[Valid Atom 1.0]

sábado, 21 de março de 2009

Maestro John Neschling é demitido da Osesp


Publicidade

MÔNICA BERGAMO
Colunista da Folha de S.Paulo

Atualizado em 22/01/2009 às 10h05.

O maestro John Neschling foi demitido hoje da Osesp, a Or­questra Sinfônica do Estado de São Paulo.

Leia carta de demissão

Divulgação
John Neschling
John Neschling

No ano passado, de­pois de intensa pressão do gover­nador

Maestro John Neschling é demitido da Osesp

, que queria tirá-lo do cargo, Neschling comunicou ao conselho da Fundação Osesp que não renovaria seu con­trato. Na ocasião, no entanto, fi­cou combinado que o maestro permaneceria à frente da Osesp até o fim de 2010, como previa seu contrato.

A situação, no entanto, ficou insustentável. Neschling, que chegou a chamar Serra de "meni­no mimado" e "autoritário" logo no começo do governo, conti­nuou a dar entrevistas espina­frando o governador e o secretário da Cultura, João Sayad, mesmo depois de ter sua saída definida. A gota d'água foram as críticas que ele vinha fazendo publicamente à decisão do conselho de formar um comitê para a escolha de seu sucessor.

Sphere: Related Content
26/10/2008 free counters

Opinião: Neschling deixa a fervura injusta e uma Osesp superior


Publicidade

RICARDO FELTRIN
Editor-chefe da Folha Online

O anúncio de John Neschling, de que sairá da Osesp em 2010, põe fim a um indelicado processo de fervura do maestro, promovido por tucanos ditos amantes do erudito. Erudição à parte, algumas atitudes contra ele foram dignas de intrigas da Idade Média.

A honra de Neschling foi ameaçada. Seus mais de 10 anos à frente da Osesp, que pegou razoável e transformou em excelente, foram absolutamente esquecidos pelos inimigos. Tudo por causa de sua irascibilidade.

Fique quieto. Não abra mais a boca. Pára ou vai cair feio. Esses foram alguns recados dados nos últimos 12 meses --transmitidos por músicos com trânsito constante no Palácio dos Bandeirantes. Foi ali que tramaram sua queda, mas não conseguiram. A verdade: ele é que cansou.


Maestro John Neschling comunicou que não renovará seu contrato com a Osesp em 2010
Maestro John Neschling comunicou que não renovará seu contrato com a Osesp em 2010

A crise Neschling x Tucanato da Cultura chegou ao ápice em 2007, quando uma crítica ácida do maestro a José Serra foi postada na internet. Uma nota publicada na coluna de Mônica Bergamo, na Folha, aprofundou a crise. Tudo porque ele chamou o governador de "autoritário" e "mimado". O próprio espelho.

Ao misturar política e partitura, ao se deixar flagrar reclamando de Serra, arrumou uma horda de inimigos no Estado. Inclusive gente que não tem a menor idéia do que seja um dó maior.

A reação contra o maestro foi exagerada, injusta e muitas vezes abusiva. Afinal, qual a novidade? Neschling sempre foi um reclamão. Da qualidade de hotéis em turnês, do tipo de comida dos restaurantes, do transporte nas cidades visitadas... certa vez até da primeira classe de um British Airways! Por que não reclamaria de um político?

Neschling era um tanto distante com os músicos. Quase nunca viajava no mesmo avião que eles. Durante uma viagem por acaso com toda a Osesp, perguntei a uma violinista como era trabalhar com ele: Um sufoco, mas você cresce no seu instrumento, foi a resposta dela, de bate-pronto. O maestro sempre esteve mais para professor exigente do que amigo.

Mas é um rabugento impressionante. O que fez com a Osesp nos últimos dez anos terá efeitos nos próximos 20, talvez 30. Todos sabem que ele deu ao conjunto uma textura, um timbre, uma capacidade de ser suave ou feroz como bem entender. Uma versatilidade que rivaliza com qualquer sinfônica européia de primeira linha. E pensar que essa mesma Osesp nos anos 70 chegava a ter no elenco gente, digamos, semitonada.

A saída de John Neschling é lamentável para a música clássica no Brasil. Ainda mais porque o destino do maestro deverá ser EUA ou Europa. Há lugar para ele em qualquer lugar. Temperamento? Guardadas as devidas proporções, alguém se importa que Beethoven era um ranheta?

Por causa de John Neschling, e dos músicos que reuniu, a Osesp está certamente entre as dez melhores orquestras do mundo. Seja quem for seu sucessor, vai se dar muito bem.

Sphere: Related Content
26/10/2008 free counters

Em visita a São Paulo, príncipe do Japão aplaude Osesp de pé




GABRIELA MANZINI
da Folha Online

O príncipe herdeiro do Japão, Naruhito, aplaudiu por quase três minutos --e, ao final, de pé-- a apresentação da Osesp (Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo) que assistiu na noite desta quinta-feira, na Sala São Paulo, no centro de São Paulo.

Naruhito chegou ao Brasil na terça-feira (17) para uma visita de nove dias ao país por ocasião do centenário da imigração japonesa no Brasil. Ele chegou a São Paulo nesta quinta e visitou o parque Ibirapuera. À noite, foi ao concerto.

Lalo de Almeida/Folha Imagem
O príncipe Naruhito fala com FHC em camarote da Sala São Paulo
O príncipe Naruhito fala com FHC em camarote da Sala São Paulo

O príncipe se sentou ao lado do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que hoje preside a Fundação Osesp. Os dois trocaram algumas palavras --Naruhito fala inglês, uma vez que estudou na Universidade Harvard. No camarote estavam também Ruth Cardoso e o cônsul-geral do Japão em São Paulo, Masuo Nishibayashi.

Na sexta-feira (20), ele visita o Museu Histórico da Imigração Japonesa e a Faculdade de Direito da USP, ambos no centro. À tarde, ele vai ao Parque do Carmo, na zona leste, onde participa da inauguração de um monumento ao centenário. Na seqüência, vai a uma escola estadual para conhecer um projeto de divulgação da cultura japonesa e a um encontro nikkeis.

Nesta quinta, o esquema de segurança do príncipe --que envolve ao menos 80 agentes da Polícia Federal, a Polícia Militar e uma segurança pessoal-- quase não interferiu no trânsito da cidade --as interdições no trajeto do aeroporto de Congonhas ao parque Ibirapuera, na zona sul, foram curtas. Na sexta, porém, como há mais deslocamentos para lugares mais distantes, há expectativa de que haja problemas.

