Fiquei calado por muito tempo sobre o caso da menina Isabella. Chegou a hora de falar.
O crime cometido contra Isabella Nardoni é causador da comoção nacional. Isso é fato. E nem há problema nisso. Uma menina de cinco anos ser possivelmente morta pelo pai e pela madrasta de forma cruel como a polícia averiguou é algo que choca.
Também choca a cobertura que a Imprensa está fazendo desse caso. Eu, como futuro membro dessa Imprensa, estou sentido vergonha pelo que meus futuros colegas de profissão estão fazendo.
Hoje, no programa de Sônia Abrão na Rede TV!, aparecia um letreiro no pé do televisor anunciando: “Reveja daqui a pouco os momentos mais importantes da polêmica entrevista do pai e da madrasta da Isabella!”. Isso mesmo, com exclamação no final. Não duvido que em breve eles usem o termo “melhores momentos” para se referir aos trechos da entrevista.
Às 15h20, quando escrevia esse post, a TV Record mantinha um plantão no ar. Lia-se “Caso Isabella: polícia fala em instantes”. Minutos antes já tinha visto na Rede TV que a entrevista coletiva havia sido cancelada. Ou seja, desencontro de informações. Minutos depois, a entrevista coletiva aconteceu.
O pior, no entanto, foi a revista Veja. Alertado por um post do Alessandro Martins, fui checar a capa da revista. Estou embasbacado até agora.
“FORAM ELES”. Dentro da revista, a reportagem que fala sobre o caso Isabella tem o título “Frios e Dissimulados”, e logo abaixo desse título encontramos o resumo “Pai e madrasta mataram Isabella, numa seqüência de agressões que começou ainda no carro, conclui a polícia“.
Na verdade, quem conclui é a própria revista Veja. Embora a condenação popular do casal Nardoni já tenha acontecido, o mesmo não podemos falar da conclusão judicial do caso. Existe uma coisa chamada presunção de inocência -talvez o Rodrigo Ghedin possa nos explicar sobre esse assunto-, que garante a esses acusados o direito de serem considerados inocentes até que o caso tenha chegado à instância máxima do poder judiciário. É o famoso “todos são inocentes até que se prove o contrário”.
Agora a pouco o delegado responsável pelo caso disse, em coletiva de imprensa, que a polícia não pode sobrepor os interesses jornalísticos aos interesses públicos. O principal é que se elucide o caso. Até lá, não podemos condenar ninguém. Só o juiz ou jurado (parece que o caso vai a júri popular) pode.