[Valid Atom 1.0]

sexta-feira, 26 de março de 2010

Greves em São Paulo evidenciam tom político


26 de março de 2010

Por Fernando Mello

Os protestos de delegados e professores de São Paulo evidenciam motivações políticas neste ano eleitoral. Muitos dos pedidos estão distantes da realidade nacional. Os delegados paulistas querem, por exemplo, ganhar mais que a cúpula da polícia de Nova York. Os professores querem um aumento que inviabilizaria o funcionamento da Secretaria de Educação. O governador José Serra (PSDB) será candidato à Presidência.


No caso dos professores, o reajuste salarial exigido pelo movimento grevista aumentaria em 3,5 bilhões de reais por ano o gasto com a folha de pagamento. O Orçamento da Secretaria de Educação de São Paulo é de 16 bilhões de reais, dos quais 10,4 bilhões já estão comprometidos com salários. Se o valor gasto com salários chegar a 13,9 bilhões, sobrarão apenas 2,1 bilhões para pagar transporte dos alunos, merenda, material, obras etc.

Fora de proporção

O que eles querem O que eles querem
  • 3.443 delegados no Estado de São Paulo
    querem ganhar o equivalente a 138 mil dólares
    por ano depois de 10 anos de carreira
  • Que os 220 mil professores do estado recebam 3,5 bilhões a mais por ano em salários
Por que o pedido é irreal Por que o pedido é irreal
  • Em Nova York apenas 11 chefes de polícia
    ganham esse salário anual
  • O Orçamento da Secretaria de Educação é de 16 bilhões, dos quais 10,4 bilhões já estão comprometidos com folha de pagamento.

Os delegados de Polícia Civil iniciaram esta semana uma "operação padrão", que promete tornar mais lento o atendimento ao público. Os líderes do movimento não descartam uma interrupção total dos serviços nas delegacias, caso o governo não se manifeste.

A Adpesp (Associação dos Delegados de Polícia do Estado de SP) reivindica uma reestruturação que inclua o reconhecimento da profissão como carreira jurídica, o que possibilitaria equiparar o salário de um delegado ao de um promotor.

Em 10 anos de carreira, o delegado ganharia cerca de 20 mil reais, ou US$ 11 mil por mês. Com 13º salário e férias chega-se a um total de US$ 149 mil por ano. Entre os mais de 40 mil policiais de Nova York, apenas onze da alta hierarquia recebem os maiores pagamentos da corporação, que somam US$ 138 mil por ano. Quando se aposentam, os americanos levam apenas 50% do salário.

"A questão salarial está chegando a um absurdo. Todos os policiais brasileiros querem ganhar o que nenhum policial do mundo ganha", diz José Vicente da Silva Filho, coronel da reserva da PM, ex-secretário nacional de Segurança Pública no governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002).

Esta semana a Apeoesp (sindicato dos professores da rede de São Paulo) organizou nova manifestação de professores da rede estadual, em greve desde o começo do mês. O protesto terminou em confronto com a Polícia Militar e quatro professores foram detidos.

A entidade quer um reajusta salarial de 34%, afirmando que nenhum reajuste foi concedido desde 2005. O custo anual seria de 3,5 bilhões de reais.

Mas, considerando todos os reajustes nas tabelas e as gratificações concedidas, os professores de primeira a quinta séries tiveram sua remuneração aumentada em 36%. De quinta a nona séries e no Ensino Médio, o aumento foi de 38,2%.

A folha de pagamentos da Secretaria de Educação cresceu, entre 2005 e 2009, de R$ 7,8 bilhões para R$ 10,4 bilhões, ou 33%.

Ligações - A Apeoesp é presidida por Maria Izabel Azevedo Noronha, a Bebel, filiada ao PT. O antecessor dela foi Carlos Ramiro Castro, o Carlão, suplente do senador Eduardo Suplicy (PT). Ao deixar a presidência da Apeoesp, Ramires assumiu o comando do Conselho de Servidores, encarregado da negociação com o governo.

Depois de organizar greves e protestos durante a semana, Bebel encontrou espaço na agenda para dividir um palanque com a pré-candidata do PT ao Planalto, Dilma Rousseff, e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Ela foi chamada de Bebel por Dilma e, apesar de o ato ser voltado para as mulheres metalúrgicas, sentou-se na mesa principal e chegou a ser classificada de "irmã nossa" por um dos presentes.

Já a associação dos policiais é ligada à Força Sindical, entidade presidida pelo deputado federal Paulo Pereira da Silva, da base do governo federal e que faz oposição em São Paulo.

No início do mês, a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo apresentou uma proposta de aumento salarial para policiais civis, militares e científicos do Estado de até 23,82% (caso dos soldados de segunda classe da PM em cidades com até 200 mil habitantes). Para a Adpesp, a proposta do governo não avança nas negociações.





LAST





Sphere: Related Content
26/10/2008 free counters