Folha
Uma manobra executada por Romero Jucá (PMDB-RR), líder de Lula no Senado, fez subir no telhado o depoimento do petista João Vaccari Neto à CPI das ONGs.
Tesoureiro do PT, Vaccari fora convocado na semana passada para prestar esclarecimentos à CPI.
Deveria ter sido inquirito nesta terça (23) sobre as denúncias de desvios de verbas da cooperativa habitacional Bancoop para o caixa dois do PT.
Vaccari não foi ouvido porque, na véspera, protocolara um ofício solicitando o adiamento da arguição. Alegara que seu advogado está nos EUA.
A pretexto de remarcar a data da inquirição, Heráclito Fortes (DEM-PI), presidente da CPI, reuniu os membros da comissão.
Supreendido pela movimentação de Jucá, Heráclito viu-se compelido a encerrar a sessão da CPI cinco minutos depois de tê-la iniciado.
O líder do governo ameaçou mobilizar a tropa para aprovar requerimento cancelando a ata da sessão que aprovara a convocação de Vaccari.
Cancelamento de ata é coisa jamais vista na história do Senado. Heráclito saltou da cadeira: "No dia que você anular uma ata de comissão, você acaba com o processo legislativo”.
Àlvaro Dias, coautor do pedido de convocação de Vaccari, ironizou: “O único que tem o poder de desconvocar é o Dunga”.
Movendo-se em combinação com a líder de Lula no Congresso, Ideli Salvatti (PT-SC), Jucá não se deu por achado.
Disse que o mais apropriado seria ouvir Vaccari noutra comissão, a de Fiscalização e Controle, presidida por Renato Casagrande (PSB). Algo que Ideli defendia desde a semana passada.
Cancelada a sessão da CPI das ONGs, a oposição foi chiar no plenário do Senado. Da tribuna, Álvaro Dias expôs a manobra de Jucá.
Em apartes, os líderes Agripino Maia (DEM) e Arthur Virgílio (PSDB) ameaçaram reagir à eventual desconvocação de Vaccari com o bloqueio das votações.
Nos subterrâneos, Jucá também desfiava uma advertência. Cuidou de avisar que, mantida a convocação de Vaccari na CPI, a oposição teria o troco.
A resposta, disse Jucá, viria na forma da convocação em série de expoentes oposicionistas mencionados em escândalos.
O senador pemedebê chegou mesmo a dizer que guarda consigo uma pasta apinhada de requerimentos já formulados pelo PT.
No meio da tarde, surgiu uma novidade: aprovou-se na Comissão de Fiscalização e Controle um requerimento de Álvaro Dias.
Prevê a audição, na terça-feira (30) da semana que vem, de Vaccari e outros personagens do caso Bancoop. Tudo como queria Jucá.
Na comissão, o tesoureiro do PT será ouvido como “convidado”. Na CPI, seria espremido como “convocado”.
Confirmando-se a sessão de terça, a oposição terá dificuldades para insistir na inquirição da CPI das ONGs, prevista para depois da Semana Santa.
Além de Vaccari, o “convite” aprovado nesta terça (23) alcança o promotor José Carlos Blat, responsável pelo inquérito da Banccop.
Pretende-se ouvir também, entre outros, Luiz Malheiro. Vem a ser irmão do petista Hélio Malheiro, morto num acidente de automóvel em 2004.
Hélio Malheiro antecedera Vaccari na presidência da Bancoop. Em depoimento ao Ministério Público de São Paulo, o irmão reforçou as suspeitas de desvios.
Resta agora saber: 1) As ameaças de retaliação expostas por Jucá vão arrefecer os arroubos inquisitoriais da oposição? 2) A convocação da CPI será mantida?
Escrito por Josias de Souza às 05h57