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terça-feira, 22 de abril de 2008

A IRONIA EM EÇA DE QUEIRÓS


A IRONIA EM EÇA DE QUEIRÓS


"THE IRONY IN EÇA DE QUEIRÓS"
BRASIL, Clotilde Iemini de Rezende. *

RESUMO

Este trabalho encerra uma amostra do que foi Eça de Queirós. Enfeixa alguns de seus livros, comenta-os ligeiramente, dando pálida idéia daquela verve espontânea e rica. Tenta mostrar o vigor de sua veia satírica, tanto nos romances, como nas polêmicas. Que o digam seus adversários, que conheceram como ninguém, o valor de seu sarcasmo. Focaliza alguns aspectos de um autor que representa uma fase da história de Portugal e através do tempo mantém-se atualizado. Encantou as gerações passadas, continua admirado pelos jovens e encantará as gerações do futuro.

UNITERMOS

Veia satírica, sarcasmo, adversário, polêmica.


ABSTRACT

This work gives a sample of what Eça de Queirós was. It points out some of his books, and slightly comments them, giving a smooth idea from that rich and spontaneous verve. It focus some aspects of an author that represents a phase of the history of Portugal and through the time keeps himself up to dated. He amazed past generations, continues admired by youngsters and will enchant future ones

KEYWORDS

Satirical vein, sarcasm, adversary, controversy.

______________________________
Resumo de dissertação/mestrado (artigo datado de 26/07/2002).
* Professora encarregada da assessoria na área de Língua Portuguesa do Curso de Letras da UNINCOR. Mestre em Educação.

INTRODUÇÃO

A escolha de Eça de Queirós para este trabalho, decorre da idéia de que o autor continua vivo e atuante. Prova disso é a imprensa continuamente estar citando seus personagens. Focaliza Eça e várias etapas de sua tão rica experiência literária.
Começa pelo século XVIII quando foram gestados os acontecimentos que influíram na vida e carreira do escritor. A velha Universidade de Coimbra sempre plasmando o futuro e forjando mentalidades. Portugal, palco fiel onde Eça polariza as convulsões do século: a revolução industrial, estética e intelectual.
A ironia que impregna o estilo de Eça é o motivo da escolha. É leitura agradável e bem humorada. Espalha-se em toda a obra atingindo o ápice nos privlegiados Conde de Abranhos, Conselheiro Acácio e Pacheco que constituem o ponto alto da criação de tipos.

REVISÃO DA LITERATURA

Nascido a 25 de novembro de 1845 em Póvoa do Varzim, e formado em direito pela histórica Universidade de Coimbra, José Maria de Eça de Queirós, desde os primeiros escritos revelou virtudes peculiares, a ironia acima de todas. Surpreendia o ridículo de cada situação, apontava a chaga da sociedade, talvez para forçá-la a se corrigir. O estilo não depende da vontade do homem. Decorre de suas determinantes fisiológicas e psicológicas; apura-se pela educação literária e obedece às circunstâncias extrínsecas.
Eça talvez tenha tido influência de sua família, uma vez que era filho de pais solteiros, foi amamentado e criado pela madrinha até os cinco anos de idade e teve avô revolucionário (antimiguelista) que só não foi enforcado por ter se refugiado no estrangeiro.
Esse mesmo avô, paterno, tempos depois foi nomeado Ouvidor no Rio de Janeiro. O pai de Eça nasceu no Brasil. (FARO, 1977).
Conviveu com toda uma geração de novos escritores o que veio fortalecer seu estilo. Fez parte da famosa geração de 70, em Portugal, envolvida e patrocinadora da não menos famosa Questão Coimbrã. Quando da realização das Conferências do Cassino Lisbonense, foi um dos conferencistas. Proferiu a quarta, sob o título de A Nova Literatura, onde mostrava o Realismo como expressão de arte. (MOISÉS, 1992). A vedete de seus livros, O Crime do Padre Amaro, veio a ser o marco do início do Realismo em Portugal.
Ao tentar entrar na diplomacia, sonho antigo, conseguiu primeiro lugar mas foi preterido pelo segundo colocado. Talvez em represália, de parceria com Ramalho Ortigão, começa a publicar As Farpas, crônica mensal de política, letras e costumes. (MOISÉS, 1977). Mais tarde essas farpas foram aparadas por Portaria do Ministro dos Estrangeiros nomeando Eça cônsul em Havana. Foi por essa época que aconteceram as Conferências do Cassino Lisbonense.
Em suas andanças como cônsul pôde bem observar as pessoas, o que muito ajudou ao criar seus tipos imortais.


Escreve O Primo Basílio, romance estudo da vida burguesa de Lisboa. Trabalho arguto de observação psicológica e palco onde são apresentados o Conselheiro Acácio e Juliana Couceiro. (QUEIRÓS, s/d). Em O Conde de Abranhos, maneja a pena com tal requinte de ironia, sarcasmo e mordacidade , que ela se transforma em afiada navalha de fogo, retalhando a reputação, a capacidade e a cultura dos estadistas portugueses. É uma sátira, uma caricatura contada miudamente pelo secretário particular de um grande homem público.
Publica tempos depois Os Maias, onde narra um caso de incesto. Nele retrata a vida mundana e romanesca da sociedade da época. O autor até se retratou um tanto no personagem João da Ega. O escritor e desafeto de Eça, Bulhão Pato, julgou-se ridicularizado no personagem Tomás de Alencar.
Depois da publicação de Os Maias houve uma polêmica triangular: Pinheiro Chagas e Bulhão Pato contra Eça de Queirós. Começou no jornal O País, do Rio de Janeiro; continuou no O Tempo, Portugal. A imprensa portuguesa e brasileira reproduziram todos os lances. Deu azo à consagração de Eça como polemista. (FARO, 1977).
Mostrou ser exímio polemista, quando foi chamado a isso. Não decepcionando seu fiel público leitor.
Com Os Maias completa-se o estudo, a sátira à vida lisboeta do final do século XIX. Entretanto logo depois vem a público o primeiro fascículo de O Mandarim, conto fantástico em que Eça, através da mentalidade vigente na época, analisa o caráter português, concluindo que o medo do castigo temporal imediato é muito mais eficaz na repressão ao crime do que a promessa de uma duvidosa recompensa em vida ulterior.
O que agrada em Eça, não é a invenção de palavras novas nem o malabarismo em busca do inédito sensacional. É a maneira imprevista e elegante com que ele diz coisas velhas usando os mesmos velhos termos. Criou novo estilo, fundou nova estética. Com o passar do tempo Eça amadurece. Arrefece-lhe o ardor panfletário. (BELLO, 1977).
Como romancista social, Eça perseguiu a verdade fustigando a estrutura de um mundo arquitetado com erros e vícios. Preocupou-se com a injustiça e com o colorido da verve disfarçava suas investidas. (CAVALCANTI, 1966).
Conhecendo o jogo infinito da combinação das palavras Eça, assim como Flaubert, sabia que a menor alteração na ordem tradicional, insufla matizes insuspeitáveis e cria novo brilho nas expressões banalizadas pelo uso.
Uma língua rica não é a que tem vocabulário asfixiante mas a que permite flexibilidade combinatória. Em alguns estilos, o autor fica na penumbra. Não Eça. Ele situa-se entre o leitor e os fatos e oferece uma versão tão manipulada pela sua personalidade, que o relato se torna indissociável dela. (DA CALL, 1969).
Eça acreditava na virtude social do riso; devia aplicar-se o riso como específico de cura.
Não tem a intenção de usá-lo pouco; seu estilo chega a vincar a face com o ríctus da constante ironia. Essa ironia é quase sempre espontânea mas, às vezes é também irritante e profissional. Tudo lhe serve para provocar o riso, para mostrar que Portugal está fora da atualidade, tudo lá é antiquado e mesquinho. Descobre, através dos manifestos de Antero de Quental, que à sua geração cabe o dever de reerguer Portugal, da apatia, e incorporá-lo ao movimento do século XIX. (MOOG, 1977).
"Fica-se a pensar que só um espírito superior, como o de Eça de Queirós, que via e apreciava as Almas e o Mundo através do brilho cintilante do seu monóculo, nos poderia dar as belas, as incomparáveis, as imorredoiras páginas que enchem uma Literatura e eternizam uma Nacionalidade." (LELLO & IRMÃO, s/d).
Falecido em Paris a 16 de agosto de 1900, tendo ao lado a esposa e os dois filhos, seu corpo

