Documentos do grupo guerrilheiro, no qual militou a presidente Dilma, indicam planos para ‘justiçamento’ de oficiais do Exército
13 de abril de 2011 | 23h 00
Felipe Recondo e Leonencio Nossa, de o Estado de S. Paulo
BRASÍLIA - Documento da Aeronáutica que foi tornado público nesta quarta-feira, 13, pelo Arquivo Nacional, após ter sido mantido em segredo durante três décadas, revela que a organização guerrilheira VAR-Palmares, que contou em suas fileiras com a hoje presidente Dilma Rousseff, determinou o "justiçamento", isto é, o assassinato de oficiais do Exército e de agentes de outras forças considerados reacionários nos anos da ditadura militar.
Com cinco páginas, o relatório A Campanha de Propaganda Militar, redigido por líderes do grupo, avalia que a eliminação de agentes da repressão seria uma forma de sair do isolamento. O texto foi apreendido em um esconderijo da organização, o chamado aparelho, e encaminhado em caráter confidencial ao então Ministério da Aeronáutica.
O arquivo inédito, revelado pelo Estado no ano passado e aberto à consulta pública na teraça-feira, 12, faz parte do acervo do Centro de Segurança e Informação da Aeronáutica (CISA). No Arquivo Nacional, em Brasília, novo endereço do acervo que estava em poder do serviço de inteligência da Aeronáutica, há um conjunto de documentos que tratam da VAR-Palmares. Mostram, entre outras coisas, a participação de militares da ativa e a queda de líderes do grupo em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Espírito Santo e São Paulo.
Os nomes dos integrantes do grupo receberam uma tarja preta, o que impede estabelecer relações diretas entre eles e as ações relatadas. É possível saber, por exemplo, que militantes de Belo Horizonte receberam em certa ocasião dez revólveres calibre 38 e munição, mas não os nomes desses militantes.
Na primeira página, o relatório de cinco páginas destaca que o grupo não tem "nenhuma possibilidade" de enfrentar os soldados nas cidades. Sobre o justiçamento de militares observa: "Deve ser feito em função de escolha cuidadosa (trecho incompreensível) elementos mais reacionários do Exército."
Extermínio. Na época da redação do texto, entre 1969 e 1970, a ditadura tinha recrudescido o combate aos adversários do regime. Falava-se em setores das forças de completo extermínio dos subversivos. Em dezembro de 1968, o regime havia instituído o AI-5, que suprimia direitos civis e coincidia com o início de uma política de Estado para eliminar grupos de esquerda.
Aeronática relata intenções da VAR-Palmares
A VAR-Palmares surgiu em 1969 com a fusão do grupo Colina (Comando de Libertação Nacional), em que Dilma militava, com a Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), do capitão Carlos Lamarca. Dilma, à época com 22 anos, foi presa em janeiro de 1970 em São Paulo. Ela só foi libertada em 1972, após passar por uma série de sessões de tortura. Sempre que fala sobre seu envolvimento com a resistência ao regime militar, Dilma costuma ressaltar que sua visão atual da vida não tem "similaridade" com o que pensava durante o tempo de guerrilha.
Armas do grupo guerrilheiro VAR-Palmares O documento tornado público classifica as ordens como contraofensiva. Seria uma resposta aos "crimes" do regime militar contra a esquerda: "O justiçamento punitivo visa especialmente paralisar o inimigo, eliminando sistematicamente os cdf da repressão, os fascistas ideologicamente motivados que pressionam os outros."
O texto também dá orientações sobre como definir e vigiar possíveis alvos. A ideia era uma fazer uma lista dos oficiais "reacionários" e de pessoas ligadas à CIA, a agência central de inteligência dos Estados Unidos.
A VAR-Palmares tinha definido como alvos prioritários o delegado Sérgio Paranhos Fleury, do DOPS, e seu subordinado Raul Careca, acusados de comandarem a máquina da tortura nos porões de São Paulo: "Careca, Fleury são assassinos diretos de companheiros também. Trata-se de represália clara. Já outros investigados serão eliminados sob condição, conforme vimos acima."