Sphere: Related Content
26/10/2008 free counters

''Minha sucessão está sendo feita de maneira irresponsável''


Para o maestro John Neschling, opção por sua saída em 2010 do posto de diretor da Osesp é precipitada

João Luiz Sampaio


O temperamento forte, a fama de genioso e truculento, fizeram da passagem do maestro John Neschling à frente da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo uma história de sucesso - e polêmicas. A mais recente delas foi o anúncio, em junho deste ano , de que ele não renovaria seu contrato de diretor-artístico e regente titular do grupo, que termina em 2010. A decisão, na época, foi atribuída à boataria sobre sua possível saída. "Eu não queria deixar a Osesp. Se saio é porque percebi que o clima estava muito ruim e que, se não o fizesse, seria saído", diz ele em entrevista exclusiva ao Estado, a primeira desde o anúncio de seu desligamento.

Neschling assumiu a Osesp em 1996, chamado pelo então governador Mário Covas para reconstruir a orquestra. Em 12 anos, o trabalho mostra seus resultados. Além dos concertos semanais na Sala São Paulo com casa lotada, um número de assinantes que ultrapassa 12 mil pessoas, as gravações premiadas mundo afora, chegou na semana passada um novo reconhecimento: em seu panorama do cenário orquestral mundial, a revista inglesa Gramophone elegeu a Osesp como uma das três orquestras em que vale a pena prestar atenção.

A trajetória do projeto Osesp nem sempre foi pacífica. Desavenças entre maestros e músicos; polêmicas em torno dos valores investidos na orquestra e outras que dizem respeito a algumas de suas iniciativas, como o concurso de piano Villa-Lobos; jogos de poder entre regentes e governo fizeram parte da rotina do grupo. A situação, no entanto, ganhou força com a chegada do governador José Serra ao poder, em 2007. Ali começou a se falar oficialmente na troca de guarda na direção artística da Osesp. Em seguida, um vídeo colocado no YouTube mostrava John Neschling fazendo comentários pouco amistosos sobre o governador durante um ensaio da orquestra. Estava instaurada a confusão.

Em junho deste ano, a fundação Osesp informava, enfim, ao público a decisão do maestro de não renovar seu contrato. Na época, em entrevista ao Estado, o presidente da fundação, o ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso, dizia que viriam ao Brasil consultores estrangeiros para ajudar na formatação do processo de escolha do novo diretor-artístico. Timothy Walker, da Sinfônica de Londres, o primeiro deles, esteve em São Paulo na semana passada. Na semana que vem, chega ao Brasil Henry Fogel, membro da Liga das Orquestras Americanas.

"Não sou insubstituível", disse o maestro Neschling na tarde de sábado, ao longo de uma conversa de quase três horas em seu apartamento no bairro de Higienópolis. "Mas estou preocupado com a maneira como a sucessão está sendo feita. E magoado por ter sido excluído do processo." A seguir, os principais trechos da conversa:

OSESP, ONTEM E HOJE

"Não podemos perder de vista que, há 12 anos, a Osesp era inexistente, existia mal e porcamente, estava acabando. Os músicos ensaiavam em um restaurante, tocavam em cinemas para um público reduzido, tinha uma administração ineficiente. Naquele momento, o governador Mário Covas e o secretário de Cultura Marcos Mendonça me chamaram e tiveram a coragem e a visão de entregar um projeto que não existia na mão de alguém com uma idéia. Era só o que eu tinha a oferecer: uma idéia, um projeto definido. Meu plano era claríssimo, previa certos passos, certas atitudes a serem tomadas, como a construção da Sala São Paulo, para transformar a Osesp em uma orquestra importante. Nem eu sabia qual seria essa importância, hoje as pessoas ficam surpresas ao ver onde chegamos. Depois de 12 anos, não se trata mais de nós dizendo que somos bons. A Gramophone acaba de nos escolher como umas das três orquestras do mundo em que se deve prestar atenção. Não estamos na lista das 20 melhores, mas estamos entre aqueles que podem aspirar a fazer parte dela. É um processo. A Osesp ainda é um work in progress, não é um trabalho terminado, tem muito que melhorar, crescer, em todos os sentidos. Mas chegamos a um ponto que ninguém sonhava. Recebemos cinco Diapason D?Or, o Grammy. Somos a única orquestra do mundo a aumentar, nesses anos, o número de assinantes, que já passa de 12 mil. Não crescemos como em outros anos, 10%, mas no momento atual de crise, mantivemos a subida. Todos os indicativos são de que a orquestra vive um bom momento. Em 2010, vamos tocar no Musikverein, de Viena, e na sede da Filarmônica de Berlim. Em 12 anos, uma orquestra que não existia fez de São Paulo um centro sinfônico."

O COMEÇO DO FIM

"Tudo começou há dois anos, quando assumiu o governador José Serra. Não é segredo nenhum que, mesmo antes da posse, já se falava na minha substituição. O governador não queria, não gostava, não sei o quê. Os motivos? Teve o episódio da Virada Cultural e não sei o que mais, o fato é que a todo momento eu lia que ele não gostava de mim, que havia uma briga entre nós. Quando ele assumiu, continuou a polêmica, com a mídia batendo a todo instante. 2007 foi um ano difícil para mim, fui imolado pela imprensa, todo mundo falava mal de mim, diziam que o concurso de piano era uma fraude, que tudo o que eu fazia era ruim. Isso criou uma situação muito delicada que, evidentemente, teve conseqüências no clima da Osesp, não na qualidade, mas sim no clima. Fizemos a turnê pela Europa e voltamos debaixo de uma saraivada de balas. Ninguém falava - olha só, a Osesp foi à Europa e foi um sucesso. Não, parecia que eu era um bandido, um ladrão, um corrupto. Durante o ano, a coisa foi se acirrando, houve o episódio do YouTube, que criou uma situação entre mim e os músicos."

ALMOÇO

"Por tudo isso, há um ano, em dezembro, fui chamado para um almoço com o vice-presidente do conselho (o banqueiro), Pedro Moreira Salles. Para mim, tratava-se da oportunidade de fazer um balanço daquele ano difícil e de discutir a necessidade de um plano de comunicação diferente para 2008, não podíamos continuar daquele jeito. Qual não foi minha surpresa quando, no almoço, ele me afirmou com todas as letras que não havia a menor condição de renovar meu contrato, o que precisaria ser feito até outubro de 2008. Segundo ele, politicamente não havia possibilidade. Naquele dia, embarquei para a Europa e lá conversei com amigos, músicos, com o presidente do selo BIS, empresários. E eles ficaram estupefatos, escreveram cartas para o conselho da Osesp, perguntando o que havia de errado, afinal a orquestra estava em um ótimo momento. Voltei em fevereiro com esse apoio todo e procurei o Pedro Moreira Salles, o presidente Fernando Henrique Cardoso, o Horácio Lafer Piva. Tivemos várias conversas e eu defendi que não era o momento de mudança, que a orquestra estava no meio de um processo e era perigoso uma mudança dessas antes de a sonoridade estar estabelecida, com a disciplina bem estruturada. Não era o momento."

