Plantão | Publicada em 24/03/2010 às 15h31m
SÃO PAULO - O julgamento de quatro policiais militares e um comerciante, acusados do assassinato do jornalista Luiz Carlos Barbon Filho, começa nesta quinta-feira, às 9h, no 5º Tribunal do Júri de São Paulo, na capital paulista. O jornalista, de 37 anos, foi morto a tiros no dia 6 de maio de 2007, em frente a um bar próximo à rodoviária de Porto Ferreira, a 227 km de São Paulo. Segundo a polícia, a vítima estava em uma mesa na calçada do bar quando dois homens chegaram em uma moto e atiraram.
De acordo com as investigações do Ministério Público Estadual (MPE), o assassinato teria ocorrido em represália a reportagens do jornalista que registravam denúncias sobre irregularidades de policiais, autoridades e comerciantes da região. Em agosto de 2003, Barbon denunciou o esquema de aliciamento de menores envolvendo quatro empresários, cinco vereadores e um garçom da cidade. Na época, eles foram presos acusados de participar de festas com menores em ranchos às margens do Rio Mogi Guaçú. O caso chocou a cidade e ganhou repercussão nacional.
O grupo irá a júri popular por homicídio qualificado, tentativa de homicídio e formação de quadrilha. O Juiz de Direito Dr.Cassiano Ricardo Zorzi Rocha presidirá a sessão. Ao todo, serão ouvidas 11 testemunhas de defesa e 9 de acusação, o que pode estender o julgamento por mais de 24 horas. Sete jurados decidirão se os acusados são culpados ou inocentes. O salão do júri tem capacidade para 40 pessoas.
O caso Barbon chegou à organização de imprensa Repórter Sem Fronteiras (RSF), que divulgou um apelo pedindo agilidade no julgamento dos responsáveis pelo assassinato.
Foram indiciados pelo assassinato de Barbon o sargento da PM Edson Luís Ronceiro, acusado de ter recebido a arma depois do crime e facilitar a fuga do grupo, o soldado Paulo César Ronceiro, acusado de pilotar a moto que conduziu o criminoso, o capitão Adélcio Carlos Avelino, acusado pelo Ministério Público de ter comandado a ação, e o comerciante Carlos Alberto da Costa, acusado de ser o dono da arma usada no crime.
O quarto policial, o soldado Valnei Bertoni, acusado de ter atirado no jornalista, será julgado separado, pois o advogado conseguiu desmembrar o processo, em recurso aceito pelo Tribunal de Justiça.
A prisão preventiva foi pedida no dia 4 de março de 2008. Os promotores do Grupo de Atuação Especial e Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) se basearam em três provas: a arma do crime pertenceria a um comerciante primo de um denunciado; foram constatadas conversas telefônicas entre o dono da arma e policiais militares, e uma testemunha, que teria reconhecido o condutor da moto e a pessoa que atirou.
Os PMs estão presos desde o dia 4 de março de 2008, no presídio Romão Romes, em São Paulo. Já o comerciante está preso na penitenciária de Itirapina. Em novembro de 2009, o Supremo Tribunal Federal (STF) negou pedido de habeas-corpus ao capitão Adélcio Avelino, mantendo-o preso até a data do julgamento.
Familiares dos policiais acusados pela morte do jornalista garantem que eles são inocentes. Iraildes Ronceiro, esposa de Edson, afirmou que ele estava a trabalho e distante do local onde Barbon foi morto e o irmão dele, César, estava em casa no dia do assassinato.
Em janeiro de 2009, a mulher do jornalista, Kátia Camargo, entrou para o Programa de Proteção à Testemunha, pois, começou a receber ameaças. A Anistia Internacional divulgou comunicado, em novembro de 2008, em que pedia proteção para Kátia. A organização afirmava que a esposa do jornalista e seus filhos estavam correndo perigo e recebendo ameaças de pessoas ligadas aos assassinos.
A juíza Milena de Barros Ferreira, de Porto Ferreira, transferiu, em abril de 2009, o julgamento para uma vara de execuções criminais em São Paulo. A medida foi tomada para garantir o sigilo das investigações.