Rosanne D'Agostino - 07/04/2008 - 17h07
O delegado Calixto Calil Filho, que apura a morte da garota Isabella Nardoni, de 5 anos, determinou novamente que o inquérito policial do caso corra sob sigilo. Isabella caiu do 6º andar do prédio onde moram o pai dela e a madrasta, na Zona Norte de São Paulo, no dia 29 do mês passado.
O sigilo foi suspenso hoje juiz Mauricio Fossen, do 2º Tribunal do Júri de São Paulo. Ele levou em conta que o Ministério Público, em entrevistas à imprensa, revelou informações relevantes à investigação que estavam sob sigilo. "O MP demonstrou que o sigilo das informações não constitui formalidade imprescindível", concluiu o magistrado.
Em nota, o promotor do caso, Francisco José Taddei Cembranelli, afirma que as informações relativas ao caso são de domínio público e que "praticamente todos os fatos que constam e são investigados no inquérito foram divulgados pela imprensa nacional, seja antes ou depois da decretação do sigilo".
De acordo com a Secretaria de Segurança Pública de SP, o juiz deixou a cargo do delegado a retomada do sigilo, com base no artigo 20 do Código do Processo Penal. O segredo é relativo apenas aos procedimentos adotados pela Polícia Civil.
O dispositivo prevê que "a autoridade assegurará no inquérito o sigilo necessário à elucidação do fato ou exigido pelo interesse da sociedade". O Ministério Público, as partes e os advogados têm acesso pleno a todas as informações.
Habeas corpus
O pai de Isabella, o consultor jurídico Alexandre Nardoni, 29 anos, e a madrasta Anna Carolina Trotta Peixoto, 24, são tratados como suspeitos do crime investigado como homicídio.
Eles estão presos em celas individuais de duas delegacias da capital desde que foi decretada a temporária, por 30 dias, na noite de quarta (2/4) também pelo juiz Mauricio Fossen. A defesa do casal já entrou com habeas corpus para tentar libertá-los. A liminar pode ser concedida a qualquer momento.
Investigações
O promotor Francisco José Taddei Cembranelli pediu cautela para que nenhum inocente seja acusado injustamente. Até o momento, foram tomados 15 depoimentos.
O promotor revelou a Última Instância com exclusividade na última sexta (4/4) que a palavra "ciúme foi mencionada muitas vezes no inquérito". Mas, com as investigações sob sigilo, não pôde dizer a quem está relacionado o suposto ciúme.
Contradições
O promotor também viu contradições e aspectos obscuros nos depoimentos do pai e da madrasta da menina que, segundo ele, possui “trechos fantasiosos”. Ele pediu cautela até a conclusão do inquérito, que deve ocorrer, ainda conforme Cembranelli, antes do previsto.
Um deles seria o fato de o pai de Isabella ter comentado na hora do acidente que a porta do apartamento havia sido arrombada. “A perícia já constatou que não houve arrombamento algum”, afirmou.
Outra suspeita está sobre o sangue encontrado por peritos na porta do apartamento, omitido no depoimento do pai à polícia. “Perto da porta, os peritos afirmavam que o sangue era muito visível”, completa Cembranelli.
Defesa
A mãe biológica da menina, a bancária Ana Carolina Cunha de Oliveira, 23, prestou depoimento no 9º DP do Carandiru na quarta (2). Ela afirmou que quer apenas "que a justiça seja feita".
O advogado do pai e da madrasta, Ricardo Martins, afirma que seus clientes são inocentes. Uma das testemunhas disse ter ouvido gritos de "Pára, pai", vindos do apartamento que, para o defensor, são "interpretativos", já que a menina deveria estar chamando pelo pai, pedindo socorro.
Segundo outro dos advogados do casal, Marco Polo Levorin, eles não representam uma ameaça às investigações e nunca se furtaram a colaborar com a polícia.
Nardoni e a mulher ainda enviaram uma carta à imprensa na qual afirmam que "a verdade prevalecerá". O promotor acredita que a prova é precária. "Qualquer um pode escrever uma carta e juntar ao processo", diz.
Ainda não foi marcada a reconstituição do crime, que só deve ocorrer após concluídas as perícias e os resultados dos exames pelo IML (Instituto Médico Legal).
Crime
À polícia, o pai de Isabella afirmou ter chegado no edifício onde mora acompanhado da menina, da madrasta e dos outros dois filhos pequenos do segundo casamento, de três e de onze meses. Ele disse ter subido sozinho e, deixado Isabella no quarto. Ela morava com a mãe, e ficava com o pai a cada 15 dias.
Quando voltou com os demais, informou que a luz do quarto dela estava acesa e a tela de proteção da janela, cortada. A perícia, no entanto, apurou que a tela estava partida no quarto dos irmãos. Também havia sangue no local e no corredor de entrada do apartamento. O Corpo de Bombeiros foi acionado, houve tentativa de reanimação, mas sem sucesso.