A DECISÃO

"Já naquele primeiro almoço, me falaram dos consultores estrangeiros que a orquestra traria para ajudar na busca pelo novo maestro. Ninguém perguntou o que eu achava, apenas me comunicaram. O que disse a eles, depois, foi que o melhor consultor seria eu mesmo - quem conhece esse país? Quem conhece a política local? Eu. Achava a saída muito intempestiva e queria achar outra solução. Eles me perguntaram: quanto tempo mais? Certamente, não seria em 2010. E pedi a eles que não discutissem a questão antes da hora, porque no momento em que se falasse em sucessão, pronto, acabou, a temporada de caça começaria e perderíamos o controle sobre o processo. Mas já em março começaram os boatos, falaram que viria o maestro Daniel Barenboim. É muito difícil para alguém no meu posto conviver com esses boatos. Por um membro do conselho, fiquei sabendo que os consultores haviam sido chamados. Não havia mais clima. Escrevi uma carta ao presidente Fernando Henrique Cardoso, falando sobre tudo isso. Nela, eu colocava que, por tudo o que estava acontecendo, se eu não dissesse que sairia, seria ?saído?. Era uma carta pessoal, não foi oficial. Mas, antes de qualquer resposta, recebi uma carta, uma semana depois, aceitando minha decisão de não renovar meu contrato."

O DIA SEGUINTE

"Eles, então, me chamaram para conversar. A decisão já estava tomada. E continua tomada, eu vou embora, minha permanência ou não já não deve ser discutida. Enfim, queriam que eu participasse do processo de seleção do novo maestro. O que eu respondi é que eu não poderia participar de um processo de sucessão no qual não acreditava. Eu queria uma sucessão orgânica, tranqüila, bem-feita, tudo o que acho que não será agora, colocando o projeto em risco. Propus, então, uma transição mais lenta, pacífica. Pedi mais dois anos de contrato ao longo dos quais eu regeria menos e ajudaria a procurar um substituto. Não obtive resposta. E, tempos depois, vejo no jornal que chegou o primeiro dos consultores. Isso me deixa cada vez mais certo da minha decisão."

CONSULTORES

"Estou preocupado com o futuro. A Osesp é um projeto meu, não deles. Mas, agora, é deles, daqueles que não me quiseram mais na orquestra, a responsabilidade de levá-la adiante. O perigo é imenso. A possibilidade de dar errado é grande porque não há um projeto claro. A vinda dos consultores é símbolo disso. Você traz um cara inexpressivo para passar aqui não mais que 36 horas para dizer o que mudar no projeto? A Osesp é concreta, não é abstrata, está aí, toca, viaja, grava. Falaram que vão trazer um australiano... Onde tem uma Osesp na Austrália? Se eles sabem tanto, por que não criaram uma lá? É de um provincianismo muito grande. Além disso, você traz o cara para vir dar palpite aqui e ele não tem como ajudar porque não conhece a questão. O problema na Osesp não é artístico, é político. Como eles vão lidar com uma vida política que não conhecem?"

JOGO POLÍTICO 1

"Todas as grandes orquestras do mundo foram criadas por grandes maestros e todas tiveram momentos em que eles foram contestados. Eles precisavam incutir uma linha dura para iniciar o trabalho. Não conheço nenhuma orquestra criada por um conselho de sábios. Todas tiveram alguém forte à sua frente, moldando a instituição. Mas no Brasil há características que impedem isso e uma delas é a falta de continuidade. Além, claro, da famosa frase do Tom Jobim: fazer sucesso no Brasil é um perigo, é uma cultura autofágica que odeia a recusa da mediocridade. A Osesp é uma instituição de R$ 67 milhões ao ano. É muito dinheiro e dinheiro é poder. Ninguém brigava para tirar o Eleazar de Carvalho da Osesp porque ninguém queria a Osesp. Os regentes querem ter o poder que vem com o posto de chefe da Osesp, querem usá-la para se projetar internacionalmente. Nesse sentido, a orquestra é uma jóia. E o governo não quer um cara que chega e diz o que quer, que defende o fato de quem manda aqui é ele, que sabe o que quer. Durante oito ou nove anos, me aceitaram assim e eu correspondi com os resultados conquistados. Até que assumiu um governo que acha que pode fazer melhor, apesar de não ter a menor idéia do que é uma orquestra sinfônica. Aí vira briga e busca de prestígio."

JOGO POLÍTICO 2

"Em Birmingham, depois que o maestro Simon Rattle saiu da orquestra, ninguém mais sabe o que acontece lá. Em Montreal, foi o mesmo depois da saída do Charles Dutoit. Não sou insubstituível, mas não concordo com a maneira como está acontecendo a troca. Agora, a responsabilidade é deles e eles têm de arcar com esse peso. Mas, o que vai fazer uma Secretaria de Cultura que só desconstrói? Fecharam a Universidade Livre de Música, estão destruindo o Conservatório de Tatuí. Dizem que vão construir um teatro de dança. Duvido. Eu não durmo de preocupação! Essa é uma grande responsabilidade. Levar um projeto como a Osesp adiante é muito difícil, precisa de mais trabalho exaustivo para que ela se estabeleça como grande orquestra e não desapareça. É difícil chegar ao ranking das melhores, mas é mais difícil ficar nele. Qual a mágica solução que vem agora de fora? O que há de novo para acrescentar a um projeto que é indiscutível?"

A FUNÇÃO DO DIRETOR

"É claro que pode funcionar um diretor-artístico menos forte, que não seja também o regente titular, como eles têm dito. Funciona em Londres, Chicago, Nova York. Mas essas orquestras têm 100 anos de idade. Falem o que quiserem, mas as orquestras precisam de uma figura de galeão. Montreal não era conhecida pelo seu diretor-executivo mas, sim, pelo seu maestro. Quem era o diretor da Filarmônica de Nova York durante a gestão de Leonard Bernstein? Ninguém sabe. Esse formato pode funcionar quando a orquestra tem maturidade para se autogerir. Se um música da Filarmônica de Berlim não toca bem, o primeiro a reclamar é seu colega. Aqui, ainda estamos numa fase em que a orquestra funciona como corporação, defende a mediocridade, o músico não cobra um colega porque tem medo de ser o próximo. Ouvi do Pedro Moreira Salles que, em seu banco, um executivo que chega aos 60 anos precisa começar a pensar na sua saída. Não trabalho num banco! A fase de glória de um regente vem depois dos 60 anos. Há, em tudo isso, uma tentativa de enfraquecer a figura do maestro. Tenho sérias dúvidas sobre se isso vai fazer bem ao grupo."

