A família de um homem de 52 anos que está internado em estado grave com
leptospirose no Distrito Federal reclama da demora no atendimento da
rede pública de saúde. As filhas do paciente dizem que a vaga na Unidade
de Terapia Intensiva (UTI) só foi conseguida depois de determinação
judicial, em hospital particular com convênio com o SUS. Elas afirmam
ainda que a ambulância do Samu para transporte do paciente não chegou.
Por meio de nota, a Secretaria de Saúde informou que o paciente recebeu
todos os cuidados necessários, desde sua admissão no Hospital Regional
de Sobradinho.
"Devido à gravidade do quadro, sendo o paciente classificado com o
risco vermelho e diagnóstico de leptospirose, o paciente foi removido
pela ambulância do HRS - acompanhado por médico - para uma Unidade de
Terapia Intensiva/UTI de um hospital da rede conveniada", diz a nota.
As filhas do paciente contam que ele começou a passar mal no dia 17. Na
quinta-feira (20), foi levado para o Hospital de Sobradinho. “Ele mora
numa área que tem um córrego. No domingo ele passou por uma área
descalço, por uma enxurrada de água da chuva. O médico falou que foi
exatamente isso aí que causou a doença”, diz Viviane Oliveira, filha do
paciente.
No dia seguinte à internação, o quadro se agravou e foi recomendada a
internação do paciente em uma UTI. Sem vaga na rede pública, foi
preciso uma liminar da Justiça para conseguir prioridade na
transferência.
“Os médicos do Hospital de Sobradinho foram bem atenciosos, correram
atrás dessa UTI para ele, mas, infelizmente, a gente só conseguiu às
23h. Ele ficou 12 horas sofrendo muito. Hoje o quadro dele está grave,
com falência múltipla dos órgãos”, conta Viviane Oliveira.
A remoção do paciente teria sido dificultada pela falta de ambulância,
afirma Rosena Pimentel, outra filha do paciente. “Tentaram de todas as
formas. Contaram o Samu e não chegou nunca. A gente correu atrás, foi aí
que descobriram uma ambulância do hospital e colocaram ele, mesmo não
sendo UTI móvel.”
A leptospirose é uma doença infecciosa que pode ser contraída pelo
contato com a água da chuva contaminada pela urina do rato. Lugares que
têm saneamento básico deficiente ou muito lixo facilitam o contágio após
as chuvas.
Salários baixos e condições de trabalho precárias de médicos comprometem saúde pública no DF, diz sindicato
09/11/2011 - 15h05
Paula Laboissière
Repórter da Agência Brasil
Brasília – Apesar de estarem no topo da tabela de remuneração da
categoria no país, médicos do Distrito Federal que atendem pelo Sistema
Único de Saúde (SUS) consideram os salários baixos e reclamam das
condições precárias de trabalho. Para o presidente do Sindicato dos
Médicos de Brasília, Marcos Gutemberg Fialho da Costa, o atual quadro se
deve a uma situação estrutural.
“São péssimas condições de trabalho, sem cadeira ou mesa ergonômica,
com sala insalubre e sem ventilação. Pacientes ficam no chão e o médico
tem que medicar. Você não tem segurança, nem mesmo física – há uma
demanda enorme de pacientes que ficam aguardando por horas e, quando
entram, às vezes, ocorre até agressão”, completou.
Em entrevista à
Agência Brasil, ele confirmou a
situação registrada pela equipe de reportagem em hospitais regionais de
cidades como Gama, Santa Maria e Taguatinga, onde, devido ao número
insuficiente de profissionais, os médicos não conseguem atender
pacientes nos pronto-socorros. “Temos anos de falta de reposição de
colegas que se aposentaram. A coisa chegou ao gargalo”, disse.
Dados da Secretaria de Saúde indicam que 5.110 médicos trabalham na
rede pública do DF. O déficit atual, calculado pelo sindicato, passa de
mil profissionais. O salário-base, com jornada de 20 horas semanais, é
R$ 4.143,57.
Para Costa, é preciso realizar concursos públicos que ofereçam
condições atraentes aos candidatos, para que médicos aprovados em
processos seletivos não desistam do cargo. “Os médicos que hoje
permanecem são os que estão há algum tempo no sistema e que realmente
gostam de fazer medicina pública. Esses continuam. Mas os que entram com
uma perspectiva de situação mais favorável na iniciativa privada não
vão ficar.”
A coordenadora da Faculdade de Medicina da Universidade de Brasília
(UnB), Celeste Aída Silveira, explicou que o atual currículo do curso
engloba disciplinas como práticas da saúde e saúde e sociedade, que
incluem atividades práticas em centros de saúde já no primeiro semestre.