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foi trasladado para Lisboa. O centenário de seu nascimento foi comemorado com a edição de toda sua obra na publicação Centenário de Eça de Queirós.

PROPOSIÇÃO

É responsabilidade da geração atual, manter a geração emergente informada dos valores da literatura do passado, principalmente quando se trata de um autor como Eça, que arrebanhava leitores de carteirinha, nos dois lados do Atlântico.
Dar a conhecer e fazer amar um estilo, onde o humor e a finura serviam para aprimorar os critérios da grande massa. Acostumá-la à sutileza dos argumentos, aguçando a mente e saneando os costumes; dar-lhe o hábito de julgar e separar o joio do trigo.

METODOLOGIA

O presente trabalho é uma pesquisa qualitativa do tipo bibliográfica.
Foram consultadas as principais obras existentes sobre o tema.

RESULTADOS

Arrematado truísmo acaciano seria afirmar ter sido Eça de Queirós escritor de linguagem escorreita, narrador admirável, com alto senso de psicologia, penetração arguta e sobretudo ironista impenitente, tendo olhos especiais que captam com fidelidade o flanco ridículo e grotesco das pessoas. Ourives da palavra, burilador do período, o que torna todos os seus textos autênticas jóias do mais fino lavor artístico que o leitor jamais se fatiga de contemplar. A fácil deglutição, suave digestibilidade de seus textos são de tal teor que nunca saciam o apetite de seus leitores, que demandavam cada vez mais o trabalho de sua lavra. Mas o escritor jamais se precipitou; só expunha suas preciosas gemas depois de cuidadosamente facetadas, polidas, esmerilhadas. Não raras vezes recolheu seus lavores para úteis remanejos nos seus contornos, tal como aconteceu com O Primo Basílio, o Padre Amaro e O Conde de Abranhos. Seu gosto artístico era portador de constante ânsia de perfeição; daí ser sua obra sempre tão realista, tão bela, tão compreensível, expressiva e acima de tudo, tão aliciante.
Tudo isso já se tornou lugar-comum, e, como foi dito, conceitos pacheco-acacianos.
Apreciemos a obra.

1. Primo Basílio

O Primo Basílio, (QUEIRÓS, s/d), focaliza um adultério lisboeta.
Dá a Eça a oportunidade de criar seu mais famoso tipo, o Conselheiro Acácio, tão conhecido que mereceu ser perpetuado no Dicionário da Língua Portuguesa. O verbete acaciano significa ridiculamente sentencioso pelo tom convencional e vazio de sentido e/ou pela aparatosa gravidade das maneiras lembrando o Conselheiro Acácio, personagem eciano do romance O Primo Basílio.
O Conselheiro Acácio, provavel-mente inspirado em algum figurão da época, não escapa a nenhum ridículo, inclusive o concubinato com a governante que o trai com o caixeiro. Quanto a ele, se esquiva da apaixonada D. Felicidade afirmando: - "É inútil, minha senhora, as neves que na fronte se acumulam, terminam por cair no coração." (QUEIRÓS, s/d).
Introduz também a imortal Juliana, quarteira da esposa adúltera. Descobre a culpa, favorece-a, documenta-se e chantageia a patroa. Eça não a inventou; ela é a encarnação da serpente que enganou Eva no paraíso. Torturou a pobre Luísa e morreu vítima de sua própria trama.


2. Crime do Padre Amaro

É a vedete da obra eciana, marco literário da instalação do realismo em Portugal. O romance O Crime do Padre Amaro, (QUEIRÓS, s/d), é eminentemente emocional e diríamos também freudiano se na época existissem Freud e freudiano. A intriga se desenvolve entre salas, salões, cozinhas, alcovas e sacristias num roçagar de saias e batinas, para terminar num grosso dramalhão de final de ópera italiana.
Desencadeou onda de surpresa, crítica e aplausos pelo inusitado do enredo publicado na Revista Ocidental. O autor agride a corrupção reinante mas não é contra o clero pois não poupa elogios ao abade Ferrão que na Ricoça ameniza a agonia de Amélia. Abordando o celibato clerical, Eça escandalizou a sociedade ou ajudou a alertar as elites eclesiásticas para o problema que teve apogeu na reforma de Lutero e agora tem razoável solução. Eça foi acusado de plágio, da obra de Zola, La Faute de l'Abbé Mouret, sem razão, pois o presbítero português apareceu em público, muito antes que o clérigo francês. Portanto a imputação peca por falta de ordem cronológica e também pela ausência de semelhança nos enredos. O escritor brasileiro Bernardo Guimarães, muito antes dos europeus, no seu romance O Seminarista explorou o mesmo enredo. Então porque não acusar ambos de imitadores de nosso escritor?

3. Conde de Abranhos

Nessa obra surge o Conde, na biografia feita por seu antigo secretário, Z. Zagallo. Este, querendo engrandecê-lo, ingenuamente leva a sério as tiradas do personagem; cria um clima hilariante pelo absurdo das situações de um cretino bem sucedido.
O romance nasceu na França, produto do conhecimento que o autor adquiriu na vida político-administrativa do seu país. O verniz da sebenta mal disfarça a casca grossa que o reveste. Como Ministro das Colônias confunde a localização de Angola e advertido, escapa pela tangente: - "O que interessa não é a localização e sim o bem-estar e a prosperidade do seu povo." Foi aplaudido com entusiasmo.
Aparece também nesse livro o Gama Torres "com sua longa testa de entradas altas cheias de idéias avaramente escondidas." (QUEIRÓS, s/d).
O Conde, Acácio e Pacheco são os tipos mais burlescos da obra eciana.
A segunda edição do Conde de Abranhos é póstuma e quase custou a destruição do monumento dedicado a Eça. A população enfurecida pelas zombarias endereçadas à elite governamental, quase destruiu o monumento. Obra do escultor Teixeira Lopes, é um busto de Eça segurando uma mulher nua, velada por fino e transparente estofo e no pedestal a legenda que serviu de intróito à Relíquia: "Sobre a nudez forte da verdade, o manto diáfano da fantasia."

