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quinta-feira, 7 de abril de 2011

Moradores do Bumba continuam em abrigo 1 ano após tragédia das chuvas


Deslizamento ocorrido em 7 de abril de 2010 deixou 47 mortos em Niterói.
Vítimas denunciam abandono em abrigo; G1 mostra o local em vídeo.

Rodrigo Vianna Do G1 RJ


Um ano após a tragédia das chuvas em Niterói, na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, cerca de 400 desabrigados, dos vários locais onde houve deslizamentos, continuam alojados no 3º Batalhão de Infantaria do Exército (3º BI). No período, o Morro do Bumba, onde morreram 47 pessoas, passou por obras de recuperação e ganhou cercas, calhas e até quadra de esportes.

No 3º BI, as famílias alegam que são obrigadas a conviver com a falta de higiene e o risco de doenças. Imagens feitas por um dos desabrigados, no início do mês, mostram a situação em que vivem as cerca de 50 famílias. (Veja o vídeo acima)

As imagens mostram esgoto a céu aberto, lixo, banheiros sujos, colchões velhos e fios desencapados. O vídeo mostra ainda uma piscina com água parada, com risco de proliferação do mosquito da dengue.

Maior do que todas as reclamações é a vontade de ver a situação resolvida, de voltar a ter uma casa, e deixar de viver em um abrigo comunitário. “A nossa emergência é a nossa casa. Há um ano nós somos obrigados a conviver com água suja, acumulada, cachorro com sarna e até pulga apareceu no meu quarto. Nem sempre podemos comer a comida que servem, quando está com uma aparência melhor, ou está oleosa demais ou salgada demais”, reclamou Luciana da Hora Santos, de 27 anos, que morava no Bumba e hoje vive no abrigo com as quatro filhas.

Em agosto, representantes do Ministério Público do Rio já tinham denunciado os problemas no abrigo. Na época, a Justiça concedeu uma liminar exigindo que a prefeitura de Niterói continuasse com os alojamentos e com a assistência às vítimas da chuva. “É uma falta de respeito com o ser humano. Abrigo não é vida, não é vida para ninguém”, completou Luciana.

A prefeitura de Niterói informou que está trabalhando para entregar um total de 7 mil unidades habitacionais. No bairro Viçoso Jardim, próximo ao Bumba, estão sendo finalizados 180 apartamentos com conclusão prevista para junho. Segundo o município, todas as demolições foram necessárias para interdição total do local e início da obra.

Sobre a situação do abrigo, a prefeitura informou que funcionários da Empresa Municipal de Moradia, Urbanização e Saneamento (Emusa) e da Companhia de Limpeza de Niterói (Clin) fazem a manutenção no local e orientam os desabrigados a preservarem o espaço. Segundo a prefeitura, a Vigilância Sanitária faz vistorias constantes no 3º BI, e as pessoas recebem quatro refeições diárias, assistência de saúde e de educação para as crianças.

Morro do Bumba passou por obras de recuperação e ganhou cercas, calhas e quadra (Foto: Rodrigo Vianna/G1)Morro do Bumba passou por obras de recuperação e ganhou cercas, calhas e quadra (Foto: Rodrigo Vianna/G1)

Aluguel Social
A maioria das famílias desabrigadas recebe o Aluguel Social, no valor de R$ 400 por mês. Mas o atraso do pagamento, desde janeiro, gera revolta entre os desabrigados. O ajudante de bombeiro hidráulico Eric Aragão dos Santos, de 22 anos, é um dos moradores que ainda vivem no entorno da área atingida. Sem ter para onde ir, o jovem vive com a mulher no alto do morro.

“Eu lembro das pessoas gritando, correria e muita fumaça subindo. Ainda está na minha cabeça. Essa região que eu estou foi condenada, praticamente o morro todo foi condenado. Eu morava com minha mãe, mas, com o atraso do pagamento do Aluguel Social, resolvi continuar aqui. A diferença é que agora eu acordo pela manhã e ouço apenas o silêncio”, disse o rapaz, que mora perto do local onde ocorreram os primeiros deslizamentos.

O município informou que assinou um termo que vai garantir o Aluguel Social por mais nove meses. As famílias que não receberam o pagamento de janeiro, de acordo com a prefeitura, estavam com documentação pendente e, por isso, “o município não poderia fechar o convênio e prestar contas ao Governo do Estado”. Outras parcelas em atrasos, segundo a prefeitura, podem se referir a casos isolados.

Área de antigo lixão
Moradores e estudiosos em geografia afirmam que a tragédia no Morro do Bumba poderia ter sido evitada. Nos anos 80, o local era um lixão. Toneladas de lixo sem nenhum tratamento foram acumulados no terreno ao longo de 15 anos. O local recebia catadores e era cercado por urubus e fumaça, resultado do gás metano que sai do material em decomposição.

“O lixo que estava sob as casas continua aí, o que desceu com as chuvas foi apenas um terço. A maior parte do morro era habitada. Na parte debaixo, onde hoje há uma praça, havia 25 residências, e essas residências do jeito que o lixo foi descendo, levando casas, tudo que via pela frente, eram como folhas secas quebrando na sua mão”, conta o técnico em eletrônica Francisco Carlos Ferreira de Souza, presidente da Associação das Vítimas do Morro do Bumba.

De acordo com a Secretaria estadual de Obras, mais de 80 mil toneladas de escombros e lixo foram retiradas do local. Toda a área recebeu obras de drenagem e contenção de encostas. Os operários instalaram ainda dispositivos como escadas hidráulicas e colchões Reno (espécie de contenção de pedra fixada por uma grade) que garantem a contenção e estabilização do terreno






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