O governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro,
ao lado da presidente Dilma Rousseff em cerimônia
em Porto Alegre (Foto: Roberto Stuckert Filho /
Presidência)
A presidente Dilma Rousseff afirmou nesta terça-feira (13), em Porto
Alegre, considerar "estranho" que o ministro do Desenvolvimento,
Indústria e Comércio, Fernando Pimentel, dê explicações sobre sua "vida
privada, a vida pessoal passada". O ministro foi apontado por supostas
irregularidades em consultorias prestadas entre 2009 e 2010.
Perguntada se o ministro não deveria ir ao Congresso explicar as
denúncias, a presidente falou sobre o assunto pela primeira vez: “O
governo não acha nada. O governo só acha o seguinte: é estranho que o
ministro preste satisfações no Congresso da vida privada, da vida
pessoal passada dele. Se ele achar que deve ir, ele pode ir, se ele
achar que não deve ir, ele não vá. Agora, sobre assuntos do governo é
obrigado a ir.”
Nesta terça,
senadores governistas barraram convite para Pimentel ir à Comissão de Meio Ambiente, Defesa do Consumidor e Controle do Senado explicar as denúncias.
Reportagens do jornal "O Globo" publicadas no início do mês mostraram
que Pimentel recebeu R$ 2 milhões com sua empresa de consultoria depois
de deixar a prefeitura de Belo Horizonte e antes de assumir o
ministério.
Em nota, o ministério afirmou que
Fernando Pimentel
deixou a empresa no fim do ano passado e afirma que todas as
informações sobre a consultoria foram repassadas à Comissão de Ética
Pública da Presidência.
Convite barrado
Senadores da base aliada se pronunciaram contra o convite. A exceção
foi o senador Ivo Cassol (PP-RO), que defendeu a presença de Pimentel.
"Sou da base, mas ministro que tem medo de vir numa comissão não pode
ser ministro. Não tem nada o que esconder. Essa comissão aqui não é um
cemitério e não enterra ninguém", disse.
O líder do PT no Senado, Humberto Costa, listou motivos que
justificariam a rejeição do requerimento. Ele afirmou que o ministro
explicou "de forma convincente" as denúncias e que Pimentel não ocupava
cargo público na época em que prestou consultoria.
Para Costa, seria mais pertinente que a Câmara Municipal de Vereadores
de Belo Horizonte ouvisse Pimentel para saber se houve, entre as
contratantes, empresas que prestavam serviço para a Prefeitura.
Na quarta passada (7), o jornal "Folha de S.Paulo" informou que uma
empresa atendida pela consultoria manteve contrato com a Prefeitura de
Belo Horizonte quando Pimentel era prefeito.
"No máximo caberia, talvez, a Câmara de Vereadores convocar o ministro
por algumas dessas empresas terem prestação de serviço com a Prefeitura
de Belo Horizonte. Aqui é só mais tentativa de embate político da
oposição", disse.
O senador Aníbal Diniz (PT-AC) pediu à oposição que solicite
investigação ao Ministério Público e à Polícia Federal para que a
comissão não se torne uma "delegacia". "Se todas as vezes que saem
essas denúncias na imprensa vamos convocar ministro, a sensação que dá é
que nossa comissão pode se transformar numa espécie de delegacia de
polícia", disse.
Denúncias
No começo de dezembro, reportagem do jornal "O Globo" apontou que
Pimentel recebeu R$ 2 milhões com sua empresa P-21 Consultoria e
Projetos Ltda., entre 2009 e 2010, após deixar o cargo de prefeito de
Belo Horizonte e antes de assumir vaga no ministério de Dilma.
Segundo o jornal, um dos clientes foi a Federação das Indústrias de
Minas Gerais (Fiemg) para o trabalho de "consultoria econômica e em
sustentabilidade". Dirigentes da federação, que, segundo “O Globo”,
pagou R$ 1 milhão pelo trabalho, disseram ao jornal desconhecer o
trabalho realizado por Pimentel. Outro cliente, a construtora mineira
Convap, teria pago R$ 514 mil pela consultoria.
Em outra reportagem publicada dias depois, "O Globo" cita outro
contrato em que o ministro teria recebido R$ 400 mil de empresa
pertencente ao filho de um sócio de Pimentel em sua consultoria. Depois,
o jornal "Folha de S.Paulo" informou que esta empresa manteve contrato
com a Prefeitura de Belo Horizonte quando Pimentel era prefeito.
O primeiro a deixar o governo de Dilma Rousseff foi Antonio Palocci, em
junho, que deixou a Casa Civil após suspeitas sobre o seu patrimônio
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No embalo da crise que derrubou Palocci, Dilma trocou o ministro das
Relações Institucionais, Luiz Sérgio. Embora não tenha saído, foi
realocado na Pesca
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No mês seguinte foi a vez de Alfredo Nascimento deixar o Ministério dos
Transportes após ter seu nome envolvido em suspeitas de corrupção na
pasta
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Ainda em julho, Nelson Jobim deixa o Ministério da Defesa. Motivo:
declarações que desagradaram Dilma, como a revelação de que votou em
Serra em 2010, mas não por corrupção .
