SEQÜESTRO EM SANTO ANDRÉ
Tragédia em Santo André
Exclusivo: trechos do depoimento de Nayara Rodrigues à polícia
23 de outubro de 2008
VEJA teve acesso ao depoimento de Nayara Rodrigues prestado à polícia de São Paulo na tarde de quarta-feira. A estudante sobreviveu à tragédia de Santo André, na sexta passada, e contou detalhes do drama que enfrentou ao lado de sua melhor amiga, Eloá Pimentel. Leia a íntegra do depoimento e os principais trechos do relato da adolescente.
Nayara é chamada para negociar
"Que, melhor esclarecendo, a declarante foi acordada por sua avó, uma vez que ali já se encontravam policiais militares, para que a declarante fosse transportada ao palco do evento, qual seja o Posto de Comando instalado na escola pública próxima ao bloco 24 do CDHU, Jardim Santo André, onde sua amiga Eloá se mantinha submetida por Lindemberg; que o tenente Policial Militar Vander teria explicado sobre a necessidade do retorno da declarante ao Posto de Comando para negociações quando a avó contatou a genitora da declarante que para lá se deslocou, que com a chegada da genitora da declarante estas foram levadas ao Posto de Comando da Crise; que segundo a declarante não houve pedido formal ou autorização da genitora da declarante para que esta retornasse ao palco do evento; Que assim a declarante e sua genitora foram embarcadas em uma viatura de cores não convencionais que rumou para o posto de comando. Que a declarante chegou ao posto de comando policial militar entra as 08h45 a 9h00 horas daquela manhã de quinta-feira, 16 de outubro, sendo que a declarante foi diretamente encaminhada à presença do Capitão Adriano Giovaninni, o principal negociador da operação, que aquela altura estava conversando com Lindemberg, que a genitora da declarante permaneceu do lado de fora do posto de comando"
Nayara volta a ser refém
"Que, segundo orientações dos Policiais Militares, Douglas deveria alcançar a escada do bloco até atingir o primeiro piso, onde deveria permanecer; Que a declarante deveria acompanhar Douglas e mais, atingir o corredor do segundo piso que era o andar do apartamento cativeiro; Que a declarante não deveria se aproximar muito da porta do apartamento onde se encontravam Lindemberg e Eloá; Que, segundo a vontade de Lindemberg, aceita pelo negociador, a declarante deveria subir ao local designado com um aparelho celular em linha direta com Lindemberg; Que este aparelho a declarante recebeu das mãos de um policial militar; Que assim, a declarante e Douglas começaram a subir os lances de escada, sendo que Douglas parou no primeiro piso, enquanto a declarante prosseguia o percurso até o segundo piso, alcançando o corredor, ao passo que falava com Lindemberg; Que a declarante parou no final do corredor junto à escada que dá acesso ao apartamento, quando Lindemberg disse que não estava vendo a declarante; Que a declarante subiu então um degrau, passando a acenar na direção da porta do apartamento que se mantinha fechada; Que a porta possuía olho mágico, sendo que Lindemberg deveria estar olhando a declarante através de tal dispositivo; Que Lindemberg pediu para a declarante se aproximar e esticar um de seus braços, quanto, então, Eloá daria as mãos para a declarante; Que o andar de baixo e o apartamento de número 23 geminado ao cativeiro estavam cobertos por policiais militares; Que a declarante viu os policiais militares em tal posto, inclusive os que se encontravam no apartamento 23, sendo que estes abriram “uma frestinha” da porta; Que a declarante observou que Lindemberg já não cumpria o que fora acordado inicialmente com os negociadores, posto que Lindemberg é quem deveria dar as mãos para a declarante e deixar o cativeiro; Que, contudo, a declarante, a pedido de Lindemberg, foi se aproximando cada vez mais da porta, chegando praticamente a tocar a porta do apartamento 24 com sua mão direita, eis que seu braço estava esticado. Que neste exato instante a porta daquele cativeiro se abriu, podendo a declarante vislumbrar Lindemberg em frente à porta, sendo este ladeado por Eloá; Que Lindemberg apontava sua arma para Eloá, que Lindemberg então determinou que a declarante segurasse as mãos de Eloá, falando para que esta adentrasse no apartamento cativeiro, quando então Lindemberg depositaria sua arma em um dos quartos do apartamento e todos sairiam daquele local, que a declarante adentrou naquelas instalações na conformidade do determinado por Lindemberg, que assim a declarante entrou no imóvel a porta foi trancada"
"Me mate, me mate", diz Eloá
"Que, anoiteceu e todos foram para a sala com o televisor ligado, que Eloá ocupava o sofá da sala, a declarante um colchão de solteiro, no chão e Lindemberg de pé do lado direito da declarante. Que sem qualquer motivo aparente, Eloá surtou, passando a gritar: "Não agüento mais, me mate, me mate, não agüento mais ficar aqui". Que Lindemberg perdeu o controle da situação, não sabendo o que fazer. Que Eloá levantou-se e começou a quebrar objetos que guarneciam aquela residência e que estavam na estante da sala. Que Lindemberg e a declarante tentaram conter Eloá para que esta se acalmasse. Que a declarante temeu pelo pior, inclusive chegando a pensar que os policiais invadiriam o cativeiro. Que Lindemberg então agarrou o pescoço da declarante em forma de gravata apontando-lhe a arma na direção de sua cabeça, passando a perguntar a Eloá se esta queria ver a "Barbie" morta, referindo-se à declarante que ostenta tal epíteto".