Vanguarda Armada Revolucionária Palmares
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A Vanguarda Armada Revolucionária Palmares (VAR-Palmares) foi uma guerrilha política brasileira de extrema esquerda, que combateu o regime militar de 1964, visando a instauração de um regime de inspiração soviética neste país. Surgiu em julho de 1969, como resultado da fusão do Comando de Libertação Nacional (Colina) com a Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) de Carlos Lamarca.
Em declaração ao jornalista Elio Gaspari, Daniel Aarão Reis Filho, ex-militante do MR-8, professor de história contemporânea da Universidade Federal Fluminense e autor de Ditadura Militar, Esquerda e Sociedade, disse:
- Ao longo do processo de radicalização iniciado em 1961, o projeto das organizações de esquerda que defendiam a luta armada era revolucionário, ofensivo e ditatorial. Pretendia-se implantar uma ditadura revolucionária. Não existe um só documento dessas organizações em que elas se apresentassem como instrumento da resistência democrática.[1]
A ação mais conhecida da organização foi a expropriação do "cofre do Adhemar", contendo pouco mais de 2,8 milhões de dólares, em espécie, o equivalente a 16,2 milhões de dólares de 2007. Esse cofre encontrava-se na residência de Anna Gimel Benchimol Capriglione, secretária e amante do ex-governador de São Paulo, Adhemar de Barros. Supunha-se que o dinheiro mantido no cofre seria portanto, produto da corrupção do ex-governador.[2] [3] Carlos Minc foi um dos integrantes da organização que participou do roubo. Dilma Rousseff também participava da organização, mas não integrou a ação mais conhecida do grupo.[4] Enquanto há versões de que Dilma organizou toda a operação[5], Minc garante que ela não tinha qualquer papel destacado no grupo, atuando apenas na retaguarda.[4]
Conforme Maurício Lopes Lima, um integrante de buscas da Oban (Operação Bandeirante), estrutura que integrava o serviço de inteligência das Forças Armadas (e onde teriam sido realizados atos de tortura), Dilma Rousseff era a grande líder da organização clandestina.[6] Já em setembro de 1969, um de seus grupos dissidentes reconstitui a VPR e outra fracção cria a DVP, mais tarde rebatizada como Grupo Unidade.
A VAR-Palmares teria também planejado em 1969 o sequestro de Delfim Neto, símbolo do milagre econômico e à época o civil mais poderoso do governo federal. O suposto sequestro, que deveria ocorrer em dezembro daquele ano, já havia sido referido no livro "Os Carbonários", de autoria de Alfredo Sirkis, em 1981. Antonio Roberto Espinosa, ex-comandante da Vanguarda Popular Revolucionária e da VAR-Palmares, reconheceu que coordenou o plano, que era de conhecimento de cinco membros da cúpula da organização, e que Dilma seria uma dessas integrantes da cúpula.[7][8][9][10][11][12] O sequestro não teria chegado a ser realizado porque os membros do grupo começaram a ser capturados semanas antes. Dilma nega peremptoriamente que tivesse conhecimento do plano e duvida que alguém realmente se lembre, declarando que Espinosa fantasiou sobre o assunto.[13][14]
Em 5 de fevereiro de 1972 militantes da VAR-Palmares, ALN e do PCBR[15] assassinaram a tiros o marinheiro inglês David Cuthberg, que se encontrava no país juntamente com uma força-tarefa da Marinha Britânica para as comemorações dos 150 anos de independência do Brasil. Após o atentado foram arremessados dentro do táxi onde ele se encontrava panfletos que informavam que o ato teria sido decisão de um "tribunal", como forma de solidariedade à luta do Exército Republicano Irlandês contra o domínio inglês.[16]
Desmantelada devido à forte repressão dos militares, a VAR-Palmares teve duas de suas principais lideranças presas e assassinadas pelo regime: Carlos Alberto Soares de Freitas, um dos fundadores do Comando de Libertação Nacional (Colina), e Mariano Joaquim da Silva, o Loyola, veterano das Ligas Camponesas, "desaparecido" nos cárceres clandestinos do Destacamento de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi) no Rio de Janeiro.