4. A Relíquia

Constitui uma narrativa humorística e com viva ironia, extraída de A Morte de Jesus, (QUEIRÓS, s/d), e elocubrada quando de sua viagem ao Oriente. O personagem Teodorico Raposo, afilhado carnal do pároco de Évora, excede qualquer competidor em luxúria, relações pecaminosas, refocilagem, gula e dissimulação.
A Titi, rica, solteirona irremissível em todas as implicações do seu estado, cria, educa e doutora o sobrinho, produto do pecado de sua falecida, desventurada e desavergonhada irmã.
Teodorico é um hipócrita que equilibra como pode seus baixos instintos, para que a Titi o faça seu herdeiro. Por ordem dela faz uma romaria à Terra Santa, apesar de sonhar com Paris e


bataclãs, para auferir indulgências e benesses.Ao voltar, por desastrado equívoco, troca a relíquia da Titi, um fac símile da coroa de Cristo, por uma camisola impregnada de pecado ganha como souvenir de uma meretriz no Cairo.
Perde, além da confiança da Titi, a cobiçada herança.
É expulso pela tia. No final redimese tornando-se honesto, não por dignidade mas por velhacaria. Eça tira grande partido dessas situações.

5. Outros Tipos de Eça

Outro tipo inesquecível nos obsequia Eça na Correspondência de Fradique Mendes, (QUEIRÓS, s/d), pseudônimo que, pela segunda vez adota e faz a apresentação de seu Pacheco, fátuo, ambicioso, vaidoso, legítimo parente de seus irmãos materiais: o Conselheiro Acácio e o Conde. Já em A Cidade e as Serras (idem), nos apresenta a Jacinto de Tormes, festejado e admirado, e em O Mandarim, (idem), temos o pequeno burocrata Teo-doro. Juntamente com seu progenitor vul-neraram o acesso à imortalidade de onde jamais sairão.
Em Carta aos Estudantes do Brasil, (QUEIRÓS, s/d), Eça fala de um derrame de Legiões de Honra pelo Presidente da República Francesa. Uma das pessoas atingidas foi a famosa atriz dramática Sarah Bernardt. O Fígaro, barbeiro indiscreto e bisbilhoteiro, não se convenceu inteiramente do mérito da distinção e abriu em suas colunas espaço para que os agraciados justificassem a razão da prenda.
Sarah, sem o menor constrangimento, espalhou em negrito e letra de forma, suas justificativas: Ninguém mais do que ela mereceu a distinção. No Canadá um cortejo de trenós levando os três poderes a escoltaram de Quebec a Otawa. Na Austrália foi um delírio de pessoas que decidiram aprender e adotar o francês em suas conversações, e por aí vai a dramá-tica navegando tranqüilamente num mar de cabotinismo e megalomania. Porém o que embasbacou o missivista, foi o que ela disse ter acontecido no Rio de Janeiro. Os estudantes, na porta do hotel, desatrelaram as cavalgaduras e disputaram a sabre e espada, o privilégio de ocupar os varais e tiras da carruagem da divina Sarah.
O missivista não traga a assertiva da comediante mas se reporta a Kant com a Crítica da Razão Pura, objetivismo e subjetivismo. Não vale por si só a existência de um fato, basta entretanto, a crença na sua existência. Assim, mesmo que Jesus Cristo não tenha existido, a simples crença na sua existência, firma a mesma, logo, existiu porque se crê nele.Assim, pois, embora não creia ele, o missivista, que os estudantes do Brasil se hajam transformado em animais de tração, a verdade é que o mundo intelectual da Europa crê nisso, portanto, atuais estudantes brasileiros, futuros doutores, viraram burros de carroça e correm o risco de qualquer intérprete de Fedra ou Margherite Gautier, chegando ao Rio, chegue ao patamar do hotel e grite ao porteiro: - "Estou pronta. Pode atrelar os estudantes."
Mas não se agastem os acadêmicos de além-mar, porque neste andar, quando a divina intérprete voltar aos Estados Unidos, de lá retornará dizendo que todas as manhãs, em Washington lhe proporcionaram um passeio a cavalo, no lombo do Presidente.

DISCUSSÃO

Basílio é um mau elemento. Vaidoso, insensível, moralmente deformado, procura extrair da situação todas as vantagens, sem se comprometer. Explora a futilidade de sua parceira e não se comove com a trágica conseqüência de sua pecaminosa aventura.


Juliana Couceiro por falta de habilidade em se fazer útil e querida, curte a rejeição em seu próprio meio; fica amarga e vingativa; odeia quem é feliz. Tortura a pobre Luísa e acaba vítima de sua própria trama.
Conselheiro Acácio. É o mais requintado retrato do imbecil. Tornou-se tão famoso por suas tiradas que mereceu um verbete no dicionário.
O Conde de Abranhos descreve algum político famoso, possivelmente inimigo do autor, um prodígio de cretinice bem sucedida. É digno de encarnar a expressão triunfo do idiota, cunhada pelo dramaturgo Nelson Rodrigues.
Teodorico Raposo, na Relíquia, é a hipocrisia em cena.
Titi é a beata característica de Eça.
Jacinto de Tormes é o Príncipe da Grã-Ventura. Em A Cidade e as Serras, Eça extirpou a ironia amarga de seu estilo e nos presenteia com uma pintura da felicidade paradisíaca. O nome do personagem se tornou tão conhecido que um famoso cronista social escolheu Jacinto de Tormes para seu pseudônimo literário.
O personagem foi inspirado por Eduardo Prado, escritor paulista, amigo de Eça, exilado na Europa.
Teodoro em O Mandarim, termina convencido que um sofrimento infligido hoje, agora, tem muito mais força que a ameaça dos tormentos do inferno, no outro mundo.

