2007
Querido Helio,
Te enviamos uma carta endereçada à Presidente do STF ? Supremo Tribunal Federal, pedindo que a faça chegar até ela, e que a torne pública. Escolhemos você como nosso portador e nosso porta-voz por duas razões: a primeira, pela sua solidariedade, que foi e tem sido vital para nós. Não apenas para a luta que travamos para que se faça justiça no caso do assassinato do Celso, mas também porque hoje estamos em segurança em função do apoio que você nos deu no período de nossa saída do Brasil, após sofrermos tantas intimidações, perseguições e ameaças. A segunda razão pela qual o escolhemos é porque você representa para nós um símbolo da luta em defesa dos direitos humanos, pois jamais esmoreceu, mesmo em momentos tão difíceis como o da ditadura militar.
Pedimos que diga a todos aqueles que, como você, agiram, continuam agindo e se solidarizaram conosco, que eles também continuam sendo para nós exemplos de capacidade de luta por um mundo melhor e mais humano. Aqui não citamos o nome de cada um deles ou das instituições a que pertencem, pois felizmente a lista é imensa, e não queremos cometer injustiças. Cada um deles sabe o sentimento que nutrimos por eles.
Você e eles acompanharam passo a passo a nossa dolorosa decisão de sair do Brasil, após nossas ações incessantes no sentido de tentar viabilizar a descoberta das circunstâncias do assassinato do Celso. Saímos daí no dia 28 de fevereiro de 2006, em direção à França, que nos acolheu e reconheceu oficialmente que aí sofríamos risco de morte, nos outorgando o estatuto de refugiados.
Como exilados vivemos fisicamente em outro país, onde também temos grandes amigos, solidários, mas seguimos ainda fortemente atados ao Brasil, desejando que a democracia aí se aperfeiçoe.
Depois de termos vivido os duros anos da ditadura militar, nao imaginávamos que alguém seria obrigado a sair do país e se refugiar em outro, na condição de exilado. Para nossa surpresa, aqui estamos diante dessa dura realidade. O país que nos acolhe nos oferece muito, temos muito a aprender com aqueles que nos concederam o refúgio. Mas faltam nele todos os amigos que aí deixamos, parte da família, nosso trabalho regular e isso torna o exílio muito difícil.
Cada um de vocês está conosco nos e.mails, nos telefonemas, nas coisas enviadas, nos nossos pensamentos e corações. Mas a ausência física, a impossibilidade de pegar o telefone e ligar a qualquer momento, a impossibilidade de nos encontrarmos no trabalho e nos movimentos sociais, de irmos para a casa de cada um, de conversarmos face a face, de jogarmos conversa fora, de darmos risada, de chorarmos, de falarmos das nossas preocupações, das nossas ansiedades, de falarmos de tudo, de comermos juntos, faz muita falta.
Hoje, passados quase dois anos de nossa partida, tentamos reconstruir nossas vidas. Mas isto não se faz deixando o passado para trás, como se ele não existisse mais. Nos caminhos de produçao da democracia não se deve apagar a memória. Os motivos do assassinato do Celso não foram ainda devidamente esclarecidos. Nem todos os mandantes de tão bárbaro crime foram ainda descobertos. Não sabemos ainda quem o torturou e o que se passou em seu cativeiro. Mesmo distantes do Brasil, é para nós difícil elaborar o luto de sua perda. Seu corpo segue insepulto para nós. Por isso, continuaremos na luta para que se desvendem por completo as razões de seu assassinato e para que se faça justiça. Para isso pedimos o apoio de todos, de você, dos nossos amigos e dos brasileiros, que como nós, não aceitam que assassinatos como o do Celso caiam no esquecimento.
Dia 18 de janeiro ele foi sequestrado e dia 20 completa-se o sexto aniversário de sua morte. Neste momento queremos que você diga a todos que também seguimos acreditando que nosso país poderá ser mais democrático e humano. Que não perdemos as esperanças nas instituições brasileiras e que um dia as razões do assassinato do Celso virão à tona e todos os envolvidos prestarão contas de seus atos à Justiça brasileira.
