A cena se repete em quase todos os capítulos das séries policiais da TV. Numa sala do tribunal, o promotor propõe ao bandido e seu advogado um acordo conveniente para ambas as partes. Se o personagem prestes a ser julgado assumir a autoria do crime, ou fizer revelações que incriminem delinquentes de patente superior, escapará de punições mais severas ou terá reduzido o tempo de cadeia.
O Brasil acaba de saber que, para os quadrilheiros federais e seus defensores, nada é tão terrível quanto algemas nos pulsos e fotos de topless nos jornais. O que espera o Ministério Público para colocar em prática o modelo americano? A multidão de assaltantes de cofres públicos, é verdade, não cabe num tribunal inteiro. Mas o doutor José Eduardo Cardozo poderá representá-los nas negociações. É ele o advogado de defesa de todos os bandidos de estimação.
Se os culpados confessarem tudo o que andaram fazendo e pagarem seus muitos pecados numa cela de cadeia, os brasileiros honestos toparão abrandar-lhes o sofrimento com duas concessões: as algemas de metal serão substituídas por argolas fabricadas pelos índios do Xingu e todos os gatunos só poderão ser fotografados de terno e gravata.
É um acordo vantajoso para todos. Eles se livrarão do martírio. E nós nos livraremos deles.
Augusto Nunes
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