CONCLUSÃO

Pois bem, este despretensioso estudo não comporta maiores incursões nesta selva selvagia que é a obra literária de José Maria de Eça de Queirós. Aqui a encerramos. Note-se, entretanto, que o autor teve os maiores detratores entre seus contemporâneos; manejando sempre as armas da ironia, semeou admiração com uma das mãos, enquanto o ódio manava da outra.
Escreveu também Vida de Santo Onofre e Vida de São Cristóvão, O Suave Milagre e muitos outros contos, para enlevo de certa classe de ledores despreveni-dos de que tais composições encerrem a mesma mensagem contida nas mais viperinas de suas sátiras.
Mas por esse tempo Eça havia aprimorado sua verve e a tornado mais sutil.
Imputam-lhe a condição de deletério, sem considerar que deletéria era a época em que viveu, quando, por tal modo se dissolviam os costumes, que o carinhoso apelido de Alfacinha, dado ao lisboeta chegou a ter o significado de proxeneta. O escritor corrompeu uma sociedade ou apenas alertou as elites descrevendo os fenômenos de uma sociedade dissoluta? Induziu o clero a se perverter, ou apenas advertiu as autoridades eclesiásticas para a prática constante do grande pecado canônico da intolerância?
Fácil confusão nas relações entre causa e efeito, mas a verdade é que a advertência ecoou com proveito nos Conselhos Religiosos dos dias que correm.
E com que proveito!!
Não nos animou propósito de defender ou justificar o autor, mas a imputação que se possa assacar contra sua obra, seria a inatualidade por carência das causas, nos tempos hodiernos e abundância das mesmas, ao tempo em que ela foi engendrada. Mas hoje os tempos mudaram, e a leitura de Eça "sugere-nos esta observação paradoxal: com o passar dos anos o livro ganhou atualidade. Os tempos e os homens parecem querer encarregar-se de transformar em realidade flagrante o que não passava de exagero burlesco." (LELLO & IRMÃO, s/d).
Ele mesmo, escrevendo em seguida ao Conde d'Abranhos a Catástrofe, (QUEIRÓS, s/d), revelou uma visão profética ou, um sonho premonitório, antevendo que sua pátria, cozinhada longamente


no caldo de sua própria corrupção, desídia e inércia gestou demoradamente a longa ditadura salazarista que viria colocar Portugal à margem do desenvolvimento cultural, social e econômico, transformando em um país de hoteleiros, garçons e cicerones o que outrora, no tempo da Escola de Sagres quando o povo português deslumbrou a humanidade com seus ousados conquistadores e marinheiros, realizou proezas "mais do que permitia a força humana." (CAMÕES, 1980).
"por mares nunca dantes navegados."(idem).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

01 BELLO, José Maria. Retrato de Eça de Queirós. 2ª edição. Volume 73. São Paulo : Ed Nacional. 1977.
02 CAVALCANTI, Paulo. Eça de Queirós, agitador no Brasil. São Paulo : Ed. Nacional. 1966.
03 DA CAL, Ernesto Guerra. Língua e Estilo de Eça de Queirós. Rio de Janeiro : Ed. da Universidade de São Paulo. 1969.
04 FARO, Arnaldo. Eça e o Brasil. Volume 358. São Paulo : Ed. Nacional. 1977.
05 MOISÉS, Massaud. A Literatura Portuguesa Através de Textos. 25ª edição, revista e aumentada. São Paulo : Ed. Cultrix. 1997.
06 MOISÉS, Massaud. A Literatura Portuguesa. 27ª edição, revista e aumentada. São Paulo : Ed. Cultrix. 1992.
07 MOOG, Vianna. Eça de Queirós e o Século XIX. 6ª edição. Rio de Janeiro : Ed. Nova Fronteira. 1977.
08 QUEIRÓS, Eça de. Obra Completa. Organizada em 1925 por seu filho e homônimo. Volumes I, II e III. Porto. Portugal : Lello & Irmão Editores. [1925]

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O monumento a Eça de Queiroz.

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Eça de Queiroz no Coleccionismo

Eça de Queiroz no Coleccionismo (1)


Paulo Sá Machado

Figura importante das letras portuguesas, Eça de Queiroz não poderia passar ao largo do Coleccionismo. Assim podemos apreciar Eça de Queiroz nas mais diferentes formas de Coleccionismo, desde a filatelia, filumenismo, medalhística, cartofilia, notafilia, cartões telefónicos, gravuras, estatuária e como não poderia deixar de ser na bibliófilia, onde as primeiras edições, traduções e obras do autor têm lugar de destaque.

O Colecconismo será uma das formas mais nobres de se juntar conhecimento, e podemos afirmar sem sombra de qualquer dúvida que o Homem é um coleccionador nato. O próprio progresso da Humanidade e do Saber é um somatório de colecções dos primitivos conhecimentos.

Mas e contrariando os cânones, de que a filatelia e a numismática são as formas de colecção mais divulgadas e praticadas no mundo, como tal com honras de primazia, não nos podemos esquecer que em grande parte das casas existe sempre uma pequena biblioteca, principalmente, naquelas onde o gosto pela leitura, para além de um prazer é um hábito.


Filatelia

Fig. 1

Em 1995, a 27 de Outubro, surge o primeiro selo português dedicado a Eça de Queiroz (fig. 1) comemorativo dos 150 Anos do seu Nascimento. Foi desenhado por João Abel Manta, impresso em papel 102 g/m2 na Imprensa Nacional - Casa da Moeda em off-set com denteado 12 x 12½.

Foi editado um sobrescrito comemorativo pelos CTT, apostos carimbos comemorativos de 1.º Dia de Circulação, em Lisboa, Porto, Coimbra, Évora, Faro, Funchal, Ponta Delgada, todos estes iguais, e um diferente na Póvoa de Varzim (fig. 2, 3).

Carimbos Carimbo
Fig. 2 e 3

Para divulgação deste selo e como é usual, foi editada uma pagela anunciadora onde para além dos dados técnicos, inclui o seguinte texto do Dr. João Bigotte Chorão:


O "pobre homem da Póvoa de Varzim" como humildemente se intitulava Eça de Queiroz, nasceu há 150 anos. Século e meio depois, continua vivo e admirável estilista da língua portuguesa. a que ele deu uma graça muito própria, continuando e aperfeiçoando a lição do Garrett das "Viagens da Minha Terra".

Ao contrário de Camilo e seus herdeiros, que exploraram toda a riqueza da língua, Eça procurou, sobretudo, tomá-la mais leve, mais macia e elegante. Se a espinha dorsal da língua é o verbo e o substantivo, Eça aplicou toda a sua arte e engenho ao adjectivo, ao qual extraiu os mais inesperados e felizes efeitos.

Lê-se muitas vezes Eça de Queiroz pelo gosto de saborear um artista cuja leitura é sempre uma renovada delícia. Só depois é que vem o interesse pelo mundo queirosiano - o mundo da média e da alta burguesia, da aristocracia decadente, dos meios literários, jornalísticos e políticos, dos homens e das mulheres dos seus tiques e seus ridículos.

Subtil estilista, Eça de Queiroz é também um refinado caricaturista. Ora a caricatura, exagerando os traços, é um processo característico romântico, que põe em causa a "objectividade" realista do escritor.

A vocação de Eça é uma vocação romântica, também pelo gosto do fantástico dos seus primeiros e derradeiros textos - das "Prosas Bárbaras" às "Ultimas Páginas". Como outros autores, Eça de Queiroz violentou a sua vocação, mas publicou entretanto um grande romance de actualidades, "Os Maias" (1888) e uma obra de compromisso, "A Ilustre Casa de Ramires" (1900), que retoma em parte o romance histórico, tão caro aos românticos.