MÁGOA

"O que mais me magoa é ver um trabalho reconhecido internacionalmente, uma posição que adquiri ser colocada em jogo com ligeireza. O que me deixa magoado não é querer rediscutir as coisas mas, sim, fazer isso sem a minha presença, sem pensar que esse foi o trabalho de uma vida. Eles têm todo o direito de não renovar meu contrato. Mas há maneiras e maneiras de fazer isso. Frituras políticas independem de você, não há saída. Quando um governador, um secretário de Cultura ou uma de suas assessoras decide tirar você da jogada, e têm poder político para tanto, o conselho acaba sendo influenciado e acaba cedendo. Agora, insisto que não há razão artística para minha saída. O que existe é uma assessora do secretário, Cláudia Toni, que foi diretora da Osesp e cuja missão pessoal é, hoje, se vingar. Ela sempre foi assim, é uma pessoa muito idiossincrática. Você consegue imaginar uma pessoa que é assessora da Secretaria de Cultura e se recusa a falar com o maestro da Osesp? Eu não sei se o conselho concorda com a necessidade de mudança, mas se rendeu a ela."

A FUNDAÇÃO

"No começo do projeto Osesp, eu dizia para o Marcos Mendonça: ?Você confia em mim? Me dá o dinheiro então que eu administro.? E ele sempre respondia: ?Maestro, sempre terá alguém acima de você, a burocracia estatal é assim.? A idéia da fundação, portanto, surgiu já no primeiro dia do projeto. Cortei minhas próprias pernas com isso? A instituição agora existe e continuo achando que é a melhor maneira de fazer a Osesp. Mas, estranhamente, a orquestra ficou mais dependente agora do Estado do que era antes. Nossa autoridade vinha dos resultados que obtínhamos e o governo a aceitava. Era muito mais fácil se livrar de mim naquela época, eu brigava demais com o governo. Nem sempre consegui o que queria, mas eles respeitavam quando eu dizia que esse ou aquele era o caminho a seguir. Hoje, tem sempre alguém de fora dizendo o que é melhor, o que devemos fazer."

FUTURO DA OSESP

"Eu diria que estamos no fim do capítulo 1. Saímos do zero e chegamos a uma orquestra que no mundo todo sabem que existe, que é boa, que vale a pena ouvir, que ganha prêmios. Mostramos ao mundo como Villa-Lobos é interessante. As pessoas começaram a ouvir as sinfonias de Guarnieri. Colocamos a música brasileira num patamar de respeito internacional. Comissionamos obras, fizemos 30 e poucas primeiras audições. Editamos partituras , gravamos, elevamos o nível de público, com três casas cheias por semana. No começo, tínhamos uma média de 90 pessoas por concerto; hoje, são 1.400. O segundo capítulo? É continuar, fazer o que a Gramophone espera de nós, corresponder às expectativas. Há muito o que fazer, é preciso trabalhar a sonoridade, essa é uma orquestra com músicos de escolas diferentes. Ainda precisamos de uma primeira flauta, primeiro violoncelo, primeira viola. Temos de ir moldando a orquestra para que ela tenha uma sonoridade própria. Há ainda que incutir a autoconfiança, a autodeterminação, os músicos não podem depender do maestro para tocar bem, a orquestra tem de ter estrutura para cuidar da própria qualidade. Inundamos a orquestra nos últimos 12 anos com novos repertórios, agora é momento de curtir essa expansão, aprofundar a interpretação, fazer com que essa orquestra possa tocar com menos ensaios para poder render mais. Ainda é um trabalho tão longo quanto o que fizemos até agora. Estamos no fim do capítulo 1, e o 2 vai demorar tanto quanto ele."

FUTURO DO MAESTRO

"Tenho uma história, uma carreira, toda minha vida regi na Europa e volto sempre para lá, tenho concertos. Eventualmente, assumirei uma orquestra européia, não tem por que não acontecer. Não estou preocupado com o meu futuro."

Polêmicas

A CHEGADA

Em 1996, o maestro John Neschling era anunciado como regente titular e diretor artístico da Osesp, com o objetivo de reconstruir o grupo.

A PRIMEIRA POLÊMICA

Em 2001, após desentendimentos com o maestro Minczuk, na época diretor artístico adjunto, oito músicos, entre eles representantes da orquestra, são demitidos por Neschling.

TURNÊ E DEMISSÃO

Após a primeira turnê pelos Estados Unidos, a diretora-executiva da Osesp, Cláudia Toni, deixa o cargo presumidamente por conta de desentendimentos com o maestro Neschling sobre a produção da viagem.

FESTIVAL

Em 2004, Roberto Minczuk é escolhido pelo governo para dirigir o Festival de Campos do Jordão. Começava, nos bastidores, o desentendimento entre ele e Neschling, fazendo com que Minczuk deixasse a orquestra um ano depois.

VIRADA

Em 2005, no primeiro ano da gestão de José Serra como prefeito de São Paulo, a Osesp recusa-se a participar da Virada Cultural, alegando falta de condições de trabalho.

CONCURSO

Em 2006, a reputação do Concurso Internacional de Piano Villa-Lobos é colocada em questão com acusações de fraude e interferência na seleção de candidatos.

FARPAS

Começam, no início de 2007, os desentendimentos entre o maestro John Neschling e o governo do Estado. O secretário de Cultura João Sayad diz à imprensa que considera alto o salário do regente. Durante o Festival de Campos do Jordão, Serra encontrava-se com Minczuk - nos bastidores, os boatos davam conta de que ele estudava a possibilidade de empossá-lo como novo diretor da Osesp.

YOUTUBE

É colocado no YouTube um vídeo em que Neschling chama o governador de "menino mimado e autoritário".

SAÍDA

Em junho deste ano, a fundação Osesp informa decisão de Neschling de não renovar seu contrato em 2010.

PROCESSO SELETIVO

No dia 3 de dezembro, chega a São Paulo Timothy Walker, o primeiro dos consultores internacionais que vão ajudar a Osesp na escolha do novo maestro.

