Rio - Mãos feridas e inchadas de cavar a terra para retirar os corpos. Muletas para conseguir caminhar depois de ficar com as pernas soterradas. Muitos sobreviventes da tragédia enterraram ontem seus mortos. No Cemitério São Francisco Xavier, no Caju, foram sepultados seis corpos — cinco eram de crianças entre 3 e 13 anos que morreram soterradas no Morro do Turano, Tijuca. Quatro delas eram da mesma família: três irmãos e uma tia. Durante todo o dia de ontem, outras famílias peregrinaram nos locais de resgate e no Instituto Médico-Legal (IML) em buscas dos corpos das vítimas da tragédia. Um ao lado do outro foram enterrados os irmãos Joel, 5, Jean, 9, e Joice, 13, e a tia deles, Rebeca Alves do Nascimento, 12. A mãe dos três e irmã de Rebeca, Glace Maria Alves do Nascimento, 30, teve que ser amparada. O estofador Ezequiel da Silva, 31, lembrou os últimos momentos dos filhos. “Eles quiseram ir para a casa da avó se proteger porque, quando chovia, tivemos medo de uma tragédia. Infelizmente, aconteceu o contrário”, lamentou ele abraçado à Josiane, 11, agora a única filha. >> FOTOGALERIA: Resgate dramático em Santa TeresaCom curativos e muletas, vítimas sofrem ainda para acompanhar o velório de quem não conseguiu se salvar da tragédia dos desabamentos
Enterro dos corpos de três irmãos e uma tia no cemitério do Caju. Outras vítimas foram sepultadas lá | Foto: André Mourão / Agência O DIA
O velório aconteceu fora da capela do Cemitério do Caju, com cerca de 200 pessoas. Abalados, os moradores queriam ver as crianças e houve tumulto. Foi preciso fazer fila para que todos pudessem passar pelos caixões. Os amigos Benito Damiano Santos, 32, Alexandre dos Santos, 34, e Carlos Roberto de Souza, 37, moradores do Turano, ajudaram a resgatar os quatro corpos. “Cavamos com as nossas mãos e retiramos as crianças, mas elas já estavam sem vida”, lamentou Carlos, mostrando as mãos machucadas e inchadas.
Logo depois, foi enterrado Lucas, 3. Com muletas, o zelador Luiz Alexandre dos Santos, 39, acompanhou o cortejo do filho. Ele está com os pés machucados porque ficou com as pernas soterradas. “Consegui me soltar rápido e resgatei minha filha (Maria Luísa, 7 meses) e minha mulher. A lama pegou meu filho. Procurei por ele, mas não encontrei. Tudo meu acabou”, contou. A mãe de Lucas amamentava Maria Luísa quando o corpo do menino chegou. Chorando e com o bebê no colo, ela orou e acariciou o rosto do filho morto.
No Morro da Chacrinha, na Tijuca, Ana Pereira, 49, chorou a perda de quatro netos. Ao ver as goteiras na casa, as crianças ficaram com medo e buscaram abrigo na casa da avó, que desabou. A casa deles ficou intacta.
quinta-feira, 8 de abril de 2010
Sobreviventes enfrentam mais dor: o adeus a parentes e amigos
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