Este último livro é a reconciliação do escritor com valores que ridicularizara e é, ainda, um encontro consigo mesmo: com o seu romantismo congénito.

Despedindo-se do mundo em 1900, Eça de Queiroz despedia-se também daquele século XIX, que é o século romântico por excelência.

De 18 a 25 de Novembro de 1995 realiza-se no Casino da Póvoa de Varzim a Exposição Nacional de Filatelia "Comemorativa dos 150 anos do nascimento do escritor poveiro José Maria Eça de Queiroz", como reza o cartaz. No dia 25 de Novembro de 1995, é aposto um carimbo comemorativo (fig. 4) que reproduz a estátua do escritor que se encontra na cidade.

1º Dia Circulação
Fig. 4

Realce vai para a homenagem que os Correios Brasileiros fazem do Escritor e à Póvoa de Varzim, concedendo um carimbo comemorativo para ser aposto na correspondência no dia 25 de Novembro, na altura em que decorre a Exposição Filatélica (fig. 5).

Carimbo brasileiro
Fig. 5

Já antes a 2 de Setembro de 1995 a Associação Poveira de Coleccionismo, realiza o Salão de Filatelia "Estio'95" que é assinalado com um carimbo com Eça de Queiroz (fig. 6).

Carimbo
Fig. 6

Entretanto o Brasil, país que tanto admira e lê Eça, e onde existem várias tertúlias dedicadas ao estudo do escritor, e graças a esforços desenvolvidos por muitos filatelistas quer portugueses, quer brasileiros, emite também a 27 de Outubro de 1995, um selo dedicado a Eça de Queiroz, com desenho de Fernando Lopes, impresso em offset em papel couché gomado com fosforescência impressa nas margens e de valor facial de R$ 0,15 e que teve uma tiragem de 3.000.200 exemplares, integrado numa série de três selos onde também são homenageados Carlos Drummond de Andrade e Rubem Braga.

O estudo do selo (fig. 7) é nos enviado para apreciação.

Estudo do selo
Fig. 7

Na pagela do Brasil divulgadora da emissão, diz


... Eça de Queiroz, romancista e contista português, que exerceu grande influência na formação das gerações mais brilhantes da cultura brasileira, a partir do final do século XIX.

Romancista, contista, cronista, crítico literário e epistológrafo, José Maria Eça de Queiroz, nome de baptismo do grande escritor, nasce na Póvoa de Varzim, Portugal, em 25 de Novembro de 1845 e falece a 16 de Agosto e 1900 na cidade de Paris, França.

Eça de Queiroz inicia os seus estudos na cidade do Porto/Portugal, Diploma-se em Direito em 1866 pela Universidade de Coimbra.

Após a sua formatura, o escritor exerce durante algum tempo a advocacia em Lisboa; funda e dirige o jornal político de oposição "Distrito de Évora". Em 1867, integra o Cenáculo, grupo composto por intelectuais que desencadeia o movimento realista em Portugal. Vivendo em uma época em que os movimentos reivindicatórios socialistas adquirem força e influenciam a arte, este grupo procura apresentar produções artísticas comprometidas com a transformação da sociedade.

Eça faz a estreia literária em 1866, no jornal "Gazeta de Portugal" e publica os seus primeiros versos na revista "Revolução de Setembro", com o pseudónimo de Carlos Fradique Mendes, suposto interlocutor com quem se corresponde. Ao longo da sua vida colabora em inúmeros periódicos, entre eles diversos jornais.

Conforme aponta o professor e ensaísta Jorge Fernandes da Silveira, Eça de Queiroz semeia, ao lado de Cesário Verde, seu contemporâneo, uma nova maneira de "escrever Portugal", que seria amplamente utilizada e difundida ao longo do século XX pelos escritores portugueses. Escritor irónico, revitaliza a prosa de seu país com neologismos e recursos da língua falada, evitando o purismo tradicional.

Considerado por alguns críticos literários o representante máximo do Realismo-Naturalismo português Eça tornou-se, aos olhos de João Gaspar Simões, uma "das maiores figuras da literatura portuguesa de todos os tempos, e sem dúvida alguma o escritor que deu à língua literária de Portugal e do Brasil a sua fluidez, a sua maleabilidade e a sua actualidade.

Os Correios Brasileiros editaram uma série de carimbos comemorativos de 1.º dia de circulação (fig. 8).

FDC brasileiro
Fig. 8

No ano 2000, a 16 de Agosto, os Correios de Portugal editam um novo selo dedicado a assinalar o Centenário da Morte de Eça, de valor facial de 85$00, desenhado por Luís Filipe Abreu, impresso em offset na Lito Maia em papel de 102 g/m2 (fig. 9).

Selo português
Fig. 9

Foram apostos carimbos de 1º Dia de Circulação em Lisboa, Porto, Coimbra, Évora, Faro, Funchal, Ponta Delgada e Póvoa de Varzim (fig. 10).

FDC
Fig. 10

Na pagela anunciadora da emissão podemos ler:


Cem anos depois da sua morte, Eça de Queiroz (1845-1900) continua vivo, mais vivo até do que há um ano. Não conheceu como tantos grandes autores, esse purgatório ou crepúsculo que sucede à morte. Continua a ser um escritor muito lido e muito estudado. Há quem o leia e releia por puro prazer estético e há quem o admire pelo dom de contar uma história bem contada. Uma história à boa maneira oitocentista, com princípio, meio e fim, e personagens inolvidavelmente retratadas e típicas, além de todo um tropel de comparsas, que são como a moldura do quadro da sociedade portuguesa do século XIX. Em Eça, uns preferem o ficcionista, outros o cronista, enfim outros o epistológrafo, mesmo que as cartas sejam forjadas, como as do imaginário Fradique Mendes, mais do que um alter ego ou projecção do escritor, um verdadeiro heterónimo com a sua vida e escritos próprios. Títulos maiores de uma obra longa para a vida tão curta: "Os Maias", um romance de vasta respiração, como poucos se escreveram em Portugal; "A Ilustre Casa de Ramires", um romance em dois registos ou tempos, o passado e o presente entrelaçados; os "Contos", espécie de mosaico de todo o Eça, realista e fantástico, irónico e comovido; "Notas Contemporâneas", sobre temas e figuras da sua época, captadas com aguda observação e sentido crítico; "Correspondência" de Fradique Mendes, uma arte de viver, de filosofar, de escrever. Sinal de contradição como todos os homens de estatura fora do comum, Eça de Queiroz foi acusado de afrancesado pelo seu modo de escrever e de estrangeirado pelo seu modo de ser. Na verdade, ele é um dos maiores estilistas da nossa língua e um português que, vivendo longe da Pátria, sofria a saudade incurável da paisagem, do clima, da gastronomia e dos vinhos portugueses.

