ANDRÉ CARAMANTE
DE SÃO PAULO
O soldado da Polícia Militar Jonas Santos Bento, 28, foi absolvido na
tarde desta quinta-feira no processo em que era acusado de sequestrar e
decapitar dois jovens em São Paulo. O julgamento aconteceu no fórum de
Itapecerica da Serra, região metropolitana.
Preso desde o começo de 2009, o soldado era acusado de sequestrar e
decapitar Roberth Sandro Campos Gomes, 19, o Maranhão, e Roberto
Aparecido Ferreira, 20, o Bebê, de acordo com a Delegacia Seccional de
Taboão da Serra, da Polícia Civil, e o Ministério Público Estadual. O
crime ocorreu em 6 de maio de 2008, no Jardim Imbé, zona sul de São
Paulo.
A defesa de Bento sustentou não existir provas materiais de que ele
tenha participado do crime, e a tese foi aceita pela maioria dos
jurados.
Segundo a Delegacia Seccional de Taboão, Gomes e Ferreira foram detidos
por um grupo de PMs do qual Bento fazia parte. Naquela madrugada, os
dois jovens foram vistos entrando em um carro do 37º Batalhão, também na
zona sul.
Uma jovem que acompanhava os rapazes reconheceu dois PMs como sendo os que levaram os jovens depois de mandá-la para casa.
Os corpos de Gomes e Ferreira foram encontrados em Itapecerica da Serra, sem as mãos e a cabeça, no fim daquele maio de 2008.
Cortar a cabeça e as mãos das vítimas, segundo a acusação, era uma
estratégia dos PMs para evitar a identificação das vítimas, daí o nome
do grupo de extermínio ser "Os Highlanders".
Ao todo, os nove PMs acusados de integrar o grupo são suspeitos de 12
mortes --em cinco delas, as vítimas foram decapitadas. Todos os PMs eram
da Força Tática (espécie de tropa especial) do 37º Batalhão da Polícia
Militar.
Também acusados de participar dos crimes contra Gomes e Ferreira, os
soldados Rodolfo da Silva Vieira e Marcos Aurélio Pereira Lima ainda não
foram julgados.
CONDENADO
Outro réu no processo pela morte de Gomes e Ferreira, o soldado Ronaldo dos Reis Santos, 30, o R.Santos,
foi condenado em setembro passado a 28 anos de prisão pela decapitação de dois jovens. A defesa do PM Santos recorreu da condenação.
Ao lado dos PMs Rodolfo Vieira e Marcos Lima, Santos confessou as mortes
de Gomes e Ferreira durante a fase de investigação do caso. Depois,
Marcos Lima e Santos voltaram atrás e disseram não ter participado do
crime.
ABSOLVIDOS
O sargento Jorge Kazuo Takiguti e o soldado João Bernardo da Silva
também eram réus pelas mortes de Gomes e Ferreira e, em março deste ano,
foram julgados e absolvidos da acusação. Eles voltaram a trabalhar
normalmente na corporação.
JÚRI ANULADO
Apontado pela Promotoria e Polícia Civil como chefe do grupo de
extermínio, o soldado Rodolfo Vieira foi condenado, em julho de 2010, a
18 anos e oito meses de prisão pela decapitação do deficiente mental
Antonio Carlos Silva Alves, 31. O crime foi em outubro de 2008.
O soldado Vieira foi condenado pela morte de Alves ao lado dos PMs
Moisés Alves Santos, Joaquim Aleixo Neto e Anderson dos Santos Salles,
que eram lotados no 37º Batalhão.
Em outubro passado, o Tribunal de Justiça de São Paulo
anulou o júri que condenou os quatro PMs pela morte de Alves.
A decisão teve como base um pedido do advogado Celso Machado Vendramini,
defensor dos réus, que alegou que, durante a fase de debates do júri, o
promotor Vitor Petri descumpriu uma ordem do juiz Antonio Augusto
Galvão de França Hristov e exibiu uma camiseta com a foto de Alves e
dizeres contra a polícia. O argumento é que a imagem poderia influenciar
os jurados.
"O ato de mostrar aos jurados aquela camiseta foi totalmente irregular.
Agora, terei a chance de mostrar aos sete novos jurados que meus
clientes não sequestraram e arrancaram a cabeça de ninguém", disse
Vendramini.
Com a anulação do júri, Rodolfo Vieira, Moisés Santos, Joaquim Neto e
Anderson Salles permanecerão presos no Presídio Militar Romão Gomes. O
novo júri ainda será marcado pela Justiça.
Em dezembro de 2010, os quatro réus haviam sido demitidos da Polícia Militar.
CHEFE PROTEGIDO
O soldado Rodolfo Vieira também é apontado pela Polícia Civil como chefe
do grupo de extermínio porque contava com a suposta proteção do coronel
Eduardo Félix de Oliveira --amigo de seu pai, o capitão Paulo Roberto
da Silva Vieira, que, durante anos, esteve lotado no extinto Tacrim
(Tribunal de Alçada Criminal).
Oliveira, por meio da Comunicação Social da PM, sempre negou manter
relação de proteção ao soldado Vieira ou a qualquer outro dos nove
acusados de integrar o grupo de extermínio.
A
Folha tenta entrevistar Oliveira desde 2009, mas ele sempre se nega a falar.
Hoje na Reserva, o coronel Oliveira foi até cotado para ser o
comandante-geral da PM quando estava em atividade. Oliveira também foi
chefe da Tropa de Choque da PM e, atualmente, é membro da equipe de
gestão de Gilberto Kassab (PSD) e atua como subprefeito da Penha (zona
leste de São Paulo).