. Mais informações em instantes
Wagner Rossi pede demissão do Ministério da Agricultura
por Bruno Siffredi
17.agosto.2011 19:16:13
O ministro da Agricultura, Wagner Rossi, enviou carta de demissão à presidente Dilma Rousseff, nesta quarta-feira, 17, após a Polícia Federal anunciar investigação na pasta.
Depois de Antonio Palocci (Casa Civil), Alfredo Nascimento (Transportes) e Nelson Jobim (Defesa), Rossi é o quarto ministro a sair do governo em oito meses.
Mais informações a seguir.
Saída de Wagner Rossi do ministério repercute no Plenário
O pedido de demissão do ministro da Agricultura, Wagner Rossi, repercutiu nesta quarta-feira entre deputados da base e da oposição. Enquanto governistas minimizaram a saída, relacionando-a a uma questão familiar, deputados da oposição disseram que o pedido de demissão reforça a instalação de uma comissão parlamentar de inquérito para analisar a corrupção nos ministérios.
Para o líder do PSDB, deputado Duarte Nogueira (SP), a queda de Wagner Rossi mostra que o modelo de distribuição dos cargos está saturado. “Depois da explosão do esquema do mensalão, o Governo Lula substituiu o modus operandi de adquirir apoio pela entrega de partes do governo para a base sem analisar os critérios técnicos do indicado ou estabelecer metas. Agora isso explodiu no colo da presidente Dilma”, avaliou Nogueira.
Da mesma forma, o líder do DEM, deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (BA), avaliou que a saída de Rossi diante das denúncias reforça a criação da CPI da Corrupção. “A corrupção está alastrada pelo governo e é por isso que a oposição tem insistido que a CPI é a única faxina eficiente”. Até o início da noite, o requerimento de criação da CPI tinha 114 assinaturas de deputados, das 171 necessárias; além de 20 dos 27 senadores.
Wagner Rossi pediu demissão no início da noite de hoje, após várias denúncias de irregularidades no Ministério da Agricultura. A mais recente era a de que ele teria usado um jatinho de uma empresa do ramo agropecuário. Na carta de demissão, Rossi alegou “motivos familiares” para deixar o cargo.
Os critérios de nomeação para os cargos no Executivo também foram questionados pelo líder do Psol, deputado Chico Alencar (RJ). “Um ministério com alguém que não é da área, que tem uma tradicional prática política, fisiológica, como sabemos, acaba semeando pepino e abacaxi”, ironizou.
Base defende
Deputados da base, por outro lado, defenderam Rossi e atribuíram sua saída a “uma questão política e familiar”. O líder do governo, deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP), reafirmou a inocência do ex-ministro. “Por uma carona em avião, ninguém pode deduzir que um ministro vai tomar uma decisão favorecendo uma empresa. Tem de ter um limite nas ilações”, afirmou.
Vaccarezza disse ainda que a presidente Dilma Rousseff não teria solicitado que Rossi deixasse o cargo. Ele também negou que haja uma campanha contra o PMDB. “O PMDB é um aliado firme e estamos aqui de braços dados no Parlamento, atuando juntos”, garantiu.
Na avaliação do vice-presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária, deputado Valdir Colatto (PMDB-SC), Rossi preferiu deixar o ministério a permitir que as denúncias contaminassem integrantes do partido. “Estava bastante insustentável a situação dele, até porque acabava batendo no vice-presidente da República, Michel Temer, uma vez que se sabe dos vínculos que eles têm.”
O vice-líder do governo deputado Odair Cunha (PT-MG) lamentou a saída de Wagner Rossi e disse que o ex-ministro cumpriu um papel importante, mas acabou tendo a vida pessoal “muito exposta”.
Edição - Rosalva Nunes
Leia a íntegra da carta de demissão de Wagner Rossi
'Deixo o governo, agradecendo a confiança da presidenta Dilma', afirmou.
Wagner Rossi era alvo de denúncias de irregularidades no ministério.
"Brasília, 17 de agosto de 2011
Neste ano e meio na condição de ministro da Agricultura do Brasil, consegui importantes conquistas. O presidente Lula fez tanto pela agricultura e a presidenta Dilma continuou esse apoio integralmente.
Fiz o acordo da citricultura, anseio de mais de 40 anos de pequenos e médios produtores de laranja, a quem foi garantido um preço mínimo por sua produção.
Construí o consenso na cadeia produtiva do café, setor onde antes os vários agentes sequer se sentavam à mesma mesa, com ganhos para todos, em especial os produtores.
Lancei novos financiamentos para a pecuária, recuperação de pastagens, aquisição e retenção de matrizes e para renovação de canaviais.
Aumentei o volume de financiamento agrícola a números jamais pensados e também os limites por produtor, protegendo o médio agricultor sempre tão esquecido.
Criei e implantei o Programa ABC, Agricultura de Baixo Carbono, primeiro programa mundial que combina o aumento de produção de alimentos a preservação do meio ambiente, numa antecipação do que será a agricultura do futuro.
Apoiei os produtores de milho, soja, algodão e outras culturas que hoje desfrutam de excelentes condições em prol do Brasil.
