Janio de Freitas "É URGENTE a intervenção de quem, no governo paulista, se faça respeitar, para impedir que mais atos de puro barbarismo ocorram no caso da menina Isabella. A polícia paulista falseou a informação pública sobre os dias em que Anna Carolina Jatobá esteve em prisão temporária. De início sozinha em uma cela, por cautela contra previsíveis maus-tratos físicos por outras presas, como informado, foi depois entregue, na surdina, à sanha agressora da cela coletiva, como objeto de uma perversidade policial equivalente, no mínimo, à conivência com tortura. Na iminência de nova prisão de Anna Jatobá e de Alexandre Nardoni, a responsabilidade última pelo que ocorra é do próprio governador, a quem cabem o dever e a autoridade de impor conduta legal e humana às polícias. E não é só em relação às prisões, passadas e esperadas, que providências de autoridade são necessárias e urgentes. Nada justifica que os parentes e os vizinhos de Anna Jatobá e de Alexandre sejam castigados de prisão em sua inocência, deixados pela polícia à mercê das hordas de cretinóides que ontem quiseram até invadir o prédio onde estariam os dois indiciados. Não fosse o pai de Alexandre, Antonio Nardoni, que tem mantido atitude serena e colaborativa com todos, não se saberia das agressões físicas sofridas por Anna Jatobá, segundo ele, com os respectivos hematomas fotografados em casa. Estariam fotografados também no Instituto Médico Legal, no exame quando os dois foram libertados? Também não se sabe. Mas todos os dias sabe-se de cada pormenor pericial no apartamento, nas vestimentas e no carro do casal, e de cada dedução técnica sobre a queda de Isabella, de cada suposição investigativa. Agora, na altura culminante a que o caso chega, indispensáveis são providências de governo que, a par de refluir a agressividade badernosa, assegurem a máxima legalidade na execução do inquérito e nenhuma inverdade, omissão ou utilização maldosa de informações. Não é certo que a fluidez ininterrupta de dados e especulações, proporcionada pela polícia e pela Promotoria, seja responsável pelo lado algo histérico na comoção geral com o crime. Mas alimentou, quando poderia ter sustado se reprimida pela autoridade estadual, o desvario das tevês na disputa de audiência, acirrada pelos novos e crescentes noticiários da Record, secundada pela BandNews. Apesar de seguidas pelos jornais, no jogo diário das influências mútuas, as tevês dividem com a passividade do governo paulista -em proporções desiguais e imprecisas- a responsabilidade pelo ambiente patológico que decorreu de um crime louco. A imagem do Supremo Tribunal Federal sempre foi dada em grande parte, em muitos períodos a maior parte, por sua presidência e a maneira como estava exercida. Com a excelente e didática transmissão das sessões do STF pela TV Justiça, aquele papel adicional das presidências tornou-se ainda maior. A ministra Ellen Gracie Northfleet passa amanhã a presidência do Supremo Tribunal Federal ao ministro Gilmar Mendes. O mínimo a dizer do seu exercício no cargo é que deixou um exemplo extraordinário de presidência: exemplo de educação em cada palavra, exemplo de competência e clara objetividade em cada voto, exemplo de segurança e oportunidade em cada decisão, exemplo de elegância em cada gesto. Primeira mulher a presidir o Supremo, dignificou também os homens em geral, cuja representação tinha deixado dívida, em muitos sentidos, naquela presidência. Caso a ministra Ellen Gracie vá, de fato, para o Tribunal Internacional de Haia, para o Supremo será lamentável. Mas, se for de seu desejo, é mais do que merecido. PS: E você não sabe como é bom encontrar razões para escrever uma nota como está aí em cima."
sexta-feira, 26 de março de 2010
O crime não precisa de outros
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ISABELLA