Nenhum dos assaltantes foi condenado pelo roubo dos dólares.
Referências
- ↑ Folha de S. Paulo, 23 de setembro de 2001
- ↑ Luxo, política e intrigas. Espólio de Ana Capriglione é leiloado no Rio
- ↑ A Ação grande ou o roubo do cofre do Adhemar
- ↑ a b Minc: Dilma não roubou 'cofre do Ademar' em 1969. O Globo (18/02/2009). Página visitada em 02/08/2009.
- ↑ O cérebro do roubo ao cofre. Veja (15/01/2003). Página visitada em 02/08/2009.
- ↑ (05/04/2009) "Ex-guerrilheira é elogiada por militares e vista como "cérebro" do grupo". Folha de S. Paulo (29.222): Caderno A - Brasil.
- ↑ Ao tomar conhecimento das declarações que lhe foram atribuídas, Espinosa contestou a informação, dizendo que nunca afirmara que Dilma teve conhecimento do plano, o que, se ocorreu, foi em termos rápidos e vagos. Afirmou que Dilma nunca participou de ações ou de planejamento de ações militares, sempre tendo uma militância somente política.[carece de fontes]
- ↑ (08/04/2009) "Painel do Leitor". Folha de S. Paulo (29.225): Caderno A - Opinião.
- ↑ (12/04/2009) "Para ficar ao abrigo de desmentidos". Folha de S. Paulo (29.229): Ombudsman.
- ↑ Nassif, Luis (06/04/2009). Fonte acusa Folha de manipulação. Último Segundo. Página visitada em 13/08/2009.
- ↑ Espinosa denuncia fraude da “Folha” contra Dilma. Jornal Hora do Povo. Página visitada em 13/08/2009.
- ↑ A fraude da Folha(*) e o sequestro de Delfim: Dilma não sabia de nada e não tem do que se defender. Conversa Afiada (06/04/2009). Página visitada em 13/08/2009.
- ↑ (05/04/2009) "Grupo de Dilma planejava sequestrar Delfim". Folha de S. Paulo (29.222): Caderno A - Brasil.
- ↑ (05/04/2009) "Aos 19, 20 anos, achava que eu estava salvando o mundo". Folha de S. Paulo (29.222): Caderno A - Brasil.
- ↑ Carlos Alberto Brilhante Ustra. Rompendo o Silêncio. Editora Laudelino Amaral de Oliveira. ISBN 0002295105, 9780002295109.
- ↑ Alessandro Meiguins. Ditadura X esquerda explosiva. Aventuras na História.
[editar] Veja Também
VAR-Palmares
A Dilma Rousseff dos relatórios hiperbólicos dos órgãos de segurança nunca foi vista pelos dois maridos de Dilma Vana Rousseff, filha da mineira Dilma Jane, dona-de-casa, e do búlgaro Pedro Rousseff, advogado e empresário. A papelada policial se derrama em fantasias sobre as proezas e o estilo da jovem promovida arbitrariamente a “grande líder da VAR-Palmares”, grupo clandestino que se definia como “uma organização político-militar de caráter partidário, marxista-leninista, que se propõe a cumprir todas as tarefas da guerra revolucionária e da construção do Partido da Classe Operária, com o objetivo de tomar o poder e construir o socialismo”. Essa Dilma os dois maridos não conheceram.