Acompanhamos o trabalho do Ministério Público, uma das poucas instituições do Estado com quem tivemos que nos relacionar desde 2002, em função do que ocorreu com o Celso, que com suas investigações sobre seu assassinato, nos dão a certeza de que podemos ter esperanças. O MP tem cumprido com suas atribuições com competência e independência (embora seja, como todas as instituições, heterogênea e deva ser sempre aperfeiçoada). Esperamos que ele possa terminar bem seu trabalho para desvendar por completo as razões, os mandantes, as circunstâncias de sua morte e todos os envolvidos nela.
De longe, acompanhando os acontecimentos no Brasil. Vemos novamente o risco que o Ministério Público corre de perder o direito de investigação. Muitos temem sua autonomia, temem que ele exerça na plenitude o papel que a Constituição lhe reservou, o de « advogado do povo ».
Há, no Supremo Tribunal Federal, outro processo em andamento, desta vez a pedido de Sergio Gomes da Silva, o ?Sombra?, denunciado pelo MP como mandante da morte de Celso, solicitando a anulação das provas, porque segundo seus advogados o MP não teria o direito de investigar. Não podemos deixar de reagir a isso. Tal como fizemos quando participamos do Movimento Investigar é Preciso, em 2004, pensamos que o direito de investigação dessa instituição deve ser preservado como algo necessário ao exercício pleno da cidadania. Sem esse direito, num país em que os ricos e poderosos dificilmente vão para a cadeia, possivelmente crescerá o sentimento de que imperam a impunidadde e a injustiça.
Por isso, pedimos a você e a todos os que pensam como nós, que mais uma vez, por todos os meios (abaixo-assinados, blogs, e-mails, solicitaçoes de parlamentares, entidades de classe, de defesa dos direitos civis etc), solicitem ao STF que se posicionem contrariamente ao pedido de invalidar todas as provas contra o ?Sombra?. Acreditamos que o STF tem um importante papel a cumprir no sentido de dizer que no Brasil se faz justiça, não pelas próprias mãos, mas pelas instituições, porque elas, numa democracia, precisam ser aperfeiçoadas e reforçadas. Não é só o caso do Celso que está em jogo. O retrocesso institucional seria enorme.
Também pedimos a você e a todos os que acreditam como nós, que o assassinato do Celso não foi um crime comum, que da mesma forma sejam nossos porta-vozes junto à Justiça de Itapecirica, solicitando que o caso vá a júri popular o mais rapidamente possível. Decorridos 6 anos de sua morte, já não é sem tempo que essa decisão seja tomada. Mesmo que as investigações não estejam terminadas, já há implicados e provas suficientes para que um júri popular possa se pronunciar.
Querido Helio, aprendemos com você e tantos outros brasilerios que lutar vale a pena e por isso esperamos um dia voltar para o Brasil e juntos, lado a lado, seguirmos a nossa luta por um país mais democrático e humano.
Um grande abraço a você, a nossos amigos e àqueles que têm se solidarizado conosco.
Bruno José Daniel Filho e Marilena Nakano (irmão e cunhada de Celso Daniel)
França, 18 de janeiro de 2007
Exma. Sra.
Ellen Gracie
DD Presidente do Supremo Tribunal Federal
Senhora presidente
Em 03 de novembro de 2004, o Supremo Tribunal Federal recebeu das mãos do Diretor Executivo da entidade Transparência Brasil um manifesto do movimento INVESTIGAR É PRECISO, contendo mil e quinhentas assinaturas, ?expressão espontânea da sociedade civil, neste particular representada por entidades de classe e de defesa de direitos sociais, por parlamentares e, individualmente, por funcionários públicos, jornalistas, profissionais liberais, aposentados, professores e estudantes?.
À época o movimento, do qual participávamos, manifestava seu apoio ao Ministério Público e posicionava-se contrariamente à supressão de seu direito de investigar.
Decorridos mais de três anos, o STF tem de novo em suas mãos uma solicitação feita por Sergio Gomes da Silva, indiciado no processo do assassinato de Celso Daniel, alegando a inconstitucionalidade do direito de investigação do MP. A sua intenção é clara: fazer invalidar as provas coletadas por promotores públicos, que não deixam dúvida quanto à sua participação em seu seqüestro e assassinato, de forma a se ver livre das acusações que lhe são imputadas.
