Irã já descumpriu quatro acordos que assinou desde 2003
17 de maio de 2010
Por Manuela Franceschini
O acordo assinado entre Irã, Brasil e Turquia no último domingo não é garantia de que a questão nuclear iraniana tenha sido resolvida. E a prova veio logo depois dos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva, do Brasil, e Mahmoud Ahmadinejad, do Irã, anunciarem com o premiê turco, Recep Tayyip Erdogan, o novo tratado - pelo qual o país islâmico trocaria 1.200 kg de urânio enriquecido a 3,5% por 120 kg de urânio enriquecido a 20% na França e na Rússia.
Bastou acabar a festa de assinatura para que o diretor da Organização de Energia Atômica do Irã, Ali Akbar Saleh, anunciasse ao mundo que o enriquecimento de urânio a 20% em solo iraniano vai continuar. "Não existe relação entre o acordo de troca e nossas atividades de enriquecimento. Vamos continuar nosso trabalho de enriquecimento de urânio a 20%", disse Salehi.
A atitude mostra que o Irã, mas uma vez, deve trilhar o caminho que seguiu em acordos anteriores. O histórico de negociações indica que, apesar de se comprometer com vários tratados, os iranianos invariavelmente os descumprem poucos meses depois. Confira a seguir os casos em que isso já aconteceu, desde 2003:
Protocolo Adicional do TNP
Dezembro de 2003: O Irã assina a adesão ao Protocolo Adicional do Tratado de Não Proliferação de armas nucleares (TNP) e promete cooperar totalmente com a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), suspendendo o enriquecimento de urânio.
Fevereiro de 2004: Diferentes fontes garantem que Abdul Qadeer Khan, criador da bomba atômica paquistanesa, compartilhou tecnologia e conhecimentos nucleares com o Irã, o que era vetado pelo protocolo. O país fica sob investigação.
Acordo com a Tríade Europeia
Novembro 2004: O Irã negocia com Reino Unido, França e Alemanha e aceita suspender, durante o processo de negociação e investigação, todas as atividades ligadas ao enriquecimento de urânio. Em troca da suspensão, os três países permitem ao Irã acesso à tecnologia nuclear civil. O acordo autoriza visitas de inspetores da AIEA a locais suspeitos.
Abril de 2005: O Irã diz que considera inaceitável o plano de incentivos econômicos proposto pela Tríade Europeia. Reafirma que tem o direito inalienável de desenvolver um programa nuclear pacífico e anuncia que fará conversão de urânio na usina de Isfahan. Em setembro, a AIEA constata que o Irã violou obrigações de salvaguardas internacionais. É feita uma denúncia ao Conselho de Segurança da ONU.
Janeiro de 2006: Todas as negociações dos dois acordos anteriores voltam à estaca zero quando o Irã rompe os lacres de três instalações para iniciar atividades de "pesquisa nuclear" e anuncia que limitará o acesso da AIEA a essas áreas. O programa de enriquecimento de urânio é retomado a pleno vapor.
Determinação do Conselho de Segurança da ONU
Julho de 2006: O Conselho de Segurança da ONU estipula prazo de um mês para que o Irã interrompa seu programa de enriquecimento de urânio.
Agosto de 2006: Relatório da AIEA indica que o Irã descumpriu a determinação. Pelo descumprimento, recebeu sanções do Conselho de Segurança.
Acordo com ONU, França e Rússia
Outubro de 2009: A ONU oferece ao Irã que envie 1.200 kg de urânio de baixo enriquecimento para a França e a Rússia, onde seria convertido em combustível para um reator de pesquisas em Teerã. O Irã inicialmente sinaliza que aceita.
Novembro de 2009: O Irã volta atrás e diz que só aceita troca de seu urânio de baixo enriquecimento por material mais enriquecido, e que a troca deve ser feita em solo iraniano. As partes envolvidas no acordo consideram inaceitáveis essas condições. O governo iraniano informa que começará a construir dez novas centrais de enriquecimento de urânio.