Frases

"Há um ano fui chamado para um almoço com o vice-presidente do conselho, Pedro Moreira Salles. E ele me disse com todas as letras que não havia a menor condição política de renovar o meu contrato com a orquestra em 2010"

"A decisão foi tomada e continua tomada. Eu vou embora, minha permanência já não deve ser discutida. Queriam que eu participasse da escolha do substituto, mas não posso fazer parte de um processo em que não acredito, que está sendo feito de maneira intempestiva e irresponsável"

"Estou preocupado com o futuro. Agora está nas mãos deles a responsabilidade de dar continuidade ao projeto. O perigo é imenso. Não há uma idéia clara do que eles vão fazer. A vinda dos consultores é símbolo disso. Você traz um cara inexpressivo lá de fora para ficar aqui 36 horas e dizer o que tem que mudar no projeto. Isso é muito provincianismo"

"Durante anos, me deixaram fazer meu trabalho e eu honrei a confiança. Agora assume um governo que acha que pode fazer melhor, apesar de não ter idéia do que seja uma sinfônica."

JOHN NESCHLING, MAESTRO

Sphere: Related Content
26/10/2008 free counters

Maestro John Neschling é demitido da Osesp por e-mail


Ex-presidente FHC, que preside conselho da orquestra, comunicou afastamento devido entrevista ao 'Estado'

AE - Agencia Estado


SÃO PAULO - Por causa de reações negativas a entrevista concedida ao jornal O Estado de S. Paulo, o maestro John Neschling foi demitido ontem da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp) por e-mail. A decisão, assinada pelo presidente do Conselho de Administração da Fundação Osesp, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), foi unânime. Por meio de assessor, Neschling, que está na Grécia, afirmou que recebeu a carta por e-mail ontem à tarde, que vai conversar com algumas pessoas para entender melhor a situação e que não vai se pronunciar sobre a demissão até seu retorno, no final da próxima semana.




Neschling já havia comunicado, em 13 de junho do ano passado, que só permaneceria à frente da orquestra até 31 de outubro de 2010. Mas, diz a carta de FHC, como as declarações do maestro ao Estado, em entrevista publicada no dia 9 de dezembro, repercutiram negativamente entre os músicos, o conselho reuniu-se para analisar a entrevista e estimar seu efeito nas condições em que a sucessão no comando da orquestra se daria nos quase dois anos ainda por decorrer até a expiração do atual contrato'.

Na entrevista, Neschling criticou ter sido marginalizado do processo sucessório.' Estou preocupado com a maneira como a sucessão está sendo feita. E magoado por ter sido excluído do processo', disse. Ele também declarou que há 12 anos a Osesp era inexistente, existia mal e porcamente, estava acabando e que, sob seu comando, uma orquestra que não existia fez de São Paulo um centro sinfônico. Ele afirmou ainddater proposto uma transição mais lenta e pacífica. Pedi mais dois anos de contrato ao longo dos quais eu regeria menos e ajudaria a procurar um substituto. Não obtive resposta, declarou.

Na carta de demissão, Fernando Henrique Cardoso lamenta que 'o passo natural de renovação não tenha sido percorrido de melhor maneira' e encerra com 'justas homenagens pelo admirável trabalho realizado'. Mas assinalada que ´à luz da gravidade dos termos da entrevista, o conselho optou pela ruptura contratual imediata'. A carta ainda informa que cópias do comunicado serão enviadas via courier à residência do maestro na Suíça e à casa dele em São Paulo, via Sedex.

Sphere: Related Content
26/10/2008 free counters

Neschling entra na Justiça contra Osesp, informa coluna

da Folha Online

A Delegacia Regional do Trabalho em São Paulo confirmou que John Neschling, regente afastado da Osesp (Sinfônica do Estado), protocolou pedido para verificar se o novo regente titular da orquestra, o francês Yan Pascal Tortelier, tem ou não autorização para trabalhar no Brasil. A informação é da coluna Mercado Aberto, de Guilherme Barros, na Folha deste sábado.



Neschling (esq.) quer saber se Tortelier tem ou não autorização para trabalhar no Brasil

A íntegra da coluna Mercado Aberto está disponível para assinantes do UOL e do jornal.

O pedido foi protocolado na última quinta-feira (19). Se Tortelier não tiver permissão para trabalhar no país, Neschling pede que "sejam tomadas as medidas cabíveis contra a Fundação Osesp", que mantém a Sinfônica.

Por meio de sua assessoria de imprensa, a DRT-SP informou que o ex-regente da Osesp receberá resposta à sua solicitação na semana que vem.

A Folha apurou que Neschling vai ainda recorrer à Justiça contra a Fundação Osesp para obter as verbas rescisórias não pagas até agora, a que ele entende ter direito.

A saída de Neschling da Osesp, que estava à frente da orquestra desde 1997, foi tumultuada. Apesar de o salário mensal de R$ 120 mil do maestro sempre ter causado polêmica, não foi essa a principal razão de sua demissão.

A Folha apurou que o salário de Tortelier é mais do que o dobro do de Neschling.

O regente afastado entrou em conflito com o governador José Serra. Chamou-o de "menino mimado" e "autoritário" e deu entrevistas criticando o governador e o secretário estadual da Cultura, João Sayad. A gota d'água foram críticas de Neschling à decisão do conselho da fundação de formar um comitê para a escolha de seu sucessor.

Outro lado

A Fundação Osesp informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que obteve junto ao Ministério do Trabalho toda a documentação necessária para que Tortelier trabalhasse regularmente no Brasil. Sobre o pedido apresentado à Justiça do Trabalho com relação a verbas rescisórias, a fundação informou não ter sido notificada.

Sphere: Related Content
26/10/2008 free counters

Homem morre após esperar 120 horas por UTI em SP

LAURA CAPRIGLIONE
da Folha de S.Paulo


Ontem às 21h45, 120 horas depois de dar entrada no Pronto Socorro Municipal de Perus, em São Paulo, com sintomas de infarto, o motorista Luiz Emilio Bride, 48, morreu. Todas as suas últimas horas de vida, menos a final, ele passou em uma sala da emergência do PS, separada apenas por uma porta de vaivém do saguão do prédio, que está em obras. Os familiares do motorista pediam desde o domingo a transferência dele para uma UTI, em qualquer hospital.

Bride, que foi levado ao PS depois de um desmaio, entrou falando. Foi piorando, acabou entubado, e só no início da tarde de ontem teve sua remoção autorizada para os cuidados intensivos do Hospital do Ipiranga. No caminho, ele começou a morrer. Ainda tentaram ressuscitá-lo no Pronto Socorro de Santana. Mas foi tarde demais.

Na quinta-feira, às 15h, o PS de Perus autorizou a visita, "um por um" de todos os parentes de Bride que lá estavam aguardando providências. Por volta do meio-dia, ele sofrera uma parada cardiorrespiratória, da qual conseguiu voltar. Estava inconsciente. Como não era mais hora de visita, os familiares entenderam que o médico já estava providenciando a "despedida". Desesperada, a filha Gislaine pediu aos prantos a remoção para uma UTI. Ouviu do clínico: "Seu pai não tem mais jeito. Acabou."