Nayara e Lindemberg acalmam Eloá
"Que Lindemberg então disse que havia prometido não mais bater em Eloá, mas que nada havia prometido em relação à pessoa da declarante, com respeito à integridade física desta. Que Eloá não se acalmava continuando a gritar, fazendo com que Lindemberg desferisse dois leves tapas no rotos da declarante com o objetivo de assustar Eloá e não de ferir a declarante. Que a partir de então Eloá, de forma lenta, porém gradativa, começou a se acalmar, tendo sido colocada no colchão da sala intermeada pela declarante e por Lindemberg. Que ambos passaram a afazer carinhos em Eloá que os rejeitava dizendo que não queria carinho de ninguém".
Lindemberg se volta contra Nayara
"Lindemberg exclamava ser a declarante responsável pelo namoro do casal, chegando a referendar que a declarante seria conselheira sentimental de Eloá e que a declarante parecia ou era uma boneca, não fala, não tem vida, não tem sentimento e que por tal motivo Lindemberg mataria a declarante; Que Eloá disse que a declarante nada tinha com o desfazimento do namoro do casal, sendo que esta conversa perdurou por algum tempo até que todos se levantaram e saíram daquele quarto para a primeira refeição do dia".
Um disparo no meio da tarde da sexta-feira
"Que Lindemberg passou então a dizer à declarante e Eloá que a crise estava se acabando e que se resolveria naquela sexta-feira; Que as negociações prosseguiam e a crise se mantinha estável até a chegada da tarde; Que Lindemberg estava sentado no colchão da sala quando imotivadamente apontou a arma para o alto e em diagonal, efetuando um disparo que atingiu a parede que divisa o apartamento 23, projeto que ricocheteou muito provavelmente na porta do apartamento, Que sem nada dizer, Lindemberg levantou-se e foi para o banheiro; Que a declarante olhou para Eloá para que aquela nada dissesse e ficasse calma; Que a declarante deixou passar um tempo indo procurar por Lindemberg e perguntando o que havia acontecido, quando aquele respondeu que havia se recordado de um momento com Eloá, o que causou uma irritação e fez com que Lindemberg atirasse com sua arma; que nenhum negociador (LIGOU) após o disparo para perguntar o que tinha acontecido, fato que causou estranheza à declarante; Que a declarante pode dizer que o disparo mencionado ocorreu por volta das 15h00 ou 16h00 daquela sexta-feira".
Os minutos finais da tragédia"Eloá e a declarante sentaram-se no sofá do lado do televisor, a declarante à direita, enquanto Lindemberg ocupava um outro sofá encostado na parede divisória com o apartamento 23 e perto da porta do quarto do casal; que Lindemberg insistia em saber quem teria sido o responsável pelo rompimento do namoro; que Eloá disse a Lindemberg que o responsável pelo rompimento do namoro era o ciúme, o gênio e algumas atitudes de Lindemberg; Que alguém ligou para Lindemberg, quando então houve uma longa conversa; Que a declarante acredita ter sido o Capitão Adriano o interlocutor de tal conversa; Que Lindemberg dizia que estava desenrolando algumas coisas com as meninas e que logo todos desceriam; Que a longa conversa não foi muito observada pela declarante; Que ao término desta ligação a declarante deitou-se; Eloá continuou sentada no sofá, enquanto Lindemberg arrastava uma mesa de jantar até a porta do apartamento , no sentido de encostar a mesa na porta; Que Lindemberg nada disse à declarante e a Eloá com relação àquela atitude; Que Eloá deitou-se lateralmente à direita naquele sofá, enquanto a declarante deitava-se lateralmente à esquerda, ambas com visão para o televisor, enquanto Lindemberg ficava de pé à direita da declarante, e a direita da porta de entrada do apartamento; Que imediatamente após o descrito nesta cena, a declarante ouviu um barulho que não parecia uma explosão,mas se assemelhava um chute na porta; que até então Lindemberg não havia efetuado qualquer disparo com as armas de fogo em seu poder; que, então a porta começou a ser arrombada e empurrada para a sua abertura, que, Eloá deu um grito quando a declarante pegou o edredom cobriu o seu rosto; que a declarante nada mais viu se recordando de ter ouvido dois estampidos e sentido um impacto em seu rosto; que a declarante cobriu seu rosto instintivamente e imediatamente após a tentativa de invasão do imóvel, não observando a ação desenvolvida por Lindemberg e pelos Policiais Militares; que as últimas palavras ouvidas pela declarante davam conta das determinações dos policiais para a rendição de Lindemberg; que neste momento a declarante saiu rapidamente sendo acolhida por um Policial Militar; que a última coisa que a declarante viu antes de sair daquele apartamento foi as escadas, entrando em desespero, achando que iria morrer; que enquanto descia as escadas a declarante chegou a ver Lindemberg se debatendo com os Policiais; Que o policial que acompanhava a declarante procurava acalmá-las; Que a declarante após vencer a escadaria do bloco foi colocada em uma maca e transportada para a Unidade de resgate que lhe socorreu até este nosocômio (HOSPITAL) onde a declarante permanece até a presente data. Que a declarante tem conhecimento do desfecho final e dos ferimentos de Eloá que foram a causa eficiente de sua morte; Que por fim a declarante tem a firme convicção da autoria delitiva atribuída a Lindemberg".
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