da Folha Online
Os senadores da base aliada receberam nesta terça-feira um documento para blindar a ministra Dilma Rousseff (Casa Civl) na Comissão de Infra-Estrutura do Senado, onde a ex-diretora da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) Denise Abreu depõe nesta quarta-feira para apresentar detalhes sobre a venda da Varig.
Segundo o blog do Josias, trata-se de um roteiro de sete páginas com detalhes do processo que resultou na venda da Varig entregue por Dilma aos senadores. O documento exclui completamente a Casa Civil da negociação.
O documento cita que a venda da companhia para a VarigLog, controlada pelo fundo americano Matlin Patterson e três sócios brasileiros, teria ocorrido sob três vértices: o juiz Luiz Roberto Ayoub, da 8ª Vara Empresarial do Rio, que conduzia o processo de falência da Varig; o Ministério da Defesa, gerida à época por Waldir Pires; e a Anac.
Denúncias
Denise Abreu afirma que Dilma a desestimulou a pedir documentos que comprovassem a capacidade financeira de três sócios brasileiros (Marco Antonio Audi, Luiz Eduardo Gallo e Marcos Haftel) para comprar a Varig, uma vez que a lei proíbe estrangeiros de possuir mais de 20% do capital das companhias aéreas.
Segundo a ex-diretora da Anac, a venda ao fundo norte-americano teve a interferência da ministra para que fosse executada.
Para a ex-diretora da Anac, a filha e o genro do advogado Roberto Teixeira --amigo do presidente Lula e cujo escritório era representante dos compradores à época-- usaram sua influência para pressioná-la. A ministra Dilma Rousseff nega as acusações.
No roteiro entregue nesta terça aos senadores, a ministra lembra os leilões para a venda da Varig, além de reforçar que a decisão de vender a empresa para um fundo internacional foi tomada pela direção da Anac.
"Ela [Dilma] explicou que a Casa Civil teve pouca participação no processo de venda da Varig. O que a ministra fazia era conversar com a Anac. Teve leilão, não houve nenhum interessado. Foi esclarecida a cronologia dos fatos para darmos uma satisfação à sociedade", disse o líder do PSB no Senado, Renato Casagrande (ES).
O cérebro do roubo ao cofre
Com passado pouco conhecido,
a ministra envolveu-se em ações
espetaculares da guerrilha
Alexandre Oltramari
Antonio Milena |
A ficha nos arquivos militares de Dilma Rousseff, hoje ministra das Minas e Energia: só em 1969, ela organizou três ações de roubo de armamentos em unidades do Exército no Rio de Janeiro |
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No atual governo, há dois ex-guerrilheiros com posto de ministro de Estado. Um é o ex-presidente do PT, José Dirceu, ministro da Casa Civil, cuja trajetória política é bastante conhecida. Foi preso pelo regime militar, recebeu treinamento de guerrilha em Cuba e, antes de voltar às escondidas para o Brasil, submeteu-se a uma cirurgia plástica no rosto para despistar a polícia. O outro integrante do primeiro escalão com passagem pela guerrilha contra a ditadura militar é a ministra Dilma Rousseff, das Minas e Energia — mulher de fala pausada, mãos gesticuladoras, olhar austero e passado que poucos conhecem. Até agora, tudo o que se disse a respeito da ministra dava conta apenas de que combatera nas fileiras da Vanguarda Armada Revolucionária Palmares, a VAR-Palmares, um dos principais grupos armados da década de 60. Dilma Rousseff, no entanto, teve uma militância armada muito mais ativa e muito mais importante. Ela, ao contrário de José Dirceu, pegou em armas, foi duramente perseguida, presa e torturada e teve papel relevante numa das ações mais espetaculares da guerrilha urbana no Brasil — o célebre roubo do cofre do governador paulista Adhemar de Barros, que rendeu 2,5 milhões de dólares.