"Isso aqui é um matadouro", acusou a dona de casa Andressa Nanni, 33, mãe de uma menina de nove anos. A criança estava com dor de garganta e dor de cabeça. Saiu sem ser atendida porque não havia nem sequer um pediatra no plantão. "Esse PS é a única base de saúde que a gente tem no bairro, e ele é um lixo", afirmou ela.

Na noite de quinta-feira, as cerca de 20 pessoas que esperavam ser atendidas no PS de Perus se comoviam com o caso da menina Vitória Açucena Sarambelli, 8. A criança caiu da bicicleta, fraturou o maxilar em três pontos, quebrou dentes. O acidente aconteceu às 14h. A menina foi levada para o PS, que a enviou ao Hospital Estadual do Mandaqui. Diagnóstico: traumatismo craniano.

Mas o Hospital do Mandaqui, em vez de atender a menina, devolveu-a ao PS. Ela passou toda a noite em uma sala com a luz apagada, para ver se conseguia dormir. Como cuidados, apenas dois sacos plásticos colados nas orelhas (para recolher o sangue que escorria-lhe dos dois ouvidos) e analgésico por via venosa.

Ontem, desfigurada pelo inchaço total da cabeça que a impedia até de abrir os olhos, Vitoria foi de novo enviada ao Mandaqui. Às 22h, ela chorava de dor. Não conseguia se alimentar por causa dos ferimentos. Sua última refeição foi no almoço de quinta-feira.

Quando a reportagem da Folha chegou ao Pronto Socorro, na noite de quinta-feira, oito pais e mães carregando seus filhos no colo estavam parados na frente do prédio. Discutiam o que fazer, já que o médico que estava no local, um clínico, recusara-se a atender as crianças doentes. Não havia pediatra no PS. Vivian Cunha Lacerda, mãe de Leonardo, 4, 38C de febre, sem comer desde a véspera, pediu ao médico: "Pelo menos olha a garganta dele." "Ele me disse que não ia pôr a mão no Leonardo porque não é pediatra", disse a mãe. Depois de 40 minutos de espera pelo ônibus, ela voltou para casa. "Olha como ele está quentinho", pediu.


PRONTO SOCORRO MUNICIPAL DE PERUS
Diretor: José Filippini
R. Julio de Oliveira, 80 – Perus
Fone: 3918-6750 / 3917-1242

Sphere: Related Content
26/10/2008 free counters

Secretaria de SP jogou fora cerca de 2 milhões de boletins de ocorrência

Foram transformados em apara perto de 40 milhões de documentos --cerca de 2 milhões de boletins de ocorrência e 36 milhões de registros da Polícia Militar de São Paulo, segundo o sociólogo Renato Sérgio de Lima, que assessorou o processo de modernização estatística da polícia como funcionário do Seade (Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados).

Lima defende a eliminação: "Não fazia nenhum sentido guardar milhões de BOs porque não se sabia de que cidades eram ou que crimes registravam. Não havia método nenhum no armazenamento".

O historiador André Teixeira Mendes, especializado em arquivos públicos, diz que o descarte de documentos da Secretaria da Segurança não seguiu o rito legal. O órgão precisaria ter uma comissão que avaliaria se os documentos deveriam ou não ser eliminados. Se a decisão fosse pela destruição, um edital deveria ter sido publicado para que a sociedade tomasse conhecimento do processo. Já houve casos em que a interferência de historiadores interrompeu a destruição de documentos --foi o que ocorreu no Tribunal de Justiça paulista.

A Secretaria da Segurança passou a contar o número de vítimas em 2001, a partir da resolução 160, que criou o Sistema Estadual de Coleta de Estatísticas Criminais. Mas não há até hoje uma lei que a obrigue a divulgar esses números.

"Quando cheguei à secretaria, a transparência em números era zero", conta Marco Vinicius Petreluzzi, que foi o titular da pasta entre 1999 e 2002. "Quem corrigiu isso fui eu."

Em 1995, o então deputado estadual Elói Pietá (PT) conseguiu aprovar lei que previa a divulgação de estatísticas a cada trimestre, mas ela não contemplava o número de vítimas.

A polícia no Brasil tem tradição de registrar só o número de casos de homicídios, e não a quantidade de vítimas, segundo o sociólogo Claudio Beato, da Universidade Federal de Minas Gerais. Para ele, isso decorre do formalismo jurídico da polícia --uma chacina com três mortes gera um só inquérito.

A OMS (Organização Mundial da Saúde) recomenda que a taxa de homicídios seja calculada a partir do número de vítimas. Pesquisas internacionais contam corpos, e não os crimes.

"O ideal é a polícia divulgar os dois dados: o número de casos e o número de vítimas", afirma Beato.

Sphere: Related Content
26/10/2008 free counters

"Diário Oficial" traz elogios à filha de conselheiro do TCM aprovada na USP

Os conselheiros do TCM (Tribunal de Contas do Município) usaram o "Diário Oficial" da Cidade para elogiar a filha de um deles, que passou em primeiro lugar na Faculdade de Direito da USP, no largo São Francisco.

Na edição de ontem, o diário chegou a publicar um quadro com os gráficos de desempenho na Fuvest e a foto da caloura Gabriela Lopes Pinto, filha do conselheiro do tribunal Maurício Faria.

"Que essa página do Diário Oficial sirva de alavanca para a Gabriela no desempenho de sua vida futura", afirmou o vice-presidente do TCM, Eurípedes Sales, na sessão do dia 11 de fevereiro, transcrita na publicação.

Foi ele que solicitou ao presidente do tribunal, Roberto Braguim, na mesma sessão, a publicação no "Diário Oficial" de fac-símile da página com a ficha e o rendimento da aluna no vestibular.

A ata na sessão foi publicada na íntegra com comentários dos conselheiros sobre a história da Faculdade de Direito da USP, a respeito da façanha da jovem e com os agradecimentos do pai.

"Eu estou assim meio abobalhado como pai, mas vale a pena, está sendo muito bom mesmo", disse Maurício Faria, que se declarou "orgulhoso" e "muito satisfeito".

Faria atribuiu muitos "méritos" pelo resultado à mãe dela e disse ter ligado para amigos na área de direito para relatar a façanha --citou Alexandre de Moraes, secretário dos Transportes da gestão Gilberto Kassab (DEM) e professor de direito na USP.

A disputa no vestibular de direito foi de 18,45 candidatos por vaga em 2009, uma das 20 maiores entre todos os cursos oferecidos pela USP.

"Jornal de bairro"

Para o cientista político Vitor Marchetti Ferraz Jr., da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica), a publicação oficial foi tratada como "jornal de bairro". "É a velha tradição brasileira de confundir público com privado."

