Julgamento reuniu diariamente dezenas de pessoas em frente ao Fórum de Santana
Foto: Ivan Pacheco/Terra
Em cinco dias, o julgamento do caso Isabella atraiu centenas de curiosos para a porta do Fórum de Santana, na zona norte de São Paulo, mobilizou 61 veículos de imprensa, ocupou a manchete de sites, jornais e revistas e ganhou espaço em todos os noticiários de rádios e TVs. Para entender esse fenômeno, o Terra ouviu dois psicanalistas que apontaram os principais ingredientes deste "circo" montado em torno do júri de Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá.
"A explicação disso é bastante objetiva. Primeiro, a ocorrência de um fato inusitado. Não é todo dia que uma criança é atirada de uma janela de um prédio. Somam-se a isso a figura do pai e da madrasta acusados do crime, a mãe biológica e o ciúme. Tudo isso dá um tempero a mais, o que aumenta a curiosidade que cada um de nós tem sobre o caso", disse o psiquiatra forense Guido Palomba. ( QUE APARECEU BASTANTE NA TV PARA "EXPLICAR " O CRIME E COM MUITA VAIDADE)
Palomba explica que o fato de os réus não terem confessado o crime dá ainda um "sabor" extra à história. "Isso fomenta o debate público dentro das casas, nos bares e nas esquinas. Sem falar do papel da mídia nisso tudo, esta ampla cobertura só fez a bola de neve crescer", afirmou.
Para o também psicanalista Jorge Forbes, presidente do Instituto da Psicanálise Lacaniana e Diretor da Clínica de psicanálise do Centro do Genoma Humano da Universidade de São Paulo (USP), um crime como a morte de Isabella atinge diretamente a sociedade civil. "Trata-se da relação entre um pai e uma filha e do não respeito à vida. Há o registro de uma família feliz no supermercado e, no instante seguinte, a menina está morta. É um crime que lesa a todos nós", disse.
Forbes analisa o fato de o casal ter entrado praticamente condenado pelo público no primeiro dia de julgamento. "Todo e qualquer crime afeta a sociedade como um todo, e o casal condenado traz uma espécie de conforto psicológico às pessoas", afirmou.
O caso
Isabella tinha 5 anos quando foi encontrada ferida no jardim do prédio onde moravam o pai, Alexandre Nardoni, e a madrasta, Anna Carolina Jatobá, na zona norte de São Paulo, em 29 de março de 2008. Segundo a polícia, ela foi agredida, asfixiada, jogada do sexto andar do edifício e morreu após socorro médico. O pai e a madrasta foram os únicos indiciados, mas sempre negaram as acusações e alegam que o crime foi cometido por uma terceira pessoa que invadiu o apartamento.
O júri popular do casal começou em 22 de março e deve durar cinco dias. Pelo crime de homicídio, a pena é de no mínimo 12 anos de prisão, mas a sentença pode passar dos 20 anos com as qualificadoras de homicídio por meio cruel, impossibilidade de defesa da vítima e tentativa de encobrir um crime com outro. Por ter cometido o homicídio contra a própria filha, Alexandre Nardoni pode ter pena superior à de Anna Carolina, caso os dois sejam condenados.