Durante a Exposição Filatélica Luso-Espanhola de Inteiros Postais e Maximafilia. INTEIROMAX/EÇA DE QUEIROZ, realizada de 16 a 19 de Agosto de 2000, foram apostos carimbos comemorativos com o retrato de Eça no dia 17 de Agosto (fig. 11) e no dia 19 de Agosto (fig. 12) este com a reprodução da estátua de Eça da Póvoa de Varzim.

carimbo comemorativo
carimbo comemorativo
Fig. 11 e 12

A 29 de Novembro de 2000, e numa organização da Associação Filatélica Alentejana realiza-se uma Mostra Filatélica - Homenagem a Eça de Queiroz, a quem é concedido um carimbo comemorativo com a reprodução de uma foto de Eça (fig. 13).

carimbo
Fig. 13

Como nota interessante, existe uma Estação dos Correios no Porto, que e denominada "Eça de Queiroz" ,e que fica situada na Alameda Prof. Bento Jesus Caraça.


Inteiros Postais

Um dos ramos da filatelia são os denominados inteiros postais, os populares bilhetes postais, que foram muito utilizados até aos anos 70 e depois caíram em desuso, pois a taxa de carta passou a ser igual ao postal, e hoje praticamente só são utilizados por pessoas que pretendem concorrer aos concursos televisivos.

São postais que têm impresso os selos, ou tem indicação de que o porte já se encontra pago.

Eça de Queiroz também tem um inteiro, editado em Janeiro de 1948 e incluído na Série "Conheça os Seus Prosadores" com a taxa de $30. Os inteiros postais foram desenhados pelo Mestre Jaime Martins Barata, Directos dos Serviços Artísticos dos CTT, na altura. Impressos em cartolina creme esbranquiçada, com impressão a verde azeitona.

A tiragem foi de 14.000 exemplares.

O inteiro postal dedicado a Eça de Queiroz é o número 23 (fig. 14) (composta por 26 postais), apresentando impresso a preto e no lado direito Pe. Vieira e "Bilhete Postal - Correio de Portugal $30" . Do lado esquerdo também a preto o texto:

Inteiro Postal
Fig. 14

(Os Livros e as Nações)

A Arte é tudo - tudo o resto é nada. Só um livro é capaz de fazer a imortalidade de um povo. Leónidas ou Péricles, não bastariam para que a velha Grécia ainda vivesse, nova e radiosa. nos nossos espíritos: foi-lhe preciso ter Aristófanes e Ésquilo. Tudo é efémero e ôco nas sociedades - sôbre tudo o que nelas mais nos deslumbra. Podes-me tu dizer quem foram no tempo de Shakespeare os grandes banqueiros e as formosas mulheres?

Eça de Queiroz
(Século XIX)
Do Prefácio dos "Azulejos

Em 1948 estes inteiros postais, em virtude de alteração do porte, entretanto verificado, são sobrecarregados a vermelho com a taxa de $50 (fig. 15), e a taxa de $30 anulada com dois traços igualmente a vermelho.

Fig. 15







Eça de Queiroz no Coleccionismo (2)


Paulo Sá Machado

Cartofilia

Os primeiros postais referentes a Eça de Queiroz datam de 1903, nº 8 das Edições Martins de Lisboa, e retratam a estátua de Eça de Queiroz , com uma senhora semi-nua, de autoria de Teixeira Lopes e que representava a "Verdade" (fig. 16). Surge outro muito semelhante a cores no ano de 1905 mas com a imagem mais longe (fig. 17), Outras edições desta mesma estátua são publicadas como as edições Costa de 1909, postal n.º 1703 (fig. 18) e em 1917 novo postal das Edições Costa mas com o nº 1931 (fig. 19). Em 1934 Edição Postalfoto n.º 276 (fig. 20), em 1936 Colecção Passaporte "Loty) (fig. 21). Noutra perspectiva surge a estátua reproduzida em 1935 (?) numa edição Triângulo Vermelho (fig. 22).

Postal Ilustrado Postal Ilustrado
Postal Ilustrado Postal Ilustrado
Fig. 16 a 19

- O primeiro postal com um retrato de Eça, de autoria de António Carneiro - 1909 é impresso em Paris na Imp. Kossuth & Cie, com o autografo de Eça e com a frase "Sobre a nudez forte da verdade o manto diáfano da fantasia" (fig. 23).

Postal Ilustrado Postal Ilustrado
Postal Ilustrado Postal Ilustrado
Fig. 20 a 23

- Nos anos 60 surge um postal editado pelo Museu Rafael Bordalo Pinheiro, que é o busto de Eça de Queiroz em barro policromado. Rafael Bordalo Pinheiro, 1901, Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha.

- Também pela Colecção Dulia é editado um postal com n.º 785 - Vila do Conde com uma foto que reproduz a "Casa onde viveu Eça de Queiroz".

- Muito mais tarde, em 1976, surge uma colecção de postais dedicados a Eça, sem indicação de autor nem de tipografia, a duas cores, que reproduzem o Escritor e fases da sua vida com familiares.

- Durante a Exposição Filatélica "Póvoa do Mar 90" o "Grupo 6", lança uma colecção de postais dos quais um é dedicado a Eça.


n.º 5 - Monumento ao Cego do Maio, A Eça de Queiroz e a Vasques Calafate.
n.º 5a) - idem, com sobrecarga de Convite para a Inauguração da exposição n.º 5b) - idem, impresso na cor castanha

- Nova colecção é mandada confeccionar pelo "Grupo 6", esta dedicada a 12 Escritores Poveiros.


n.º 28 - Eça de Queiroz

- Mais recentemente, no ano de 1995, o "Grupo 6" da Póvoa de Varzim e para comemorar os 150 anos do nascimento de Eça de Queiroz editam uma colecção de cinco postais que representam:


n.º 40 - Eça de Queiroz
n.º 41 - Eça na Praça do Almada
n.º 42 - Eça de Queiroz na Literatura
n.º 43 - Nota do Banco de Portugal com a efígie de Eça de Queiroz
n.º 44 - Monumentos a Eça de Queiroz.

- Também em 1995 o Circulo Católico d'Operários de Vila do Conde edita um postal, que é a reprodução da gravura abaixo descrita.

- Em 1989 Eça de Queiroz surge num postal editado pela Biblioteca Nacional, um desenho de Jorge Colaço, In "A Revista": ilustração luso-brazileira, Paris. 20 Jun. 1893.