Hoje, Senhora Presidente, vivendo como exilados estatutários na França, em função do Estado Francês ter reconhecido as perseguições, ameaças e intimidações que vivemos no Brasil, por causa da luta que ai travamos para o desvendamento das razões do assassinato de Celso Daniel, bem como de seus mandantes, não podemos deixar de manifestar nossa preocupação quanto ao posicionamento do STF. Por isso, de novo queremos deixar público o nosso apoio ao MP, nos posicionando contrariamente à supressão de seu direito de investigar e manifestando nossa preocupação, tal como o fez o movimento INVESTIGAR É PRECISO, em 2004, diante da possibilidade ?do Supremo Tribunal Federal interpretar a Constituição do país, no sentido de impedir que o Minitério Público investigue os crimes de corrupção, de abuso de poder e de violência policial?.
Reafirmamos que ?a diligência do Ministério Publico foi e está sendo determinante na apuração e punição de significativos crimes e criminosos. Impedir a investigaçao de crimes por parte do MP significa suprimir da sociedade um estratégico meio de combate ao crime organizado, à corrupçào política, ao abuso de autoridade e à lavagem de dinheiro.
Nossa luta é pela investigação plural de crimes, como fazem outras instituições e organizações da sociedade que hoje desenvolvem investigações em prol da lisura no trato dos recursos públicos, segundo os ditames da lei: Receita Federal, Controladoria da República, Conselhos de Medicina, Tribunais de Contas, entre outras?.
Tomando como nossas palavras as de Helio Bicudo, ?na decisão a ser tomada, o Supremo Tribunal Federal deverá fazer profunda reflexão sobre a questão constitucional e infra-constitucional, sem esquecer o seu papel de árbitro maior nao só da Lei Magna, mas da própria realidade brasileira, pois interpretar é descobrir tudo aquilo que a norma contém, para que ela seja instrumento da paz social. (...)Como na sociedade atual, onde a alta criminalidade viceja e se desenvolve, impedir-se a ampla atuação do Ministério Público será acoroçoar-se a ilicitude daqueles que se situam em patamares superiores da sociedade e que por isso mesmo se sentem imunes. A lei penal, segundo pensam, não é para eles, mas para aqueles que o sistema politico-economico marginalizou ou excluiu da vida social.?
Impedir que o Ministério Público possa investigar significa contribuir para a existência de novos exilados brasileiros em tempos de democracia, como é o nosso caso.
?Não se pode retirar meios, quaisquer que sejam, que impeçam ou dificultem a propositura da ação penal pelo Ministério Público. Se a tanto chegarmos, estaremos decretando a própria falência do atual ordenamento jurídico que o constituinte de 86/88 buscou normatizar, tendo em vista a contribuição do Ministério Público na construção do Estado Democrático? (Helio Bicudo).
Senhora Presidente, solicitamos que esse nosso posicionamento seja conhecido por todos os ministros desse Tribunal.
Atenciosamente,
Bruno José Daniel Filho e Marilena Nakano (irmão e cunhada de Celso Daniel, prefeito de Santo André, seqüestrado e assassinado em 20 de janeiro de 2002).
Comentário
Gostaria de dizer que me sinto muito confortável em ser execrado por
gente como Leonardo Boff, Frei Beto e João Pedro Stédile, que têm a
coragem de conviver e receber em eventos do Moviemnto Fé e Política,
gente da estirpe covarde e facínora deste Gilberto Carvalho (o Mordomo
Político do Lulla).
Acrescente-se a isso a atitude complacente que têm com o aprendiz de pilantra político que é o atual prefeito de Nova Iguaçu e virtual candidato ao governo do RJ, o Lindemberg Farias, que a esta altura tem a sua Cara Pintada com o sangue de Celso Daniel. No mínimo pela sua omissão.
Com gente deste tipo, estes que se dizem ao lado da justiça e do Movimento Social convivem "civilizadamente". Mas com críticos honestos e opositores às farsas políticas que protagonizam, são intolerantes.
Que ardam no inferno!
Acrescente-se a isso a atitude complacente que têm com o aprendiz de pilantra político que é o atual prefeito de Nova Iguaçu e virtual candidato ao governo do RJ, o Lindemberg Farias, que a esta altura tem a sua Cara Pintada com o sangue de Celso Daniel. No mínimo pela sua omissão.
Com gente deste tipo, estes que se dizem ao lado da justiça e do Movimento Social convivem "civilizadamente". Mas com críticos honestos e opositores às farsas políticas que protagonizam, são intolerantes.
Que ardam no inferno!