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quinta-feira, 25 de março de 2010

Alexandre Nardoni chora e diz que delegado propôs a ele assumir o crime para livrar Anna Carolina Jatobá


Publicada em 25/03/2010 às 18h33m

Marcelle Ribeiro e Wagner Gomes, O Globo Ilustração do julgamento dos Nardoni/ André Mello

SÃO PAULO - Anna Carolina Jatobá chorou e negou ter matado Isabella, mas Alexandre Nardoni usou seu interrogatório diante dos jurados para tentar desmoralizar a ação da polícia, que investigou o crime e colocou o casal no banco dos réus. Por duas vezes, ao falar ao juiz Maurício Fossen e ao advogado de defesal, Roberto Podval, o pai de Isabella acusou os delegados do 9º Distrito Policial, Calixto Calil Filho e Helena Pontes, de terem feito a ele a proposta de assumir o crime e ser indiciado por homicídio culposo, sem intenção de matar, e livrar da acusação a mãe de seus dois filhos, Anna Carolina Jatobá. Nardoni foi mais longe. Disse que seu pai, Antonio Nardoni, recebeu ameaças e vem sendo seguido por policiais do 9º Distrito Policial nos últimos dois anos.

Alexandre Nardoni disse que Calil Filho fez a proposta a ele no dia 18 de abril de 2008, durante interrogatório. Isabella havia sido morta no dia 29 de março. A delegada Helena Pontes, afirmou, chegou a perguntar a ele se aceitaria ou não a proposta. Foi o mesmo dia em que o casal saiu do 9º Distrito Policial indiciado pela morte da menina.

- Meu pai até hoje é seguido e ameaçado de morte. Ele me falou. Também explodiram a caixa de correio do Dr Ricardo (Ricardo Martins, um dos advogados de defesa), não sabemos quem foi. Tenho medo de retaliações, tanto eu quanto a minha esposa, pelos meus filhos - disse Alexandre.

Alexandre Nardoni disse que a proposta do delegado, de inocentar a madrasta, foi feita na presença do promotor Francisco Cembranelli e de seus advogados de defesa. Perguntado pelo promotor a razão de não ter denunciado, foi ríspido:

- Eu não acredito que polícia investigue polícia, por isso não relatei o fato à Corregedoria.

" Eu briguei para ela nascer. A avó materna queria que ela abortasse "

Interrogado na presença da mãe, que foi ao fórum pela primeira vez desde o início do julgamento e, com um terço na mão, chorou ao ver o filho no banco dos réus, Alexandre Nardoni conseguiu surpreender a plateia ao lançar também sobre a família Oliveira uma polêmica moral. Ele acusou a avó materna de Isabella de ter pedido que a filha abortasse ao descobrir que Ana Carolina Oliveira estava grávida. Segundo ele, a mãe de Isabella escondeu a gravidez dos pais até o quarto mês de gestação.

A plateia reagiu com um generalizado "ohhh".

- Eu briguei para ela nascer. A avó materna queria que ela (Ana Carolina Oliveira) abortasse. A Ana Carolina Cunha Oliveira também discutia. Ela escondeu da família até o quarto mês - afirmou Alexandre.

Rosa Maria Oliveira, a avó, não estava na sala no momento em que Alexandre fez o comentário.

Alexandre Nardoni chamou a atenção também pela formalidade com que se referiu o tempo todo à mãe da filha morta. Sempre que a citava, falava o nome completo: Anna Carolina Cunha de Oliveira.

Ilustração André Mello Tentou dizer aos jurados que sua família era feliz, negou todas as acusações e chegou a ser ríspido ao responder à acusação. Perguntado pelo promotor Francisco Cembranelli sobre uma briga com Anna Carolina Jatobá ouvida por uma vizinha de parede do antigo prédio onde moravam, não teve dúvidas e disparou:

- O senhor deve perguntar a ela (a vizinha). Nossas discussões eram normais e nunca frequentes. Não me lembro de os meus pais ou os pais da minha esposa terem sido chamados para apartar qualquer briga, como o senhor diz - afirmou Alexandre.

Rebateu ainda a acusação da perita Rosângela Monteiro, que afirmou que sua camiseta ficou com marcas da tela por onde Isabella foi jogada e que o vinco só seria feito se ele estivesse carregando um peso de 25 quilos (o peso de Isabella).

Nardoni disse que quem estava em seu colo quando ele se aproximou da tela era seu filho Pietro. Segundo o réu, não era possível passar a cabeça pela tela de proteção rasgada, por onde Isabella caiu, nem tampouco os braços, porque o buraco era muito pequeno.

No interrogatório da acusação, veio o troco. O promotor Cembranelli retrucou:

- A sua cabeça não passava pelo buraco? O corte era de 47 centímetros. A sua cabeça tem mais de meio metro?

O juiz Maurício Fossen repreendeu novamente o promotor, que fez questão de citar o número da página do processo onde consta que o buraco na tela tinha 47 centímetros. Até então, Cembranelli vinha se recusando a citar a página do processo ao fazer as perguntas, irritando também o advogado Roberto Podval.

- Faça porque é sua obrigação. Não seja bobo - disse ao advogado numa das vezes.

Na primeira parte, quando falou ao juiz, Alexandre tentou emocionar os jurados ao relembrar passagens dramáticas, como o momento em que viu a filha morta:

- Para mim, aquele foi o pior dia. Perdi tudo de mais valioso na minha vida. Passamos o dia bem, brincamos o dia todo. Ela ensinou meus filhos a mergulhar e vejo ela na maca, falecida - disse Alexandre, chorando e olhando para os jurados.

- Vê-la no necrotério, num saco preto, aquilo não dá para descrever - afirmou Alexandre, que chorou muito neste momento.

Na hora de falar à Promotoria sobre a mesma cena, o clima mudou. O promotor alterou a voz e se inclinou na direção de Alexandre perguntando o motivo de ele não ter socorrido Isabella se sabia que ela ainda estava viva, logo que ele encontrou o corpo da criança caído no jardim do edifício London, após a queda.

Cembranelli perguntou:

- Você a viu viva? Ela estava viva? Por que não socorreu?

Embaraçado, Alexandre respondeu:

- Sim, ela estava viva, mas eu não sei porque não socorri. Eu estava em choque e o porteiro me alertou para que eu não mexesse nela.

Na última pergunta do interrogatório, Cembranelli questionou o motivo de Alexandre usar óculos de grau. Alexandre respondeu com raiva:

- Sempre usei. O senhor não acompanha minha vida, por isso não sabe.

Cembranelli respondeu:

- Talvez para esconder o choro sem lágrimas.

Imediatamente, o juiz indeferiu a pergunta.





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