- A Associação Poveira de Coleccionismo, edita em 1995 uma série também dedicada aos 150 anos do seu nascimento:


n.º 10 - Retrato
n.º 11 - Eça de Queiroz
n.º 12 - Retrato
n.º 13 - Placa existente no prédio na Praça do Almada
n.º 14 - Reprodução do Monumento existente no Rio de Janeiro em honra de Eça.
n.º 17 - Chafariz do Século XIX existente no Largo Eça de Queiroz

- No ano 2000 para assinalar o Centenário da Morte de Eça de Queiroz o "Grupo 6", com o apoio do Pelouro da Cultura e da Biblioteca Municipal Rocha Peixoto, emite uma nova série de postais:


n.º 55 - Caricatura de Bordalo Pinheiro no "Álbum das Glórias" (1880)
n.º 56 - Capa da 1ª edição "O Primo Basílio"
n.º 57 - Capa da 1ª edição "A Ilustre Casa de Ramires"
n.º 58 - Capa da 1ª edição "As Minas de Salomão"
n.º 59 - Capa da 1ª edição "O Mandarim"
n.º 60 - Capa da 1ª edição "Cartas Familiares"
n.º 61 - Capa da 1ª edição "O Crime do Padre Amaro"
n.º 62 - Capa da 1ª edição "Últimas Páginas"
n.º 63 - Capa da 1ª edição "A Cidade e as Serras"
n.º 64 - Capa da 1ª edição "Alves & Cª"
n.º 65 - Capa da 1ª edição "Notas Contemporâneas"
n.º 66 - Capa da 1ª edição "A Correspondência" de Fradique Mendes
n.º 67 - Capa da 1ª edição "A Relíquia" (Colecção Livros do Globo)
n.º 68 - Capa da 1ª edição "Os Maias" - 1º volume
n.º 69 - Capa da 1ª edição "Os Maias" - 2º volume
n.º 70 - Capa da 1ª edição "A Relíquia"

- No Natal de 2000 o "Grupo 6" editou um postal de Boas Festas que reproduz toda a colecção de postais atrás descritos.

- Em Abril de 2000 a Associação Poveira de Coleccionismo lança uma série de postais dedicados ao Centenário da morte do Escritor Poveiro, José Maria Eça de Queiroz, impressa por C. Calafate Herdeiros, Lda. na cor cinzento escuro.


n.º 53 - Eça, pintura de Columbano 1899
n.º 54 - Retrato, segunda edição "Prosas Barbaras"
n.º 55 - Com os filhos, Maria e José Maria
n.º 56 - A célebre Estatueta
n.º 57 - Escultura de Joaquim Correia
n.º 58 - Escultura de Teixeira Lopes (parte) em Lisboa
n.º 59 - No jardim de Neuilly
n.º 60 - Grupo "Os Cinco" - Palácio de Cristal 1884
n.º 61 - Os Vencidos da Vida.

Na cor castanha vermelha


n.º 62 - Eça
n.º 63- Monumento na Praça do Almada

Em Julho, na cor cinzento escuro


n.º 64 - Eça (faz parte do convite para o Banquete de Palmarés da Inteiromax /Eça de Queiroz 2000.

- Os Correios de Portugal editaram uma série de 6 postais comemorativos do Centenário da Morte de Eça de Queiroz que reproduzem outras tantas obras de arte, realizadas por artistas actuais.


"Os Maias" - Maria Eduarda em Sintra - Bartolomeu dos Santos. Técnica mista sobre papel, 2000. Col. CTT (fig. 24)
"A Relíquia" - João Abel Manta. Óleo sobre tela, 2000. Col. CTT (fig. 25)
"O Mandarim" - Júlio Pomar. Guache, 1995. Col. Manuel de Brito (fig. 26)
"Luz Queirosiana" - Júlio Resende. Aguarela e marcador sobre papel, 2000. Col. CTT (fig. 27)
"O Suave Milagre" - Luís Filipe de Abreu. Guache sobre cartão, 2000. Col. CTT (fig. 28)
"O Crime do Padre Amaro" - Paula Rego. Papel sobre papel sobre aluminium, 1997. Col particular (fig. 29)

Esta colecção é distribuída dentro de um estojo igualmente em cartolina.

- Para assinalar o Centenário da Morte de Eça de Queiroz, a Câmara Municipal da Póvoa de Varzim, em 2000, emitiu uma série de 12 postais, que representam 12 pinturas de Marly Mota que nasceu em 1926, viveu numa cidade pernambucana da Zona da Mata, chamada Bom Jardim. Vive no Recife, no Brasil e denominou esta série "Cenas Ecianas" (em tinta acrílica sobre a tela).


n.º 1 - O Ramalhete
n.º 2 - O Jardim do Ramalhete
n.º 3 - No Ramalhete
n.º 4 - O Solar de Tormes
n.º 5 - Janela de Tormes
n.º 6 - O jantarinho de suas "Incelências"
n.º 7 - "Champs-Elysées"
n.º 8 - Na sala com Tia Vicência
n.º 9 - O Sonho do Zé Fernandes
n.º 10 - A Flor de Malva
n.º 11 - O Jantar do Abade de Cortegaça
n.º 12 - Na casa da S. Joaneira

Estes postais são fornecidos dentro de uma carteira de cartão.

postal comemorativo
postal comemorativo
postal comemorativo
postal comemorativo
Fig. 24 a 27
postal comemorativo postal comemorativo
Fig. 28 e 29

Gravuras

No ano de 1972 foram feitas edições especiais pela "Livros do Brasil", que levavam umas gravuras de 17 x 24 cm impressas em papel couché aveludado, de 125 grs, impressas em offset. Delas se destacam as gravuras referentes a Joana (fig. 30), Maria Eduarda (fig. 31), Conselheiro Acácio (fig. 32), Jorge (fig. 33), e Primo Basílio e Visconde Reynaldo (fig. 34) todas elas de autoria de Bernardo Marques.

No ano de 1995 e para assinalar os 150 Anos do nascimento de Eça de Queiroz o Circulo Católico d'Operários de Vila do Conde edita uma gravura com o retrato de Eça, uma pintura de Inês publicada no "Diário Ilustrado" de 22 de Outubro de 1874.

Fig. 30 a 34

Eça de Queiroz no Coleccionismo (3)


Paulo Sá Machado

Estatuária

Na estatuária Eça de Queiroz está representado em vários locais, com várias estátuas a ele dedicadas, que vão desde as presentes em Lisboa, (fig. 35), passando por Póvoa de Varzim, mesmo no Brasil, Rio de Janeiro e mais recentemente em Vila Nova de Gaia - Canelas, no Solar dos Condes de Resende.

Estátuas
Fig. 35 - Reprodução do postal 1

Mas o que atrai os coleccionadores, já que estes são ciosos de terem o material em suas casas, são as reproduções de bustos ou das próprias estátuas em ponto reduzido.

Assim podemos apreciar (fig. 36) uma busto com cerca de 60 cm de alto, em barro cozido pintado, dos anos 20 (?), ou outro (fig. 37) este em gesso natural, com cerca de 25 cm e mandado fazer pela Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia.

Mais recentemente, e já depois de realizada a exposição iconográfica que teve lugar na Biblioteca Municipal da Maia, recebemos um pequeno busto com cerca de 35 cm, que foi distribuída a todos os conferencistas que participaram na Congresso de Eça, realizado pela Câmara Municipal de Gaia.

Assim podemos afirmar que este género de coleccionismo está bem representado.

Estátua Estátua
Fig. 36 e 37

Medalhística

O mesmo acontece relativamente à medalhística, onde existem vários exemplares de medalhas alusivos a Eça ou à sua obra.

