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quarta-feira, 24 de março de 2010

MAIS DINHEIRO PARA CULPAR OS NARDONI :Boneca com peso e tamanho de Isabella será usada para reconstituir o crime


Publicada em 24/04/2008 às 21h20m

SPTV, Jornal HOje, O Globo Online Edifício London

SÃO PAULO - A reconstituição da morte de Isabella Nardoni, 5, ganhou contornos de megaevento. Pelo menos 100 policiais vão participar da encenação, que pode durar cerca de 10 horas. O espaço aéreo em num raio de três quilômetros em torno do prédio poderá ser fechado por 14 horas e a rua vai ser parcialmente interditada, para evitar a aproximação de curiosos. Uma boneca com o mesmo tamanho e peso de Isabella foi comprada pela polícia.

Advogados criminalistas lembram que, apesar de poder revelar detalhes importantes da mecânica do crime, a reconstituição não garante a exatidão dos fatos.

- O crime foi à noite e a reconstituição será feita durante o dia. Isso altera a percepção de gritos e ruídos que as testemunhas tiveram naquele dia - diz o advogado criminalista Sergio Rosenthal.

Nesta quinta, policiais militares e civis, moradores de prédios vizinhos, síndicos e representantes da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) se reuniram por mais de 2 horas para acertar detalhes. Os moradores do edifício London não precisarão deixar suas casas, mas a Rua Santa Leocádia, onde fica o prédio onde morava o pai e a madrasta da menina, sofrerá interdição desde a noite de sábado. O trânsito será liberado apenas para moradores da rua, que terão que se identificar para ter acesso às suas casas. A polícia terá uma lista com o nome de todos e deve controlar até mesmo possíveis entregas de pizza.

Não será permitida a passagem de pedestres que não morem na rua. O objetivo é evitar a aglomeração de curiosos, como tem ocorrido. Alguns moradores do edifício já decidiram deixar suas casas no domingo para evitar a confusão.

Os detalhes da reconstituição estão sendo definidos por homens do Grupo de Operações Especiais (GOE) da Polícia Civil. Este será o último passo antes do encerramento do inquérito. Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá foram indiciados por homicídio triplamente qualificado.

- Não queremos perturbar os moradores e o trabalho da imprensa. Mas precisamos organizar um esquema - disse o delegado do Grupo de Operações Especiais (GOE), Luiz Antonio Pinheiro.

A polícia pretende refazer todos os passos daquela noite, seja na versão de Alexandre Nardoni e Anna Jatobá, seja de acordo com o inquérito que aponta o casal como principal suspeito. O casal não é obrigado a participar nem de um, nem de outro. A lei brasileira estabelece que ninguém é obrigado a produzir provas contra si. Os advogados de defesa ainda não decidiram se o casal vai participar. Até agora, 14 pessoas foram convocadas.

O Comando da Aeronáutica em Brasília informou que o fechamento do espaço aéreo ainda não está definido. Segundo um porta-voz, há 28 situações em que se pode fechar o espaço aéreo, mas para a reconstituição de um crime não há previsão. Mesmo assim, a polícia de São Paulo pretende fazer o pedido à Justiça nesta sexta-feira.

O fechamento do espaço aéreo mantém helicópteros da imprensa afastados. Além disso, os policiais querem evitar qualquer tipo de barulho porque usarão um sofisticado sistema de som para verificar, por exemplo, se os vizinhos conseguiriam ouvir a discussão que teria acontecido dentro do apartamento. Querem ainda verificar o momento em que uma testemunha ouviu a frase "pára, pai", que até agora não se sabe quem disse e em que situação essa frase foi dita. Inicialmente, foi dito que seria a de Isabella. Agora, ganhou força a versão de que foi o irmão dela, de 3 anos, que teria visto o crime.

Testemunhas também participarão da reconstituição, entre elas o morador do primeiro andar que foi chamado pelo porteiro e ligou para o Resgate do Corpo de Bombeiros. A lista inclui o porteiro do prédio; os funcionários da ambulância que fizeram o resgate e a mulher do subsíndico. A mãe de Isabella, Ana Carolina Cunha de Oliveira, também foi convidada.

O edifício London fica na Rua Santa Leocádia. Do lado direito estão o Batalhão da Corregedoria da PM e várias casas. Do outro lado, dois prédios e mais casas. Em frente ao edifício, há um prédio residencial e uma escola. Nos fundos, na rua Salvador Romeu, um sobrado em obras e várias casas onde funcionam dois salões de beleza, uma borracharia, um escritório de advocacia e uma loja de faixas e cartazes.

Vizinhos não estão nada satisfeitos.

- De preferência vou ficar fora de casa. Ir para outro bairro e outro lugar para fugir disso. É tudo tão triste. Para que ficar prolongando mais isso? - pergunta a comerciária Marisa Ferreira.

A reconstituição vai ajudar a confrontar as versões que existem para a morte de Isabella Nardoni. No Boletim de Ocorrência feito no dia do crime, o caso foi registrado como homicídio qualificado. Um dia depois, o pai e a madrasta prestaram o primeiro depoimento. Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá disseram que passaram aquele sábado na casa dos pais dela, em Guarulhos. Chegaram em casa no fim da noite. O horário da chegada da família ao edifício London é uma das poucas contradições nos depoimentos do casal.

Antes de ir pra casa, a família foi gravada pelo circuito interno de um supermercado. São as últimas imagens de Isabella viva. Alexandre e Anna Carolina dizem que quando chegaram ao prédio, ela ficou no carro com os dois filhos pequenos e ele subiu com Isabella no colo, deitou a menina na cama e voltou à garagem para ajudar a mulher com as crianças. Os dois dizem acreditar que, neste intervalo, uma terceira pessoa entrou no apartamento e matou a menina.

A versão indicada pelos exames minuciosos feitos pelos institutos Médico Legal e de Criminalística é bem diferente. A partir dos laudos, a perícia afirma ser improvável que uma terceira pessoa tenha entrado no apartamento. O intervalo de tempo é insuficiente, segundo os técnicos. Seriam apenas 4 minutos para praticar o crime, apagar provas e sair do prédio sem ser visto.

A polícia vai contar o tempo de cada ação, em cada uma das versões do crime.

O casal será orientado pelos advogados de defesa com base nos três laudos fornecidos pelo Instituto de Criminalística e pelo Instituto Médico Legal. Os advogados Ricardo Martins e Rogério Neres estiveram ontem na delegacia para apanhar cópia. Nesta quinta e na sexta eles se reunirão com o casal, que será instruído sobre como agir.





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