O TCM informou que nas sessões plenárias são discutidos "assuntos gerais" antes das votações e que toda ata é divulgada no "Diário Oficial" da Cidade. O tribunal foi criado para fiscalizar e controlar receitas e despesas do município e tem cinco conselheiros.

Sphere: Related Content
26/10/2008 free counters

Explosão em fábrica da Perdigão provoca incêndio em Rio Verde (GO)


Do UOL Notícias
Em São Paulo
Uma explosão em um dos galpões do complexo da Perdigão, em Rio Verde (230 km de Goiânia), interior do Estado de Goiás, na manhã deste sábado, provocou um incêndio de grandes proporções no local, de acordo com informações do Corpo de Bombeiros da cidade. Ainda não há informações sobre vítimas.

A explosão teria acontecido por volta das 10h. Segundo o Corpo de Bombeiros, um vazamento de amônia teria provocado acidente. O complexo da Perdigão fica no parque industrial de Rio Verde, cerca de 10km da cidade.

Cerca de 40 homens, três viaturas do Corpo de Bombeiros e duas ambulâncias estão no local tentando conter o incêndio. As autoridades locais pedem que caminhões-pipa de cidades vizinhas sejam levados para o local do acidente.

Sphere: Related Content
26/10/2008 free counters

Clodovil na lente da verdade


21 de março de 2009


O estilista e apresentador de televisão Clodovil Hernandes, quarto deputado mais votado do país nas últimas eleições, morreu na terça-feira da semana passada, vítima de um AVC (acidente vascular cerebral), aos 71 anos. Ele foi internado no Hospital Santa Lúcia, em Brasília, depois que assessores o encontraram inconsciente no chão do apartamento funcional em que morava. Seus últimos quatro anos foram difíceis: Clodovil sofria de câncer na próstata, teve uma embolia pulmonar e um primeiro AVC, do qual escapou por pouco. Mesmo alquebrado pelos problemas de saúde, desde que chegou à Câmara em 2006, embalado por quase meio milhão de votos, o deputado fez o que se esperava dele: envolveu-se em muita polêmica. Chamou uma colega de "feia" e disse que "as mulheres hoje são ordinárias, trabalham deitadas e descansam em pé". Em julho do ano passado, Clodovil conversou com o repórter Diego Escosteguy, de VEJA, em seu extravagante gabinete na Câmara. A entrevista que se segue, extraída dessa conversa, é um bom retrato de quem era Clodovil - e do que ele pensava. Foi como se o deputado estivesse no quadro "A lente da verdade", de um de seus programas de televisão.

O senhor gosta de Brasília?
É uma cidade que sempre buscou o glamour, mas nunca encontrou. Brasília foi maltratada desde o início, nasceu apanhando. Quem construiu Brasília foi Juscelino (Kubitschek, ex-presidente), mas quem deu os acabamentos foram os primos do demônio: uma gente que fez uns acabamentos de quinta. Em compensação, os empreiteiros, que manipularam as obras, estão riquíssimos.

O senhor fez amizades na Câmara?
Não. A maioria só aparece quando precisa de alguma coisa. O Arlindo Chinaglia me ligou uma vez. Falou horas a respeito das qualidades dele, todo pomposo, mas não prestei atenção. Ainda mais porque sei que ele é da turma da Marta Suplicy. Essa eu conheço desde menina. Ela é uma pendurada na influência do marido. Uma pessoa que não muda o sobrenome para explorar a influência do ex-marido é o fim do mundo.

O senhor acha a Câmara mal cuidada?
Está tudo caindo aos pedaços, velho, cheio de ácaros. Por isso não costumo sair do gabinete. Só saio quando tenho que ir ao plenário votar. Várias pessoas vêm conhecer o meu gabinete. É o mais visitado da Câmara. Você pode até não gostar de branco, mas não pode dizer que seja um gabinete de mau gosto.

É possível resgatar a ética da Câmara?
E o brasileiro tem ética por acaso? A Câmara é reflexo do Brasil. O problema é que o brasileiro se vende barato. É só o político dar uma cesta básica que ganha o voto. Isso acontece no país inteiro, é uma tradição que vem dos índios. Eles se vendiam por colares e espelhinhos. Esse processo continua igual na escolha das pessoas que vão comandar o país. Elas vêm para Brasília e saem gordas de tanto mamar na vaca profana.

Quem é a vaca profana?
É o país, claro. A verdade é que a maioria dos brasileiros não gosta de trabalhar. Quer um emprego para ficar encostado, e só. Gente desse tipo é que é conivente com as poucas vergonhas, com os Dudas Mendonças. Nosso país se fez dessa maneira: de degredados, de índios de má qualidade... Ou as pessoas acordam ou o país vai para o caos.

Por que diminuir o número de deputados?
É preciso reagir contra esse bando de gente que não faz nada aqui, contra a idiotice que está presente em Brasília. A única coisa que vai obrigar a Câmara a mudar, a voltar a ser o que já foi um dia, é com atitudes radicais como essa. Mas a mudança tem que vir de fora para dentro. Pode parecer um projeto utópico, mas alguém precisa provocar esse debate. A população tem que obrigar a Câmara a ter qualidade, e não quantidade. As pessoas devem aprender também o que é qualidade. Mas alguns já entenderam: recebi 50.000 emails de apoio ao meu projeto. É impossível combinar 513 deputados com qualidade. Não quero que ninguém seja expulso amanhã. Basta diminuir o número nas próximas eleições. Não se limpa uma casa limpando apenas os vidros, só por fora. Para que a casa fique realmente limpa, é preciso limpar por dentro.

A casa está cheia?
Cheia e suja. Quando entrei aqui, comprovei um monte de coisa que eu já imaginava. Na Câmara tem muita gente trabalhando com o ordinário, com aquilo que não precisaria, vendendo o país, vendendo a si mesmo. Eu estou aqui para trabalhar. A maioria está aqui para se aproveitar das benesses da posição. Para conviver com essa gente toda, eu tenho que acreditar nos poderes que eu acredito, que são mais fortes do que as atitudes deles. Eu gostaria de consertar a Câmara, mudar Brasília. Pode ser meu legado. Não sei como alguém pode ter prazer em esconder dinheiro na cueca, em levar dinheiro em malas. Não consigo entender para quê. Sei que as minhas ideias são meio utópicas, mas é preciso sonhar.