O assalto ao cofre ocorreu na tarde de 18 de julho de 1969, no Rio de Janeiro. Até então, fora "o maior golpe da história do terrorismo mundial", segundo informa o jornalista Elio Gaspari em seu livro A Ditadura Escancarada. Naquela tarde, a bordo de três veículos, um grupo formado por onze homens e duas mulheres, todos da VAR-Palmares, chegou à mansão do irmão de Ana Capriglioni, amante do governador, no bairro de Santa Teresa, no Rio. Quatro guerrilheiros ficaram em frente à casa. Nove entraram, renderam os empregados, cortaram as duas linhas telefônicas e dividiram-se: um grupo ficou vigiando os empregados e outro subiu ao quarto para chegar ao cofre. Pesava 350 quilos. Devia deslizar sobre uma prancha de madeira pela escadaria de mármore, mas acabou rolando escada abaixo. A ação durou 28 minutos e foi coordenada por Dilma Rousseff e Carlos Franklin Paixão de Araújo, que então comandava a guerrilha urbana da VAR-Palmares em todo o país e mais tarde se tornaria pai da única filha de Dilma. O casal planejou, monitorou e coordenou o assalto ao cofre de Adhemar de Barros. Dilma, no entanto, não teve participação física na ação. "Se tivesse tido, não teria nenhum problema em admitir", diz a ministra, com orgulho de seu passado de combatente.
"A Dilma era tão importante que não podia ir para a linha de frente. Ela tinha tanta informação que sua prisão colocaria em risco toda a organização. Era o cérebro da ação", diz o ex-sargento e ex-guerrilheiro Darcy Rodrigues, que adotava o codinome "Leo" e, em outra ação espetacular, ajudou o capitão Carlos Lamarca a roubar uma Kombi carregada de fuzis de dentro de um quartel do Exército, em Osasco, na região metropolitana de São Paulo. "Quem passava as orientações do comando nacional para a gente era ela." O ex-sargento conta que uma das funções de Dilma era indicar o tipo de armamento que deveria ser usado nas ações e informar onde poderia ser roubado. Só em 1969, ela organizou três ações de roubo de armas em unidades do Exército, no Rio. Quando foi presa, em janeiro de 1970, o promotor militar que preparou a acusação classificou-a com epítetos superlativos: "Joana D'Arc da guerrilha" e "papisa da subversão". Dilma passou três anos encarcerada em São Paulo e foi submetida aos suplícios da tortura.
Décio Bar | |
O capitão Carlos Lamarca, o maior mito da esquerda armada no Brasil, e Iara Iavelberg, com quem o capitão manteve um tórrido e tumultuado romance. Com Lamarca, Dilma Rousseff polemizou sobre os rumos da guerrilha, numa famosa reunião realizada em Teresópolis. Com Iara, ia à praia, falava de cinema, e tornaram-se confidentes |
A atual ministra era tão temida que o Exército chegou a ordenar a transferência de um guerrilheiro preso em Belo Horizonte, o estudante Ângelo Pezzuti, temendo que Dilma conseguisse montar uma ação armada de invasão da prisão e libertação do companheiro. Durante o famoso encontro da cúpula da VAR-Palmares realizado em setembro de 1969, em Teresópolis, região serrana do Rio, Dilma Rousseff polemizou duramente com Carlos Lamarca, o maior mito da esquerda guerrilheira. Lamarca queria intensificar as ações de guerrilha rural, e Dilma achava que as operações armadas deveriam ser abrandadas, priorizando a mobilização de massas nas grandes cidades. Do encontro, produziu-se um racha. Dos 37 presentes, apenas sete acompanharam Lamarca. Ficaram com boa parte das armas da VAR-Palmares e metade da fortuna do cofre de Adhemar de Barros. Os demais concordaram com a posição de Dilma Rousseff.
A divergência com Carlos Lamarca não impediu Dilma de manter uma sólida amizade com a guerrilheira Iara Iavelberg, musa da esquerda nos anos 60, com quem o capitão manteve um tórrido e tumultuado romance. Dilma chegou a hospedá-la em seu apartamento, no Rio. Juntas, iam à praia, falavam de cinema, tornaram-se confidentes. Nos três anos que passou na cadeia, seu nome chegou a aparecer em listas de guerrilheiros a ser soltos em troca da libertação de autoridades seqüestradas — mas a ação que renderia sua liberdade foi malsucedida. Aos 55 anos, recentemente separada de Carlos Franklin de Araújo, Dilma Rousseff não lembra a guerrilheira radical de trinta anos atrás, embora exiba a mesma firmeza. "Ela é uma mulher suave e determinada", diz a jornalista Judith Patarra, autora do livro Iara, que conta a trajetória de Iara Iavelberg (1944-1971). "Quando a vi na televisão, percebi que Dilma continua a mesma. É uma mulher espetacular e será uma sargentona no governo. Ela não é mulher de meio-tom", resume o ex-companheiro de guerrilha Darcy Rodrigues.
