A candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, ficou longe das obras alagadas do PAC no Rio. Instalou-se em Minas - sua terra natal, mas onde não fez carreira política; não na legalidade ao menos -, visitou o túmulo de Tancredo Neves, que o PT tratava a pontapés quando vivo, e concedeu uma entrevista à rádio Itatiaia em que fez a apologia da traição. Ou, para ficar numa simbologia cara às Minas Gerais: Dilma voltou à terra de Tiradentes para aplaudir Joaquim Silvério dos Reis. O PT é assim: entre o cordeiro e o lobo, escolhe o lobo, apesar de estar sempre com um chapeuzinho vermelho.
Ontem, Dilma estava mais mansinha. Na entrevista, elogiou o ex-governador Aécio Neves — “exemplar”, segundo ela — e fez a apologia da traição. Indagada sobre a chapa “Dilmasia”, acabou defendendo que os mineiros votem nela para presidente e no tucano Antonio Anastasia para governador. E ainda tentou fazer uma graça, com aquele seu humor muito característico: disse preferir o nome “Anastadilma”. Numa única resposta, traía seus anfitriões do PT e ainda convidava os tucanos de Minas a trair o seu partido. Como sabem, Dilma andou falando esses dias sobre “cordeiros e lobos”.
A grande Cecília Meireles imortalizou o movimento nativista da Inconfidência Mineira no magistral “Romanceiro da Inconfidência”, o melhor livro de poesia brasileira — como unidade — publicado no século passado. Não me estenderei sobre os motivos dessa afirmação aqui, o que pode ficar para outro texto. Quero lembrar duas estrofes magistrais com que brindou o traidor Joaquim Silvério dos Reis:
Melhor negócio que Judas
fazes tu, Joaquim Silvério:
que ele traiu Jesus Cristo,
tu trais um simples Alferes.
Recebeu trinta dinheiros…
- e tu muitas coisas pedes:
pensão para toda a vida,
perdão para quanto deves,
comenda para o pescoço,
honras, glórias, privilégios.
E andas tão bem na cobrança
que quase tudo recebes!
Melhor negócio que Judas
fazes tu, Joaquim Silvério!
Pois ele encontra remorso,
coisa que não te acomete.
Ele topa uma figueira,
tu calmamente envelheces,
orgulhoso e impenitente
com teus sombrios mistérios.
(Pelos caminhos do mundo,
nenhum destino se perde:
há os grandes sonhos dos homens,
e a surda força dos vermes.)
Está tudo aí, leitor. Não há nada mais que se possa acrescentar sobre a censura à traição. Noto, antes que comente um outro aspecto da entrevista, que Dilma dá a entender que, fosse Aécio o candidato tucano, então o PT não teria por onde fazer a sua campanha, não é mesmo?, já que ele, segundo Dilma, é “exemplar”. Parece-me infantil supor que o ex-governador de Minas caia em tal truque. Há dias, os petistas mobilizaram manifestantes a soldo, pagando uns trocados mesmo, para fazer arruaça na Cidade Administrativa Presidente Tancredo Neves. Eis o PT: à luz do dia, flores para o ex-presidente; à socapa, financiamento ilegal de “protestos”…
Na entrevista, Dilma voltou ao monotema de sua campanha: a disputa, que não existe, entre FHC e Lula. E afirmou sobre o candidato tucano: “Acho que o ex-ministro José Serra vai ter que ser analisado no quadro do governo FHC. Eu não escondo o Lula. Espero que ele não esconda o governo do qual participou”.
Claro, claro… Embora a disputa seja entre Serra e Dilma, não entre o ex-presidente e o atual, acho que os tucanos não precisam e não devem fugir dos confrontos do passado. É isto: que ninguém esconda nada!
Parece que a petista quer que o eleitor considere que Serra nada mais é do que o seu passado de ministro de FHC — algo de que ele deva se envergonhar? Se o passado não passa para ele, então é o caso de considerar que o passado também não passa para ela. Dilma, entao, ainda é aquela que militou em organizações terroristas que mataram inocentes. Estou mentindo? Mataram ou não mataram? O que Serra tem a esconder sobre o seu passado? E Dilma?
Ela pode, como fez ontem, depositar flores no túmulo de Tancredo Neves, que o PT atacou com impressionante virulência quando vivo. Mas Serra não tem por que depositar flores no túmulo de Carlos Lamarca, não é mesmo? Tancredo está no passado dele, e Lamarca, no dela. O passado não passa? Então vamos a ele. Mas vamos para valer.
Onde andarão as famílias das vítimas assassinadas pelas organizações a que Dilma pertenceu porque cismaram que os brasileiros queriam a ditadura que elas também queriam? Contar a história heróica de alguns facínoras indenizados com dinheiro público é mistificação fácil. Só não é barata porque tem muita gente montada na bufunfa, coisa que custa bilhões, o que o povão ignora. E a história dos inocentes que morreram vítimas do terrorismo, sem que tenham recebido por isso um tostão? Alguém se dispõe a contar?
Os adiposos cerebrais
“Ai, como esse ele joga pesado!!!” Jogo? Há mentira no que escrevi acima? Demonstrem! Alguns idiotas subacadêmicos — subintelectuais de subuniversidades financiados pelas tetas do governo — reclamam por aí, dos baixos de sua adiposidade cerebral: “Ai, como esse Reinaldo faz um debate atrasado, dos anos 50!!!” Faço? O que é ser moderno? Esconder-se no isentismo que tem lado? Pendurar-se em algum órgão público? Eu só tenho o mau gosto — para alguns — de chamar as coisas pelo nome que elas têm. E, na hora certa, chamarei os adiposos cerebrais e aproveitadores também.
“(Pelos caminhos do mundo,
nenhum destino se perde:
há os grandes sonhos dos homens,
e a surda força dos vermes.)”