Lutei por nossos criadores e produtores de carne bovina, suína e de aves que são protagonistas do mercado internacional.
Melhorei a atenção a fruticultura, a apicultura e a produtos regionais, extrativistas e outras culturas.
Apoiei os grandes, os médios e os pequenos produtores da agricultura familiar, mostrando que no Brasil há espaço para todos.
Deus me permitiu estar no comando do Ministério da Agricultura neste momento mágico da agropecuária brasileira.
Mas, durante os últimos 30 das, tenho enfrentado diariamente uma saraivada de acusações falsas, sem qualquer prova, nenhuma delas indicando um só ato meu que pudesse ser acoimado de ilegal ou impróprio no trato com a coisa pública.
Respondi a cada acusação. Com documentos comprobatórios que a imprensa solenemente ignorou. Mesmo rebatida cabalmente, cada acusação era repetida nas notícias dos dias seguintes como se fossem verdades comprovadas. As provas exibidas de sua falsidade nem sequer eram lembradas.
Nada achando contra mim e no desespero de terem que confessar seu fracasso, alguns órgãos de imprensa partiram para a tentativa de achincalhe moral: faziam um enorme número de pretensas “denúncias” para que o leitor tivesse a falsa impressão de escândalo, de descontrole administrativo, de descalabro. Chegou-se à capa infame da “Veja”.
Tudo falso, tudo rebatido. Mas a campanha insidiosa não parava.
Usaram para me acusar, sem qualquer prova, pessoas a quem tive de afastar de suas funções por atos irregulares ou insinuações de que tinham atuado com interesses menos republicanos nas funções ocupadas. O principal suspeito de má conduta no setor de licitações passou a ser o acusador de seus pares. Deram voz até a figuras abomináveis que minha cidade já relegou ao sítio dos derrotados e dos invejosos crônicos. Alguns deles não passariam por um simples exame de sanidade.
Ainda assim nada conseguiram contra mim. Aí tentaram chantagear meus colaboradores dizendo que contra eles tinham revelações terríveis a fazer, mas que não as publicariam se fizessem uma só acusação contra mim. Torpeza rejeitada.
Finalmente começam a atacar inocentes, sejam amigos meus, sejam familiares. Todos me estimularam a continuar sendo o primeiro ministro a, com destemor e armado apenas da verdade, enfrentar essa campanha indecente voltada apenas para objetivos políticos, em especial a destituição da aliança de apoio à presidenta Dilma e ao vice-presidente Michel Temer, passando pelas eleições de São Paulo onde, já perceberam, não mais poderão colocar o PMDB a reboque de seus desígnios.
Embora me mova a vontade de confrontá-los, não os temo, nem a essa parte po dre da imprensa brasileira, mas não posso fazer da minha coragem pessoal um instrumento de que esses covardes se utilizem para atingir meus amigos ou meus familiares.
Contra mim nem uma só acusação conseguiram provar. Mas me fizeram sofrer e aos meus. Não será por qualquer vaidade ou soberba minha que permitirei que levem sofrimento a inocentes.
Hoje, minha esposa e meus filhos me fizeram carinhosamente um ultimato para que deixasse essa minha luta estóica mas inglória contra forças muito maiores do que eu possa ter. Minha única força é a verdade. Foi o elemento final da minha decisão irrevogável.
Deixo o governo, agradecendo a confiança da presidenta Dilma, do vice-presidente Michel Temer, do presidente Lula e dos líderes, deputados, senadores e companheiros do PMDB e de todos os partidos que tanto respaldo me deram.
Agradeço também a todos os leais colaboradores do Ministério da Agricultura, da Conab, da Embrapa e de todos os órgãos afins. Penso assim ajudar o governo a continuar seu importante trabalho, retomando a normalidade na agricultura.
Finalmente, reafirmo: continuo na luta pela agropecuária brasileira que tanto tem feito pelo bem de nosso Brasil. Agradeço as inúmeras manifestações de apoio incondicional da parte dos líderes maiores do agronegócio e de suas entidades e também aos simples produtores que nos enviaram sua solidariedade.
Deus proteja o produtor rural e tantos quanto lutem na terra para produzir alimentos para o mundo. Deus permita que tenham a segurança jurídica necessária a seu trabalho que o Congresso há de lhes garantir. Lutei pela reforma do Código Florestal. É importante para o Brasil. Outros, talvez mais capazes, haverão de continuar essa luta até a vitória.
Confio que o governo da querida presidenta Dilma Rousseff supere essa campanha sórdida e possa continuar a fazer tanto bem ao nosso país.
Sei de onde partiu a campanha contra mim. Só um político brasileiro tem capacidade de pautar “Veja” e “Folha” e de acumular tantas maldades fazendo com que reiterem e requentem mentiras e matérias que não se sustentam por tantos dias.
Mas minha família é meu limite. Aos amigos tudo, menos a honra.
Wagner Rossi
Ministro de Estado da Agricultura, Pecuária e Abastecimento"
17/08/2011 21h10 - Atualizado em 17/08/2011 22h05
As mudanças no ministério de Dilma
Equipe que tomou posse em 1º de janeiro de 2011 sofreu alterações.
Veja as trocas de ministros desde o início do mandato da presidente.
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