Os deputados lhe tratam bem?
No começo os deputados me tratavam com muita reserva, mas hoje isso mudou. Eu os encontro nos corredores, eles olham pra baixo e fingem que não me conhecem. Mas aí eu grito: boa tarde! Aí eles passam a responder. Pode perguntar aqui quem é o deputado mais agradável da casa. Sou eu. É porque eu sou generoso com as pessoas. Outro dia, dei uma camisa do São Paulo para um ascensorista que trabalha aqui há quinze anos. Era aniversário dele. O rapaz levou um susto, porque ninguém sabe que ele existe. Mando flores e bilhetes para todos os deputados. Isso me faz bem. Mas alguns ainda têm medo de mim, porque a minha inteligência é muito aguda. Mas eu queria que eles tivessem o mesmo amor que eu tenho por eles. Queria que eles me respeitassem.

O senhor tem vergonha da Câmara?
Não, eu não faço parte dela. Eu só estou aqui. Se um dia ela voltar a ser correta, terei a maior honra de fazer parte. Mas por enquanto só estou aqui. Missa de corpo presente. Eu tenho que driblar algumas coisas, porque eu não sei onde está a lama aqui dentro. E eu vou pisar na lama, evidente. Mas não vou escorregar.

Não é difícil saber onde está a lama?
Não é tão difícil. Mas tem que acreditar no universo. Há pessoas aqui que não são boas pessoas, que não querem o bem do país. Elas trabalham contra o Brasil. Não é uma questão de representar o povo. O povo não tem representação.

O senhor tem outras ambições políticas?
Eu quero ser candidato ao Senado nas próximas eleições. Não quis me candidatar a prefeito de São Paulo, mas tenho certeza de que eu ganharia.

Como?
Um vidente me disse há alguns anos. Mas eu não quero. Não sou burocrata, querido. Não sei lidar com papelada. De repente eu teria que me vender. Não quero isso. Aqui, eu posso falar à vontade. Eu falo bem - é uma dádiva que o universo me deu. Além do mais, eu tenho um parceiro maravilhoso, que sou eu mesmo e minha crença no universo.

Por que o senhor entrou na política?
Eu não vim a Brasília porque quis. Foi o universo que me mandou, por uma razão que ainda não sei. Meses antes da campanha, quando descobri que estava com câncer, tive um insight. Eu sonhei com o prefeito de Ubatuba, um sujeito de péssima qualidade. Ele estava com as mãos no quadril e me disse: "Você quer poder, então vire deputado federal". Não sei por que sonhei com ele. São histórias mirabolantes da minha vida. No dia seguinte ao insight, fui fazer um exame e descobri que meu câncer, que era do tamanho de uma moeda, estava do tamanho de um arroz. Ninguém pode explicar como diminuiu. Operei depois de uma semana. E eis que apareceu um senhor no hospital e me convidou para ser deputado. Era o Ciro Moura, presidente do PTC. Aceitei na hora.

Um sinal do universo?
Evidentemente. Por que aquele senhor apareceu justamente naquela hora? Nós recebemos recados todos os dias. Mas esse cidadão tinha intenções que eu não sabia. Ele queria usar meu nome para dar prestígio ao partidinho dele. Queria me explorar, usar meu nome pra eleger outros deputados. Ainda bem que só um entrou pendurado em mim, como suplente. O universo é sábio. A verdade é que os partidos nanicos são desonestos, vivem de sugar dinheiro público. Mudei de partido e eles me processaram. Mas o fato é que os votos foram para mim – não para o partido.

O senhor teve 496 000 votos. O que explica essa votação expressiva?
Dizem que a população votou em mim como uma forma de contestação. Na verdade, não foi. Meu voto veio da mãe de família, que induziu o filho e o esposo a votar em mim. Tenho uma história que ilustra bem isso. Quando eu era candidato, dois assaltantes invadiram minha casa. Eu estava pintando de cueca, e de cueca continuei. Eles pediram dinheiro, mas, quando descobriram quem eu era e ouviram um pito, saíram rastejando da minha casa, pedindo desculpas. No dia seguinte, a mãe de um deles me ligou para me agradecer por ter dado aquela lição. E me contou que os dezesseis votos da família dela seriam para mim. Isso não é voto de protesto. É voto de quem acredita nos meus valores.

O senhor enfrenta muitos problemas devido ao seu temperamento?
Acontece. Se me destratar, vai levar um bofetão. Há algum tempo, dei um bofetão num comissário de bordo bichinha que me destratou no avião. Ele me disse que eu estava no assento errado, foi grosseiro. Há uma facção maldosa do PT, xiita, que arma esse tipo de situação. Tem um segmento xiita. Eles induzem as pessoas a fazer coisas para você se estrepar frente à opinião pública. Aí me expulsaram do avião. Tudo programado.

Por que o senhor acha que o PT está por trás disso?
Eu sei que é. Alguma coisa me diz. Eu só tenho minha palavra e minha convicção.

O senhor venceu um câncer de próstata e sobreviveu sem sequelas a um derrame...
Sofri muito com o câncer, mas foi algo que eu mesmo causei. Acho que aquilo aconteceu como uma forma de eu tentar me redimir da minha homossexualidade. Quando o médico me ligou para me informar de que eu estava com câncer, fiquei aliviado. Dei graças a Deus.

Por quê?
Imagine se fosse Aids? Eu poderia ter infectado muita gente. Mas paguei um preço alto pelo câncer. Fiquei impotente. O que eu posso fazer? Nada. Nem tudo pode ser uma maravilha. Às vezes consigo ter um orgasmo seco. Mas tem que haver uma ligação espiritual com o parceiro.

Por que o senhor não apresentou nenhum projeto defendendo o direito dos homossexuais?
Deus me livre. Quais direitos? Direito de promover passeata gay? Não tenho orgulho de transar com homem. O primeiro homem que eu vi transando com outro foi meu pai - era o meu tio, irmão da minha mãe. Eu tinha 13 anos. Foi num domingo, depois da missa. Sentei no chão e pensei: meu Deus, minha mãe não é amada por ninguém. Meu pai nunca soube que eu vi. Quando ele me perguntou dois anos depois se eu era gay, não respondi. Nunca mais se falou sobre isso lá em casa. Mas eu podia ter dito o diabo para ele.

O senhor fala muito na força do universo. Segue alguma religião?
Sou religioso, mas não acredito no Deus que querem me vender. Um Deus de castigo, de pecado. Se ser homossexual é pecado, é pecado também ser preto, ser aleijado, ser mulher: é pecado ser qualquer coisa que não seja maioria.

O senhor gastou uma pequena fortuna na decoração do gabinete. Essa vaidade também se estende ao corpo?
Tenho um corpo deslumbrante para os meus 72 anos. Só preciso tirar um pouco de gordura da barriga, porque me descuidei. Vou fazer uma lipo. Mas não tenho nenhuma marca de senilidade, mão enrrugada, nada. Não vou ficar choramingando. Sou um privilegiado.

Sphere: Related Content
26/10/2008 free counters