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segunda-feira, 19 de abril de 2010

Com Lula, bancos lucram R$ 127, 8 bi








Ganhos acumulados pelas 100 maiores instituições entre 2003 e 2009 foram 2,3 vezes superiores aos desembolsos do Bolsa Família

  • Marcone Gonçalves


  • Sempre que questionado sobre os ganhos espetaculares acumulados pelo sistema financeiro ao longo de seu governo, o presidente Lula sai-se com essa: “Quero mais é que os bancos deem lucro”. Pois dados consolidados pelo Banco Central, referentes aos sete anos da administração do petista, mostram que as 100 maiores instituições financeiras do país não se fizeram de rogadas. Acumularam, no período, R$ 127,8 bilhões em lucros, o equivalente a 2,3 vezes os R$ 55,2 bilhões gastos pelo Ministério do Desenvolvimento Social por meio do Bolsa Família, programa que ajuda a melhorar as condições de vida de 46 milhões de brasileiros.

    Nem mesmo o estrago provocado pela crise mundial foi suficiente para inibir o apetite dos bancos. No ano passado, também segundo o BC, as 100 maiores instituições engordaram o seus cofres com ganhos de R$ 23,2 bilhões, resultado que superou em 26% os retornos de 2008 (R$ 18,4 bilhões). Isso, apesar de o Produto Interno Bruto (PIB), o total de riquezas produzidas pelo Brasil, ter encolhido 0,2% na mesma comparação. Quem acompanha o mercado de perto avisa: o último ano da gestão Lula será fechado com pompa pelo sistema bancário: os lucros serão os maiores da história, o que poderá ser comprovado quando saírem os números do primeiro trimestre.

    Os dados do BC consideram, porém, somente os resultados dos bancos com a atividade própria. Ou seja, não contabilizam, por exemplo, as seguradoras controladas por eles, que têm inflado ainda mais os ganhos. Pelo critério do BC, o BB embolsou R$ 6,1 bilhões no ano passado (o total passou de R$ 10 bilhões, um recorde). Já Itaú Unibanco e Bradesco ganharam, respectivamente R$ 5,4 bilhões (foram R$ 10 bilhões no geral) e R$ 4 bilhões (R$ 8 bilhões).

    Para um técnico do governo, não se deve ver com preconceito os lucros dos bancos. Pelo contrário, são eles que garantem a solidez do sistema financeiro, que foi fundamental para que o país saísse mais rápido da crise provocada pelo estouro da bolha imobiliária americana. (1)“O Brasil foi elogiado em todo o mundo pela robustez de seus bancos”, afirmou. “Ao lucrarem mais, as instituições podem liberar mais crédito e, dessa forma, contribuir para o crescimento sustentado do país”, acrescentou.


    1 - Estatização no mundo
    As estripulias feitas pelos bancos americanos no crédito imobiliário deixaram um rastro de prejuízos em todo o mundo. Gigantes com o Citibank, o Goldman Sachs e a seguradora AIG tiveram de ser socorridos pelo governo dos Estados Unidos. Na Europa, várias instituições foram estatizadas para não quebrarem. Com isso, garantiu-se os depósitos de milhões de poupadores.


    E EU COM ISSO
    Boa parte dos lucros dos bancos decorre da concentração do sistema financeiro. Com um menor número de instituições no mercado, os consumidores ficam desprotegidos. Os bancos aumentam o poder para impor taxas de juros elevadas nos empréstimos. Também ficam confortáveis para fixar tarifas maiores nos serviços que prestam, já que a competição diminui.




    Concentração aumentará

    O interesse do Santander pelo Safra é apenas mais um movimento no intenso processo de concentração bancária no Brasil, afirmou Luís Miguel Santacreu, analista da consultoria Austin Asis. Os cinco maiores bancos do país detém ativos de R$ 2,397 bilhões, o correspondente a 78,22% do sistema. Com a possível junção do Santander e do Safra, esse índice passaria para 80,54%.

    Na avaliação de Santacreu, o processo de concentração deve continuar, com um número cada vez menor de bancos detendo um volume maior de créditos e de depósitos. “Não estamos inventando nada. Se formos olhar para outros países, a presença de grandes bancos de varejo no mercado também é reduzida”, assinalou.

    Há uma parcela importante de analistas acreditando que, além do Safra, a outra noiva cobiçada no mercado é o Citibank, que enfrentou sérias dificuldades nos Estados Unidos durante a crise mundial e só não ruiu porque foi socorrido pelo governo de lá. A disputa pelo Citi envolveria, inclusive, o Banco do Brasil, que nos últimos meses assumiu o controle da Nossa Caixa e arrematou 50% do Votorantim. A Caixa Econômica Federal, por sua vez, ficou com metade do Banco Panamericano, do grupo Sílvio Santos.

    Os grandes perdedores nesse jogo, segundo Ione Amorim, economista do Instituto de Defesa do Consumidor (Idec), são os consumidores, que ficam reféns dos poucos bancos. (MG)



    Santander quer o Safra

    Em meio ao processo de concentração do sistema financeiro brasileiro, uma operação é aguardada com expectativa: a possível compra do Safra, o oitavo maior banco do país, pelo Santander. Se concretizada, a instituição espanhola saltará do quinto para o quarto lugar no ranking do varejo financeiro elaborado pelo Banco Central, com ativos totais de R$ 405,1 bilhões. Deixará para trás, com longa margem, a Caixa Econômica Federal e encostará no Bradesco.

    Se arrematar o Safra, o Santander herdará uma carteira de clientes e de operações bancárias diferenciadas, geridas por Joseph Safra. Junto com o irmão Moise, o banqueiro tornou-se uma lenda na administração de grandes fortunas (2)no Brasil. A atividade bancária da família remonta ao início do século passado, quando o patriarca do clã abriu um banco na região onde hoje é a Síria. O terceiro irmão, Edmond Safra, morto há 11 anos em um incêndio criminoso em Mônaco, foi o dono do Republic National Bank of New York. O Safra tem ativos de R$ 71 bilhões, 99 agências e quase 5 mil funcionários.

    A possível compra do Safra pelo Santander começou a ser especulada pelo mercado no fim do ano passado, quando se tornaram públicas as informações de que a instituição havia enfrentado saques maciços de clientes no auge da crise mundial. O Safra era controlador da Aracruz Celulose, que perdeu bilhões de reais em operações arriscadíssimas no mercado de câmbio. Temia-se que o banco estivesse por trás dos negócios malsucedidos. A Aracruz acabou sendo vendida para o grupo Votorantim, mas a desconfiança em relação ao Safra não se dissipou por completo.

    Procurado pelo Correio, o Safra não se manifestou. E o Santander se limitou a informar que “não comenta especulações”. Apesar desse silêncio, José Luiz Rodrigues, sócio-titular da consultoria JL Rodrigues e especialista em sistema financeiro, disse que a operação Safra-Santander faz todo o sentido. “O Safra vive um momento em que precisa definir seu rumo como um banco de varejo. Não dá para pensar que poderá ter uma política de expansão agressiva contando com menos de 100 agências”, afirmou. (MG)


    2 - Privilegiados
    O objetivo maior do espanhol Santander com a possível compra do Safra é entrar com tudo no mercado de alta renda, hoje dominado pelo Bradesco, com a marca Prime, e pelo Itaú Unibanco, com o Uniclass e o Personalité. Para esse público com grande disponibilidade de recursos para investimentos, o Santander oferece a marca Van Gogh, que pertencia ao Real.



    O Safra vive um momento em que precisa definir seu rumo como um banco de varejo”
    José Luiz Rodrigues, sócio-titular da consultoria JL Rodrigues



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