Se houvesse um órgão respeitável de representação de jornalistas no Brasil, Lucio Sturm, Ogg Ibrahim, Celso Freitas, Ana Paula Padrão e seus editores teriam de esclarecer como foram capazes de abrir mão do jornalismo troca do revanchismo e da truculência dos seus patrões, a TV Record e a Igreja Universal do Reino de Deus. Como não há, partamos para a fustigação pessoal e infrutífera em troca de alguma paz de consciência.
Nesta quarta-feira, revivendo os lamentaveis momentos em que Paulo Henrique Amorim e Afonso Monaco ergueram uma peça acusatória contra a jornalista Elvira Lobato e contra a Folha de S.Paulo por causa de uma reportagem, os quatro funcionários bem pagos e satisfeitos mencionados acima foram porta-vozes de uma suposta resposta para acusações contra líderes da TV e da igreja. Por longos 15 minutos conseguiram nada explicar.
Na noite anterior, a TV Globo divulgou reportagem de 10 minutos em que tratava da denúncia oferecida pelo Ministério Público, segundo a qual membros da cúpula da IURD e da TV Record utilizavam dinheiro de doações para ampliar seu império midiático. Com exageros aqui e ali, a reportagem estava correta. E não era exclusividade global, já que os principais jornais do país noticiaram o mesmo. Diante disso, a turma da Record preparou uma resposta. Não porque estivesse sendo injustiçada. Não por ética ou por indignação. Era apenas angústia e fúria insensata. Era apenas por retaliação.
Apelou para uma compilação de acusações contra a Globo que qualquer formando de faculdade incluiria em seu trabalho de conclusão de curso. E disse que a rival exibiu as acusações porque sente inveja, porque a Record é sensacional demais e a incomoda. É vergonhoso que jornalistas se prestem a esse papel. Em troca dos seus astronômicos salários, permitem que o público questione a honestidade de todos. Sujam a categoria.
Tamanha mediocridade certamente não passa em branco para os bons profissionais que estão na TV Record – e não devem ser poucos. Não tenho dúvida de que ali há gente que, mesmo sem participar da vendeta, se sente constrangida com a boçalidade e estreiteza mental de quem planejou uma resposta tão tíbia, revanchista e irritante a acusações que são sérias e não são uma simples questão de simpatia ou de preconceito. Nem de disputa por espaço no mercado.
Como não há sindicato dos jornalistas, vou eu mesmo mandar emails a esses jornalistas. Não é possível que eles achem que prestaram um bom serviço ao responder a questionamentos sérios como uma criança de 10 anos faria.