Em entrevista reveladora, Claudia Jimenez, que estreia em breve o seriado a Vida Alheia, na TV Globo, conta ter sido vítima de violência sexual na infância e fala como a rejeição dos homens, em sua adolescência, a levou a se relacionar com mulheres
Por Clara Passi
Claudia conta ainda ter amargado, na adolescência, a rejeição dos rapazes por ser gorda, o que a levou a “tapar o buraco do afeto” com mulheres. Casou-se, então, com a personal trainer Stella Torreão, com quem ficou por dez anos. Já separada, surpreendeu ao admitir, em 2008, o namoro com o ator Rodrigo Phavanello. Foi com ele a primeira transa que teve com um homem. “Ele foi me ensinando tudo. Eu o chamava de professor.” Mas seu “primeiro e único amor”, até hoje, foi mesmo Stella, que, segundo diz, foi quem a fez acreditar que tinha cacife para seduzir um homem. “Eu a amo profundamente”, diz, ao explicar por que não segura a emoção cada vez que cita a ex.
O namoro com Rodrigo durou dois meses e a atriz, já famosa por personagens como a Cacilda da Escolinha do Professor Raimundo (1990-1995) e a Edileuza de Sai de Baixo (1996-1997), ganhou ainda mais espaço na mídia ao aparecer com vários “amigos coloridos”. Há poucas semanas, Claudia namora o modelo Rodrigo Bonadio, de 20 anos. “Ele me deu um ultimato e disse: ‘Ou me assume ou estou fora’. Se a Madonna pode, por que eu não posso?”, questiona ela, no camarim do Projac, na TV Globo, antes de gravar cenas do seriado A Vida Alheia, na pele de Alberta, a editora-chefe durona de uma revista de celebridades sensacionalista. A série, de Miguel Falabella, estreia em 8 de abril. A seguir, sua corajosa entrevista.
QUEM: Sua vida pessoal começou a chamar mais a atenção depois que, ao fim de um relacionamento de dez anos com a personal trainer Stella Torreão, você começou a sair com rapazes. Como se deu essa mudança?
CLAUDIA JIMENEZ: Tive algumas relações com mulheres e fiquei casada com Stella por dez anos. Ela foi o maior amor da minha vida, somos sócias, temos uma academia com 2 mil alunos. Hoje, ela é minha irmã. O amor dela foi tão grande (ela fica com a voz embargada), que ela me fez ter coragem de dizer: “Não, gorducha, você tem cacife para atrair os homens, você está bonita”. O amor da Stella me fez ter coragem de me reconciliar com os homens, porque, até então, eu achava que não tinha cacife para seduzir homem nenhum, porque eu era fora dos padrões, era gorda, tinha a autoestima baixa.
QUEM: O que aconteceu no passado para você precisar se reconciliar com os homens?
CJ: Na juventude, fui rejeitada pelos garotos porque era muito gorda. Eles debochavam de mim. A gente vai ficando retraída, vai acreditando que homem nenhum vai te querer.
QUEM: Esse sentimento de rejeição em relação aos homens foi agravado por algum trauma de infância?
CJ: Sim, sofri abuso quando era menina e morava na Tijuca. Um senhor me bolinava. Eu era bem nova, tinha 7 anos. Era muito grandona, então, com 7 anos, parecia mais velha. Ele comprava muitos chocolates e me convidava para entrar na casa dele.
QUEM: Você contou a seus pais?
CJ: Não tive coragem de contar a meu pai, porque ele respeitava muito esse homem. Depois que meu pai morreu, quando eu tinha 18 anos, contei a minha mãe e minhas irmãs. Foi um choque para todo mundo. O fato de esse cara ter feito isso comigo atrasou muito o meu lado. Graças a Deus, ele já morreu, porque, se fosse vivo, eu seria capaz de processá-lo.
QUEM: Como fez para lidar com esse problema sozinha?
CJ: Faço análise desde os 14 anos. Falava disso direto na terapia.
QUEM: Ele chegou a estuprá-la?
CJ: Não, ele passava a mão em mim, fazia umas coisas que eu não entendia e achava que era carinho. Até que, um dia, quando ele estava fazendo isso, entrou uma pessoa e ele tirou a mão. Foi aí que percebi que era errado. Nunca mais fui à casa dele, nunca mais cheguei perto dele e, quando meu pai morreu, contei para minha mãe.
QUEM: Qual foi a reação dela?