Com reportagem de Luís Henrique Amaral
Denúncias sobre venda da Varig não afetam credibilidade de Dilma, avalia Tarso
Plantão | Publicada em 10/06/2008 às 12h25m
Valor OnlineBRASÍLIA - As denúncias de que houve irregularidades na venda da Varig não afetam a credibilidade da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, afirmou hoje o ministro da Justiça, Tarso Genro.
Para ele, Dilma jamais determinaria, induziria ou orientaria alguém para fazer coisa ilegal. Tarso Genro minimizou o episódio, argumentando que, em seis anos de governo, já ocorreram vários distúrbios, sem que nada afetasse a imagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do governo.
O ministro fez as declarações depois de participar de audiência no Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) sobre a internacionalização da Amazônia.
A ex-diretora da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) Denise Abreu afirmou, em entrevista na semana passada, que foi pressionada pela ministra Dilma Rousseff e pela secretária-executiva da Casa Civil, Erenice Guerra, para tomar decisões favoráveis à venda da VarigLog e da Varig ao fundo americano Matlin Patterson e aos três sócios brasileiros. A ministra-chefe da Casa Civil disse que as acusações são falsas.
(Agência Brasil)
O companheiro Nego: os sorrisos abertos e doces da ministra com fama de dura na queda são menos raros do que se imagina. Muitos deles surgem nas brincadeiras com o dócil labrador Nego, presente de José Dirceu. Na foto à direita, o ex-ministro brinca com o cachorro | |||||||||||||||
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chega ao topo da carreira de ex-guerrilheira, economista, executiva e ministra |
Luiz Cláudio Cunha |
Os grandes olhos castanhos da menina de dez anos, sentada na calçada, ficaram ainda maiores quando ela viu a bailarina, com uma brilhosa roupa verde, executando malabarismos no dorso do elefante. Era o circo rasgando a quietude da pacata Uberaba (MG) no final dos anos 50. Era o maior espetáculo da terra caindo no colo da garotinha extasiada: “Ela era linda, fazendo piruetas lá em cima. Eu adorava circo e queria ser bailarina”, lembra hoje, com os olhos iluminados pela recordação, a frustrada bailarina Dilma Vana Rousseff. Aos 57 anos, passando um rápido olhar sobre o circo da vida brasileira, que acompanhou, aos saltos e sobressaltos, nas últimas quatro décadas, atravessando crises, golpes, renúncias, cassações, prisões, torturas, ditadura, cassações, democracia e cassações, Dilma chega em 2005 ao topo de sua longa e atribulada carreira como economista, executiva, militante política e ministra. Desde junho ela faz suas piruetas no dorso do elefante petista, no Palácio do Planalto, onde o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a escalou como ministra-chefe da Casa Civil, substituindo José Dirceu, a maior atração do PT velho de guerra, engolido pelo leão do mensalão.
