Nos
últimos meses, as entidades privadas sem fins lucrativos ganharam as
páginas dos jornais, por conta de uma série de denúncias e
irregularidades que derrubaram Orlando Silva (Esportes) e Pedro Novais
(Turismo). O alvo agora são os convênios firmados pelo Ministério do
Trabalho e Emprego (MTE), supostamente envolvidos em esquemas de
corrupção. Desde 2007, quando Carlos Lupi (PDT) assumiu o ministério, a
Pasta já firmou R$ 1,55 bilhão em convênios, dos quais quase um terço
(R$ 448,8 milhões) abasteceu instituições privadas sem fins lucrativos.
Segundo levantamento
feito pelo Contas Abertas junto ao Portal da Transparência, desde 1996, a
Pasta já assinou 1.742 convênios que, ao todo, envolveram a cifra de R$
6,3 bilhões. Do montante total previsto nos contratos, 87,3% já foram
liberados para as respectivas ações, o equivalente a R$ 5,5 bilhões. O
levantamento revelou ainda que, entre os convênios do MTE, apenas 53
constam em situação de inadimplência. Esses contratos somavam a previsão
de R$ 243,3 milhões e chegaram a receber R$ 226,5 milhões.
O
baixo número de convênios declaradamente em situação irregular pode
significar falhas no gerenciamento do próprio ministério. Segundo o
Tribunal de Contas da União (TCU), a Pasta analisa precariamente a
prestação de contas dos parceiros públicos e privados. A situação foi
exposta no acórdão aprovado pelo plenário no último dia 19 de outubro, o
qual revelou que mais de 500 relatórios de prestação de contas
apresentados por entidades que receberam dinheiro público não foram
analisados e metade deles corre o risco de ficar sem análise por mais de
cinco anos.
Antes mesmo da presidente
Dilma Rousseff determinar a suspensão de todos os convênios federais
com ONGs, semana passada, o TCU já recomendava, em outubro, que o
Trabalho não firmasse novos contratos por 60 dias. O TCU solicitou que
"a Casa Civil e o Ministério do Planejamento sejam informados da
situação crítica vivida pelo ministério".
No novo parecer, o TCU
cobra mais eficácia do ministério. "Deve o MTE enfrentar a questão com
mais intensidade, tanto em razão do dever e da inexorável necessidade de
avaliar a eficiência das transferências realizadas e de zelar pelo
adequado uso dos recursos públicos, quanto da obrigação de observar os
prazos prescritos para apreciação das prestações de contas (90 dias)",
explica o documento.
O relatório do ministro
Weder de Oliveira, ressaltou outras irregularidades já apontadas pelo
Tribunal. "Razões específicas e contingências também recomendam
celeridade e acuidade no exame das prestações de contas em estoque.
Reiteradas auditorias realizadas por este tribunal apontaram
irregularidades na aplicação de recursos transferidos pelo MTE e falhas
na gestão dos convênios, e novos casos estão sendo denunciados e
publicizados pelos veículos de comunicação".
No domingo (6), O Globo
mostrou que as irregularidades em convênios do MTE com entidades em
Sergipe já resultaram em 20 inquéritos na Polícia Federal. Ao todo, a
Controladoria-Geral da União (CGU) aponta irregularidades em convênios
com 26 organizações, em vários estados. Os desvios levaram o ministro
Carlos Lupi a afastar do cargo o coordenador-geral de Qualificação
Profissional, Anderson Alexandre dos Santos, filiado ao PDT no Rio.
A reportagem da revista
"Veja" desta semana, afirmou que Anderson teria envolvimento em suposto
esquema de cobrança de propina das ONGs com problemas, com a promessa de
resolvê-los. Ele coordenava uma das ações nas quais as irregularidades
prosperam com mais vigor: o Plano Setorial de Qualificação (PlanSeq),
vinculado à Secretaria de Políticas Públicas de Emprego (SPPE).
Relatório da CGU,
finalizado em 2010, faz ressalvas ao trabalho dos dirigentes da SPPE/MTE
ao apontar "acompanhamento intempestivo dos convênios do PlanSeq, falta
de providências por parte do MTE para sanar falhas detectadas em
supervisões e permanência das pendências em inserções/aprovações de
planos de trabalho no PlanSeq".
A CGU afirma que foram
observadas falhas no processo de seleção das ONGs, por meio das chamadas
públicas no âmbito do Planseq, alertando que podem resultar na baixa
qualidade dos cursos e em desvio de recursos públicos. O relatório da
CGU lista os problemas encontrados, entre eles, "a falta de habilitação
legal e pedagógica; a aprovação de entidades com situação patrimonial
negativa; sem corpo docente qualificado e sem estrutura física
compatível com as ações de qualificação acordadas".
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