CJ: Ela ficou chocada. Depois, todos ficaram sabendo de outros casos de abuso desse homem com outras meninas da rua.
QUEM: Que conselhos você daria a pais que têm filhos pequenos sobre como proteger seus filhos de pedófilos como esse homem?
CJ: Os pais precisam tomar muito cuidado. Nunca devem deixar os filhos frequentar sozinhos a casa de outras pessoas, por mais respeitáveis que pareçam. É tudo muito perigoso e doloroso. A pedofilia é grave, é preciso que se fale dela e que ela passe a ser considerada um crime hediondo, para que a punição dos pedófilos seja mais severa.
QUEM: O que você procurava quando, depois de se separar de Stella, começou a se envolver com homens?
CJ: Tive algumas relações de paixão com algumas mulheres e, com a Stella, foi a primeira relação de amor. Por isso, ficamos dez anos casadas. Esse amor foi tão grande que a Stella me ajudou a tirar de dentro de mim a mulher, a acreditar em mim como mulher (diz isso de maneira muito emocionada).
QUEM: Por que você se emociona sempre que fala de Stella?
CJ: Porque eu a amo profundamente. Ela foi a única pessoa que amei na vida – e que fez me sentir amada, o que é melhor. Às vezes, a gente namora, tem paixões, mas é difícil a gente se sentir amada. Esse amor dela fez com que eu tivesse coragem de experimentar a mulher que eu era.
QUEM: Você se masculinizava antes?
CJ: Não, nunca fui uma mulher fálica. Fui transar com mulher porque achava que não tinha cacife para seduzir homens. Na escola, ninguém queria dançar comigo na festa junina. Aquilo, para uma adolescente, era a morte. Tomei pavor de Carnaval porque ia para o Carnaval de fantasia e os meninos debochavam de mim porque eu era muito gorda. Coloquei na cabeça: homem não me quer. E, aí, fui encontrar outra forma de amor com as mulheres. A primeira coisa que a mulher vê não é a bunda empinada. A mulher vai mais pela admiração, pelo todo da obra. O homem, a princípio, vê logo o shape, os atributos. Achei que, então, seria mais fácil me relacionar com uma mulher. Mas não foi uma escolha, foi uma forma de tapar o buraco do afeto, já que eu tinha sido tão rejeitada pelos homens. À medida que fui amadurecendo, fui me tornando uma mulher mais vaidosa e feminina, a Stella me ajudava a cuidar do corpo. Até que, um dia, falei: “Stella, estou com desejo de ver qual é, com os homens, acho que agora já posso”. Nossa história também já estava se transformando, já estava virando um outro amor, um amor de irmã, de amiga. A gente, então, se separou, ficamos amigas e eu fui fazer novela (Sete Pecados, em 2007) com Rodrigo Phavanello, que foi o primeiro homem com quem transei na vida.
QUEM: E como foi essa primeira vez, aos 49 anos?
CJ: Foi maravilhoso! Eu fazia par romântico com o Rodrigo e, conforme a gente ia fazendo as cenas, o clima foi esquentando, foi ficando bom, rolou uma química, e começamos a namorar. Eu, então, me joguei. Rodrigo é lindo, é sedutor pra caramba, é carinhosíssimo e fiquei de quatro por ele. A primeira vez foi na minha casa. Foi muito especial. Ele foi me ensinando tudo. Eu o chamava de professor. Foi impressionante, porque eu tinha 49 anos, mas, sexualmente, em relação aos homens, estava me iniciando. Peguei um grande professor, porque ele teve paciência comigo.
QUEM: Você conseguiu atingir o orgasmo logo de cara?
CJ: Foi imediato, no primeiro dia. O Rodrigo é bom (risos). Dentro da minha sexualidade, em relação aos homens, ele foi a pessoa mais importante, a primeira referência.
QUEM: Por que, afinal, vocês terminaram?
CJ: Sou muito ciumenta, Rodrigo é um homem muito bonito. Sou muito controladora, chega uma fase em que eu mesma boicoto a relação. Prefiro mandar embora do que ser abandonada. Às vezes, até me arrependo. Fiquei com tanto medo de perder o Rodrigo que o mandei embora. Não teve traição.
QUEM: Você já chegou a pensar em adotar uma criança? Sente vontade de ser mãe?