- Medalha mandada cunhar pela Câmara Municipal da Póvoa de Varzim, para assinalar os 150 anos do Nascimento de Eça de Queirós, com escultura de Victor Manuel, cunhagem Ignatius, módulo de 80 mm em bronze e com uma tiragem limitada a 800 exemplares. No anverso a silhueta do escritor poveiro, rematada com a sua assinatura no canto inferior direito; à volta do emblema a legenda "Câmara Municipal da Póvoa de Varzim - 1995 Escola Secundária Eça de Queirós". No reverso, o campo é cortado a meio por uma faixa vertical onde se destaca a legenda "Comemoração dos 150 anos do Nascimento". Dos lados direito e esquerdo trechos de duas cartas manuscritas do escritor poveiro, datadas de 1888 a da esquerda e 1893 a da direita (fig. 38).

anverso reverso
anverso reverso
Fig. 38 e 39 (anverso e reverso)

- O "Grupo 6", editou em 1995, uma medalha comemorativa dos 150 anos do Nascimento de Eça, com uma tiragem de 250 exemplares, no anverso apresenta a Casa onde nasceu Eça e no reverso uma listagem de algumas obras do Escritor (fig. 39)

- O mesmo Grupo edita uma placa em bronze, comemorativa, de 70 x 87 mm, para ser distribuída pelos participantes da Exposição Filatélica que se realizou de 18 a 25 de Novembro de 1995 (fig. 40).

anverso
reverso
Fig. 40 (anverso e reverso)

- Em 1995 o Círculo de Leitores associa-se às comemorações dos 150 anos do nascimento e manda cunhar uma medalha de autoria de Cabral Antunes, que apresenta no anverso a figura de Eça e no reverso e tendo como fundo a casa onde nasceu Eça a frase "Só um livro é capaz de fazer a eternidade de um Povo". (fig. 41)

- O "Grupo 6" editou em 2000, uma medalha comemorativa do 1º Centenário da Morte de Eça de Queiroz, com uma tiragem de 250 exemplares, no anverso apresenta o Escritor e no reverso os títulos de todas as suas obras. Autor Calafate e impressão na Gravarte. (fig. 42)

anverso reverso
anverso reverso
Fig. 41 e 42 (anverso e reverso)

- A Associação Poveira de Coleccionismo editou uma placa em bronze, desenhada por Amaral e cunhada por Medonof com uma tiragem de 150 exemplares, 109 x 72 mm, apresentando no anverso uma parte da estátua do Eça de Lisboa e no verso, "Centenário da Morte do Ilustre Escritor Poveiro José Maria Eça de Queirós. 1900/2000 Póvoa de Varzim" (fig. 43)

anverso
Fig. 43 (anverso)

Notafilia

Na notafilia, Eça está representado numa nota de 10 escudos, chapa 3 - ouro com as dimensões de 149 x 87 mm, com a mancha da gravura de 139 x 76 mm. A tiragem foi de 10.000.000 e datada de 13 de Janeiro de 1925.

A primeira emissão saiu em 13 de Outubro de 1927 e a última a 4 de Março de 1932, tendo sido retirada da circulação a 31 de Dezembro de 1933 (fig. 44)

Nota - frente
Nota - verso
Fig. 44 (frente e verso)

Numismática

Por Decreto-Lei n.º 203/2000 de 1 de Setembro é mandada cunhar uma moeda de 500$00 de diâmetro 30 mm; peso l4 grs; toque 500/1000 da autoria de Paulo Guilherme d'Eça Leal.

No reverso da medalha surge-nos uma esfinge do homenageado identificada pela legenda evocativa "Eça de Queiroz 1900-2000".

No anverso, circulando o escudo nacional, surge-nos a legenda "Centenário da morte de Eça de Queiroz", "500 escudos" e "República Portuguesa". Esta moeda comemorativa foi impressa na Casa da Moeda em "Proof", prata e ouro (fig. 45)

Fig. 45

Calendários

- Várias são as entidades que têm emitido calendários (calendários de bolso). Destaca-se um calendário emitido em 1988 pelo Banco Português do Atlântico e que representa Eça de Queiroz numa estatueta de bronze de Francisco da Silva Gouveia, Paris 1900 (fig. 46)

- Outro emitido pelo "Grupo 6" da Póvoa de Varzim no ano 1995 comemorativo da Exposição Nacional de Filatelia dedicada aos 150 anos do Nascimento do Escritor Poveiro, realizada de 18 a 25 de Novembro de 1995, no Casino da Póvoa de Varzim (fig. 47)

Calendário Calendário
Fi. 46 e 47

Cromos

No ano de 1910 (?), o "Diário de Notícias" realizou o Concurso de Varões Ilustres, cujo nº 44 representava o Escritor (fig. 48)

Gravura
Fig. 48

Pequenos Cartazes e Catálogos

- Para assinalar o 150º Aniversário do Nascimento do Escritor, o Círculo Católico d'Operários de Vila do Conde, realiza a 25 de Novembro de 1995 um "Passeio Sentimental Queiroziano" integrado nas comemorações do 150º Aniversário do Nascimento, e imprime um pequeno desdobrável.

- Em Dezembro de 1995 a Agenda Cultural da C. M. da Póvoa de Varzim é dedicada a Eça de Queiroz.

- A Sociedade Martins Sarmento, Guimarães, em 1995, edita um pequeno catálogo referente "Exposição-inventário bibliográfica de Eça de Queiroz".

- Em Paços de Ferreira, na Biblioteca Municipal Prof. Vieira Dirás, integrado nas Comemorações dos 150 anos de Eça de Queiroz, realiza-se a "Exposição: Eça de Queiroz na Filatelia" e "Apresentação do livro "A Coimbra de Eça de Queiroz" de Carlos Santarém Andrade", sendo editado um pequeno catálogo.

- O Círculo Católico d'Operários de Vila do Conde edita um programa em 27 de Maio de 2000 dedicado ao Centenário da Morte de Eça de Queiroz.

- A Fundação Eça de Queiroz edita um desdobrável dedicado à Fundação.

- No Silo-Espaço Cultural - NorteShopping de 12 de Setembro a 12 de Outubro de 2000, realiza-se e "Exposição Eça de Queirós - Marcos biográficos e literários"

- No Museu Nacional da Imprensa, no Porto, realiza-se uma exposição/impressão de textos jornalísticos, "Eça, jornalista crítico".


Bibliografia

- Lamas, José da Cunha e Marques, e A H. Oliveira - "Catálogo de Inteiros Postais
Portugueses". CTT- 1985.
- Leal, F. Palma - "Catálogo de Carimbos de Portugal", (1978/1983).
- Machado, Paulo Sá - Dicionário de Filatelia, Edições ASA 1994.
- Machado, Paulo Sá - "Maia, História Postal dos Correios e Filatelia" - CMM 1998.
- Sánchez, Yvette - "Coleccionismo y Literatura", Ediciones Cátedra S.A. Madrid 1999.
- Vasconcelos, José Leite de - "Nomenclatura Numismática", Ulmeiro 1993.

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