A postos no gabinete: a seriedade e a competência conduziram-na ao segundo posto do governo, atrás apenas da Presidência da República |
“Não sou a primeira-ministra, até porque o Brasil é muito presidencialista”, diz ela, escolhida também a economista do ano pelo Conselho Regional de Economia do Rio Grande do Sul, na quinta-feira 8, negando a condição de capitão do time que o técnico Lula um dia pespegou em Dirceu. “Sou apenas a ministra que faz a articulação transversal com os outros ministros. Minha obrigação é tratar os problemas dos outros como se fossem meus”, diz, sentada no sofá de visitas da casa oficial, no Lago Sul de Brasília, que ela herdou do sucessor junto com o dócil Nego, o cão labrador de pêlo negro que nunca a deixa só. Mineira de Belo Horizonte, criada em Uberaba, separada de dois casamentos, Dilma precisa viajar para reencontrar a família: a mãe, viúva, mora na capital mineira, assim como o irmão, advogado, mas para ver a única filha, Paula, juíza do Trabalho, toma o rumo de Porto Alegre, onde ainda mora o segundo ex-marido, o ex-deputado e ex-guerrilheiro Carlos Franklin Paixão de Araújo. O primeiro, o jornalista mineiro Cláudio Galeno de Magalhães Linhares, tinha desviado a jovem Dilma, aos 20 anos, para o circo implacável da luta política, recrutando sua noiva no curso de economia, em 1967, para a militância da Política Operária (Polop), organização doutrinária da esquerda. Antes, aos 15 anos, quando trocou o conservador colégio Sion, onde as moças só falavam francês com as professoras, pelo inquieto Colégio Estadual, escola pública mista onde se geravam contestações, Dilma já desabrochara: “Aí fiquei bem subversiva. Percebi que o mundo não era para debutante”. Correndo da polícia, fazendo passeata para apoiar os operários em greve em Contagem, Dilma viu os primeiros companheiros sendo presos pelo regime que apertava o nó. “O AI-5 foi meu presente de 21 anos. Saiu na véspera de meu aniversário, 14 de dezembro de 1968”, conta. Ela e o marido, visados pela polícia, conseguem escapar do cerco, fogem para o Rio de Janeiro e, como tantos outros jovens, caem na clandestinidade.
Política com técnica: em 1990, como secretária do governo gaúcho do petista Olívio Dutra (no alto, à esq.), e na posse como ministra das Minas e Energia, ao lado de Lula | |
A Polop se transformou em Comando de Libertação Nacional (Colina), que reunia pequenos grupos da esquerda radical, e a estudante Dilma virou professora, ensinando marxismo a militantes do setor operário. Ajudou na infra-estrutura de três assaltos a bancos, assinou artigos no jornal Piquete e chegou à direção do Colina. Nessa condição, planejou o que seria o mais rentável golpe da luta armada em todo o mundo: o roubo do cofre de Adhemar de Barros, ex-governador de São Paulo. A proeza coube à Vanguarda Armada Revolucionária-Palmares (VAR-Palmares), resultado da fusão da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) do capitão Carlos Lamarca com o Colina de Dilma Rousseff. Onze dias depois da fusão, em julho de 1969, 13 guerrilheiros da VAR-Palmares roubaram o cofre de 200 kg de uma casa no bairro carioca de Santa Tereza, onde vivia a amante de Adhemar. “A gente achava que ia ser grande, mas não tinha noção do tamanho”, lembra Dilma. Aberto o cofre, sacaram de lá US$ 2,6 milhões – hoje uma mega-sena em torno de R$ 25 milhões. A diária mirrada dos guerrilheiros dava para comer um único risoto por dia, num pé-sujo do centro do Rio. “Eu era magra como um palito, tinha pouca fome, e muitos gostavam de almoçar comigo porque comiam minha metade”, recorda ela, notando que o bote milionário não melhorou o cardápio extra-light da guerrilha: “Estava muito difícil trocar o dinheiro, porque havia um cerco total. Dois meses depois, com o seqüestro do embaixador americano, Charles Elbrick, a situação ficou ainda pior no Rio.”