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Wagner Rossi foi o quarto ministro sair. Ele deixou o Ministério da
Agricultura após onda de acusações que incluíram pagamento de propinas,
influência de lobistas e aparelhamento político
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O gnomo tarado Pedro Novais, responsável pelo Ministério do Turismo, foi o quinto
ministro a sair. Suspeito de usar dinheiro público para pagar sua
governanta por sete anos e a de usar motorista da Câmara para
transportar sua mulher
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A mais recente baixa no governo foi no Esporte, com a saída de Orlando
Silva, suspeito de participação num esquema de desvio de recursos do
programa Segundo Tempo, que dá verba a ONGs para incentivar jovens a
praticar esportes
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Carlos Lupi deixa o Ministério do Trabalho; é o sétimo a cair no governo Dilma
Perguntas que Pimentel ainda não respondeu
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Fernando Pimentel deixa várias perguntas sem respostas
O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Fernando Pimentel
Thiago Herdy / O Globo
RIO – Embora aliados afirmem que o ministro do Desenvolvimento, Fernando
Pimentel, já prestou todos os esclarecimentos a respeito de suas
atividades como consultor, desde a última quinta-feira, ainda há pontos
que o ministro não explicou:
PROGRAMAS – A Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg)
informou que Fernando Pimentel, então ex-prefeito de Belo Horizonte, foi
contratado, por meio da P-21 Consultoria e Projetos Ltda., para propor
programas de desoneração tributária e desenvolvimento ao governo
federal. Quais foram esses programas?
NOMES – A Fiemg informou que Pimentel deu “orientação aos técnicos e
colaboradores para elaboração e desenvolvimento de conteúdos”. Quem são
os técnicos e colaboradores que trabalharam sob sua orientação?
CONTRATO VERBAL – Por que negócios de R$ 514 mil, R$ 400 mil e R$ 130 mil foram feitos sem contratos formais e apenas verbais?
RESULTADOS – Que garantias de prestação do serviço o então ex-prefeito Fernando Pimentel dava?
SERVIÇO PRESTADO – E por que o ministro não apresenta a comprovação
dos serviços prestados, já que confirma ter recebido todos os valores
publicados pelo GLOBO?
ETA – Por que o ministro omitiu ao jornal O GLOBO ter prestado
serviços à ETA Bebidas Ltda., na hora de somar os valores recebidos com
sua atividade de consultoria, quando o caso veio à tona?
DOADOR – O ministro conhece Eduardo Luis Bueno, sócio da ETA Bebidas e
acusado por doação ilegal de recursos na campanha eleitoral de 2006? Se
sim, desde quando e como se conheceram?
PERNAMBUCO – Para prestar serviços à ETA, o então ex-prefeito de BH
viajou a Pernambuco para conhecer detalhes do mercado de refresco de
guaraná no Nordeste? Ou prestou o serviço a partir de Belo Horizonte?
CONTATOS – Na última quarta-feira, O GLOBO contactou todos os donos
da ETA desde a fundação, que negaram conhecer o ministro Pimentel. No
dia seguinte, a empresa divulgou nota confirmando a contratação e
informou que ninguém daria mais entrevistas. Quem são os diretores da
ETA com quem o então ex-prefeito de Belo Horizonte afirmou ter mantido
contato telefônico durante a prestação de seus serviços de consultoria?
NOS EUA – Quem é o ex-dono da ETA que o ministro Fernando Pimentel afirma estar vivendo nos Estados Unidos?
FATURAMENTO – O ministro sabe dizer qual era o faturamento médio da ETA quando prestou consultoria?
INDICAÇÃO – Quem é o dirigente da Federação das Indústrias de
Pernambuco que o ministro Pimentel afirmou, em entrevista à “Folha de S.
Paulo”, ter indicado seu trabalho aos donos da ETA?
QUITAÇÃO – O então ex-prefeito de Belo Horizonte orientou a
construtora Convap — para quem afirma ter prestado consultoria
tributária – a pagar a dívida de quase meio milhão de reais em taxas e
tributos da empresa com a prefeitura de Belo Horizonte? 9Jornal O
GLOBO).
Dilma orienta base aliada a impedir convocação
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A
presidente Dilma Rousseff orientou ontem a base aliada a impedir
qualquer convocação do ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio
Exterior, Fernando Pimentel. A ordem, transmitida aos integrantes da
coordenação política, busca preservar um dos ministros mais próximos de
Dilma. O Planalto também conta com a ajuda do calendário natalino para
abafar o caso.
Para o Planalto, o assunto está encerrado,
já que a presidente Dilma entende que ele deu todas as explicações que
eram necessárias e classificou-as como satisfatórias. O governo faz
questão de destacar também que as "ilações" contra Pimentel se referem a
um tempo que ele nem estava no governo.
Pimentel estava com passagem marcada para
embarcar para Genebra para participar da reunião da Organização Mundial
do Comércio (OMC), na noite de ontem. A presidente o orientou a viajar
tranquilo, assegurando-lhe que as lideranças partidárias garantiram que
não haveria risco de ele ser convocado pelo Congresso para dar
explicações.
Pimentel, que é um dos mais próximos
ministros da presidente, manteve sua proximidade com Dilma, apesar dos
ataques. A presidente lhe recomendou que resistisse, lembrando que ela
mesma foi alvo de diferentes ataques e "sobreviveu". O governo conta com
o recesso parlamentar para que o assunto caia no esquecimento. O
ministro Pimentel vem sendo alvo de acusações de tráfico de influência
nas atividades de consultoria exercidas por sua empresa, a P-21. O caso
do ministro tem sido comparado ao de Antonio Palocci, que saiu da Casa
Civil após informações sobre sua evolução patrimonial e suas atividades
de consultor. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.