Para União Europeia, anúncio pode pode ser um passo na direção correta, mas não responde a todas as inquietações sobre o programa nuclear de Teerã
AFP Irã, Brasil e Turquia assinaram nesta segunda-feira um acordo para a troca de urânio iraniano por combustível nuclear enriquecido a 20% em território turco, com o objetivo de superar a crise provocada pela política de enriquecimento de urânio de Teerã.
O acordo prevê o envio por parte do Irã à Turquia de 1.200 quilos de seu urânio levemente enriquecido (a 3,5%) para uma troca, em um prazo máximo de um ano, por 120 quilos de combustível altamente enriquecido (20%), necessário para o reator experimental de Teerã, anunciou o porta-voz do ministério iraniano das Relações Exteriores, Ramin Mehmanparast.
Caso as grandes potências aceitem a proposta, o Irã enviará dentro de um mês 1.200 quilos de urânio levemente enriquecido, completou Mehmanparast.
O chanceler brasileiro Celso Amorim declarou que o acordo demonstra que "é preciso criar confiança entre o Irã, a comunidade internacional e o grupo 5+1" (EUA, Rússia, China, França, Grã-Bretanha e Alemanha).
O ministro também destacou que o acordo "reconhece o direito do Irã de utilizar para fins pacíficos a tecnologia nuclear e o enriquecimento de urânio".Já o ministro turco das Relações Exteriores, Ahmet Davutoglu, afirmou que sanções não são mais necessárias contra o Irã.
Mas o objetivo do acordo de amainar as tensões sobre o tema na comunidade internacional não foi totalmente atingido. O acordo "não responde a todas as inquietações" da comunidade internacional, declarou um porta-voz da chefe da diplomacia da União Europeia (UE), Catherine Ashton.
"O anúncio feito nesta segunda-feira pode constituir um passo na direção correta, caso sejam confirmados os detalhes do acordo, mas isto não responde a todas as inquietações sobre o programa nuclear de Teerã", declarou o porta-voz.
O governo da Alemanha destacou que nada pode substituir um acordo entre Teerã e a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). "Continua sendo importante que Irã e AIEA cheguem a um acordo", declarou o porta-voz adjunto do governo da Alemanha, Christoph Steegmans.
Na França, o acordo também foi recebido com certo descaso. O ministério francês das Relações Exteriores indicou que acordo entre Irã, Brasil e Turquia não soluciona o problema de fundo do programa nuclear iraniano e o fato de que o Irã continua enriquecendo urânio.
"Não nos enganemos: uma solução para o assunto (do reator de pesquisa civil iraniano) TRR não solucionará em nada o problema criado pelo programa nuclear iraniano", afirmou o porta-voz da chancelaria francesa, Bernard Valero, indagado pela imprensa sobre a possibilidade de frear o exame de novas sanções contra o Irã na ONU.
"O intercâmbio de urânio é apenas uma medida de confiança, um acompanhamento. O nó do problema nuclear iraniano é o prosseguimento das atividades de enriquecimento em Natanz, a construção do reator de água pesada em Arak, a ocultação da usina de Qom, as perguntas dos inspectores da AIEA que ainda não foram respondidas", precisou.
"Desde a proposta de outubro da AIEA", destinada a tirar do Irã 1.200 kg de urânio levemente enriquecido para transformá-lo em barras de combustível para o reator TRR, "o Irã enriquece o urânio a 20%", destacou Valero.
"O Irã deve pôr fim imediatamente a essas violações constantes das resoluções do Conselho de Segurança da ONU e do Conselho de Diretores da AIEA. Com esse objetivo preparamos em Nova York novas sanções com nossos interlocutores do Conselho de Segurança", explicou.
O ministro francês das Relações Exteriores, Bernard Kouchner, afirmou que os "progressos bastante importantes" estão sendo obtidos no Conselho de Segurança da ONU a respeito das sanções contra o Irã pelo programa nuclear do país.
Assim como o governo alemão, o chanceler francês defende que a AIEA é quem deve posicionar-se sobre o acordo "Não somos nós que devemos responder. É a AIEA", declarou Kouchner à AFP.
Para a Grã-Bretânia, o Irã continua sendo um sério motivo de preocupação, apesar do acordo alcançado com o Brasil e a Turquia, afirmou Alistair Burt, subsecretário de Estado britânico para as Relações Exteriores.
Para Burt, se for confirmada a disposição do Irã de enviar urânio levemente enriquecido ao exterior, Teerã deve comunicar isso imediatamente à Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).
"Não existe nenhum aparente uso civil para este material e enfatiza o desprezo do Irã para os esforços de iniciar negociações sérias", acrecentou.
"O Irã tem a obrigação de assegurar à comunidade internacional de suas intenções pacíficas", acrescentou. "Essa é a razão pela qual trabalhamos com nossos sócios do 5+1 em uma resolução de sanções no Conselho de Segurança da ONU". Burt destacou que até que o Irã adote ações concretas, o trabalho deve continuar.
Em meio às críticas, o presidente do Irã, Mahmud Ahmadinejad, afirmou esperar que as grandes potências aceitem discutir com honestidade a questão nuclear.
"A experiência do encontro entre três partes de Teerã mostra que se a cooperação for baseada na amizade e respeito, não há nenhum problema. Mas o problema das discussões com o grupo 5+1 era que alguns de seus membros não respeitavam estes princípios", disse Ahmadinejad.
"Por isto não davam resultado", concluiu.