Publicada em 15/04/2010 às 23h10m
Sérgio RamalhoRIO - A descoberta de um dos pés do filho do contraventor Rogério Andrade , de 47 anos, dentro do Toyota Corolla que explodiu num atentado a bomba há uma semana, na Barra da Tijuca, coloca em xeque o trabalho de perícia de local feita por técnicos da Polícia Civil. Diogo, de 17, teve o corpo dilacerado na explosão de um artefato no veículo blindado, que após ser examinado foi levado para o pátio da Delegacia de Roubos e Furtos de Automóveis (DRFA), onde a parte do corpo foi descoberta.
O médico-legista George Sanguinetti classificou de inadmissível a falha dos peritos envolvidos no exame de local. Ele atuou em casos como o do assassinato de Paulo César Farias (tesoureiro do ex-presidente Fernando Collor) e da menina Isabella Nardoni. Para o legista, a descoberta de parte do corpo no veículo dias após a perícia indica que o trabalho foi superficial:
- É um erro grosseiro e revela que a perícia de local praticamente não foi feita. Num caso de explosão de uma bomba num veículo, a ciência forense define como conduta correta um exame minucioso nos restos do carro, no prazo de 24 horas. Estou chocado com o primarismo desse trabalho.
" É um erro grosseiro e revela que a perícia de local praticamente não foi feita "
Luiz Carlos Silva Neto, advogado de Rogério, também não poupou críticas à perícia. Segundo ele, a família foi informada nesta quinta-feira sobre a descoberta do pé. O advogado entrou com recursos no Tribunal de Justiça, solicitando permissão para abrir a sepultura do jovem e enterrar o restante do corpo:
- É um fato grave e mostra que a perícia foi superficial. Se não conseguiram identificar parte de um corpo, o que dizer do material usado na confecção da bomba.
Após a explosão, no último dia 8, peritos do Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE), do Instituto Médico-Legal (IML) e da Divisão de Homicídios (DH) isolaram por mais de quatro horas um trecho da Avenida das Américas para fazer a perícia de local. Procurada pelo GLOBO para comentar a descoberta do pé, uma semana após o atentado, a Polícia Civil não se pronunciou sobre o fato.
Um dos seguranças do bicheiro portava um fuzilÀ noite, Rogério foi à missa de sétimo dia do filho, na Igreja Nossa Senhora da Paz, em Ipanema. Vestindo um terno preto com fina listras brancas, o contraventor chegou à igreja cercado por cerca de 40 seguranças (pelo menos um deles estava dentro de um carro com um fuzil). Ele desembarcou do carro blindado com a mulher e parentes. Os seguranças ficaram nos corredores da igreja e nas ruas Visconde de Pirajá e Joana Angélica. Ainda com curativo no rosto, por ter se ferido na explosão, Rogério sentou-se na primeira fila, onde recebeu os cumprimentos. Cerca de 80 pessoas assistiram à missa.
- Esse é o segundo atentado que sofro. No primeiro, disseram que foi forjado. Será que agora vão dizer que forjei novamente? Espero e confio na polícia do Rio para descobrir o responsável por esse ataque. Eu fui vítima de um atentado terrorista - disse o bicheiro, com dificuldade para falar.
Apesar de ter solicitado escolta policial à Secretaria de Segurança, o contraventor não recebeu proteção oficial. Porém, agentes à paisana da Corregedoria Geral Unificada estiveram na igreja na tentativa de identificar policiais que estar como seguranças do bicheiro.