A hora de “investir pesado”: com Alencar, Lula e Palocci, no auge da crise gerada por ela ter dito, dias antes, numa entrevista, que a política econômica deveria mudar. Palocci tremeu |
Dura na queda, Dilma bateu boca com Lamarca, que sustentava a tese guevarista de levar a luta para o campo. Ela achava que a guerrilha precisava, antes, se organizar melhor nas cidades. Seus companheiros dizem que ela ajudou a preservar a VAR-Palmares mesmo com o racha de Lamarca, que saiu para recriar a VPR. O líder da VAR-Palmares era Carlos Araújo, que seria seu segundo marido (Galeno, o primeiro, participou do seqüestro de um avião e se exilou em Cuba). No início de janeiro de 1970, Dilma seguiu a sina de outros companheiros: “Entrei num ponto, às 4 h da tarde, em São Paulo, e o companheiro estava cercado. Tentei fugir, entrando numa loja de móveis, mas fui pega na rua de trás”. Dilma Rousseff, aos 22 anos, foi levada pelo antecessor do DOI-Codi, a Oban (Operação Bandeirante), para a rua Tutóia, o mesmo destino de Wladimir Herzog cinco anos depois. Vlado agüentou um dia de tortura, e morreu. Dilma suportou 22 – e sobreviveu. “Levei muita palmatória, me botaram no pau-de-arara, me deram choque, muito choque. Comecei a ter hemorragia, mas eu agüentei. Não disse nem onde morava. Um dia, tive uma hemorragia muito grande, hemorragia mesmo, como menstruação. Tiveram que me levar para o Hospital Central do Exército. Encontrei uma menina da ALN: ‘Pula um pouco no quarto para a hemorragia não parar e você não ter que voltar’, me aconselhou ela, segundo o dramático relato que Dilma fez, dois anos atrás, ao repórter Luiz Maklouf Carvalho.
“Tortura é uma das coisas mais vis que existem”, reflete Dilma hoje, com o distanciamento possível. “O sentido mais profundo da democracia significa necessariamente acabar com a tortura”, diz a ex-torturada, hoje aflita com a sorte dos presos comuns nas delegacias de polícia. A tortura ainda aflige Dilma, aqui e lá fora: “Aquelas cenas de homens presos em Guantánamo (Cuba) e em Abu Ghraib (Iraque) não têm justificativa. Aquilo é a barbárie”, condena. Passado o martírio da Oban, Dilma passou outros dois meses no DOPS antes de ser transferida para o presídio Tiradentes – onde ficou até 1973, com a cabeça em ebulição. “Na prisão, a gente podia refletir e ler muito. Li Levi-Strauss, Poulantzas, quase todo Dostoievski. A vida na prisão pode ser muito rica. Na guerrilha, a gente já percebia um certo impasse, uma espécie de beco sem saída. A luta armada não faria avançar um país tão complicado, tão diverso e plural como o Brasil”, repensa Dilma.
O jogo político tradicional parecia o caminho, quando ela voltou a Porto Alegre,
ainda sozinha: o marido, Carlos Araújo, também preso pela Oban, cumpria pena
na Ilha das Flores, prisão da Marinha no rio Guaíba, na capital gaúcha. Dilma
integrou-se à juventude do MDB e militou na luta pela anistia. Punida pelo Decreto 477, que bania subversivos da universidade, foi obrigada a prestar novo vestibular. Formou-se em economia pela Universidade Federal do RS e foi, mais uma vez, atropelada pelo arbítrio: em 1997, o ministro linha-dura do Exército, Sylvio Frota, reagiu à demissão do cargo pelo general Ernesto Geisel divulgando uma lista de 99 comunistas infiltrados no governo – um dos três economistas delatados na Fundação de Economia e Estatística (FEE) era Dilma, que acabou demitida. “Completei minha cota – fui presa, cassada, condenada, punida pelo 477 e incluída na lista do Frota”, brinca Dilma, hoje, rindo da própria sorte. Condenada pela Justiça Militar a seis anos de prisão, cumpriu três e, com recurso, acabou punida com dois anos e um mês de cadeia. “Ou seja, sobraram 11 meses, que eles não devolveram. Sou credora do País”, contabiliza Dilma.
O PDT levou Dilma para a Secretaria da Fazenda de Porto Alegre, quando Alceu Collares se elegeu em 1985. Numa pirueta digna de bailarina, voltou como presidente à mesma FEE de onde saíra pela delação de Frota, indicada pelo governador Collares, eleito em 1990. Acabou secretária de Minas e Energia do Estado com Collares e repetiu a dose, no governo seguinte, de Olívio Dutra, graças à aliança PDT-PT. Dois dias depois, deu um apagão no Estado – e durante 31 dias a luz ia e vinha, com black-outs de até sete horas. Dilma executou uma operação de emergência, concluiu uma linha de distribuição para canalizar a energia que vinha da Argentina – e a luz se fez. “Quando bateu o apagão no governo FHC, o Rio Grande do Sul não teve nenhum problema, a região Sul já era superavitária.” E botou o dedo na tomada para punir denúncias de corrupção na Companhia Estadual de Energia Elétrica, abrindo sindicâncias que levaram a uma CPI na Assembléia gaúcha. Em 2001, trocou o PDT pelo PT, acompanhando uma dissidência liderada pelo ex-prefeito Sereno Chaise. O ex-amigo Collares não perdoou nunca: “Ela é uma traidora. Se tivesse consistência ideológica, não seria ministra do governo Lula.”
