MELINA CARDOSO
colaboração para a Folha
Contratado pelo SBT desde outubro do ano passado, o jornalista Goulart de Andrade ainda não teve a oportunidade de mostrar suas reportagens especiais no programa "SBT Repórter". A expectativa é que a primeira exibição ocorra somente no início do mês de maio.
Trata-se de uma retrospectiva, que segundo ele, ocorre "porque índio velho passa diversas vezes pela mesma árvore" [referindo-se à quantidade de reportagens feitas e refeitas durante os 52 anos de carreira].
Ele já trabalhou na TV Rio, Continental, Tupi, Record, Globo, Bandeirantes, Gazeta, Manchete, Record News e agora volta ao SBT. O convite para retornar à emissora partiu do apresentador César Filho, mas foi efetivado pelo diretor de Jornalismo, Paulo Nicolau.
Fora do ar desde o rompimento do contrato com a Record News, em 2009, Goulart diz que ainda é muito cobrado nas ruas quanto à sua volta à TV. "Por que estou fora?", questiona. "Não é por minha vontade. Estou fora porque as emissoras preferem outros produtos (...), porque imaginam elas que outros produtos vão render financeiramente", lamenta o jornalista que ainda anseia pelo retorno do "Comando da Madrugada" --programa produzido e ancorado por ele e que traz o estilo "plano sequência" [aquele em que não há cortes nas filmagens] em todas as reportagens.
"Ninguém fica impunemente no ar 30 anos fazendo a mesma coisa sem que o público tenha interesse e sem que tenha valor. Ele [programa] precisa voltar, eu criei uma coisa maior que eu (...). Se o "Comando da Madrugada" voltar ao SBT vou ficar felicíssimo. Fico esperando correr pro abraço, diz o jornalista.
Outros projetos
Além das reportagens especiais, Goulart de Andrade trabalha em sua produtora "Cinema Novo". Ali, produz vídeos institucionais, educacionais e está debruçado sobre um projeto de EAD (Ensino à Distância).
Ele defende a independência dos profissionais que atuam na TV e critica os contratos de exclusividade. "Não quero ser um produto ou objeto de exclusividade de uma emissora. Nem eu, nem o conteúdo que seja criado. Isso é uma coisa do passado. A emissora não tem o poder de seduzir ou escravizar. Os talentos precisam ser nômades", afirma.
Televisão brasileira
Em relação ao conteúdo da televisão, Goulart afirma que não assiste a canais abertos. Diz que suas preferências são filmes [infantis]-- que assiste ao lado da enteada de seis anos e documentários diversos.
"Eu me recinto em não poder ver a TV aberta privilegiar o público com coisas mais produtivas. Eu tenho uma tristeza quando a Globo banca um monte de grana em um programa como o BBB. Com um centésimo daquele dinheiro, eu faria programa um ano inteiro", lamenta.
Ela [Rede Globo] que se cuide: tem responsabilidades social, estética, ética e não as cumpre. Eles não vendem espaço, eles são comprados".
Futuro
Goulart completou 77 anos nesta semana. Ele se intitula "operário do comportamento" e afirma que há uma profecia sobre sua vida que diz que ele viverá 115 anos. "Vou viver até os 115, sem bengala e mandando ver. Vem comigo", repete o bordão, sua marca registrada durante as gravações.