RENATA GIRALDI
GABRIELA GUERREIRO
da Folha Online, em Brasília
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deverá decidir ainda nesta segunda-feira sobre o reajuste no valor total do Programa do Bolsa-Família. A Folha Online apurou que, impressionado com a perda do poder de compra dos mais pobres da população, Lula quer definir a questão durante a reunião ministerial, realizada hoje no Palácio do Planalto.
Na sexta-feira passada, o ministro Patrus Ananias (Desenvolvimento Social e Combate à Fomes) defendeu o reajuste de 6% sobre o total pago aos benefícios do programa.
Atualmente os valores pagos pelo programa variam de R$ 18 a R$ 172 --as variações dependem da renda mensal por pessoa da família e o número de crianças e adolescentes até 17 anos.
Durante a reunião, Lula ouviu um relato minucioso do ministro Guido Mantega (Fazenda) que demonstrou, por meio de dados, que a perda do poder de compra na camada mais pobre da população é de 8%. Segundo interlocutores, o presidente está preocupado com a alta dos preços da carne de boi e do feijão.
Mas o assunto deverá ser tratado pelo presidente no começo da segunda etapa da reunião ministerial que será dedicada às questões políticas --e deverá ocorrer na tarde de hoje. Na primeira fase, o assunto foi econômico, mas com o foco na alta de preços dos alimentos e a inflação.
Oficialmente, porém, o ministro José Múcio Monteiro (Relações Institucionais) negou que o reajuste do Bolsa Família tenha entrado na pauta da reunião ministerial.
Diferenças
O Programa Bolsa Família reúne três tipos de benefícios. Pelo tipo básico, o pagamento é de R$ 58,00. É destinado às famílias consideradas extremamente pobres, aquelas com renda mensal de até R$ 60 por pessoa.
Já o valor de R$ 18 é pago às famílias pobres, aquelas com renda mensal de até R$ 120 por pessoa desde que tenham crianças e adolescentes de até 15 anos. Cada família pode receber até três benefícios variáveis, ou seja, R$ 54.
O benefício do tipo que considera o número de adolescentes por família é no valor de R$ 30. É pago a todas as famílias ligadas ao programa que tenham adolescentes de 16 e 17 anos freqüentando a escola. Cada família pode receber até dois benefícios variáveis vinculados ao adolescente, ou seja, até R$ 60.
Economia
Na primeira etapa da reunião, o presidente sinalizou que pretende a ampliar a agricultura familiar no país como alternativa para ajudar na solução da crise internacional de alimentos.
Lula também tem como objetivo aumentar a produção de fertilizantes brasileiros para reduzir a importação do produto --que chega no índice de 75% atualmente --como outro mecanismo para combater a crise de alimentos.
O ministro Guilherme Cassel (Desenvolvimento Agrário) defendeu o incremento da agricultura de pequena produção no país para ampliar a oferta brasileira de alimentos. O ministro Reinhold Stephanes (Agricultura), por sua vez, defendeu o aumento na produção de fertilizantes para reduzir a importação do produto, essencial na produção de vários tipos de alimentos.
Ministros chamam de "razoável" o reajuste salarial de 28,5%
da Folha Online, em Brasília
O ministro Waldir Pires (Defesa) fez hoje um desabafo ao comemorar o reajuste de 28,5% nos salários dos ministros, presidente e vice-presidente da República aprovado ontem pela Câmara dos Deputados. Pires disse que "um gerente qualquer" tem salário melhor que o seu atual --que é de R$ 8.362.
"Quando um ministro termina de pagar as coisas que decorrem do fato de ser ministro, fica com R$ 4.000 ou R$ 5.000. Não tem sentido. Um gerente qualquer tem um salário melhor que um ministro. Não estou reclamando. A essa altura, também, você é ministro porque acredita que pode contribuir com as instituições do seu país", afirmou.
Se o reajuste aprovado pela Câmara for referendado pelo Senado, os salários dos ministros e do vice-presidente da República passarão para R$ 10.748,43. Apesar das críticas à sua remuneração, o ministro disse ser uma pessoa de "hábitos simples".
"A essa altura da minha vida, é evidente que eu devo ter um pouco mais de recursos pelo que acumulei na vida. Sempre fui um homem de vida simples", disse.
Ao contrário de Pires, o ministro Walfrido dos Mares Guia (Relações Institucionais) disse estar satisfeito com o salário que recebe há oito anos. "Eu ganhava esse salário [de R$ 8.362] quando era deputado aqui há oito anos. Agora, o salário foi reajustado. Eu não posso reclamar do salário porque nós ganhamos muito mais que a média do trabalhador brasileiro", afirmou.
Mesmo com a aparente satisfação com o seu salário, Walfrido disse que o valor estava defasado e que o Congresso optou pelo menor índice de correção do valor.
"Nós não podemos ser hipócritas de achar que os salários dos agentes públicos não têm que ser corrigidos por algum índice. Não estamos indexando nada à inflação. A inflação está tão baixa hoje que 86% dos acordos salariais feitos no Brasil são acima da inflação."
Bem-humorado, o ministro Guido Mantega (Fazenda) disse que vai oferecer um jantar aos amigos para comemorar o reajuste. "Recebi um aumento de 28% e o salário de ministro está congelado há oito anos, mas eu levo em consideração o quadro geral do país e fico satisfeito com esse aumento", afirmou.
A correção nos salários dos ministros, presidente e vice-presidente, deputados e senadores teve como base a inflação acumulada nos últimos quatro anos. Para entrar em vigor, o percentual tem agora que ser aprovado pelo Senado Federal.
Senado
O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), disse hoje que vai reunir os líderes partidários para definir quando o reajuste entrará na pauta de votações da Casa.
"Eu procuro antes de qualquer coisa ouvir os líderes, o plenário. Será decisão tomada pela totalidade da Casa. Eu não vou tratar dessa questão monocraticamente."
Renan disse que considerou a recuperação das perdas inflacionárias "razoável".
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