Pois foi a consistência de seu trabalho no Grupo de Infra-Estrutura da transição de Lula que alçou Dilma ao posto de ministra de Minas e Energia, em 2003. Ela chegou lá com uma vela acesa para evitar que o apagão tucano voltasse a acontecer no governo petista. “O setor elétrico estava com a receita reduzida em 20%, endividado em dólar e com os sinais trocados – o mercado planejando e o governo fazendo o preço”, lembra. Dilma comemora o fato de agora o País ter quase toda a energia de que precisa contratada até 2010, o que dá espaço para prever novas fontes. “Aumentamos a oferta de energia em 14,8% entre 2002 e 2005 e temos em construção 14 usinas hidrelétricas e duas térmicas”, festeja. A crise ética que afundou o PT e suas maiores estrelas, incluído José Dirceu, levou Lula ao inevitável: chamar Dilma para o cargo mais poderoso do Planalto, depois do próprio presidente. Ela assumiu tentando desfazer a idéia de que era uma técnica fria substituindo um cérebro político. “Metas de governo são uma escolha política. Estou na fronteira, na interseção do técnico com o político”, avisa, com a autoridade de quem sabe o que quer e do que o governo precisa. “A Dilma tem uma grande vantagem: ela não chama o poder para si, como fazia o Zé Dirceu”, observa um amigo de ambos, o deputado federal Luciano Zica (PT-SP). “Dilma não arrota o poder que tem, ao contrário do Zé, que exibia mais poder do que tinha”, diz, lembrando que, num eventual segundo governo Lula, Dilma está condenada a ser ainda mais forte. “Quem sabe até uma ministra da Fazenda”, provoca Zica. A própria Dilma, sem travas na língua, mostrou luz própria numa franca entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo, no mês passado, para dizer o que o País, os empresários, a imprensa e a ala esquerda do PT pensam: a política econômica tem que mudar. Pela primeira vez, o inabalável Antônio Palocci tremeu na base, mas os fatos teimam em dar razão a Dilma. O PIB caiu, no terceiro trimestre, e o próprio Lula está incomodado. Jeitosa, Dilma não deixa de elogiar seu companheiro da Fazenda: “Palocci tem o mérito de ter estabilizado o País. Mas hoje temos plenas condições de discutir como nos desenvolver – e isso não pode ser feito sem investimento pesado. É uma questão de dosagem. É importante manter a inflação sob controle, mas é possível também ter um processo de desenvolvimento sustentado. Não são opostos. Dá para conciliar”, diz, sem fazer concessões.
Dilma Rousseff fala das letras trágicas do tango que ela começou a entender na cadeia, dos versos tristes dos blues de Billie Holiday, dos lamentos nostálgicos
de London, London chorados pelo Caetano Veloso do exílio londrino. Fala da repressão, da crise, da tortura, da ditadura. E, apesar de tudo, sorri. Um sorriso
aberto, doce, firme, de quem só pode ver o melhor depois de viver o pior. Dilma Rousseff mais do que sobreviveu. Venceu. “Só pra saber que nunca fui uma menina cândida: eu sei montar e desmontar, de olhos fechados, um fuzil automático leve. Tinha que ser rápido, muito rápido. E, se você quer saber, eu sei atirar”, lembra, abrindo um enorme sorriso. O Brasil está precisando, cada vez mais, do tiro rápido e certeiro da Brasileira de 2005.
Sonho e realidade: imagens do álbum de infância, à direita com a mãe, Dilma, o irmão, Igor, e o pai, Pedro, e abaixo, nos tempos de militância, em foto do Arquivo do Estado de São Paulo |
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