Sorte deles. Caso fosse ela a noiva, acumulariam derrotas devastadoras na guerra conjugal travada contra a superguerrilheira enérgica, voluntariosa, onisciente, nascida para comandar e conduzir, que distribuía ordens e pitos entre marmanjos de alta periculosidade empenhados em derrubar a ditadura militar a bala. Como se casaram com a Dilma de verdade, ambos conviveram com a mineira de Belo Horizonte que sempre falou pouco, jamais abrilhantou encontros de combatentes com intervenções luminosas, só jogou na segunda divisão da luta armada e percorreu sem queixumes nem amuos os caminhos riscados pelos maridos.
Levada pelo primeiro, o também mineiro Cláudio Galeno de Magalhães Linhares, Dilma filiou-se a uma organização comunista chamada Política Operária, a Polop, e depois se transferiu para o Comando de Libertação Nacional, o Colina. Levada pelo segundo, o gaúcho Carlos Franklin Paixão de Araújo, juntou-se à Vanguarda Popular Revolucionária-Palmares e em 1973, depois de três anos na prisão, foi para o Rio Grande do Sul e para o PDT de Leonel Brizola. Ali, seguiu o script escrito de ponta a ponta pelo parceiro influente no partido.
O primeiro emprego público relevante veio em 1986, quando o prefeito Alceu Collares, a pedido de Carlos Araújo, instalou na Secretaria da Fazenda de Porto Alegre a correligionária que mal conhecia. Ao deixar o cargo dois anos mais tarde, para dedicar-se à campanha do marido candidato à prefeitura, recomendou ao jornalista Políbio Braga que recusasse o convite para substituí-la. “Não assume não, que isso pode manchar a tua biografia”, avisou. “Eu não consigo controlar esses loucos e estou saindo antes que manche a minha”.
Políbio admitiria depois que talvez devesse ter examinado a sugestão com mais carinho — mas por outros motivos: “Ela não deixou sequer um relatório. A secretaria era um caos”. Esse arranhão no auto-retrato da superexecutiva foi ampliado no ano seguinte com a curta passagem pela diretoria-geral da Câmara de Vereadores. “Eu a exonerei porque houve um problema com o relógio de ponto”, lembra o ex-presidente Valdir Fraga. “Ela chegava atrasada todo dia”, traduz um assessor. De novo pelas mãos de Araújo, saiu do limbo em 1990, com a chegada de Collares ao governo gaúcho. Depois de presidir por três anos a Fundação de Economia e Estatística, assumiu em 1993 a Secretaria de Energia, Minas e Comunicações.
A ascensão poderia ser menos demorada se o marido não se tivesse equivocado em 1986. Em vez de apoiar Pedro Simon, adversário histórico do regime militar e candidato a governador pelo PMDB, Dilma também defendeu a aliança com o PDS de Nelson Marchezan, que ofereceu ao PDT a vaga de vice. Dilma não viu nada de estranho na parceria com o parlamentar que comandara a Câmara dos Deputados durante o governo do general João Figueiredo? Nem com o partido que dera sustentação parlamentar à ditadura? “Marchezan foi líder da ditadura, mas nunca foi um enragé“, desconversou vinte anos depois da derrota. “A ala Marchezan era a ala da pequena propriedade radicalizada. E ele era um cara ético”. Ninguém entendeu, mas, como Dilma falava só de vez em quando, os ouvintes acabaram assumindo a culpa: deveriam ter prestado mais atenção à sumidade.
Assim seria em 2000. Dois anos antes, a bordo do acordo entre o PDT e o PT do governador Olívio Dutra, Dilma voltara à secretaria de Energia. Forçada a decidir-se entre Alceu Collares e Tarso Genro, que disputavam a prefeitura de Porto Alegre, optou pelo PT para continuar no emprego. Contrariou o marido pela primeira vez, renegou o padrinho, fez de conta que a aliança com Marchezan não existiu e caprichou no palavrório: “Não aceito alianças neoliberais e de direita”. Brizola mirou na testa dos pedetistas que, como Dilma, migraram para o PT depois da vitória de Tarso no segundo turno: “Eles se venderam por um prato de lentilhas”.