CJ: Eu e Stella chegamos a pensar em ter um filho que fosse meu, biológico, e a Stella ser a barriga de aluguel, por causa do meu problema do coração (em 1999, Claudia infartou e colocou cinco pontes de safena). Mas, depois, desistimos da ideia.
QUEM: Como faz para atrair tantos homens bonitos?
CJ: É assim: eu olho a pessoa, a pessoa me olha e a gente chega junto. Quando é bom, a coisa rola. O tesão é uma questão de química. Às vezes, a pessoa é linda, tem corpão e, quando você segura a mão dela, é gelada. Não rola. E, às vezes, você é mais velha, gordinha, fora dos padrões e, quando se joga numa cama, esquenta o ambiente, sabe fazer. O Phavanello me ensinou tudo! Quando me vê atracada com os garotos, ele me liga e diz: “Você está botando pra quebrar, aprendeu tudo hein, gorducha!” É claro que, se eu não fosse a Claudia Jimenez, talvez eles não... A gente não é uma coisa só.
QUEM: Você acha que eles se aproximam de você pensando em ascender profissionalmente?
CJ: Tem uns que nem querem ser atores. Quando conheci o Phavanello, ele já tinha feito três novelas na Globo. Foi tesão mesmo, tesão à primeira vista. Ele não precisava de mim para nada. Há pessoas que chegam perto da gente com interesse, mas toda relação tem algum interesse. É mais fácil as pessoas assimilarem quando veem um homem mais velho com uma mulher novinha. Tudo bem ser o cara que proporciona a viagem à Europa. Mas, se é uma mulher mais velha que tem um namorado mais jovem e proporciona a viagem a dois, aí as pessoas já reprovam.
QUEM: Você fica incomodada com comentários desse tipo?
CJ: Não. Até duas semanas atrás, estava como todo homem foi a vida inteira e ninguém questionou, indo a boates, festas. Agora, não mais, estou namorando firme.
QUEM: Você assumiu, então, o namoro com o Rodrigo Bonadio?
CJ: Éramos só amigos coloridos e ele me deu um ultimato: “Ou me assume ou estou fora”. Se a Madonna pode, por que eu não posso?
QUEM: Você se vê casada com ele?
CJ: Rodrigo é um menino de 20 anos. Futuramente, vai encontrar uma menina da idade dele, vai se casar, ter filhos. Agora, ele está com essa disponibilidade e eu também, mas não sou alienada a ponto de não perceber que isso é uma coisa momentânea.
QUEM: Durante muito tempo, você e Stella não comentavam sobre o relacionamento de vocês por medo de magoar sua mãe, dona Mercedes, de 82 anos. E agora, como ela reage a essa sua nova fase?
CJ: Minha mãe é a pessoa que mais me ama no mundo. E ela é a pessoa que mais amo. Ela quer me ver feliz, porque já me viu sofrer muito. Minha mãe acompanhou um ano de quimioterapia, quando a quimioterapia não era o que é hoje. Eu vomitava 12 horas seguidas, na época (em 1986) do câncer no mediastino (região do tórax, atrás do coração). Ela me acompanhou quando sofri o infarto. Ela viu tudo isso. Agora, não se importa com quem eu esteja beijando. Ela quer me ver rindo e viva.
QUEM: Como está o clima no set de A Vida Alheia?
CJ: Maravilhoso. Estou realizando um sonho. Quando fazia escola de teatro, juntava dinheiro para assistir à Marília Pêra. Nunca imaginei que ia contracenar com ela. Está sendo uma grande emoção.
QUEM: Você e Miguel têm gênio forte. Já tiveram alguma briga feia?
CJ: Nunca. Na época do Sai de Baixo, briguei com o Daniel Filho. Mas foi uma bobagem, por causa de imaturidade minha e dele. A gente discordou de uma coisa, um texto que achei grotesco e me recusei a dizer. Eu quis que minha opinião prevalecesse, aí briguei com ele, o diretor do programa. Hoje, me arrependo amargamente de ter feito aquilo.
QUEM: Sua relação com os paparazzi, profissionais que aparecerão em A Vida Alheia, parece ser calma...
CJ: Totalmente. Adoro ser fotografada, não tô nem aí, contanto que eu saia bonitinha. A minha vida é um livro aberto, uma revista aberta. Todo mundo tem Facebook, Twitter, Orkut. Eu, não. A QUEM é o meu Twitter.
parabens a atriz claudia gimenez pela corajosa entrevista na revista quem, falando do abuso que sofreu na infancia. vale a pena ler