A ideia, segundo ela, é antecipar o contato dos alunos com a realidade
da rede pública de saúde no DF.
“Isso serve até para eles sentirem e não ficarem tão temerosos de
entrar nessa linha. Assim, eles já sabem que as condições não são
ideais, que há restrições de ambiente de trabalho, de disponibilidade de
exames e de medicamentos. Tenho observado que essa nova orientação tem
melhorado a tendência dos estudantes [de trabalhar no setor público]”,
contou.
A maioria dos alunos, de acordo com dados da própria faculdade, busca,
ao iniciar a vida profissional, conciliar o trabalho na rede pública e
no setor privado.
É
o caso de Artur Souza Rosa, 20 anos, aluno do 3º semestre de medicina
na UnB. Ele pretende trabalhar no SUS, mas sonha mesmo em abrir uma
clínica particular e tentar dividir o tempo entre o atendimento no setor
público e no privado. “A maior dificuldade e o que acaba desestimulando
profissionais da área é a falta de material, de leitos, de espaço e de
tantas outras coisas [nos hospitais públicos]. Deveríamos, aqui em
Brasília, ser referência para o resto do país, mas estamos longe disso.”
O
aluno do 5º semestre Rodrigo Sousa Bresani, 25 anos, contou que
escolheu a profissão pelo impacto social e pelo estímulo de parentes que
são médicos. A avaliação do estudante é que a rede pública de saúde no
DF não funciona e tem muito a melhorar. “O sucateamento, a falta de
medicamentos e os salários baixos da rede pública com certeza
desestimulam os alunos que escolhem o curso pensando no retorno
financeiro. O sistema público precisa de estabilidade, apoio e
dedicação.”
Em entrevista à
Agência Brasil, o secretário adjunto
de Saúde, Elias Fernando Miziara, lembrou que os médicos do SUS, no DF,
recebem gratificações por trabalhos prestados em centros de saúde e em
emergências e que dificilmente a remuneração se resume ao salário-base
indicado pelo sindicato. “Temos um setor privado que está remunerando
melhor, mas entendemos que é uma questão de tempo para esse mercado se
esgotar”, disse.
Miziara reconheceu a precariedade das condições de trabalho a que são
submetidos os profissionais de saúde de rede pública. “De fato, existem
problemas. Pegamos essa rede absolutamente depauperada [afetada por
redução de recursos financeiros]. Não é só a questão de móveis, mas de
equipamentos e medicamentos com falta generalizada.”
Da Redação
A falta de equipamentos faz os pacientes do SUS
esperarem mais de cem dias para fazer uma radioterapia. A situação é
mais crítica nas regiões Norte e Nordeste. O dado integra relatório do
TCU (Tribunal de Contas da União), que realizou uma auditoria na
política
nacional de atenção oncológica.
"Temos vazios de atendimento também no Centro-Oeste e em regiões do Sul
e do Sudeste", afirma o secretário nacional de Atenção à Saúde do
Ministério da Saúde, Helvécio Magalhães.
Intervalo - O
relatório do Tribunal de Contas aponta ainda que, em média, o paciente
leva mais de
70 dias entre a detecção do tumor e o início da
quimioterapia e somente
35,6% conseguem o tratamento até 30 dias após o
diagnóstico, indicação de urgência apropriada para o tratamento.
Diagnóstico de linfoma chega tarde no SUS
Por AE
São Paulo, (AE) - Uma pesquisa em São Paulo com
pacientes que sofrem de câncer no sistema linfático (linfoma) revela que
apenas 18,4% daqueles que se tratam pelo Sistema Único de Saúde (SUS)
conseguem receber um diagnóstico da doença em seu estágio inicial. Nos
hospitais
particulares, essa porcentagem mais que dobra: 39% das
pessoas chegam cedo aos centros especializados, o que aumenta a chance
de cura.
Para os especialistas, a diferença tem a ver com a
demora enfrentada na rede pública na hora de marcar consultas e passar
pelos exames necessários para identificar a doença.
Os dados são
de um estudo coordenado pelo diretor da Associação Brasileira de
Hematologia e Hemoterapia (ABHH), Carlos Chiattone, apresentado hoje no
congresso Hemo-2011. Esse é um linfoma altamente curável, chega a 80%
com tratamentos tradicionais. Receber pacientes em estágio avançado é
inaceitável. Não é questão de recurso financeiro, mas de gestão do
sistema, avalia.
As informações são do jornal
O Estado de S. Paulo.