Ao fim de uma reunião do PDT gaúcho de que Dilma participara, Brizola confessou que, “talvez porque essa moça fale pouco”, não conseguia entender direito o que ela dizia. Morreu sem saber que ninguém entende dilmês.
(Texto publicado em 06/12/2009)
Papéis da Aeronáutica revelam conduta do grupo armado de Dilma
15 de abril de 2011 • 09h32
Documentos produzidos pelo serviço de inteligência da Aeronáutica sobre a VAR-Palmares, grupo de combate à ditadura militar do qual a presidente Dilma Rousseff participou, revelam que a organização seguia rígidos códigos de conduta. Os papéis foram liberados à consulta pública pelo Arquivo Nacional após quatro décadas de sigilo. Chamado 'Resumo de Conselhos e Medidas de Segurança e Trabalho Clandestino', um manual de 25 páginas foi classificado pelos militares como "peça valiosa" e de "grande interesse". Para a Aeronáutica, ele mostrava militantes decididos a, através da "cega obediência às regras disciplinares", atingirem a determinação que os levaria a atingir seus objetivos finais. As informações são da Folha de S. Paulo.
Outro documento da VAR citado pelos militares afirma que o militante que não cumprisse as regras estaria sujeito a "sanções". Um terceiro documento da Aeronáutica, de 1969, diz se basear em depoimentos prestados ao Exército por um militante da VAR preso. Ele teria revelado que o principal objetivo era instalar a luta armada no interior do País. Um grupo urbano ficaria encarregado de obter dinheiro, por meio de assaltos ou "expropriações", para alimentar o foco rural. Segundo o jornal, uma das funções de Dilma era zelar, junto com outros dois militantes, pelo arsenal do grupo. Ela nega ter participado de ações armadas, mas admite ter feito treinamento militar.
A polêmica entrevista do ex-dirigente do Var-Palmares
Enviado por Forni em sex, 17/04/2009 - 00:29. A polêmica entrevista concedida à Folha de S. Paulo, em 5 de abril, pelo ex-dirigente do grupo Var-Palmares, Antonio Roberto Espinosa, que combateu a ditadura nos anos 60 e 70, rendeu desmentido da fonte e cobranças do Ombudsman do jornal. Na entrevista, o ex-militante teria admitido que o grupo planejou o sequestro do então ministro da Fazenda Delfim Netto. A ministra Dilma Rousseff participou do Var-Palmares e, segundo a matéria, teria tomado conhecimento dos planos do sequestro, embora não tivesse missão diretiva no grupo.
A ministra Dilma em entrevista, na mesma reportagem, alega não se lembrar dos planos desse sequestro, se é que houve. E fez uma "negativa peremptória", como diz o jornal. O ex-dirigente, fonte da matéria, após a publicação também desmentiu que a ministra soubesse dos planos do sequestro, com uma contundente carta ao jornal. Acusou a edição de “oportunista” por ter transformado “um não fato do passado (o sequestro que não houve) num factóide do presente (o início de uma sórdida campanha)”, insinuando que a matéria prejudicaria a virtual candidatura da ministra à presidência. A repórter, autora da matéria, replicou: não afirmou que Dilma participou da ação; o entrevistado, na entrevista gravada por telefone, deu a entender que Dilma sabia do plano de sequestro.
Esse bate-boca é muito comum quando o tema é polêmico e o resultado da entrevista não agrada a fonte. Neste domingo (12), a coluna do Ombudsman da Folha, Carlos Eduardo Lins da Silva, criticou a reprodução da ficha policial da ministra Dilma Rousseff, feita durante a ditadura. Considerou “uma forçada de barra” do jornal. “O certo seria colocar ali a foto de Antonio Espinosa”, a fonte da entrevista, diz ele.
