08 de abril de 2010 • 05h40 • atualizado às 07h38
Deslizamento é considerado um dos piores da história
Foto: Alexandre Brum/O Dia
O comandante-geral dos Bombeiros do Estado do Rio de Janeiro, coronel Pedro Machado, afirmou na madrugada desta quinta-feira que o trabalho de resgate de sobreviventes entre os soterrados no deslizamento de dezenas de casas no morro do Bumba, em Niterói, é mais difícil que no Haiti. "Ao contrário de desastres como do Haiti, onde pessoas foram encontradas após 15 dias, em um deslizamento como este é muito difícil encontrar sobreviventes. O trabalho que estamos realizando aqui é tão intenso quanto o que realizamos em Angra dos Reis. Ainda há esperanças. Enquanto houver, vamos continuar trabalhando", disse Machado.
Durante a madrugada, dois geradores foram acionados para iluminar o local e facilitar as buscas. Quatro retroescavadeiras, uma delas do Batalhão de Operações Especiais (BOPE) estão no local para ajudar na remoção dos escombros. Às 4h, foi encontrado o corpo de sexta vítima fatal dos deslizamentos que atingiram o morro do Bumba.
Pouco antes, por volta das 3h20, outros dois corpos de vítimas soterradas foram retirados dos escombros. As últimas vítimas fatais são uma criança, cuja idade não foi identificada, e dois adultos. Mais cedo, outros três corpos, de três mulheres, foram encontrados nos escombros. Um deles foi identificado como sendo de Nádia Carvalho, de 37 anos. Duas pancadas de chuva, a última ocorrida perto das 3h15, dificultam o trabalho das equipes.
O deslizamento ocorreu perto das 19h30, derrubando cerca de 40 casas. As equipes do Corpo de Bombeiros chegaram no local às 20h50. Pelo menos 300 pessoas trabalham no local, entre Bombeiros, Polícia Militar e Defesa Civil. Outras 23 pessoas, todas com ferimentos, foram resgatadas com vida.
O secretário estadual de Saúde e Defesa Civil, Sérgio Côrtes, afirmou que em casos de deslizamentos de terra, é mais difícil a formação de bolsões de ar que permitam a respiração dos soterrados por mais tempo. Assim, a tarefa de encontrar sobreviventes fica mais difícil.
Bombeiros e Defesa Civil descartam explosão
Os Bombeiros e a Defesa Civil também descartaram a hipótese de que uma explosão tenha ocasionado o deslizamento, afirmando que se fosse verdade, os indícios seriam bem claros. De acordo com o secretário de Defesa Civil do Estado do Rio de Janeiro, Sérgio Côrtes, é possível que algumas pessoas tenham confundido o barulho das pedras caindo e do concreto rachando com o barulho de uma explosão. A hipótese foi levantada porque o local fica sobre um aterro sanitário desativado, e o cheiro de gás é forte.
Construções são irregulares
O secretário de Obras e Serviço Público de Niterói, Zeca Mocarzel, lembrou que as construções no local são irregulares, pois o terreno é um aterro sanitário desativado. "Isso pode ter contribuído para o desabamento", disse Mocarzel. O secretário Côrtes, que em entrevistas defendeu a remoção imediata dos moradores da áreas de risco, afirmou que os moradores devem ser alertados. "Não dá para culpar as pessoas que não deixaram suas casas", afirmou.
De acordo com a dados oficiais, 79 pessoas já morreram na cidade, sem contar com as vítimas encontradas no morro do Bumba. O morro fica próximo à garagem da Viação Santo Antônio, no fim da Alameda São Boaventura. Foram acionados os bombeiros dos quartéis de Niterói, Itaboraí, Itaipu e São Gonçalo.
Entre as casas que desabaram, está uma creche, que abrigaria cerca de 30 crianças. Moradores descreveram, inicialmente, que pelo menos oito crianças estavam no local. Outros relatos dão conta de que, pelo horário, a creche estava fechada.
Número de vítimas é incerto
Segundo o Corpo de Bombeiros não é possível confirmar o número de vítimas ou de casas. Segundo relatos dos moradores, a quantidade de residências varia entre 20 e 60. A Defesa Civil Estadual trabalha com o número de 50 casas, através de uma imagem aérea. "É certo que havia um grande número de casas, havia uma rua que dava acesso a outras casas, portanto, é de se imaginar que o número de residências era realmente grande", disse o coronel. "Com certeza, de todos os deslizamentos que ocorreram no Rio, este foi o pior até agora", disse o secretário Sérgio Côrtes.
Cachorro foi o 1º resgatado
Um cachorro foi o primeiro a ser resgatado de uma casa onde viviam cinco pessoas, incluindo uma criança de dois anos. Taylor foi retirado dos escombros pelo Corpo de Bombeiros e causou comoção entre os moradores.
Uma das mulheres era Nádia Carvalho, 37 anos, que estava nessa casa. A prima de Nádia, que se identificou como Gisele, disse que além dela também estavam na casa uma criança de 2 anos e mais três adultos. Gisele afirmou que ouviu de um dos Bombeiros que a chance de encontrar sobreviventes na sua família era muito pequena. Emocionada, decidiu ir embora do local, junto com seus pais.
"Estamos preparados para ficar por 15 dias"
O comandante-geral dos Bombeiros do Rio de Janeiro, Pedro Machado, afirmou que as equipes estão preparadas para ficar no local por até 15 dias, buscando sobreviventes. Nesta madrugada, cerca de 300 pessoas trabalham, entre bombeiros, policiais, oficiais da Defesa Civil e moradores.
Os Bombeiros também trabalham para evitar que curiosos atrapalhem o trabalho. O local das buscas foi isolado com faixas para evitar as intervenções.
Previsão de chuva
Segundo a agência meteorológica Climatempo, pode haver chuva fraca no Estado do Rio de Janeiro, inclusive em Niterói, nesta quinta. A umidade e a intensidade dos ventos, que chegam a 44 km/h, favorecem o surgimento de focos de chuva.
Estragos e mortes
A chuva que castigou o Rio de Janeiro entre os dias 5 e 6 de abril deixou pelo menos 145 mortos (sem contabilizar o acidente, mais de 135 feridos, alagou ruas, causou deslizamentos e destruição no Estado. O Serviço de Meteorologia do Rio registrou no período o maior índice pluviométrico da cidade desde que começou a medição, há mais de 40 anos: 288 mm.