A quase totalidade dos leitores em cartas para o Ombudsman disseram que a reportagem prejudicaria as aspirações da candidata Dilma. Segundo o Ombudsman, o dirigente da organização negou ter dito que a ministra tinha conhecimento do plano de sequestro, distinguindo a “informação política” que ela pode ter tido e “informação factual”, que ela não tinha. Embora a reportagem assegure que a operação tinha data e local definidos, isso não foi informado pelo jornal.
A polêmica começou pela extensão da carta do dirigente, enviada ainda no domingo para a Folha e outras publicações. O jornal se negou a publicá-la, solicitando um desmentido mais resumido. Cartas longas sempre serão cortadas. Os jornais dificilmente publicam na íntegra.
Na quarta-feira (7), a Folha, enfim, publicou a carta de Antonio Espinosa, contestando várias informações da matéria. Diante da polêmica, na análise semanal o Ombudsman recomendou a publicação das gravações da entrevista. Com isso, muitas dúvidas suscitadas seriam sanadas e ficaria a cargo dos leitores julgar quem distorceu as informações. O jornal alegou falta de espaço para não publicar a gravação. A matéria teria sido suficiente para expor a opinião da fonte.
Esse imbróglio suscita algumas considerações à luz dos preceitos da gestão de crise. Por princípio, se o tema é polêmico e não existe premência ou obrigação de dar uma entrevista, ao concedê-la a fonte está sujeita a interpretações algumas vezes subjetivas do jornalista ou à divulgação de informações que poderão gerar controvérsia. No jargão jornalístico, a fonte está “esquentando” uma matéria que por vezes nem existia ou não tinha ainda elementos suficientes para ser publicada. Conceder entrevista, nesses casos, sempre implica risco para a fonte.
A imprensa gosta de polêmica, de conflito. Se na entrevista a posição da fonte não ficou bem clara, o jornalista pode entender de modo diferente. A reportagem da Folha tem grande componente político, que ainda não foi bem assimilado e explicado na história do país. A matéria não foi produzida apenas porque há 40 anos o grupo Var-Palmares planejou o sequestro de Delfim Netto. Muitos outros sequestros foram certamente planejados. A notícia, no caso é o envolvimento de Dilma Rousseff – provável candidata a presidente pelo PT – no planejamento das ações. Não devem existir pruridos para mexer com o passado de quem militou no período da ditadura. Qualquer que seja o lado. E principalmente de quem quer ser candidata a presidente da República.
A propósito da fonte, o jornalista Antonio Carlos Azenha diz no seu Blog “quem mandou dar trela à Folha? Acabou usado para um jogo político”. O Ombudsman na análise deste domingo toca num outro ponto importante. Entrevistas sobre temas polêmicos, questionamentos ou denúncias não devem ser dadas por telefone, mas pessoalmente. Essa é uma boa dica.
Mesmo preservadas com a gravação – que deve ser feita também pela fonte - , fica sempre aquele diálogo eletrônico, em que jornalista e fonte não se vêem, não se conhecem e muitas vezes essa distância leva a interpretações que não agradam a fonte. Mesmo quando o jornalista está em outra cidade, se o entrevistado não tiver absoluta convicção de que pode com tranquilidade atendê-lo por telefone, pode-se condicionar a concessão da entrevista à presença do jornalista.
Mas, de quem partiu a iniciativa da entrevista, se o tema era tão complicado? Do jornal, provavelmente. Mas ninguém é obrigado a dar entrevista. Se você não disser, não será publicado, não haverá entrevista. O desgaste de jornalista e fonte são inevitáveis nesses casos. Isso é muito comum, principalmente quando toca em temas sobre os quais a fonte não quer dar todas as informações. A precipitação do ex-dirigente em divulgar sua longa carta em outras publicações também não ajudou a resolver a polêmica. O imbróglio envolvendo as versões da jornalista e da fonte, nesse caso, é tão complicado quanto a história não contada do pseudosequestro de Delfim Netto.
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